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DA AGRICULTURA AO COMÉRCIO

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Sobre os Autores

Sobre os Autores

45 DA AGRICULTURA AOCOMERCIO

Segundo o IBGE (1984) 56 , a estruturação espacial do território maranhense, naqueles anos 1920, é o resíduo de um secular processo produtivo apoiado no modelo economico latifundiário, primário-exportador, do século XIX, impulsionado pelos pequenos produtrores migrantes, que justapuseram ao antigo regime monocultor, com concentração rígida de terras, uma nova estrutura constituída de pequenas explorações de agricultura de subsistencia:

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A organização espacial da década de [19]20 já retrata a passagem que se dava em fins do século XIX, quando do grande declinio da economia agricola do Estado, de um aproveitamento mercantil de grandes explorações para um sistema de pequenas unidades de produção, que embora ligados ainda à cultura do algodão já se estruturava na direção de uma produção francamente para subsistencia (IBGE, 1984).

A cotinucultura sobrevivia, ainda, como a principal cultura do Estado, ocupando os espaços conquistados no Século XIX – vales do Itapecuru e Paraíba e o então chamado Alto-Mearim. Nessa época, o algodão produzido já provinha de pequenas lavouras instaladas pelos “agregados” dos antigos latifúndios, na maior parte, migrantes nordestino.

O algodão convivia na mesma “roça” com o arroz, o milho e a mandioca – culturas de subsistencia. Por essa época, já despontava a extração do coco babaçu, incentivada pelas primeiras exportações para a Alemanha, feitas em 1911, expandindo-se no periodo da IaGuerra Mundial, sendo que nas decadas de 20 e 30, passa a ser o principal produto de exportação do Estado (IBGE, 1984).

O Algodão e o arroz ocupavam a mesma área – 22.553 hectares cultivados -, aparecendo São João dos Patos como um dos maiores produtores de arroz e milho. Em 1920, a área cultivada no Estado era de 62.810 hectares, sendo que São João dos Patos contribuia com 9,6% desse total, com algodão, mandioca, milho e arroz, ocupando 99% da área cultivada.

Vale lembrar que os dados fornecidos pelo IBGE (1884) referem-se ao ano agricola de 1919-1920, e que os municipios de São João dos Patos, Loreto, Nova Iorque, Carolina, Passagem Franca, Colinas (Picos), Mirador, Benedito Leite foram desmembrados de Pastos Bons no ano de 1920.

A conquista de novos espaços economicos, com a expansão da fronteira agrícola, a partir da década de 1920 se dá pelo avanço de pequenos lavradores, na maior parte nordestinos, expulsos pelas secas e pela condição de “trabalhsadores sem terras”, chegados em massa às terras “livres” e úmidas do Maranhão. Os principais caminhos

46 de penetração do migrante nordestino parecem ter-se vitalizado na década de 20, quando se deu a ocupação do divisor Itapecuru-Mirim, visando à exploração do babaçu.

Como visto, é dentro desse quadro que Antonio de Brito Lira chega ao Maranhão:

[...] antes da chegada dos Paraibanos algumas pessoas chamavam ‘Brejo do Faustino’ justamente por ser o pai de Faustino de Sousa proprietário de uma porção de terra [...] porém ele não deixou nenhuma marca de trabalho [...] então os Paraibanos chegaram ao Maranhão, eles trataram logo de plantar grandes roças [...] (Eliza Brito neves dos Santos) [...] chegaram ao Maranhão em março de 1920, no lugar País da Terra; em 1921 tiveram sua primeira roça; em 1922 mudaram-se para Jatobá; e em 1923 mudaram-se definitivamente para o Brejo; e só em 1924 fizeram sua preimeira roça (Eliza Brito Neves dos Santos) [...] todo mundo trabalhando na lavoura (João Furtado de Brito). [...] mais tarde [...] chegou a mãe de meu avô (Antonio de Brito Lira), Ana Maria da Conceição; ela morava em Surubim, depois Lagoa do Arroz; também vieram outros irmãos [...] José de Brito, que também adquiriu outra gleba de terra, que se chamou ‘Chapada do Zé de Brito’, adquiriu de Vitorino Fernandes, filho de José Fernandes [...] chegaram também, mais tarde, Quintino de Brito Lira [...] Florentino de Brito Lira [...] Antonia de Brito Lira, Totonha, que veio se localizar na Ponta da Serra [...] (Eliza Brito Neves dos Santos). [...] eles trataram logo de plantar grandes roças. Dizia meu pai que o povo comentava: ‘esses paraibanos são loucos, plantar uma roça grande, que não tem condições de colher’. Mais que nada, colhiam direitinho, trabalhavam, e ai foram se fixando, foram se casando. (Eliza Brito Neves dos Santos).(In DEPOIMENTOS).

O povoado (depois cidade) começou em torno das casas dos Paraibanos, que iniciaram um comércio em frente de suas casas e começaram a adquirir generos de outros moradorees da região e iniciaram uma feira. Com essas facilidades, as pessoas começaram a morar umas próximas às outras, num ajuntamento de casas, dando inicio ao desenvolvimento da cidade.

Pode-se estabelecer o ano de 1924 como o ano em que foi inicada a formação do primeiro núcleo populacional da cidade, quando João Paraibano compra seu pé-de-loja de uma pessoa chamada Cícero, que vivia no lugar Buriti do Mundo – daí deu apelido de Cícero do Buriti do Mundo. João Paraibano transfere essa quitanda para junto das casas já construidas por ele e seus irmãos e pai, onde é hoje a cidade de Paraibano.

João Paraibano – João de Brito Lira -, verificando que os demais produtores da região sempre tinham um excedente de suas lavouras, que lhes permitia a troca por mercadorias necessárias a sua sobrevivencia e, tal como esses produtores, sentia dificuldades em adquirir produtos e insumos assim como retirar a sua produção, esta já em quantidade, decide estabelecer um comércio.

47 Compra os excedentes e o babaçu57, levando para venda em Pastos Bons e passa a adquir mercadorias naquela cidade, passando a vender no Brejo, agora “do Paraibano” .

Consegue um empréstimo – não havendo certeza com quem - se Theoplistes Teixeira58, ou José Neiva de Sousa59 – para implementar os negócios e começa a pagar em dinheiro vivo a produção agrícola que adquire e os serviços prestados60 –“pagavam os trabalhadores a 2.500 reis a diária”61 .

Essa atitude causa espécie aos poderosos da época – os Rocha Santos62 de São João dos Patos, e os Neiva63 , posteriormente os Teixeira64, de Pastos Bons.

Esses, os grandes comerciantes da época, líderes politicos inclusive, que traziam aquelas pessoas comprometidas financeiramente, pelo tipo de comércio desenvolvido. Agricultores sem terras ou pequenos proprietários, “pegavam” os generos necessários para subsistencia e entregavam o excedente e o produto de suas coletas, em pagamento. Ao receberem em dinheiro vivo, passam a dar preferecia dos negócios com os Paraibanos.

Um irmão de João, Bernardino, estebelece outro comércio, mais abaixo do dele. Suas quitandas eram montadas em frente de suas casas, cobertas de palha, onde colocavam uma balança de madeira com corrente e começavam

a comprar os generos.

Havia a feira de Bernardino de brito Lira, era uma grande casa de telha, e tinha uns boxes, rudes, mas tinha. Era muito interessante, lugar para açougue, para as frutas e nos dias de domingo, que depois passou para o sábado, havia aquela grande reunião de pessoas, que vinham do interiuor fazer compras de carne, de generos. Vender também, babaçú... era um movimento muito grande. As feiras de Paraibano tornaram-se famosas... [...] ele [Guilhermino de Brito Lira] trabalhava, de início, para o irmão, João de Brito Lira, e mais tarde montou o seu próprio comércio, como Bernardino também montou o seu comércio, Marcos de Brito Lira, José de Brito Lira [José de Brito Sobrinho]. Todos se tornaram comerciantes. E o Brejo do Paraibano tornou-se um grande centro comercial, de grande porte, para aquela época [...] [...] e lá perto da Igeja de São Sebastião, e ao mesmo tempo, funcioinava outra feira, não do mporte da do Bernardino de brito Lira, mas funcionava, uma feira de d. Noca Rocha Santos [...] (Eliza Brito Neves dos Santos).

57 Antes da chegada dos Paraibanos, o babaçu não era utilizado como mercadoria; servia apenas para cobrir as casas, fazer azeite, temperar comida, fazer sabão, não se constituindo fonte de renda. VAZ, 1990, obra citada, DEPOIMENTOS. 58 THEOPLISTES TEIXEIRA de Carvalho e Cunha, casado com Antonia Amélia Dias Carneiro. Exerceu a magistratura, deixando-a para assumir cargo de

Deputado no período de 1946 a 1958. Filho de João Teixeira, líder político de Pastos Bons, parlamentar na Assembléia por 24 anos. Seu sogro,

Godofredo Dias Carneiro era chefe político de Colinas, exercendo mandato de Deputado por 16 anos. (in BUZAR, 2001, obra citada, p. 419-426). 59 JOSÉ NEIVA de Sousa nasceu na antiga Vila de Nova Iorque a 26 de maio de 1885, filho de Justino Neiva de Sousa e de Amélia Augusta de Neiva, abastados fazendeiros do alto sertão maranhense, onde a família era poderosa do ponto de vista econômico e político. Bacharel em Direito, foi

Promotor Público, Juiz de Direito. Eleito, em 1945, para a Assembléia Nacional Constituinte pelo PSD, partido de Vitorino de Brito Freire. Em 1947, foi eleito Senador. Em 1950, abandonando o PST, outro partido fundado por Vitorino, filia-se ao PSD, de Saturnino Bello, e elege-se Deputado

Federal pelas Oposições Coligadas. Nas eleições de 1954, mudou de partido, mudando-se para o PDC, ficando na suplência. Sem mandato político, encerrou a vida política. Faleceu em 19 de outubro de 1960. Pela sua bravura e combatividade (ao Vitorinismo) ficou conhecido como “Águia de

Pastos Bons”. (in BUZAR, 2001, obra citada, p. 275-280). 60 AGOSTINO, Rosely Brito, em intervenção em entrevista concedida por BRITO, João Furtado de. DEPOIMENTO. in VAZ, 1990, obra citada. 61 CARVALHO, Valentim Florêncio. DEPOIMENTO. in VAZ, 1990, obra citada. 62 ROCHA SANTOS, família tradicional de São João dos Patos, liderada por Joana da Rocha Santos, conhecida como “A Rainha do Sertão”. 63 NEIVA, família tradicional de Pastos Bons. Ver nota 32. 64 TEIXEIRA, tradicional família de Pastos Bons. Ver nota 31.

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