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Revista JMx Gaslighting no trabalho: a manipulação que você não vê

Gaslighting no trabalho: a manipulação que você não vê

Desvendando o teatro corporativo

Imagine entrar no trabalho todos os dias com uma sensação crescente de dúvida e insegurança. As memórias se embaralham e a certeza do que realmente aconteceu começa a se dissipar. Essa experiência angustiante pode ser o resultado de um fenômeno insidioso conhecido como gaslighting laboral.

Você já sentiu que suas experiências e percepções no trabalho estão sendo manipuladas de forma sutil? No ambiente corporativo, o gaslighting pode assumir a forma de assédio moral silencioso ou abuso de poder velado. Trata-se de uma manipulação psicológica constante que leva a vítima a duvidar de sua sanidade — como no filme Gaslight, de 1944, que deu nome ao termo.

Quando a luz apaga no trabalho:

“Você está exagerando.”

“Isso nunca aconteceu.”

“Ninguém mais aqui pensa como você.”

Não gritam com você. Não jogam a caneta na sua mesa, nem batem portas. O tom é civilizado, até gentil. O problema é que, aos poucos, você começa a duvidar de si mesmo.

Era isso mesmo que foi dito na reunião?

Você entregou aquele relatório no prazo?

Sua memória está falhando… ou será que você está mesmo se tornando inadequado?

Assim começa o gaslighting laboral — uma forma de agressão psicológica que não aparece em manchetes, mas corrói a saúde emocional e a identidade profissional. A manipulação se disfarça de diálogo, a violência se traveste de preocupação.

Não se trata de modismo, mas de uma realidade cotidiana. Em empresas, órgãos públicos, instituições acadêmicas — em qualquer ambiente onde o poder se desequilibra — essa forma de violência floresce em silêncio. E o mais grave: ela altera a forma como a vítima se vê no

mundo — e como acredita ser vista pelos outros.

Gaslighting: o assédio que apaga por dentro

O termo ainda é pouco usado nos tribunais, mas seus efeitos já aparecem nas ações de assédio moral: humilhações reiteradas, manipulação emocional, injustiça sistemática. O que falta é nomear com precisão — e agir enquanto ainda há reversibilidade.

Provar esse tipo de abuso é um desafio. O gaslighting raramente deixa rastros. É um teatro de sombras. O que sobra, muitas vezes, é o vazio. A sensação de não saber mais o que é justo, o que é real, o que se pode dizer sem ser diminuído.

Mais do que um conceito jurídico, o gaslighting é um desafio ético e humano. O ambiente de trabalho deveria ser um espaço de crescimento, não de desgaste; de dignidade, não de dúvida. Em tempos de tanta performance, metas e discursos sobre “liderança empática”, talvez seja hora de falar mais honestamente sobre poder — o que ilumina, e o que apaga.

Quantas luzes já foram apagadas em nome da autoridade, da hierarquia ou do ego? E, mais urgente: quem acende de novo?

Intuição, literatura e sobrevivência

Gabriel García Márquez, em Cem Anos de Solidão, nos lembra da importância de ouvir a intuição — aquela voz interior que resiste à manipulação.

Shakespeare, em Romeu e Julieta, sugere: quando nos prendemos a um ambiente inadequado, deixamos de conhecer novas belezas, novos encontros.

Talvez a liberdade comece aí — no reconhecimento de que nem todo lugar merece nossa permanência.

Gaslighting não é exclusividade do ambiente de trabalho. Crianças, adolescentes, idosos, parceiros em relações abusivas — todos podem ser vítimas. A manipulação emocional atinge qualquer pessoa, independente de idade, classe ou gênero. E os danos são profundos: autoestima abalada, ansiedade, depressão, confusão mental.

Reconhecer os sinais precocemente

é vital. Buscar apoio profissional — jurídico, psicológico ou emocional — não é fraqueza, mas ato de proteção.

Dessa forma, imagine, por um instante, um anjo da guarda ao seu lado, pronto para protegê-lo das armadilhas da manipulação. Ele acende a luz onde tentaram apagar. Ele diz: você não está sozinho.

Relações não se registram em cartório

O Professor, Samer Agi, no livro: As cinco áreas da vida, lembra: as pessoas não são propriedades que registramos em nosso nome para exercer domínio total sobre elas. As pessoas se unem por afeto.

No gaslighting, essa lógica é pervertida: o afeto vira instrumento de controle, e a liberdade, uma ameaça.

Por isso, é importante nomear essa violência e reconhecer os possíveis crimes envolvidos: abuso emocional, assédio, calúnia, restrição de liberdades, danos à saúde mental, violação de direitos humanos e até rupturas contratuais. A lista é longa — mas o primeiro passo é sempre o mesmo: enxergar.

Para encerrar (e recomeçar)

Se você suspeita que está sendo manipulado, procure ajuda. Fale com um advogado, um psicólogo, um amigo de confiança. O silêncio não é solução.

E lembre-se:

Depois de um tempo, os verbos e os substantivos mudam. Em vez de conquistar, queremos conservar. No lugar da novidade, escolhemos a profundidade. O que é raso só interessa àqueles que são rasos. (Samer Agi)

Cuidem-se. Acendam a própria luz. Protejam sua essência.

A sua verdade é o seu farol.

Sinta-se à vontade para compartilhar suas impressões, dúvidas ou reflexões sobre este texto. Estou sempre disponível para conversar — basta me escrever!

Autor: Wagner Lourenço, advogado e escritor

E-mail: advwagner1212@gmail.com

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