cosmic cosmetics | Monography

cosmic cosmetics JULIANA BRIANI DE ALENCAR

Trabalho apresentado à banca examinadora do Istituto Europeo di Design São Paulo como requisito para a ŜĀƖĎœĄýŜ΄ĈŜ΄ƖĵƖƞʼnŜ΄ĈĎ΄ĀåāĮåƂĎʼn΄Ďő΄$ĎƊijħœ΄BƂæǙāŜ΄Ď΄$ijħijƖåʼn

orientador FABIO SILVEIRA São Paulo, 2021.

cosmic cosmetics JULIANA BRIANI DE ALENCAR

Trabalho apresentado à banca examinadora do Istituto Europeo di Design São Paulo como requisito para a obtenção do título de bacharel em Design Gráfico e Digital

orientador FABIO SILVEIRA São Paulo, 2021.

A368c

Alencar, Juliana Briani de

Cosmic cosmetics: cosméticos veganos e sustentáveis. / Juliana Briani de Alencar. — São Paulo, 2021.

156f. il.: color Orientador: Fabio Silveira Coorientador: Juliana Henno Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) — Istituto Europeo di Design, Design Gráfico e Digital — São Paulo, 2021.

1. Design de embalagens. 2. Branding. 3. Identidade visual. I. Silveira, Fabio. II. Henno, Juliana. III. Título.

CDD 760

Nós não herdamos a Terra dos nossos ancestrais. Nós apenas a pegamos emprestada dos nossos filhos.

(Provérbio Indígena Norte-Americano)

agradecimentos em primeiro lugar, gostaria de agradecer do fundo do meu coração ao meu terapeuta, que me acompanhou durante as fases mais complicadas desse projeto e me deu todo o apoio emocional, sem o qual eu não teria sido capaz de finalizá-lo (ainda mais em tempos pandêmicos).

Em seguida, agradeço imensamente aos meus pais e ao meu namorado que, apesar de se preocuparem, me deixaram ficar encasulada no quarto trabalhando por horas a fio sem nunca reclamar, além de me ajudarem com todas as peripécias que inventei durante o processo. À Natalia, que me apoiou em todos os momentos, opinou em quase tudo e ficou comigo por chamada de vídeo até altas horas da madrugada, em diversos dias, e aguentou cada uma das minhas reclamações e dos meus choros de desespero (quase sempre infundados).

A todos os professores envolvidos, mas especialmente ao meu orientador, que aguentou todos os meus áudios desesperados no whatsapp, mesmo alguns tendo sido enviados tarde da noite de uma sexta-feira. À Sophia, que fez com todo o carinho do mundo cada uma das imagens em 3D que eu encomendei com ela, e aguentou todas as minhas alterações, mesmo que elas fossem apenas detalhes.

E, por fim, a todos os meus amigos que me apoiaram tanto desde o início e, especialmente, nas horas de jogar tudo para o alto e beber uma cervejinha, com a desculpa de que “você já fez tanto, você merece essa pausa”.

A cada um de vocês, o meu mais sincero obrigada.

Sem vocês eu com certeza não teria chegado até o fim, pelo menos não com o pingo de sanidade que me resta (risos).

re su mo

este proJeto tem como objetivo entender o mercado e o público da área de dermocosméticos no Brasil, desenvolvendo uma marca nacional que esteja de acordo com um novo modelo ecológico de produção, seguindo os conceitos do veganismo de maneira sustentável e acessível ao público, apenas com o uso de ingredientes naturais, a fim de revolucionar e transformar permanentemente o consumo

de cosméticos no país. Através do uso da metodologia indutiva e de uma abordagem de pesquisa qualitativa e quantitativa por meio de questionário, serão levantados dados para entender as dores atuais dos consumidores da área e as oportunidades que possam ser exploradas no futuro.

Já o método hipotético dedutivo de pesquisa bibliográfica, eletrônica e documental será usado para construir todo o

embasamento teórico acerca dos temas explorados. Assim, será desenvolvida, ao longo do processo, uma nova forma de autocuidado sem culpa, de modo que as pessoas possam cuidar da pele sem medo de estar prejudicando o planeta no processo.

Palavras-chave: Cosméticos.

Sustentabilidade. Veganismo.

Branding. Design. Design de embalagens.

this proJect aims to understand the dermocosmetics market and public in Brazil, developing a national brand that is in agreement with a new ecological production model, following the concepts of veganism in a sustainable and accessible way, using only natural ingredients, as a way to revolutionize and permanently transform the consumption of cosmetics in the country. Through the use

of inductive methodology and a qualitative and quantitative research approach through a questionnaire, data will be collected to understand the current struggles that consumers might have in the area and, furthermore, the opportunities that can be explored in the future.

The hypothetical deductive method of bibliographic, electronic and documentary research will be used to build

the entire theoretical basis on the themes explored. In consequence, a new form of guiltless self-care will be developed so that people can practice skin care without fear of harming the planet in the process.

Keywords: Cosmetics. Sustainability. Vegan. Branding.

Design. Package Design.

abs tra ct

figuras 1. Rotina de skincare.

(Fonte: Pexels, 2020). Página 12.

2. Massageando as mãos com esfoliante. (Fonte: Pexels, 2021).

Página 15.

3. Cosméticos orgânicos à venda. (Fonte: Pexels, 2020).

Página 16.

4. Cosméticos naturais. (Fonte: Pexels, 2021).

Página 21.

5. Caixa de Cosméticos do Mordomo Real Kemeni, do Faraó Amenemhat IV, por volta de 1805 a.C. (Fonte:

Metropolitan Museum of Art, 2017). Página 22.

6. Casa de banho romana. (Fonte: The Roman Baths, https://www. romanbaths. co.uk/). Página 24.

10. Produção de cosméticos em laboratórios especializados.

(Fonte: Pexels, 2020). Página 31.

7. Mulher aristocrata lavando os pés.

(Fonte: Passando a limpo: da Roma antiga até hoje, 2008). Página 26.

11. Cachorro dentro de uma jaula. (Fonte: Unsplash, 2017).

Página 32.

12. Selo de certificação do produto vegano.

(Fonte: Sociedade Vegana Brasileira, 2013). Página 33.

8. Mulheres se banhando. (Fonte: Getty Images, 2002). Página 27.

13. Alimentação Plant-Based.

(Fonte: Pexels, 2019). Página 37.

9. Jean Harlow em sua penteadeira, 1935. (Fonte: Getty Images, 1935).

Página 28.

14. "Animais são amigos, não comida". (Fonte: Unsplash, 2018).

Página 38.

15. Cosméticos veganos. (Fonte: Freepik, 2021).

Página 40.

16. Plantando o futuro. (Fonte: Unsplash, 2018).

Página 44.

17. Cachoeiras brasileiras. (Fonte: Pexels, 2020).

Página 51.

18. Gota de Orvalho. (Fonte: Unsplash, 2021).

Página 52.

19. Embalagens de cosmético de vidro com pump de plástico. (Fonte: Unsplash, 2021).

Página 57.

20. Embalagens zero waste:

alimentos comprados à granel. (Fonte: Unsplash, 2019).

Página 58.

21. Tênis Converse Renew, feito com pelo menos 85% de material reciclado. (Fonte: Converse, 2020).

Página 61.

22. Escovas de dentes feitas de bambu em um recipiente que já foi uma garrafa de vinho. (Fonte: Pexels, 2020).

Página 62.

23. Azulejos feitos a partir de vidro reciclado de antigos fornos microondas e fogões. (Fonte:

Dezeen, 2021).

Página 66.

24. Embalagens de cosméticos feitas de sabonete. (Fonte: Dezeen, 2019).

Página 69.

25. Embalagens de cosméticos feitas de sabonete.

(Fonte: Dezeen, 2019). Página 69.

26. Linha Natura Ekos, de andiroba.

(Fonte: Natura, 2019). Página 70.

27. Campanha das calcinhas absorventes da marca Pantys.

(Fonte: Pantys, 2018). Página 72.

28. Tecido de cera da marca Zum.

(Fonte: Zum Tecido de Cera, 2021).

Página 72.

29. Embalagens de algumas das marcas mais famosas de skincare. (Fonte: Town&Country, 2021). Página 74.

30. Estilo da marca Magic Mind, cujo produto é matcha.

(Fonte: Unsplash, 2020). Página 75.

31. A cor característica da marca Tiffany's e suas embalagens de aliança. (Fonte: Tiffany's, 2021).

Página 77.

32. Figuras de ação da franquia Star

Wars, lançadas no fim dos anos 70. (Fonte: Smithsonian, 2017).

Página 78.

33. Identidade visual da marca Bloom. (Fonte: Unsplash, 2021).

Página 81.

34. Plantação de chá na China.

(Fonte: Behance, 2021). Página 82.

35. Identidade visual da marca Chatú, inspirada nas plantações de chá. (Fonte: Behance, 2021).

Página 82.

36. Projeto de redesign da embalagem de pasta de dentes.

(Fonte: Behance, 2019). Página 85.

37. Ebalagens e produtos da marca Apple.

(Fonte: Unsplash, 2017). Página 87.

38. Embalagens sustentáveis de protetor solar.

(Fonte: Behance, 2020). Página 88.

42. Mulheres fazendo entrevistas. (Fonte: Unsplash, 2019).

Página 99.

43. O cosmos.

(Fonte: Pexels, 2015). Página 110.

44. Moodboard da marca. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 113.

39. Autocuidado sem culpa. (Fonte: Pexels, 2020).

Página 92.

45. Paleta de cores. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 114.

40. Prdutos da marca Lush.

(Fonte: Lush, 2021).

Página 95.

46. Esboços de logo. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 115.

41. Produtos da marca B.O.B. (Fonte: B.O.B., 2020). Página 96.

47. Versões do logo final. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 116.

48. Símbolo da marca. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 117.

49. Selos. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 117.

50. Tipografia.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 119.

51. Ilustrações tipo 1. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 120.

52. Ilustrações tipo 2. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 121.

53. Key visual.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 79.

54. Estilo fotográfico.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 124.

59. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 129.

55. Referências embalagens.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 126.

60. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 129.

56. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 128.

61. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 129.

57. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 128.

62. Protótipo final.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 130.

68. Aplicações.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 137.

63. Rótulo. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 131.

69. Aplicações.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 137.

58. Caminhos de Embalagem.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 129.

64. Embalagens.

(Fonte: Arquivo

Pessoal, 2021).

Página 133.

65. Produtos finais.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 134.

66. Sabonete em barra. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 135.

67. Sabonetes.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 135.

70. Aplicações.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 137.

76. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

71. Aplicações.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 137.

77. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

72. Aplicações.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 137.

78. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

73. Instagram.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 139.

79. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

74. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

80. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

75. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

81. Landing Page.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 140.

82. Playlist. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 141.

83. Brandbook.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 142.

84. Conteúdo do Brandbook. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021). Página 143.

85. Gel de limpeza.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

Página 146.

gráficos 1. Tamanho do mercado global de skincare de 2012 até 2025. (Fonte: Statista, 2021. Adaptação do gráfico pela autora. Versão original disponível em: https://www.statista.com/ statistics/254612/global-skin-caremarket-size/).

2. Produção global de plástico, de 1950 até 2015. (Fonte: Our World in Data, 2021. Adaptação do gráfico pela autora.

Versão original disponível em: https:// ourworldindata.org/grapher/globalplastics-production).

3. Microplásticos na superfície do oceano, de 1950 até 2050. (Fonte: Our World in Data, 2021. Adaptação do gráfico pela autora. Versão original disponível em: https://ourworldindata. org/grapher/microplastics-inocean?time=1980..2050).

4. Refuse, Reduce, Reuse, Recycle, Rot. (Fonte: Zero Waste Home: The Ultimate Guide to Simplifying Your Life by Reducing Your Waste, por Bea Johnson, 2013. Adaptação do gráfico pela autora).

5. Personas. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

6. Jornada Marina. (Fonte: Arquivo Pessoal - produzido a partir de entrevistas, 2021).

7. Jornada Lucas. (Fonte: Arquivo Pessoal - produzido a partir de entrevistas, 2021).

8. Jornada Ananda. (Fonte: Arquivo Pessoal - produzido a partir de entrevistas, 2021).

9. Os pilares da marca. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

10. Golden Circle. (Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

su má rio

01 02

INTRODUÇÃO P. 14 A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA P. 22

2.1 Breve história • P. 26

2.2 Nos dias de hoje • P. 34

03

VEGANISMO P. 38

3.1 O movimento • P. 42

3.2 Cosméticos veganos • P. 44

04

SUSTENTABILIDADE P. 46

4.1 No Brasil • P. 50

4.2 Plástico: o maior vilão • P. 54 4.3 Cultura zero waste • P. 58

05

DESIGN P. 64

5.1 Design e sustentabilidade • P. 68 5.2 Branding • P. 74 5.3 Identidade visual • P. 80 5.4 Embalagem • P. 84

06

PROJETO P. 90

6.1 Casos análogos • P. 94 6.2 Pesquisa de campo • P. 98 6.3 Personas e jornadas • P. 100 6.4 A marca • P. 108 6.5 Identidade visual • P. 112 6.6 Packaging • P. 126 6.7 Aplicações • P. 136 6.8 Expansão da marca • P. 138

07

CONCLUSÃO P. 144 REFERÊNCIAS P. 148

introdução

INTRODUÇÃO cuidar da nossa pele é uma das formas mais multissensoriais de autocuidado. Desde pequena, sempre fui fã da experiência tão especial que é passar um creme, tomar um bom banho com aquele sabonete super cheiroso ou até mesmo o simples ato de lavar o rosto. Momentos como estes sempre foram como um ritual para mim, um momento mágico, no qual eu esquecia completamente dos meus problemas por alguns segundos e focava só em mim. Ainda hoje, quando sigo minhas rotinas de cuidado, percebo que me sinto melhor comigo mesma, como se a minha visão sobre mim melhorasse — e isso é algo que eu gostaria de compartilhar com todas as pessoas possíveis.

Quando pensamos em uma vida saudável e plena, normalmente, acabamos focando mais em manter nosso corpo nutrido através da alimentação, com comidas naturais e orgânicas, ou em "entrar em forma", melhorando nosso condicionamento com exercícios físicos; porém, acabamos esquecendo que a nossa pele também é extremamente importante, uma vez que esta é um órgão que absorve nutrientes e requer tanta atenção quanto o resto do corpo, e que, ao cuidarmos dela, estamos cuidando do nosso organismo como um todo — tanto da parte física, quanto da mental. Afinal, de acordo com Soaigher, Acencio e Cortez (2017, p. 70), quando nos cuidamos, nos valorizamos e sentimos maior prazer em viver bem.

No entanto, adquirir bons cosméticos para constituir uma rotina não é algo tão fácil quanto parece: apesar das inúmeras opções disponíveis no mercado, muitas vezes 16

figura 1 Rotina de skincare (Fonte: Pexels, 2020).

acabamos nos deparando com elementos assustadores como a lista imensa de ingredientes desconhecidos, dispostos um a um no verso de cada produto, quase que para não serem vistos ou questionados; embalagens de plástico de uso único - as quais, para quem busca uma vida mais sustentável, não são a melhor opção; marcas que realizam testes em animais; preços exorbitantes, que desencorajam o comprador que quer ter hábitos mais saudáveis para com a sua pele e acabam filtrando quem pode (ou não) se cuidar nesse espectro, entre muitos outros elementos que acabam transformando um momento tão importante de autocuidado em uma sensação horrível de culpa.

Além de tudo isso, a indústria cosmetológica é uma das maiores poluidoras atualmente, com suas grandes marcas que se consagraram nos anos 1990-2010 e, hoje, se recusam a se adaptar às novas demandas de seus consumidores. Algumas marcas, como a gigante nacional, Natura (pioneira quando se trata de sustentabilidade e bem estar no país), até tentam remediar essa situação, não realizando testes em animais; desenvolvendo linhas orgânicas, veganas e com poucos ingredientes; produzindo embalagens "um pouco mais sustentáveis" — porém, nesse quesito, acabam falhando, de certa forma, pois, ao invés de tentar erradicar de vez as embalagens plásticas, eles apenas reduzem minimamente o uso de polímeros.

Apesar da teimosia das grandes marcas, de pouquíssimo tempo para cá, vem se tornando cada vez mais um pré-

cuidar da pele é uma das formas mais multissensoriais de autocuidado.

17

INTRODUÇÃO -requisito que o cosmético seja vegano ou, minimamente, não seja testado em animais — afinal, na última década, as comunidades vegana e vegetariana vêm ganhando bastante terreno. Ainda assim, marcas que conseguem cumprir com esse quesito raramente conseguem fugir das embalagens de plástico e, as que conseguem, nem sempre possuem um produto que realmente funcione - o que gera insatisfação dos clientes.

Dessa forma, as poucas marcas brasileiras que conseguem se adequar à maioria desses requisitos (uma vez que, no país, nenhuma marca grande e conhecida se adequa a todos) acabam gerando mais um problema: o preço alto. Se a intenção é transformar o modo de consumo de cosméticos, é imprescindível que os produtos sejam mini-

18

mamente acessíveis. Com um salário mínimo de quase mil reais, como um brasileiro de classe média-baixa vai pagar por um creme para olhos de trezentos reais? Sendo este praticamente um terço do seu salário.

Ou seja, chegamos a uma "sinuca de bico", na qual nossa maior dificuldade é encontrar uma marca de cosméticos que abranja todas as categorias citadas acima. Mas será que não existe uma forma de unir tudo isso em uma coisa só?

Tendo em vista este cenário, o objetivo deste projeto é desenvolver uma marca de cosméticos que englobe todos os pré-requisitos citados anteriormente — que tenha na composição de seus produtos apenas ingredientes naturais; que não possua em seu cerne nada que possa ferir ou promover a exploração dos animais; que não faça o uso de plásticos e nem agrida o meio ambiente de forma alguma; que seja acessível a todos os tipos de público e que esteja dentro da cultura zero waste, mesmo que parcialmente, evitando o desperdício de matérias-primas.

Desse modo, pretendo criar todo um conceito de marca e uma experiência de compras que esteja dentro destes pilares, criando uma identidade visual descolada e que represente bem os conceitos defendidos, desde o naming até as embalagens dos produtos e plataformas on-line (página web e instagram), trazendo, assim, uma marca completamente eco-friendly para o país e transformando o modo como cuidamos da pele e, consequentemente, consumimos produtos no geral.

figura 2 Massageando as mãos com esfoliante (Fonte: Pexels, 2021).

19

INTRODUÇÃO

figura 3 Cosméticos orgânicos à venda (Fonte: Pexels, 2020).

20

Para isso, vou fazer uso do método indutivo com abordagem qualitativa utilizando como procedimento o estudo de caso, e como instrumento uma série de entrevistas semiestruturadas e em grupo, realizadas com usuários finais, focando não apenas no público vegano, mas em todos os tipos de público — vegetarianos e carnistas também são possíveis usuários, uma vez que não é minha intenção criar um produto exclusivo para quem já está inserido no contexto e, portanto teria mais facilidade de encontrar alternativas —, para descobrir como acontece o consumo atualmente e idear, a partir das respostas, alguns tipos de perfis que serão usados como base no desenvolvimento do projeto, bem como suas jornadas.

Ainda com base no método indutivo, pretendo lançar uma pesquisa quantitativa tipo survey, a partir de um questionário com perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha, para analisar uma bolha ainda maior de pessoas, obtendo mais alcance e comprovando (ou não) que os comportamentos observados na pesquisa qualitativa se repetem em mais usuários. Em paralelo, para o embasamento teórico, pretendo usar o método hipotético-dedutivo de pesquisa bibliográfica, eletrônica e documental, através do uso de artigos científicos, mestrados e outros trabalhos acadêmicos para endossar minhas falas, bem como uma bibliografia extensa apoiando meu projeto. Dessa forma, e sem mais delongas, pretendo mergulhar de cabeça nesse mundo e só voltar quando o consumo de cosméticos no Brasil for um dos mais ecológicos do mundo.

21

a indústria cosmetológica

A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA

a 24

a área cosmetológica possui um dos maiores índices de crescimento no mundo, atualmente. De 2012 até 2021, houve um crescimento de aproximadamente 56,4% no mercado global de skincare, o que equivale a um aumento de 56,2 bilhões de dólares americanos em menos de 10 anos, como podemos observar no gráfico ao lado — juntamente com uma progressão para os próximos quatro anos.

Dentre os inúmeros países contribuintes no aumento do consumo de itens de higiene pessoal, encontra-se o Brasil em quarto lugar no ranking mundial — ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão, nessa ordem, de acordo com o levantamento feito pela ABIHPEC (2018 apud SANTOS, 2019, p.11). Apesar do aumento da taxação de tributos que vem acontecendo no país, de 2006 a 2017 foi possível observar um crescimento de aproximadamente 10% ao ano no mercado nacional — com exceção de 2015, ano no qual foram instauradas novas leis tributárias, não apresentando, assim, aumento ou decréscimo (ABIHPEC, 2018).

O boom dessa categoria aconteceu mesmo de uns 20 anos pra cá, quando as pessoas começaram a pensar em cosméticos mais como uma "fonte de juventude" e como um cuidado essencial para envelhecer da melhor maneira possível — o que ocorreu conjuntamente com o aumento da popularidade de outras áreas que envolvem a saúde, como a prática de exercícios focada no bem estar. No entanto, o uso dos cosméticos como forma de cuidado está presente na nossa história há muitos anos.

MERCADO GLOBAL DE SKINCARE DE 2012 ATÉ 2025* Fonte: Statista, 2021. Adaptação do gráfico pela autora.

2015

2017

2018

2019 2020

2021

2022

189,3

180,3

171,7

163,5

155,8

148,3

2016

141,3

134,5

2014

128,1

2013

122

110,7

2012

116,2

103

em bilhões de dólares.

99,6

*

figura 4 Cosméticos naturais (Fonte: Pexels, 2021).

2023 2024 2025

25

A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: BREVE HISTÓRIA

26

2.1 breve história

figura 5 5 figura Caixa Caixa de de Cosméticos Cosméticos do doMordomo Mordomo Real Kemeni, FaraóMetropolitan Amenemhat Real Kemeni. do (Fonte: IV, por volta de 1805 a.C. (Fonte: MetMuseum of Art, 2017). ropolitan Museum of Art, 2017)

o registro mais antigo que temos do uso de cosméticos voltados para a derme se dá por volta do ano de 4.000 a.C., no antigo Egito. Nessa época, eram mais comumente usados óleos perfumados e pomadas no dia-a-dia tanto de homens quanto de mulheres, para limpar e suavizar a pele — assim como para mascarar o forte odor corporal. Cremes, unguentos e pós eram comumente utilizados nas rotinas diárias do povo egípcio (EL-KILANY e RAOOF, 2017) Além disso, para a proteção contra o sol, resíduos das tempestades de areia e insetos, eram feitas misturas de óleos e cremes — os antigos egípcios já possuíam o hábito de limpar e nutrir a face, a fim de prevenir rugas e manchas, atribuindo à pele hidratada um alto valor em seus padrões de beleza. Dessa forma, sendo parte importantíssima de seus rituais de higiene, o uso desse tipo de substâncias servia para melhorar a aparência física e a saúde, no geral, de acordo com Green (2001, apud EL-KILANY; RAOOF, 2017, p.2).

Já na Grécia Antiga, é possível encontrar diversos escritos sagrados narrando regras para banhos, para higiene corporal e para procedimentos cosméticos vigentes na época. Além disso, os gregos já faziam uso de produtos naturais para o tratamento da pele, como, por exemplo, máscaras de argila — há registros de pelo menos seis tipos de argila utilizadas na época, as quais eram identificadas por selos diferentes, denotando sua respectiva origem. Hoje, esses selos são considerados por estudiosos o primeiro registro histórico de marcas de fábricas de cosméticos (CIC, 2010).

Mais adiante na história, os romanos reuniram todo 27

A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: BREVE HISTÓRIA

figura 6 Casa de banho romana. (Fonte: https://www.romanbaths.co.uk/).

28

o conhecimento grego a respeito desse assunto e adicionaram seu toque especial: as famosas casas de banho romanas já eram algo presente na Grécia, mas não tinham toda a grandiosidade e importância no convívio social que tiveram em Roma. No vasto império, até mesmo as menores cidades possuíam uma casa de banhos, ainda que fossem pequenas; já nas metrópoles, as casas de banhos eram enormes em infraestrutura, possuindo até salões separados para diferentes modalidades: banho quente ou frio, piscinas, saunas e até salas para atividades físicas ou para outras práticas como a massagem com ervas e óleos. Inclusive, membros da elite romana possuíam, muitas vezes, suas próprias casas de banho dentro de suas abastadas vilas1 (CARTWRIGHT, 2013).

Assim, é possível observar que as práticas de higiene pessoal como cuidados com a pele no geral, depilação e banhos aromáticos e de lama eram extremamente comuns para os patrícios2 naquela época e considerados essenciais para a obtenção de uma boa aparência — aspecto de suma importância para o povo romano, extremamente vaidoso.

Não é à toa que, durante o período do império, foi desenvolvido o famoso "cold cream": uma emulsão de cera de abelha e borato de sódio com consistência e fórmula bastante semelhantes ao que conhecemos hoje como creme hidratante (SEBRAE/ESPM, 2008).

Todavia, ao contrário do Egito, onde o skincare era um hábito comum de todas as classes sociais — o único fator que diferenciava os mais abastados dos mais humildes eram o in-

1 Tipo de moradia

tradicional romana, típica da zona rural por ser uma propriedade agrícola.

2 Termo usado para denominar a elite romana.

as casas de banho eram enormes em infraestrutura, possuindo até salões separados para diferentes modalidades.

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A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: BREVE HISTÓRIA

3 A Idade Moderna

foi um período específico da História do Ocidente que se iniciou no final da Idade Média em 1453 d.C.

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vólucro e o aplicador (ou seja, a embalagem, sendo elas mais simples para uns e mais refinadas para outros) utilizados para aplicar os mesmos óleos e pomadas que eram padrão para todos (EL-KILANY e RAOOF, 2017) —, na Grécia e na Roma antigas o tratamento da pele em si já era uma coisa bem mais elitizada, muitas vezes envolvendo, inclusive, o uso de trabalho ou mão de obra escrava, muito comum em ambos os períodos.

Alguns séculos depois, com a queda do Império Romano e a ascensão do cristianismo com todas as suas proibições às práticas higiênicas e ao culto à beleza, o uso de cosméticos acabou por ser reprimido e, posteriormente, com a Peste Negra, o hábito do banho em si desapareceu completamente (SEBRAE/ESPM, 2008). A Idade Média foi um período particularmente sombrio para a higiene e os cuidados pessoais na Europa, visto que, além de serem considerados blasfêmia ou bruxaria, acreditava-se, igualmente, que a maioria das doenças era transmitida através do contato do ar com os poros dilatados em banhos quentes — ou em qualquer espécie de grande contato do corpo com a água. Dessa forma, os europeus passaram a se limpar de maneira seca, com lencinhos, deixando o uso da água restrito às mãos e ao rosto (JONES, 2010).

Desse modo, com o triunfante regresso do conceito de beleza e da preocupação com a estética que vieram conjuntamente ao período do Renascimento, por volta do ano de 1300, houve, também, a ascensão do uso de cosméticos e, especialmente, da fabricação e uso de perfumes — afinal, os péssimos hábitos de higiene pessoal vigentes desde o início da Idade

Média somados ao trabalho manual diário, comum à época, conferiram aos europeus um cheiro extremamente desagradável, historicamente registrado por todos os outros povos com os quais tiveram contato (ISAAC, 2016; JONES, 2010).

No entanto, ao adentrar a Idade Moderna3, veio à tona certa obsessão com a cor da pele, já presente desde o período greco-romano, porém agora ainda mais intensificada. A branquitude da pele já era considerada um símbolo de nobreza e status, mas, com o passar dos séculos, essa ideia foi se intensificando, o que fez com que a elite buscasse mais e mais produtos para torná-la ainda mais clara (CIC, 2010). Tal fixação era tamanha que as pessoas passaram a aplicar camadas e mais camadas dos tais produtos branqueadores, uma

figura 7 Mulher aristocrata lavando os pés.

(Fonte: Passando a limpo: o banho da Roma antiga até hoje, 2008).

figura 8 Mulheres se banhando. (Fonte: Getty Images, 2002).

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A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: BREVE HISTÓRIA em cima da outra, formando quase uma máscara por cima do rosto — o que dificultava a respiração cutânea. Isso, unido ao fato de que muitos desses produtos eram compostos de ingredientes que hoje sabemos serem extremamente prejudiciais (como o arsênio, por exemplo) e ao desaparecimento do hábito do banho, que persistia ainda nessa época, trouxe à população aristocrática severos problemas de pele. Além disso, tais produtos eram mais difíceis de remover e, muitas vezes, não saíam na base da água — fazendo com que as pessoas apelassem para substâncias ácidas para facilitar a remoção, como vinho e vinagre (THE WEBSTER, 2021).

Mais tarde na história, apesar de passar, novamente, por um bom período de restrição durante o século XVIII, devido a mais uma fase de perseguição às bruxas, o uso de cosméticos realmente começou a tomar força e reconhecimento na Idade Contemporânea. Com a ascensão dos ideais iluministas e de um modo de pensar mais questionador, as pessoas começaram a ver os cosméticos pelo que realmente eram: uma ferramenta para manter a pele não apenas bonita, como também saudável. Dessa forma, donas de casa começaram a produzi-los de maneira caseira e com ingredientes naturais que encontravam à sua disposição, no dia-a-dia, como leite, água de rosas, creme de pepino, entre outros, desenvolvendo receitas exclusivas (SEBRAE/ESPM, 2008).

No final do século XIX, com a eclosão do movimento feminista, as mulheres saíam cada vez mais de casa para trabalhar e com isso, pouco a pouco, foram adquirindo uma 32

figura 9 Jean Harlow em sua penteadeira, 1935. (Fonte: Getty Images, 1935).

maior independência financeira, não tendo mais tempo para a produção caseira dos cosméticos, mas, por outro lado, passando a ter recursos financeiros para consumi-los. Em contrapartida, com o despertar do capitalismo e com a acelerada evolução das indústrias e de seu maquinário, a produção passou a ser ainda maior e mais mecanizada, de modo que os produtos passaram a ser fabricados de maneira mais rápida e em maiores quantidades — muitas vezes, contudo, sem se preocupar com o bem estar da mão de obra que operava esses equipamentos, com a qualidade dos ingredientes utilizados na produção ou ainda com o impacto que isso poderia gerar na pele dos consumidores e no meio ambiente.

Com a evolução da tecnologia, das técnicas de produção e dos estudos, não apenas das fórmulas e dos impactos de cada ingrediente, como, também, do funcionamento da pele e do corpo humano no geral (e, inclusive, com a recente preocupação do homem em relação à sustentabilidade), a indústria cosmetológica foi crescendo e se adaptando cada vez mais, rumo a um estilo de produção cada vez mais ético, responsável, altamente eficaz e estritamente regulamentado (CIC, 2010).

Além disso, como efeito colateral da globalização ocorrida do meio para o final do século XX, houve o contato e, consequentemente, a troca de conhecimentos e hábitos entre pessoas de culturas distintas — dentre eles, o uso de determinados ingredientes, concepções de beleza ou, ainda, práticas específicas de higiene pessoal — formando, aos poucos, a indústria e os hábitos de cuidado com a pele como conhecemos hoje.

pouco a pouco as mulheres passaram a ter recursos para consumir cosméticos.

Presentemente, o skincare é considerado importante não apenas por questões estéticas, mas também por sabermos ser essencial para a boa saúde da pele — principalmente, para evitar doenças como o câncer de pele ou circunstâncias naturais como o envelhecimento precoce. No entanto, o que antes era feito de modo superficial e, muitas vezes, prejudicial, hoje já passa por diversos estudos e testes, de maneira que a rotina de cuidados com a pele se desenvolveu de tal forma que pode ter diversos passos e envolver vários produtos diferentes com propósitos distintos, como hidratação, limpeza, proteção, entre outros (INFANTE; DE MELO; CAMPOS, 2018). .

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A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: NOS DIAS DE HOJE

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2.2 nos dias de hoje

atualmente, a produção de cosméticos funciona de maneira bem mais complexa e regrada, devido aos avanços tecnológicos tanto na área de saúde quanto nas práticas de produção da indústria: o que antigamente não passava por vistorias ou fiscalizações que comprovassem a eficácia ou ineficácia dos produtos, legitimando o modo como eram manipulados, hoje em dia possui uma conotação científica muito maior, sendo obrigatoriamente submetido a pesquisas extensas, testes e inúmeras regras de manuseio e preservação, a fim de garantir que certos ingredientes não sejam prejudiciais à saúde — ou ainda, que realmente funcionem de acordo com sua promessa de venda (CIC, 2010).

Como visto anteriormente, o uso de substâncias como chumbo e arsênio era muito comum na produção de cosméticos em vários momentos históricos diferentes.

Hoje, sabemos se tratarem de substâncias tóxicas, no entanto, com a demora na descoberta de tal fato, por conta da precariedade da tecnologia e do conhecimento no geral, diversas civilizações acabaram se intoxicando através da pele, de modo prejudicial à saúde de todos que utilizavam tais substâncias — levando-os inclusive ao desenvolvimento de doenças até então desconhecidas, mas que hoje sabemos o nome, como, por exemplo, o câncer.

Além disso, com a ascensão da industrialização e com o desenvolvimento da área médica, se tornou cada vez mais possível realizar testes em determinados produtos antes mesmo que fossem consumidos pelas pessoas.

figura 10 Produção de cosméticos em laboratórios especializados.

(Fonte: Pexels, 2020).

4 Data referente a 27 de outubro de 2021.

Por volta de 1920, a indústria cosmetológica passou a realizar testes em cobaias (de acordo com pesquisa realizada pela revista Mundo Estranho, em 2010, os mais usados animais como porquinhos-da-índia, camundongos coelhos e macacos, podendo também envolver cães e porcos), para garantir que seus produtos fossem eficazes e seguros — estas cobaias, no entanto, passavam (e ainda passam) por experimentos extensos e, na maioria esmagadora das vezes, extremamente dolorosos e debilitantes, de modo que eram sacrificados ao fim do estudo.

Hoje4, graças aos apelos de diversas ONGs e grupos que defendem os animais, o número de marcas que realizam 35

A INDÚSTRIA COSMETOLÓGICA: NOS DIAS DE HOJE testes em animais vem cada vez mais decaindo e a preocupação com modos de produção mais sustentáveis e éticos, crescendo. No entanto, de acordo com a PETA, em um estudo de dados recolhido em 2019, nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos um milhão de animais ainda estão sendo mantidos em estado de cativeiro nos laboratórios de testes do país (tanto de cosméticos, quanto de outras áreas da indústria farmacêutica). Por esse motivo, muitas marcas novas e conscientes correm atrás de selos, conferidos por órgãos de fiscalização especializados, de maneira a proporcionar ao consumidor uma garantia de que aquele produto é cruelty free, ou seja, não realiza testes em animais — visto que essa é uma preocupação cada vez mais latente dos compradores.

Sendo assim, vem se tornando cada vez mais imperativo desenvolver leis e formas de certificação rigorosas, que assegurem a integridade dos produtos, com órgãos reguladores oficializados para fiscalizar, de tempos em tempos, a linha de produção de cada um dos itens produzidos pelas empresas, a fim de proteger o consumidor de uma compra que não condiz com seus valores morais. Isso vem acontecendo não somente na área de cosméticos, como também nas indústrias alimentícia e farmacêutica, no geral — cada vez mais, é cobrada certa transparência por parte das marcas, mostrando sempre a composição dos produtos, a salubridade de suas linhas de produção e as condições de trabalho vigentes.

Consequentemente, em diversos países foram definidas normas internas para regulamentar a produção de 36

figura 11 Cachorro dentro de uma jaula.

(Fonte: Unsplash, 2017).

figura 12 Selo de certificação do produto vegano. (Fonte: Sociedade Vegana Brasileira, 2013).

cosméticos — nos Estados Unidos, por exemplo, há um departamento inteiro dedicado somente à fiscalização e administração de produtos das áreas alimentícia e farmacológica: a FDA é responsável pela vistoria dos cosméticos, de acordo com a lei, após sua ida para as prateleiras. No Brasil, no entanto, a nossa legislação possui uma base relativamente precária: em 1976, entrou em vigência uma lei5 que estabelece a vigilância sanitária obrigatória a todos os itens de uso farmacêutico, desde remédios e insumos até os cosméticos — no entanto, o decreto faz referência apenas à qualidade dos produtos e à salubridade das linhas de produção. Quanto à vigilância de produtos orgânicos, naturais e veganos (cujas definições veremos mais adiante), não há uma regulamentação nacional oficial, deixando o trabalho de fiscalização nas mãos de agências certificadoras, como a SVB6, a Ecocert, a Natrue, entre outras (CAIADO, 2020).

Assim sendo, podemos perceber como o Brasil, um país com uma vasta variedade em sua fauna e flora — e, por isso, possuinte de um enorme potencial de produção de itens tanto orgânicos quanto naturais —, ainda está engatinhando com relação às leis, ao investimento e ao incentivo referentes à produção de cosméticos de maneira mais ética e menos prejudicial ao meio ambiente. De certa forma, esse tipo de consciência ainda é tão recente que pouco foi feito para nos adaptarmos à nova forma de manufatura e consumo, a qual vem cada vez mais se mostrando fundamental para a saúde do planeta e a garantia de um futuro.

5 Lei nº 6.360, de 23 de setembro de 1976, regulamentada pelo Decreto nº 79.094, de 5 de janeiro de 1977.

6 A SVB, ou Sociedade Vegetariana Brasileira, é a única agência certificadora nacional — o que mostra como o Brasil está atrasado com relação a esse tópico.

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veganismo

VEGANISMO

e 40

entrando na segunda década do século XXI, é mais do que claro que todos nós pelo menos já escutamos este termo em algum momento, por mais que muitas pessoas não saibam exatamente o que significa. O veganismo, diferentemente do vegetarianismo — o qual tem como base apenas a mudança alimentar de não consumir mais nenhum tipo de carne (sendo possível continuar com o consumo de leite, ovos e derivados, como a manteiga, por exemplo) —, é um movimento que transforma todo o seu estilo de vida. A pessoa vegana escolhe não consumir nada relacionado à exploração animal — desde alimentos até roupas, produtos de limpeza e cosméticos.

Qualquer coisa que envolva o sofrimento animal é vetada. É graças a este movimento, relativamente recente, que o consumo se transformou tanto (e vem se transformando cada vez mais) ao longo dos anos.

figura 13 Alimentação plant-based.

(Fonte: Pexels, 2019).

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4

VEGANISMO: O MOVIMENTO figura 14 "Animais são amigos, não comida".

(Fonte: Unsplash, 2018).

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3.1 o movimento

0 termo vegan surgiu em 1944, com o britânico Donald Watson, e desencadeou esse incrível movimento político e social que conhecemos hoje — o qual, apesar de nem ter completado seus 100 anos, conquista mais e mais adeptos a cada dia.

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que o veganismo era um movimento elitista e, consequentemente, caro. No entanto, vários perfis dedicados ao assunto, no Instagram, vêm cada vez mais desmistificando esse estilo de vida, mostrando como ele pode, sim, ser acessível e, consequentemente, angariando mais e mais seguidores para o movimento.

De acordo com o jornal Correio Braziliense (2018), em um estudo realizado pelo projeto O Mapa Veg, foi possível calcular que hoje, apenas em São Paulo, cerca de 10 mil pessoas são veganas; no Distrito Federal, cerca de 1,5 mil já aderiram ao movimento. Já o vegetarianismo, considerado por muitos uma porta de entrada para o veganismo, possui mais de 30 milhões de adeptos em todo o território brasileiro, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Ibope (Correio Braziliense, 2018) envolvendo 102 municípios do país.

O vegetarianismo acaba sendo a alternativa mais popular no país, se comparado com o veganismo, pela falta de investimento e divulgação de produtos veganos — por mais que a alimentação à base de plantas já seja um pouco mais acessível e menos misteriosa para o público brasileiro, a falta de opção de produtos veganos nas outras áreas de consumo é um dos fatores que impede a maior parte da população de aderir, de pouquinho em pouquinho, ao movimento. Hoje7,

o Brasil possui um imenso potencial para a produção de produtos veganos.

7 Data referente ao mês de março de 2021

em um supermercado da rede Pão de Açúcar, na capital de São Paulo, um detergente de marca popular custa cerca de R$1,99; já a alternativa vegana e sustentável custa aproximadamente R$8,99 — com o valor gasto em uma única unidade de detergente vegano, é possível comprar quatro unidades de um detergente comum. Isso sem contar o fato de que existem inúmeras opções de marcas não veganas e apenas uma ou duas como alternativas veganas.

No entanto, de acordo com Isaac (2016, p. 19), o Brasil é um país que possui um imenso potencial para a produção de produtos veganos e naturais, devido à vasta extensão fitoecológica e aos nossos variados biomas — potencial tão grande que seria possível fornecer produtos naturais de qualidade para o mercado internacional, caso houvesse o devido investimento e exploração da área, possivelmente transformando o país em referência mundial.

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VEGANISMO: COSMÉTICOS VEGANOS

44

3.2 cosméticos veganos

ao contrário do que muitas pessoas pensam, cosméticos veganos não necessariamente são sinônimo de cosméticos orgânicos ou naturais. Um produto é considerado vegano quando são utilizados, na sua composição, ingredientes que não sejam de origem animal ou adquiridos através de exploração animal, de modo que todo o seu processo de fabricação, no geral, não envolva nenhum tipo de sofrimento animal.

Isso engloba tudo — desde a manufatura da embalagem, até o desenvolvimento do produto em si e os testes posteriores (FLOR; MAZIN; FERREIRA, 2019, apud CAIADO, 2020).

Sendo assim, não há nada que impeça o uso de ingredientes que possam ser prejudiciais à pele ou ao meio ambiente — contanto que não sejam prejudiciais aos animais, de forma alguma. Muitas marcas grandes, quando querem conquistar o público vegano, criam produtos que sigam com os protocolos veganos apenas buscando a certificação; porém, ao realizar uma análise dos ingredientes, pode-se observar que muitos não são de origens naturais ou não são comprovadamente benéficos para o organismo. Isso acontece porque muitos dos ingredientes naturais e orgânicos são mais caros e difíceis de manipular e de conservar, sendo assim, mais fácil para as marcas desenvolverem uma linha vegana com os ingredientes que já utilizam em outros produtos, seguindo apenas a linha da preservação animal.

Da mesma maneira, um produto orgânico não é obrigatoriamente vegano, uma vez que produtos orgânicos são produzidos com ingredientes naturais, sem a adição de quími-

figura 15 Cosméticos veganos.

(Fonte: Freepik, 2021).

um produto é vegano quando não usa ingredientes cuja produção envolve a exploração animal. cos ou elementos artificiais — nesse caso, um produto feito à base de leite poderia ser considerado orgânico, porém nunca vegano, uma vez que o leite é um ingrediente natural e, quando não possui aditivos químicos, puro; no entanto, a extração do leite já denota certo nível de exploração animal, por isso o produto não se enquadraria nas diretrizes veganas.

Assim, um produto vegano não necessariamente faz bem para a pele e, muitas vezes, dependendo da composição e do nível de ganância da indústria que o produziu, pode até fazer mal — o importante é encontrar um produto que seja simultaneamente orgânico, natural e vegano, de modo a garantir que tanto a sua pele quanto os animais sejam poupados.

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sustentabilidade

SUSTENTABILIDADE

a 48

a questão da sustentabilidade é um assunto relativamente recente na nossa sociedade, uma vez que até pouco tempo atrás o impacto do ser humano no planeta não era tão grande quanto começou a ser a partir do início da era industrial, que ocorreu majoritariamente na Europa (HAYASHI, 2015).

Claro que houve, no passado, certa preocupação com relação à exploração e à distribuição de recursos, quando os seres humanos precisavam se preocupar com o uso racional da matéria prima, de modo a evitar escassez. No entanto, foi apenas a partir dos anos 70 do século passado, com as várias reuniões organizadas pela ONU a fim de discutir o futuro do mundo e o caminho que estava sendo trilhado pela humanidade, que o conceito de sustentabilidade como conhecemos hoje foi surgindo (BOFF, 2012).

Anteriormente à industrialização, o homem, com seus modos de produção agrícolas e manuais, era apenas parte do ciclo natural da Terra e não gerava impactos completamente irreversíveis — até o momento em que começamos a consumir e produzir em massa, tendo então que investir cada vez mais em equipamentos que pudessem fazer sozinhos o trabalho de dez pessoas. Isso sem contar os ingredientes artificiais que foram aos poucos adicionados às fórmulas, de maneira que os produtos pudessem aguentar dias, semanas ou até mesmo meses em uma estante de loja, e as embalagens feitas com materiais cada vez mais poluentes e menos duráveis, com o intuito de serem usadas e descartadas, o que fez com que o consumidor tivesse sempre a necessidade de

O desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade ambiental implica em preservar o meio ambiente ao mesmo tempo em que garanta o desenvolvimento socioeconômico, ou seja, produzir sem provocar danos irreversíveis, recompondo ou ajudando na recomposição da natureza (HAYASHI, 2015, p.3).

figura 16 Plantando o futuro.

(Fonte: Unsplash, 2018).

comprar o mesmo produto, diversas vezes.

Desse modo, com o desenvolvimento das indústrias em ritmo frenético e a ansiedade da população por consumir cada vez mais, a cultura do desperdício começou a se instaurar. A partir daí, o ser humano passou a gerar sérios impactos ambientais no planeta — impactos tamanhos que ainda se sabe o quão reversíveis podem ser. Os ingredientes naturais e perecíveis foram cada vez mais substituídos por componentes artificiais e duráveis, acompanhando a evolução tecnológica de cada época e as consequentes mudanças no nosso modo de consumo, como aconteceu com as embalagens dos cosméticos, como visto previamente.

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SUSTENTABILIDADE: NO BRASIL 8 Lei Federal 4771/65 9 Lei 5197/67.

50

4.1 no Brasil

essa preocupação com o ecossistema, no Brasil, pode ser vista como uma postura relativamente recente, se levarmos em consideração o período de pouco mais de 500 anos desde a vinda dos europeus para as Américas e, com isso, a origem do país como conhecemos hoje. Além disso, é preciso ser levado em conta o fato de que inicialmente éramos uma colônia de exploração, de maneira que leis de proteção ambiental não eram, inicialmente, a prioridade dos nossos “fundadores”. Mesmo com a independência do país, a exploração desenfreada dos recursos naturais no século XIX seguiu a todo vapor, uma vez que a revolução industrial trouxe com ela a produção em larga escala (e o Brasil sempre possuiu grande quantidade e variedade de fauna e flora) — a partir desse período, entretanto, foi despontando, de pouco em pouco, o conceito de consciência ambiental (HAYASHI, 2015).

Dito isso, apenas a partir dos anos 60 do século seguinte leis passaram a ser implementadas com o propósito de proteger o meio ambiente: o Código Florestal Brasileiro8, em 1965, e a lei sobre proteção da fauna e flora9, em 1967. Os anos 70 foram um marco crítico para os assuntos com relação a sustentabilidade e ao meio ambiente, mundialmente, devido à crise do petróleo — foi nesse período, em 1972, que aconteceu a primeira reunião oficial da ONU, e em 1973 a fundação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), a primeira organização brasileira visando o gerenciamento do meio ambiente (HAYASHI, 2015).

figura 17 Cachoeiras brasileiras.

(Fonte: Pexels, 2020).

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A partir dos anos 80, diversas leis e regulamentações passaram a ser criadas e aplicadas em todo o território nacional, rumo ao que temos vigente hoje, como, por exemplo: a aprovação da Lei 6.938/1981 sobre a Política Nacional de Meio Ambiente Brasileira; o estabelecimento, pela primeira vez, de um capítulo inteiro referente exclusivamente ao meio ambiente na nossa Constituição Federal (1988); a criação do Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (GANA), em 1996, visando o estabelecimento da ISO 1400110; a aprovação da Lei n° 9605/98 sobre Crimes Ambientais, em 1998, corresponsabilizando as empresas por quaisquer catástrofes acontecidas mediante suas ações; entre outros (HAYASHI, 2015). Atualmente, as empresas que visam garantir a certificação ISO 14001 devem desenvolver um SGA e apresentá-lo para avaliação:

figura 18 Gota de orvalho.

(Fonte: Unsplash, 2021).

10 Método de certificação de empresas que desejam estabelecer ou aprimorar um Sistema de Gestão Ambiental, estar seguras sobre políticas ambientais praticadas ou demonstrar estar de acordo com práticas sustentáveis a clientes e a organizações externas.

O Sistema de Gestão Ambiental SGA deve ser permanente, sempre a partir dos interesses das empresas, que mediante as auditorias ambientais deverão se reorganizar junto aos responsáveis e sua equipe para a tomada das devidas modificações e alterações sugeridas, atendendo as exigências do mercado na busca do aperfeiçoamento e melhorias nas questões ambientais e sustentáveis (HAYASHI, 2015).

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Inicialmente, as solicitações com relação às adequações das empresas a um novo código de ética ambiental e social foram fortemente ignoradas durante anos pela administração brasileira, devido a sua conduta conservadora e que não via motivos para fazer mudanças em sua forma de produção se não gerassem lucros às partes interessadas.

No entanto, por ser o público o verdadeiro responsável pela forma como as marcas se comportam, muitas empresas resolveram mudar a sua abordagem para uma alternativa mais sustentável a partir do momento em que a demanda passou a ser mais rigorosa por parte dos consumidores (DE OLIVEIRA MOTA; MAZZA; DE OLIVEIRA, 2013).

De uns anos para cá, foi possível acompanhar o crescimento do interesse, por parte dos usuários (e de algumas empresas, por livre e espontânea vontade), em consumir produtos com um viés mais eco-friendly. Algumas marcas, no entanto, apenas dizem abraçar uma conduta mais sustentável — visando o lucro, uma vez que, hoje, isso garante um bom posicionamento no mercado —, mas, na verdade, há evidências que mostram uma realidade diferente (DE OLIVEIRA MOTA; MAZZA; DE OLIVEIRA, 2013).

Em 2018, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor realizou uma pesquisa envolvendo mais de 500 embalagens de diversos segmentos, tais como higiene pessoal, limpeza, entre outros produtos de uso doméstico, e comprovou que pelo menos 48% dos produtos possuíam informações falsas ou omitidas em suas embalagens a respeito

da responsabilidade ambiental. O fenômeno denominado como “greenwashing”, ou “lavagem verde”, acontece em proporções mundiais, e consiste, basicamente, na manipulação do nível de sustentabilidade de uma marca por parte dela própria, passando, inclusive, como propaganda enganosa: as empresas dizem que o produto ou serviço segue diversas diretrizes ambientais quando, na realidade, não segue (SANTOS, 2020). Por esse motivo, se torna mais e mais necessária a implementação de um número maior de órgãos reguladores certificados, que possam garantir ao consumidor que existe verdade no discurso das marcas.

53

SUSTENTABILIDADE: PLÁSTICO, O MAIOR VILÃO

54

4.2 plástico, o maior vilão

não é segredo que a indústria de cosméticos é uma das maiores produtoras de embalagens plásticas do mundo, basta analisarmos os produtos que mantemos nos nossos banheiros. Sabonetes líquidos, cremes hidratantes e protetores solares são apenas o começo da lista, itens básicos até para quem não cuida tanto assim da pele - todos eles sempre envoltos em uma prática embalagem de plástico. Até mesmo quando uma empresa tenta fugir da embalagem plástica convencional, colocando seus produtos em recipientes de vidro, sempre há algum elemento que não pode ser substituído (ou cujo substituto é de um valor bem maior que sua versão plástica), como é o caso dos pumps de saboneteiras para produtos líquidos.

Atualmente, o plástico ainda é um dos materiais mais utilizados por essas indústrias por conta do seu preço baixo e da sua alta capacidade de impermeabilização e vedação dos produtos, possuindo um risco bem menor de quebrar ou se partir, se comparado com o vidro. No entanto, novas alternativas têm sido cada vez mais buscadas por marcas que prezam pela integridade do planeta, uma vez que o meio-ambiente e, principalmente, nossos oceanos se encontram saturados de resíduos plásticos impropriamente descartados.

De acordo com a coleta de dados realizada pelo site our world in data (2015), a produção de plástico global gera cerca de 381 milhões de toneladas de resíduos plásticos, ao ano - quase o dobro da quantidade produzida nos anos 2000. Só a indústria de embalagens é responsável pela produção de 146 milhões de toneladas por ano, valor equivalente a aproximada-

mente 35% da produção mundial, sendo ela o setor industrial que mais polui, atualmente - ultrapassando o setor de construção com mais que o dobro de seu valor (65 milhões/ano).

Além disso, o tipo de plástico utilizado em embalagens possui o menor período de vida útil dentre todos os outros tipos de plástico utilizados por outras indústrias: na indústria têxtil, por exemplo, a média de vida útil de um produto plástico é de 5 anos, enquanto que, na de embalagens, meio ano - o que faz com que o produto praticamente não possa

PRODUÇÃO GLOBAL DE PLÁSTICO DE 1980 ATÉ 2015*

70 1980

120

ser reutilizado, sendo que o período destinado a sua decomposição ainda é equivalente a centenas de anos.

No entanto, a embalagem não é o único uso de plástico na indústria cosmetológica. Dentro da composição de muitos produtos, como, por exemplo, cremes esfoliantes, existem elementos denominados microplásticos - que podem ser vistos a olho nú, em alguns casos, ou não. De acordo com uma pesquisa realizada pela UNEP11, um produto pode conter de 1% a 90% de ingredientes plásticos em sua composição, re-

213

313

11 https://wedocs. unep.org/20.500.

11822/9664, acesso em 13 mar. de 2021.

381

1990 2000 2010 2015

Fonte: Our World in Data, 2021.

Adaptação do gráfico pela autora.

*

em milhões de toneladas.

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SUSTENTABILIDADE: PLÁSTICO, O MAIOR VILÃO presentando, muitas vezes, uma quantidade de plástico dentro do produto tão grande que chega a ser maior do que a quantidade contida na sua embalagem.

O microplástico é um dos maiores poluentes da natureza no momento, contaminando, principalmente, nossos oceanos, de tal maneira que prejudica não apenas a biodiversidade marinha, como, também, impacta diretamente aos seres humanos: devido às quantidades exacerbadas do resíduo plástico na água, os animais aquáticos acabam por consumi-los,

MICROPLÁSTICOS NA SUPERFÍCIE DO OCEANO, DE 1980 ATÉ 2020* *

em milhares de toneladas.

conjuntamente com suas refeições habituais; o microplástico continua no organismo do animal e acaba sendo, posteriormente, consumido pelo homem. Atualmente, estima-se que cerca de 630 mil toneladas já se encontram em nossos oceanos e, caso nada seja feito a respeito, o número tende a crescer — como é mostrado no gráfico abaixo.

Um dos principais culpados pela quantidade de poluição e danos (não apenas relacionados ao plástico) acometidos ao planeta no último século é a forma como fomos

22 65,9 1980

154,5

318,5

594

1990 2000 2010

Fonte: Our World in Data, 2021.

Adaptação do gráfico pela autora.

2020

56

figura 19 Embalagens de cosmético de vidro com pump de plástico.

(Fonte: Unsplash, 2021).

instigados a consumir. Com a Revolução Industrial e a otimização das fábricas e linhas de produção, as pessoas passaram a consumir uma quantidade e em uma velocidade muito maior, comprando itens dos quais nem mesmo necessitavam, apenas pelo fato de o artigo estar sempre disponível de maneira fácil e rápida. Dessa forma, a cada década que se passava, as pessoas eram instigadas pelas próprias marcas a consumir cada vez mais — levando-nos ao estado em que nos encontramos hoje, no maior nível de desperdício de matérias primas de todos os tempos (e, consequentemente, no maior índice de poluição de todos os tempos).

Todavia, de alguns anos pra cá, a consciência em relação ao meio ambiente vem crescendo mais e mais, de tal forma que inúmeras pessoas já se mobilizaram para tentar transformar a nossa realidade, de pouco a pouco, em algo mais rentável e com consequências positivas a longo prazo. Assim, como visto na seção anterior, uma boa parcela da população já aderiu a mudanças alimentares, passando a consumir menos produtos de origem animal, reduzindo suas respectivas pegadas de carbono; além disso, algumas marcas e empreendedores já começaram a investir em modelos de negócios mais sustentáveis; e, por fim, o consumidor está aos poucos transformando a sua forma de comprar, consumindo produtos intitulados como slow, fabricados da maneira mais ética e responsável possível.

Consequentemente, podemos ver cada vez mais novas formas de consumir emergindo e se mais presentes no nosso cotidiano, moldando uma nova realidade.

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SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

58

4.3 cultura zero waste

figura 20 Embalagens zero waste: alimentos comprados à granel -- sem plástico.

(Fonte: Unsplash, 2019).

um dos movimentos mais recentes que eclodiu dentro do espectro da sustentabilidade é o zero waste (em uma tradução literal: desperdício zero), a qual consiste em uma mudança radical na maneira como consumimos, a fim de reduzir o impacto ambiental tanto do indivíduo quanto de uma empresa, por exemplo, até se tornar extremamente pequeno, ou quase nulo. O movimento, que vem crescendo, principalmente, na Europa e em alguns estados na América do Norte, prega a reestruturação do nosso atual sistema de consumo de maneira que seja mais semelhante à economia circular. De acordo com Hannon e Zaman (2018, p. 90, tradução nossa):

A “economia circular” foi descrita como sendo: “regenerativa por intenção e design [...] elimina o uso de químicos tóxicos [...] visa o fim do desperdício através do design superior de materiais, produtos, sistemas e, com isso, modelos de negócio. Os defensores da economia circular observam que: “a natureza opera de acordo com um sistema de nutrientes e metabolismo no qual não existem resíduos”.

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SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

12 Casa Zero Desperdício: O Guia Final de Como Simplificar a sua Vida Reduzindo seu Desperdício (tradução livre).

Mas como iniciar essa mudança? A humanidade deturpou de tal forma seus hábitos de consumo que fica difícil pensar por onde começar, o que deve ser transformado, como reverter esse padrão vigente há tanto tempo?

Bem, de acordo com Bea Johnson (2013), em seu livro “Zero Waste Home: The Ultimate Guide to Simplifying Your Life by Reducing Your Waste12”, existem cinco passos básicos que se deve seguir para dar o primeiro passo rumo a esse estilo de vida: os 5 Rs (do inglês refuse, reduce, reuse, recycle e rot), conforme disposto no esquema abaixo.

Claro que traduzindo para o português não teríamos exatamente 5 Rs, mas os conceitos mais próximos: recusar, reduzir, reutilizar, reciclar e, por último, decompor. Primeiramente, recusar e reduzir — estes dois primeiros patamares tratam diretamente da quantidade (e, querendo ou não, da qualidade e durabilidade) das coisas que consumimos.

Plásticos de uso único como embalagens de comida e de cosméticos são as primeiras coisas para as quais devemos tentar encontrar um substituto: por que não comprar sementes a granel e os vegetais em uma feira? e se esco-

12345 R

R E FUS E

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REDUCE

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REUSE

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RECYC LE

Fonte: Zero Waste Home: The Ultimate Guide to Simplifying Your Life by Reducing Your Waste, por Bea Johnson, 2013. Adaptação do gráfico pela autora.

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R ROT

lhermos sabonete em barra, ao invés do líquido? O famoso plástico filme, que usamos para embalar restos de comida, pode ser facilmente trocado por papel-cera. Outros itens, como roupas, podem ser comprados de segunda mão, em brechós. O importante é escolher consumir apenas aquilo que é realmente necessário e da melhor maneira possível, fazendo escolhas inteligentes (JOHNSON, 2013).

Já os próximos passos, reutilizar e reciclar, são dois termos comumente confundidos. O primeiro, consiste em dar uma nova vida a todos os produtos que acabaram passando pelos crivos anteriores, mas ainda assim não eram 100% a melhor escolha — reutilizá-los significa encontrar um novo propósito a esses itens, sem que tenham que passar por um processo de remodelação, ou seja, são usados no mesmo formato em que foram fabricados. Um bom exemplo é quando uma garrafa PET se transforma em um belo vaso de plantas, uma vez que não há um reprocessamento do material, apenas a mudança de seu propósito original, prolongando sua vida útil. Reciclar, por outro lado, envolve o descarte do produto e a transformação dos resíduos sólidos (recicláveis, óbvio) em matéria prima novamente, de maneira que outros produtos podem ser fabricados a partir de outros que foram reciclados. Uma prática que vem se tornando, ao poucos, cada vez mais comum em grandes empresas, como a Converse, por exemplo, é o ato de reciclar os próprios resíduos e confeccionar, a partir deles, um produto novo (JOHNSON, 2013).

figura 21 Tênis Converse Renew, feito com pelo menos 85% de material reciclado. (Fonte: Converse, 2020).

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SUSTENTABILIDADE: CULTURA ZERO WASTE

figura 22 Escovas de dentes feitas de bambu em um recipiente que já foi uma garrafa de vinho.

(Fonte: Pexels, 2020).

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é possível transformar o consumo, de pouco em pouco, rumo à economia circular.

Por último, temos o termo decompor, que trata, basicamente, da forma como descartamos o nosso lixo orgânico.

Johnson sugere o uso da composteira (uma estrutura planejada em camadas, que faz o uso de terra e minhocas para transformar os restos de comida em húmus, o qual pode ser utilizado, posteriormente, para adubar as plantas) a fim de aproveitar ao máximo nossos resíduos de maneira inteligente. A prática vem se tornando popular no Brasil, de alguns anos para cá, principalmente, com o incentivo de blogueiras e influencers veganos e com a disseminação da consciência ambiental.

O movimento zero waste pode até ter falhas de cunho social e receber algumas críticas por conta delas, mas, em sua essência, ele visa um resultado a longo prazo e com muitos outros ganhos além da redução da pegada de carbono13, como: o estímulo à criatividade, o fortalecimento do senso de comunidade e até uma mudança no que concebemos hoje como princí-

13 A Pegada de Carbono é o cálculo da emissão total de gases de efeito estufa (GEEs) associados às atividades humanas no mundo.

pios fundamentais de trabalho (HANNON; ZAMAN, 2018).

Assim, vemos que é possível transformar o consumo, de pouquinho em pouquinho, rumo a uma economia circular — mesmo que seja, inicialmente, com coisas pequenas, cada passo é importante —, e o design é um grande aliado da expansão dessa ideologia, visto que é o responsável por aprimorar produtos e embalagens de maneira que sejam cada vez mais funcionais e menos prejudiciais ao meio ambiente, de maneira inteligente e sempre inovadora.

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design

DESIGN

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desde os tempos das cavernas, a comunicação visual é de suma importância para os seres humanos, seja funcionando como uma mera forma de diálogo ou como, mais posteriormente, um potencializador da integração cultural, tecnológica e econômica (FUENTES, 2006). De maneira silenciosa e sutil, ela é capaz de criar laços sentimentais, moldar pensamentos, quebrar paradigmas e influenciar nas decisões de quem a recebe — sendo assim, é possível afirmar que as escolhas estéticas de um objeto, sejam elas bem pensadas ou não, são os primeiros aspectos a serem percebidos (antes mesmo de abrirmos a boca para explicá-los), e possuem o poder de impactar o espectador desde sua primeira percepção.

No entanto, o design vai muito além da estética — ele trata, também, de funcionalidade, praticidade e aprimoramento.

Ele estuda as melhores maneiras de se produzir um objeto, um serviço, um conceito, analisando não apenas o seu primeiro impacto visual, mas igualmente a sua eficiência, sua utilidade e o seu propósito. De que adianta para o consumidor adquirir uma chaleira maravilhosa, esteticamente impecável, se, na hora de servir o chá, a água transborda pela sua boca e não pelo seu bico? Ou um carro cuja configuração não leva em consideração os tamanhos diferentes das pernas de seus passageiros? (CARDOSO, 2016).

Assim, o estudo e a aplicação do design em sua essência nada mais são do que a estruturação dessa combinação de fatores de maneira lógica e extremamente bem planejada, de modo a criar algo que seja sua melhor versão possível — é por isso que o design, quando bem empregado, é um alicerce

figura 23 Azulejos feitos a partir de vidro reciclado de antigos fornos microondas e fogões. (Fonte: Dezeen, 2021).

o design é um alicerce fundamental para a construção do futuro. fundamental para o aprimoramento não apenas da realidade atual, como também para a construção de um futuro moldado por qualquer que seja o melhor caminho. Por consequência, pode-se dizer que o design é um dos maiores responsáveis (se não o maior) por gerar estruturas determinantes no desenvolvimento do planeta, principalmente, se levarmos em consideração que atualmente a população é quase completamente norteada pelo consumo (FUENTES, 2006).

Dessa forma, partindo da alegação que o design pode influenciar a sociedade e, tendo em conta a atual situação global em relação à sustentabilidade e ao meio ambiente (como visto nos capítulos anteriores), fica ainda mais clara a importância e urgência do design desempenhar o seu papel como agente transformador no modelo atual de consumo, apresentando alternativas e caminhos mais ecológicos, propondo mudanças estruturais nos modos de produção, sugerindo novos materiais e maneiras de utilizá-los, e guiar as marcas e empresas rumo a um futuro cada vez mais verde.

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DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE

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5.1 design e sustentabilidade

a maior e mais importante função do design é atuar como um meio de entendimento e resolução de problemas — sejam eles simples, como adequar a altura dos móveis para que as pessoas que os utilizam não tenham dores nas costas, ou complexos, como, por exemplo, “como acabar com a fome no mundo?”. Atualmente, nossos problemas mais preocupantes e que precisam ser revistos com urgência consistem na nossa relação com o meio ambiente e no nosso convívio como comunidade; problemas estes que vêm se mostrando cada vez mais iminentes.

Como visto anteriormente, o desenvolvimento sustentável se fundamenta, basicamente, em um modelo de desenvolvimento que possa atender a todas as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a existência ou o sustento de possíveis gerações futuras — e é nossa missão, se quisermos garantir um bom futuro para as próximas gerações, aprimorar o nosso modo de vida atual de modo que possamos nos encaixar nos padrões de sustentabilidade (FUNK, 2010). Seja a partir de um redesign ambiental, que visa a melhora da eficiência do consumo de matérias primas e da reutilização das mesmas, posteriormente; a partir da concepção de novos produtos e serviços, sejam eles considerados sustentáveis apenas em parte ou completamente, bem como a adoção de tecnologias que facilitem esse processo; ou, por fim, e em um âmbito bem mais estrutural, a proposição atividades em âmbito social e cultural, que possam vir a transformar os hábitos atuais, tanto de consumo quanto de convivência (MANZINI, 2002, apud FUNK, 2007, p. 9).

figura 24 Embalagens de cosméticos feitas de sabonete. (Fonte: Dezeen, 2019).

figura 25 Embalagens de cosméticos feitas de sabonete. (Fonte: Dezeen, 2019).

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DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE Dessa forma, o ecodesign consiste, essencialmente, na criação de produtos e serviços que sejam mais respeitosos com o meio ambiente, de maneira a minimizar o impacto ambiental o máximo possível — isso não somente na fase de elaboração dos mesmos, como também nas fases de uso e na gestão de resíduos, contemplando todo o ciclo de vida de tudo aquilo que for criado, visto que nenhum objeto morre; ele sobrevive, nem que seja como lixo (FUNK, 2007; CARDOSO, 2016).

Dito isso, a partir do momento em que a questão da sustentabilidade entrou em voga, como vimos nos capítulos anteriores, a cobrança para desenvolver produtos e processos cada vez mais de acordo com os parâmetros ecológicos passou a ter um peso ainda maior nos ombros das empresas — o que fez com que passassem a buscar soluções criativas para tais problemas e adequar suas linhas de produtos às novas normas, ou ainda, a desenvolver novos tipos de produtos a fim de conquistar esse novo lado do mercado (FUNK, 2007). Um exemplo é a Natura (2020)14, que foi uma das marcas pioneiras na área de sustentabilidade no Brasil, que desenvolveu toda uma linha de cosméticos veganos e com embalagens feitas a partir de plástico reaproveitado. A linha Natura Ekos é apenas um dos exemplos de como uma empresa pode se tornar mais verde, de pouco em pouco, mesmo tendo começado de maneira diferente — é possível transformar sua essência e seus valores para se adaptar a novas realidades.

Além disso, as propostas da marca e a sua relação com a sustentabilidade e o meio ambiente vêm se tornando 70

14 A Natura foi criada em 1969, mas só passou a adotar uma atitude verdadeiramente mais sustentável a partir do início dos anos 2000, tornandose pioneira no Brasil.

figura 26 Linha Natura Ekos, de andiroba.

(Fonte: Natura, 2019).

a natura foi uma das pioneiras, no Brasil, no quesito sustentabilidade. cada vez mais uma vantagem competitiva, visto que tal transparência e preocupação geram um valor agregado ao produto — valor este que é reconhecido e bem visto pelos clientes (FUNK, 2010). Com o aumento gradativo nas certificações e legislações que favorecem o meio ambiente, as marcas buscam cada vez mais desenvolver o tipo de produto que se encaixa nesses parâmetros, porém não é suficiente apenas se adequar às regras, é necessário que a filosofia da empresa converse com essas novas diretrizes — até porque, de acordo com Funk (2010), “a responsabilidade da empresa não termina quando o produto é entregue ao consumidor”. É preciso bem mais do que apenas desenvolver uma linha “mais verde”.

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DESIGN: DESIGN E SUSTENTABILIDADE figura 28 Tecido de cera da marca Zum. (Fonte: Zum Tecido de Cera, 2021).

figura 27 Campanha das calcinhas absorventes da marca Pantys.

(Fonte: Pantys, 2018).

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Atualmente, em contraposição ao caso da Natura (que se tornou sustentável ao longo dos anos), o número de empresas que já nascem com um propósito mais voltado para a sustentabilidade é cada vez maior — a própria personalidade da marca possui esse conceito de eco-friendly como um de seus pilares, intrínseco à sua essência. A Pantys, por exemplo, é uma marca que foi criada a partir da união de uma necessidade fisiológica feminina com o desejo de reduzir o impacto ambiental gerado por ela: a quantidade de absorventes descartáveis usados por uma única mulher em sua vida é absurdamente numerosa e gera um volume imenso de lixo do pior tipo (aquele que não pode ser reciclado e, ainda por cima, demora séculos para se decompor); pensando nisso, as meninas da Pantys desenvolveram uma calcinha absorvente reutilizável, feita a partir de tecidos biodegradáveis, que segura bem todos os tipos de fluxo e, de quebra, dão maior segurança com relação a vazamentos e proporcionam uma sensação de conforto que a maioria das mulheres não sente usando absorventes descartáveis.

Além da Pantys, existem diversas outras marcas que nasceram a partir dessa vontade de resolver um problema (que, teoricamente, já tinha sido resolvido) de uma maneira ainda mais sustentável e eficiente. A Zum Tecido de Cera, um outro exemplo, veio para resolver, de maneira mais ecológica, o problema de armazenamento de sobras de comida — o que, a princípio, já tinha sido resolvido com a invenção do famoso “plástico filme” (só que, pera aí, o próprio nome

hoje, marcas já nascem com um propósito voltado para a sustentabilidade. já deixa implícito o tanto de resíduo que isso gera!), agora é feito de maneira bem menos agressiva para o meio ambiente, através do uso de um pedaço de tecido 100% algodão envolto em cera de abelha. É dessa maneira que podemos observar com bastante clareza o nível de importância de um design consciente, que esteja sempre ligado a causas em prol do meio ambiente, a fim de solucionar todos esse problemas que na nossa cabeça já foram resolvidos e todos aqueles que ainda não foram, de maneira ainda mais eficiente e que ajude, também, o planeta.

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DESIGN: BRANDING

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5.2 branding

figura 29 Embalagens de algumas das marcas mais famosas de skincare.

(Fonte: Town&Country, 2021).

em um mundo pós-globalização, a concorrência entre as marcas se torna cada vez mais acirrada, principalmente, com a expansão dos mercados locais para o âmbito internacional — o que fez com que os consumidores passassem a ter cada vez mais variações das mesmas soluções e a ter que escolher, dentre elas, a que mais combinasse com seus respectivos estilos de vida (ou ainda, a primeira que fisga seu olhar em uma estante de supermercado). Neste mercado saturado que temos atualmente, as empresas devem buscar maneiras inovadoras de criar ligações emocionais com seus clientes, a fim de estabelecer com eles relações duradouras que, aos poucos, transformam seus produtos em artigos insubstituíveis (WHEELER, 2019). figura 30 Estilo da marca Magic Mind, cujo produto é matcha.

(Fonte: Unsplash, 2020).

De acordo com Costa (2008), “quanto mais partes se incorporarem a esse todo que é a marca, maior será sua complexidade”. Ou seja, uma marca deve ser muito mais do que seu simples visual, por mais bonito e marcante que ele seja — ela deve ter alma, valores, gostos, vontades e, inclusive, deve tomar todas as suas ações dentro dessa personalidade pré-definida. É claro que a aparência vai ser sempre a primeira a ser percebida e também deve ser extremamente bem pensada (e vamos falar mais sobre isso mais para frente, no próximo item), mas as comunicações verbal e visual devem andar de mãos dadas, sendo duas faces de uma mesma moeda — todas as escolhas verbais devem estar de acordo com as visuais e vice-versa, tornando a marca mais complexa, quase como um sistema vivo, um ser humano, e menos como uma simples marca que visa apenas vender seu peixe (COSTA, 2008). Não é à toa que muitas marcas atualmente têm apelado para o mundo 3D, dando um rosto e uma aparência humana para o seu negócio — mostrando que por trás de todos os seus produtos, existe uma pessoa —, se aproximando ainda mais do consumidor.

No entanto, essa construção da marca, quando bem feita e levada a sério, envolve muito mais do que apenas um boneco 3D. É necessário saber não apenas o que o consumidor quer, como também o que ele precisa, e é por isso que são realizadas inúmeras pesquisas antes de se iniciar a construção de uma marca: o gosto do seu público alvo 75

DESIGN: BRANDING pode afetar até mesmo fatores estruturais, como a escolha de um nome. Ademais, o nome é apenas o começo da caracterização de uma marca, de modo que é preciso, também, definir questões como: quais os valores da sua marca?

No que ela acredita? Como ela se comporta? Quais lutas ela defende? Com perguntas dessa natureza, é possível definir toda uma personalidade que representa a marca da maneira mais fiel possível, gerando, assim, a cultura da marca.

E é dentro dessa cultura, dessa identidade, que a marca deve sempre se mostrar, se comportar, sendo a todo momento 100% coerente com o pré-estabelecido em todos os âmbitos possíveis, seja no atendimento ao cliente ou na decisão das embalagens, todas as áreas devem estar de acordo. De que adianta uma marca que diz se importar com a sustentabilidade fazer parcerias com outras marcas que fazem uso de trabalho escravo, por exemplo? É necessário que o posicionamento da marca seja sempre seguido à risca, ou ela pode perder credibilidade com o cliente e, dessa forma, o carinho e a fidelidade do seu público — de acordo com Wheeler (2019), “posicionar uma marca para ser insubstituível exige um desejo diário de querer ser melhor”. A marca Tiffany's, por exemplo, definiu o luxo e a elegância e a atemporalidade como parte fundamental da sua identidade e foi consagrada como "a marca ideal" para se comprar anéis de noivado, o que acabou se tornando uma parte importantíssima de sua identidade — toda e qualquer ação da marca é tomada dentro desse contexto.

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figura 31 A cor característica da marca Tiffany's e suas embalagens de aliança.

(Fonte: Tiffany's, 2021).

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Além disso, quanto mais áreas forem abrangidas pela sua marca, melhor. Atualmente se fala muito em transmídia, uma área do marketing que vem se tornando cada vez mais popular e que consiste numa estratégia de utilização de vários tipos de mídia para criar uma grande variedade de produtos que se complementam entre si, dentro de um mesmo universo (RENNÓ, 2020). Um ótimo exemplo seria a franquia Star Wars: o primeiro filme da saga foi lançado há mais de 50 anos e ainda hoje conquista fãs ao redor do mundo; isso acontece, porque a franquia possui uma vasta variedade de suportes, incluindo bonecos, livros, jogos, quadrinhos e até um parque de diversões, cada um mostrando diferentes aspectos de uma mesma essência, de uma mesma cultura. Essa é apenas uma das muitas estratégias utilizadas para captar a atenção e a fidelidade do consumidor, uma vez que o faz sentir como se fosse parte desse universo, como se contribuísse com ele diretamente — e é por esse motivo que é muito importante ter essa cultura bem definida e estruturada, mantendo-se sempre coerente a fim de estabelecer uma relação mais profunda, mais pessoal com o seu público (ROBERTS, 2005; RENNÓ, 2020).

Dessa forma, quanto melhor estruturada e coerente for a sua marca, mais valor agregado ela terá — o que é extremamente importante, uma vez que, atualmente, a atenção humana virou praticamente uma moeda de troca e a melhor forma de conquistá-la é cativando o cliente pelo emocional, quase como um relacionamento entre duas 78

figura 32 Figuras de ação da franquia Star Wars, lançadas no fim dos anos 70.

(Fonte: Smithsonian, 2017).

o consumidor deve ser conquistado pelo emocional, como em um relacionamento entre duas pessoas. pessoas (e não há nenhuma maneira de fazer isso através de um design mal pensado, sem sensibilidade, sem coração, praticamente robótico). Assim, é possível dizer que uma marca sem valor agregado é só mais uma de muitas, sem um fator que a diferencie das demais, sendo, assim, raramente escolhida pelo consumidor — a marca que conquista o afeto e o interesse de seu público, em contrapartida, se torna insubstituível e essa é a maior conquista de todas (ROBERTS, 2005; COSTA, 2008).

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DESIGN: IDENTIDADE VISUAL

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5.3 identidade visual

é claro que toda essa conquista começa pelos olhos — é necessário chamar a atenção primeiro para, em seguida, mostrar que o que há por dentro vale a pena. Afinal, o primeiro contato do consumidor não acontece diretamente com a marca em si, mas sim frente a frente com o produto, de modo que a primeira impressão gerada pelo que você vende será equivalente à primeira impressão do cliente com relação a própria marca (COSTA, 2008). Por isso, é imprescindível que em cada produto, ou em qualquer forma de mídia utilizada pela marca, exista a representação fiel da essência da marca e dos valores que ela carrega — e toda essa personalidade já deve ser contemplada em todos os elementos de uma marca, “da cabeça aos pés”, incluindo um dos elementos centrais da identidade visual: o logo.

Todavia, não é só por chamar a atenção do consumidor que uma forte identidade visual é tão importante; como o próprio nome “identidade” já sugere, ela serve igualmente como uma forma de identificação e reconhecimento, seja por formas, cores, materiais ou pelo próprio logo (COSTA, 2008). Um dos maiores e mais potentes exemplos desse reconhecimento da marca através da imagem é a coca-cola — a marca conseguiu transformar não apenas o vermelho de sua identidade visual, como também o formato de suas garrafas e até os ursos-polares (e, ainda, o próprio Natal!) em elementos característicos de sua marca. Claro, isso não é algo que acontece da noite pro dia, foram anos e anos de presença no mercado e inúmeras campanhas aprimorando

figura 33 Identidade visual da marca Bloom.

(Fonte: Unsplash, 2021).

cada vez mais tanto a imagem quanto o discurso da marca, até chegar no que conhecemos hoje.

Inclusive, é muito comum que marcas mudem sua aparência ao longo dos anos, a fim de se encaixar melhor com a cultura local, o contexto de mercado, os novos hábitos e tecnologias de cada época; no entanto, sempre respeitando sua essência. Nas palavras de Cardoso (2016): “a identidade está em fluxo constante e sujeita a transformação, equivalendo a um somatório de experiências, multiplicadas pelas inclinações e divididas pelas memórias”, ou seja, a identidade é sempre construída a partir da união de inúmeros ingredientes, e se tornando, assim, cada vez mais multifacetada.

O que seriam todos os modelos e todos os automóveis vendidos desde o primeiro dia até hoje pela Mercedes-Benz sem este nome e a marca-símbolo que os reúne? Somente automóveis, anônimos e desconexos. [...] Um produto sem imagem de marca, sem uma missão, uma ambição, não significa nada (COSTA, 2008).

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DESIGN: IDENTIDADE VISUAL figura 35 Identidade Visual da marca Chátu, inspirada nas plantações de chá.

(Fonte: Behance, 2021).

figura 34 Plantação de chá na China.

(Fonte: Behance, 2021).

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Dessa forma, cada um dos elementos visuais como formas, cores, ícones, estilo tipográfico e até a linguagem fotográfica funcionam como partes de um todo que devem sempre se complementar e estar de acordo com os valores da marca, comunicando toda a sua personalidade ao receptor, de maneira inconsciente — fazendo um apelo direto aos sentidos e, consequentemente ao emocional (WHEELER, 2019; ROBERTS, 2005). Portanto, a identidade visual deve ser encarada como a materialização de todos os conceitos subjetivos de uma marca.

De acordo com Wheeler (2019), “o design diferencia e incorpora os elementos intangíveis — como emoção, contexto e essência — que mais importam para os consumidores”.

Ademais, além do apelo estético, existe também a questão da forma em relação à funcionalidade do seu produto e à experiência que o comprador terá durante seu contato com ele. Como dito previamente, o primeiro contato do cliente com o seu produto acontece nas prateleiras: é preciso conquistar pelo olhar para ter uma chance de surpreender ainda mais, com o conteúdo; mas de nada adianta levar para casa um produto bonito que não funciona apropriadamente. Por isso, existe todo um estudo de ergonomia, utilidade, preferências do consumidor e de materiais envolvidos no processo de desenvolvimento da embalagem, com o objetivo de aprimorar cada vez mais o design, de maneira que gere ao cliente uma experiência inesquecível — pela qual ele com certeza gostará de passar novamente (CARDOSO, 2016; WHEELER, 2019).

o design deve sempre incorporar elementos intangíveis, como emoção, contexto e essência.

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DESIGN: EMBALAGEM

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5.4 embalagem

de acordo com Wheeler (2019), embalagens são apenas “marcas nas quais você confia o suficiente para levar para dentro de casa”, sendo elas o único formato de mídia das marcas com o qual o cliente interage totalmente. Desse modo, é preciso pensar muito bem não apenas no formato das embalagens como também no seu discurso, na ergonomia, nos materiais e tudo que envolve esse primeiro contato com o seu público alvo. Inclusive, é importante ressaltar que a responsabilidade por parte da marca para com as suas embalagens não termina no momento em que elas passam pelo caixa e vão para a casa do cliente — a vida útil de uma embalagem não termina por aí; é preciso pensar, igualmente, no pós-vida, o que inclui não apenas o descarte como, também, as possíveis formas de evitar ao máximo grandes impactos ao meio ambiente (CARDOSO, 2016).

Primeiramente, vamos falar das questões estéticas para, em seguida, adereçar a questão da vida útil de um produto. À vista disso, podemos observar que o processo de desenvolvimento de uma embalagem, normalmente, há de passar pelas seguintes etapas: inicialmente, é necessário esclarecer pontos básicos, como as metas e o posicionamento da marca em relação àquele produto, o público alvo, os benefícios do produto, o preço e delimitar a concorrência; então, partimos para a parte de pesquisa, seja ela interna (como, por exemplo, o valor, os padrões e a arquitetura da marca) ou externa (pesquisa de fornecedores, materiais, exigências legais etc.); em seguida, há a determi-

a vida útil de uma embalagem não termina na compra do consumidor.

figura 36 Projeto de redesign da embalagem de pasta de dentes.

(Fonte: Behance, 2019).

nação de critérios funcionais, como o espaço que o produto deve ocupar na prateleira, dimensões, uso, capacidade de conteúdo, durabilidade, entre outros; com isso definido, é preciso escolher os materiais, as especificações de impressão e de acabamento — como será o rótulo? Adesivado?

Como será impresso? E o material do recipiente? Terá uma caixa?; a partir daí já entramos na fase de finalização da parte básica do produto, definindo seu visual e, em seguida, partindo para testes e prototipação. O processo, no entanto, não termina quando o produto é lançado — sempre há espaço para entender o que poderia ter sido feito melhor e aprimorar cada vez mais o seu produto (WHEELER, 2019).

Sendo assim, a textura e sensação dos materiais, o formato, o acabamento e o visual — todos esses elementos mexem com as emoções de quem os observa e manuseia, 85

DESIGN: EMBALAGEM trazendo consigo uma boa (ou má) experiência sensorial.

Por esse motivo, o processo de desenvolvimento das embalagens acaba sendo extenso e muito bem planejado, a fim de que o resultado seja sempre positivo (WHEELER, 2019). Um ótimo exemplo de design de embalagem que preza muito pela experiência do cliente é o da Apple: se você nunca comprou um produto da Apple, provavelmente não faz ideia de como a experiência é satisfatória, mas posso garantir que a sensação física e emocional de abrir a caixinha de um celular pode ser incrível. Isso acontece porque, de acordo uma matéria que saiu no Gizmodo Estados Unidos (2012), a empresa possui um time de packaging design inteiramente dedicado e experimentar e a testar, por meses a fio, simples tarefas como abrir caixas — a intenção da marca é aperfeiçoar cada vez mais suas embalagens, a fim de que, ao abrir os seus produtos, os consumidores tenham uma resposta emocional 100% positiva e prazerosa (e pode-se dizer que eles obtiveram sucesso, uma vez que isso, realmente, é o que acontece).

Entretanto, como mencionado anteriormente, a estética e a experiência não são as únicas coisas que devem ser levadas em consideração durante o desenvolvimento de uma embalagem. A vida útil de um objeto vai muito além do simples ciclo de produção e compra — ele deve englobar, igualmente, o seu descarte e decomposição (ou reaproveitamento). Como vimos no capítulo sobre sustentabilidade, uma das grandes causas da poluição atualmente é o 86

figura 37 Embalagens e produtos da marca Apple. (Fonte: Unsplash, 2017).

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DESIGN: EMBALAGEM

figura 38 Embalagens sustentáveis de protetor solar. (Fonte: Behance, 2020).

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setor de embalagens (sejam elas alimentícias ou da indústria cosmetológica), principalmente, quando a composição de tais produtos envolve plástico. Apesar de as opções de embalagem mais sustentáveis ainda não serem o principal motivo de escolha por parte dos consumidores, elas vêm, aos poucos, conquistando seus corações e se tornando uma expectativa na hora da compra (RONCARELLI; ELLICOTT, 2010).

Dessa forma, com essa preocupação cada vez mais latente com relação ao meio ambiente, por parte da opinião pública, governos no mundo todo se viram na obrigação de implementar uma legislação mais rigorosa, que favorecesse o meio ambiente e colocasse a responsabilidade da gestão de embalagens nas mãos das próprias empresas. Tais regras exigem, principalmente, o uso de materiais com menor impacto ambiental possível; documentação das características técnicas e de comercialização das embalagens; rotulagem das mesmas indicando seu material, os responsáveis por sua coleta, entre outros itens importantes (RONCARELLI; ELLICOTT, 2010). Ainda que a legislação brasileira tenha alguns furos com relação à produção de embalagens eco-friendly, como dito nos capítulos anteriores, algumas marcas já se mobilizaram, ao observar que, gradualmente, o ecodesign se torna um pré-requisito, a criar (ou recriar) linhas e produtos que estejam cada vez mais dentro das diretrizes da sustentabilidade.

Dito isso, algumas opções de mudanças relacionadas a embalagens e que impactam o meio ambiente de uma ma-

neira mais positiva são: a troca de materiais menos duráveis para materiais com mais resistência e vida útil maior (como, por exemplo, trocar plástico por vidro), ou ainda, a substituição por materiais biodegradáveis; a implementação da política de refil, quando possível; a coleta e reciclagem de embalagens antigas, por parte da própria empresa; o uso de materiais que já passaram por um processo de reciclagem e, dessa forma, recebem uma segunda vida; entre outras. Dessa forma, as boas soluções advindas de um design bem pensado e estruturado podem fazer toda a diferença para o planeta em períodos de médio a longo prazo (RONCARELLI; ELLICOTT, 2010).

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o projeto

O PROJETO

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Portanto, tendo em vista esse cenário da necessidade de, por meio do design, alterar a realidade que vivemos hoje, de maneira que possamos estar cada vez mais vivendo dentro de padrões sustentáveis, éticos e caminhando para um mundo melhor, optei por ter como cerne do meu projeto o desenvolvimento de uma marca de cosméticos voltada para a pele, que estivesse dentro dos parâmetros de sustentabilidade atuais e promovesse o autocuidado sem culpa ou ressentimento. Com isso, priorizei a construção dos conceitos e valores da marca, o modo como a mesma se comunica e se mostra para o mundo, a concepção de uma identidade visual e a elaboração de embalagens que fossem não apenas esteticamente agradáveis, mas também funcionais e ecológicas, na medida do possível. .

figura 39 Autocuidado sem culpa.

(Fonte: Pexels, 2020).

desenvolvimento de uma marca de cosméticos voltada para a pele.

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O PROJETO: CASOS ANÁLOGOS

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6.1 casos análogos

Assim, com o tema definido, iniciei a pesquisa com relação aos casos análogos, buscando marcas que tivessem uma estrutura ou um apelo semelhantes ao que eu queria passar na minha própria marca. Baseando-me nas marcas que encontrei durante a pesquisa — algumas das quais eu mesma já utilizei —, desenvolvi esse diagrama que define quais delas cumprem com ambos os pré-requisitos que coloquei como essenciais para o desenvolvimento da minha marca, a fim de separar melhor quais delas eu usaria como referência.

Escolhi como minhas duas referências principais a LUSH e a B.O.B., uma vez que ambas englobam bem os pontos mais importantes. A primeira é uma marca britânica que foi pioneira no campo dos cosméticos sustentáveis e veganos. Ela não apenas adequou toda a sua produção a um método mais ambientalmente responsável como, também, se tornou uma forte militante das causas relacionadas aos animais e promove movimentos sociais e políticos ao redor do mundo. Todos os produtos da marca são veganos, orgânicos e sustentáveis (até mesmo as embalagens de plástico são recicladas pela própria marca, além de que todos os produtos são feitos à mão e com condições dignas de trabalho para todos os envolvidos — eles possuem diversas certificações que garantem esse comprometimento). Apesar de ter sido um grande sucesso no Brasil, assim como no resto do mundo, a marca optou por fechar as portas no país devido ao alto valor de tributos de importação e à instabilidade política.

figura 40 Produtos da marca Lush.

(Fonte: Lush, 2021).

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O PROJETO: CASOS ANÁLOGOS

figura 41 Produtos da marca B.O.B. (Fonte: B.O.B., 2020).

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Já a B.O.B. (Bars Over Bottles) é uma marca nacional de cosméticos voltados para o cuidado capilar que produz, principalmente, shampoos e condicionadores sem o uso de embalagens — todos os produtos são em forma de barra.

A proposta da empresa é exatamente trazer essa consciência ambiental de uma maneira prática e super estilosa: todos os produtos são veganos, orgânicos, não fazem uso de plástico e são extremamente práticos no dia-a-dia, ideais para quem já tem vontade de mudar a forma de consumo, mas não sabe bem por onde começar. A B.O.B. é, com certeza, uma forte referência nacional.

Dessa forma, optei por utilizar essas duas grandes marcas como minhas maiores referências para a construção não apenas dos valores da minha marca, como, igualmente, de seu comportamento e estética, uma vez que, de todas as marcas pesquisadas, estas são as que mais possuem um alto nível de sustentabilidade em sua essência, consciência e responsabilidade para com os animais e grande amor por parte do público que as utiliza.

97

O PROJETO: ENTREVISTAS

98

6.2 entrevistas

tendo em mente os resultados dessa primeira pesquisa de mercado, desenvolvi um esquema de entrevistas — o qual apliquei em amigos, conhecidos e amigos de amigos, tentando abranger o máximo possível de opiniões sobre o assunto. O público com o qual trabalhei possuía entre 20 e 35 anos, e era composto por homens, mulheres e pessoas não-binárias, de modo a evitar a associação das práticas de autocuidado com um único gênero.

Assim, elaborei uma série de perguntas com o objetivo de entender a rotina de cuidados com a pele dos entrevistados (se há alguma, qual tipo de produto é priorizado, se já existe um interesse em marcas mais éticas e transparentes, entre outros), e, também, a relação de cada um com os temas abordados pelo projeto no geral, como o veganismo, a sustentabilidade e, claro, os cosméticos. A pesquisa foi realizada via google forms, whatsapp ou até mesmo chamadas de vídeo.

Inicialmente, imaginei que os maiores problemas do consumidor com relação aos produtos veganos seriam: encontrar produtos que realmente fossem eficazes e suprissem suas necessidades; o preço alto que normalmente esse tipo de item possui e a falta de acessibilidade que isso acarreta; preconceito, por parte das pessoas que ainda consomem carne em outras áreas da vida, como na alimentação; desinteresse por parte dos consumidores que se identificam com o gênero masculino — não apenas com relação ao skincare, mas, também com relação aos produtos veganos (caso eles já não pertencessem a esse grupo); desinteresse do consumidor no geral em relação à sustentabilidade.

figura 42 Mulheres fazendo entrevistas.

(Fonte: Unsplash, 2019).

No entanto, com as respostas que obtive, algumas dessas suposições iniciais se confirmaram e outras, não. À vista disso, percebi que o público masculino, sendo ele vegano ou não, consome, sim, cosméticos e tem, em sua maioria, interesse em adquirir produtos que sejam mais benéficos para o planeta e todos os seus habitantes. Já com relação ao veganismo, muitas pessoas que ainda incluem a carne em suas dietas tentam, sim, modificar o consumo em outras áreas que sejam um pouco mais tranquilas e buscam, desta maneira, cosméticos, roupas e produtos veganos no geral, a fim de reduzir o impacto de seu consumo. Quanto ao preço, é possível dizer que é um fator crucial no momento de escolha apenas para uma parcela dos entrevistados — a outra parte não se importa de pagar caro, contanto que o produto seja bom.

Assim, pude concluir que os maiores problemas e dificuldades na hora de comprar cosméticos ou estabelecer uma rotina de skincare são, principalmente: encontrar marcas que sejam igualmente eficazes e ecologicamente corretas; a maioria das pessoas pensa que produtos veganos são tanto orgânicos como saudáveis e acaba investindo em marcas não tão confiáveis por conta dessa mentalidade; um parte dos entrevistados tem a concepção de que produtos veganos são demasiadamente caros, o que dificulta na hora da compra, mas a maioria deles até estaria mais disposta a investir nesse tipo de produto se fossem mais acessíveis ou mais fáceis de encontrar, mas muitos não sabem nem por onde começar e acabam se frustrando.

99

O PROJETO: PERSONAS E JORNADAS

100

6.3 personas e jornadas

com essas questões levantadas, desenvolvi três personas principais para representar o público alvo da minha marca, baseadas nas respostas e nos tipos de pessoa mais marcantes nas entrevistas. A primeira é a que eu defini como “A Mística”: Marina Alves tem 20 anos, é estudante e estagiária e ainda mora com os pais; ela ama cuidar da pele e se preocupa muito com o que entra em contato com o seu corpo — além de ser adepta de todos os tipos de medicina alternativa, bem como fã de astrologia e super conectada consigo mesma; ela é vegetariana, mas ainda consome poucos produtos de origem animal, mesmo que em quantidades reduzidas; na hora de comprar, no entanto, ela sempre dá prioridade para marcas mais sustentáveis e cruelty-free; ela não se importa de pagar caro por um produto, contanto que ele seja bom para ela e que tenha sido feito de maneira ética e respeitando todos os seres envolvidos no processo.

Em segundo, temos “O Explorador”: Lucas Torres tem 30 anos, trabalha como freelancer e já sustenta a própria casa, na qual ele mora sozinho; ele está mais interessado em descobrir e testar marcas diferentes, até encontrar uma que vá totalmente ao encontro de seus valores, ou que ele ache que vale o investimento; ele não é vegetariano, ainda, porque tem muita dificuldade de cortar a carne de sua rotina mais agitada, mas possui um amor muito grande pelos animais e sofre muito de pensar em qualquer tipo de violência praticada contra eles; além disso, ele é novato nesse assunto de “cuidar da pele”, então se sente meio perdido em relação ao que comprar, como

Gráfico 5: Personas.

Fonte: Aquivo pessoal, 2021.

a mística

o explorador

comprar, quais benefícios deve buscar etc.; Lucas não se importa muito em pagar caro por um produto, contanto que ele seja de uma boa marca e que, preferencialmente, seja benéfico para o meio ambiente de alguma forma; ele busca sempre consumir de marcas que não realizam testes em animais.

Por fim, “A Trabalhadora”: Ananda Saito tem 26 anos, já trabalha em uma empresa grande, mas ainda mora com a família; ela gosta muito de cuidar do corpo e da pele, mas não sabe muito bem como — de maneira que sempre busca conselhos de amigos ou indicações de influencers; por estar sempre ocupada com o trabalho ou ajudando a família em

a trabalhadora

casa, ela busca uma rotina mais prática de skincare e prefere não gastar muito tempo na hora de pesquisar o que comprar (ela se baseia muito em opiniões que encontra online, seja em sua rede do instagram ou nos reviews dos produtos em sites mais famosos; Ananda também não tem como ficar gastando muito dinheiro com esse tipo de produto, uma vez que seu salário ajuda a pagar as contas de casa — por isso, ela acaba não sendo muito criteriosa com o que consome e acaba comprando o que quer que seja que esteja mais em conta; ela ainda come carne, porém tem o desejo de mudar o seu consumo com alternativas mais sustentáveis.

101

O PROJETO: PERSONAS E JORNADAS

marina alves, 20 A MÍSTICA

antes

Necessidade de cuidar da pele como cuida do resto do corpo.

102

durante

Busca produtos que estejam de acordo com seus valores.

Encontra algumas opções veganas e super “cool”.

Gráfico 6: Jornada Marina. Fonte: Aquivo pessoal (produzido a partir de entrevistas), 2021.

depois

As compras vêm embaladas em um monte de plástico.

Não compra mais, para não gerar tanto lixo.

Com essas três personas principais desenvolvidas, pensei na jornada de cada uma delas, a fim de me guiar por esse processo e encontrar os principais pontos que mais precisam ser trabalhados na experiência de compras. Na jornada da Marina, podemos observar que suas prioridades são: primeiramente, itens veganos e cruelty-free; em seguida, a questão da sustentabilidade do produto; e, por fim, o preço — ela não se importa muito com esse último, contanto que os dois primeiros sejam atendidos. Os pontos mais importantes na jornada dela são o incômodo que ela sente com a quantidade de plástico gerado pela compra, estando presente não somente nas embalagens dos próprios produtos, como, também, em itens usados para protegê-los como plástico bolha e afins, e a frustração gerada por essa experiência — que a leva a evitar consumir naquela marca.

103

O PROJETO: PERSONAS E JORNADAS

No caso do Lucas, já observamos uma ordem diferente de prioridades: ele leva em consideração em primeiro lugar o bem estar animal, mas logo depois já podemos ver certa preocupação com o preço, afinal, ele sustenta a própria casa e nem sempre pode se dar esse tipo de luxo; por último, mas não menos importante, vemos a questão da sustentabilidade — ele tenta comprar sempre dentro dos três itens, mas, se não encontra algo dentro do seu orçamento, deixa de lado a questão da sustentabilidade. Os principais pontos na sua jornada são a frustração gerada por não conseguir encontrar muitas marcas que contemplem as três questões e o sentimento de culpa por estar usando, no fim, um produto que pode estar prejudicando o planeta de alguma forma.

104

lucas torres, 30 O EXPLORADOR

antes

Começou a sentir os efeitos da idade e quer cuidar da pele.

durante

Busca por produtos que sejam veganos e sustentáveis.

Não consegue achar os produtos que quer; os que acha são caros.

Gráfico 7: Jornada Lucas. Fonte: Aquivo pessoal (produzido a partir de entrevistas), 2021.

depois

Escolhe a alternativa “menos pior” e compra.

Se sente culpado ao descartar os produtos depois de usar.

105

O PROJETO: PERSONAS E JORNADAS

ananda saito, 26 A TRABALHADORA

antes

Quer transformar a rotina de skincare em algo mais eco-friendly.

106

durante

Suas amigas recomendam produtos veganos.

Infelizmente eles são um pouco mais caros que os não veganos.

Gráfico 8: Jornada Ananda. Fonte: Aquivo pessoal (produzido a partir de entrevistas), 2021.

depois

Lê as avaliações e opta por comprar o não vegano.

Se sente culpada usando um produto que fere os animais.

Já na jornada da Ananda, vemos que a prioridade número um é sempre a questão monetária, o que faz com que ela acabe priorizando um produto com bom custo-benefício e deixando em segundo plano o bem estar animal e, por último, a sustentabilidade. Os principais pontos na sua jornada são a influência que suas amigas e conhecidos têm sobre a sua decisão, na hora de escolher um produto; as avaliações contidas nos sites onde ela realiza suas compras — a opinião dos outros é um fator determinante para ela em todos os momentos; e, assim como o Lucas, a culpa que vem após a compra e o uso de um produto não está tão dentro dos padrões de sustentabilidade quanto ela gostaria.

Com isso, os principais pontos a serem trabalhados na marca que decidi desenvolver são: eliminar ou atenuar ao máximo esse sentimento de culpa que vem após o consumo, através da produção de uma marca que além de ter um bom custo-benefício seja o máximo sustentável possível e respeite os animais; reduzir ao máximo o uso de materiais poluentes, como o plástico (tanto na embalagem principal quanto em embalagens secundárias); e, por fim, criar uma marca divertida e charmosa, que seja transparente e possua uma linguagem amigável e acessível, cuidando não apenas da pele do consumidor, como do seu bem-estar e do planeta, no geral. .

107

O PROJETO: A MARCA

108

6.4 a marca

sendo assim, desenvolvi meu golden circle, a fim de definir a estrutura essencial da minha marca, seus pilares e valores e os objetivos que gostaria de alcançar com ela, levando sempre em consideração as descobertas feitas na fase de pesquisa. Dessa forma, defini como o ponto central do projeto o autocuidado sem agredir o planeta e sem culpa, “pelas pessoas e pelo planeta” — o qual será contemplado através do uso de ingredientes naturais, de modo que siga os princípios da cultura zero waste e não prejudique os animais, utilizando embalagens biodegradáveis e prezando pela sustentabilidade, popularizando a causa. O resultado desse combo é uma marca de cosméticos nacional, com uma estética super divertida e convidativa e o máximo sustentável possível.

Dessa maneira, defini não apenas os valores e a personalidade da minha marca como, também, um “mapa astral” fictício, a fim de exemplificar de maneira mais dinâmica suas principais características e me ter algo mais concreto como guia durante todo o processo de criação — desde o modo como a marca se comunica até seus aspectos visuais. A marca, portanto, possui sol em câncer, uma vez que seu cerne se resume ao cuidado com os outros, com o mundo, e câncer é o signo mais maternal do zodíaco; o ascendente, que é como o mundo nos enxerga, seria em aquário — o signo mais revolucionário, que gosta de fazer diferente e almeja mudar o mundo; e a lua, que representa nossas emoções, seria em peixes: super sensível, sonhadora e criativa, só está bem se está fazendo algo pelos outros

what Uma marca de cosméticos nacional, linda e super sustentável!

OS PILARES DA MARCA:

how

amiga carinhosa cuidadosa

pioneira revolucionária descolada

preocupada responsável transparente

Através do uso de ingredientes naturais, de modo que siga os princípios da cultura zero waste e não prejudique os animais, utilizando embalagens biodegradáveis e prezando pela sustentabilidade, popularizando a causa.

why ou por um bem maior. Logo, podemos observar os pilares da marca como pertencentes a estes três conceitos: o cuidado, a inovação e a sustentabilidade.

Além disso, levando em consideração que o público alvo não engloba apenas pessoas veganas e vegetarianas, mas, sim, todos os tipos de público, optei por proporcionar à marca uma abordagem mais convidativa, incentivando o consumo de produtos veganos sem militância e sem gerar nenhum sentimento negativo, de culpa, no consumidor.

Desse modo, o tom de voz da marca é sempre amigável e inclusivo, se comunicando sempre como aquela boa e

Autocuidado sem agredir o planeta.

Gráfico 9: Os pilares da marca. Fonte: Aquivo pessoal, 2021.

Gráfico 10: Golden Circle. Fonte: Aquivo pessoal, 2021.

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O PROJETO: A MARCA

velha amiga compreensiva que sempre te dá bons conselhos, mas nunca julga os seus atos; fazendo uso, também, do pronome neutro, a fim de fazer com que todas as pessoas se sintam amadas e incluídas; utilizando o anglicismo em dados momentos, mas sempre com a explicação de todos os termos em português; e sempre convidando, de maneira leve e didática, o consumidor a entender mais sobre o veganismo e a sustentabilidade. A marca não faz uso de palavrões em momento algum, mantendo sempre um ar elegante e educado.

Com relação à escolha do nome, aconteceu inesperadamente durante o processo de pesquisa inicial que realizei a fim de ter uma base para escrever os primeiros capítulos desta monografia, quando me deparei com uma frase que me marcou muito e que, na minha visão, fez total sentido com o que eu queria passar com essa marca. De 110

figura 43 O cosmos. (Fonte: Pexels, 2015).

acordo com Amberg e Magda (2018), “All of us are responsible for the condition of the Earth in our micro cosmos” — o que, em uma tradução livre, quer dizer que todos nós somos responsáveis pela condição da Terra no nosso microcosmos. Foi exatamente dessa ideia de que fazer a diferença dentro da nossa própria realidade, dentro daquilo que podemos fazer, que saiu o nome “Cosmic”, o primeiro item da identidade da minha marca.

Derivado de “cosmos”, o termo “cosmic”, em inglês, tem o mesmo significado que o termo “cósmico”, em português — inclusive, a forma de escrita é praticamente a mesma, e esse foi um dos fatores que me levou a usá-lo, mesmo sendo uma forma de anglicismo, visto que não seria difícil de entender, nem mesmo para o público que não fala inglês. Preferi “cosmic” do que “cósmico” por mais outros dois motivos. Em primeiro lugar, levei em consideração que, na língua inglesa, não há uma definição de gênero, podendo uma mesma palavra fazer menção a uma coisa, seja ela masculina ou feminina, e isso por si só já combinava muito com a proposta da marca. O segundo motivo seria a fonética do nome: “cósmico cosméticos” tem um som estranho, uma vez que repete a sílaba “co” várias vezes e vira quase um trava-línguas (além do perigo de falar “cocô” no meio do nome); “cosmic cosmetics”, em contrapartida, flui perfeitamente na boca, mesmo se for pronunciada com sotaque carregado, e fica não só mais fácil como, também, mais gostoso de pronunciar — e não faz alusão a fezes.

111

O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

112

6.5 identidade visual

figura 44 Moodboard da marca.

(Fonte: Arquivo Pessoal, 2021).

tendo a essência da marca definida, passei para a fase de definição da identidade visual, a fim de sintetizar os conceitos definidos na fase anterior em algo que pudesse ser percebido pelo consumidor logo no primeiro contato com os produtos. Assim, a primeira etapa dessa nova fase consistiu na criação de um moodboard, para definir todos os detalhes de como eu gostaria que a marca fosse vista.

Nele, incluí elementos como ingredientes naturais, formas orgânicas, itens de beleza e autocuidado, imagens que transmitem uma sensação de paz e de diversão, ao mesmo tempo, entre outros componentes. A ideia era passar bem esse conceito de conexão com a natureza, com um lado bem místico, ligado à astrologia, ao carinho e ao cuidado, mas sem perder esse quê de diversão e descontração. Além disso, queria que toda essa sensação de produto orgânico fosse contemplada, que o conceito "from farm to table" pudesse ser visto claramente, mesmo que de um jeito moderno e descolado.

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PANTONE 486 C RGB 252 199 74 CMYK 0 25 80 0 HEX FCC74A PANTONE 7615 C RGB 252 173 34 CMYK 0 40 90 0 HEX FCAD22

PANTONE 176 C RGB 251 225 113 CMYK 5 10 65 0 HEX FBE171

PANTONE 7439 C RGB 2247 143 44 CMYK 0 55 85 0 HEX F78F2C PANTONE 7677 C RGB 239 115 3 CMYK 0 65 100 0 HEX EF7303

PANTONE 2562 C RGB 255 170 85 CMYK 0 40 75 0 HEX FFAA55

PANTONE 5483 C RGB 2238 135 133 CMYK 0 60 40 0 HEX EE8785 PANTONE 309 C RGB 221 77 74 CMYK 5 80 65 0 HEX DD4D4A

PANTONE 572 C RGB 255 192 192 CMYK 0 35 20 0 HEX FFC0C0

PANTONE 5763 C RGB 169 135 192 CMYK 40 50 0 0 HEX A987C0 PANTONE 5743 C RGB 121 86 151 CMYK 65 75 5 0 HEX 795697

Levando em consideração os elementos presentes no moodboard, optei por uma paleta de cores bem colorida e divertida, que representasse a diversidade não apenas da natureza, como do nosso público alvo, e que desse leveza pra marca. Assim, usei como inspiração frutas e flores (ingredientes que poderiam ser usados nos próprios produtos) para definir as cores: o roxo representando a lavanda; o rosa, morango; o laranja, laranjas; o amarelo, maracujá; o verde, hortelã; e, por fim, o azul representando a flor jasmim. Optei, também, por três variações tonais em cada cor, a fim de flexibilizar o uso das mesmas, tendo sempre opções mais claras, médias ou mais escuras.

PANTONE 578 C RGB 217 184 232 CMYK 20 35 0 0 HEX D9B8E8

O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

PANTONE 127 C RGB 170 220 222 CMYK 40 0 15 0 HEX AADCDE PANTONE 1225 C RGB 85 141 155 CMYK 70 30 30 10 HEX 558D9B PANTONE 1235 C RGB 0 62 88 CMYK 100 65 40 35 HEX 003E58

PANTONE 804 C RGB 180 214 139 CMYK 35 0 55 0 HEX B4D68B PANTONE 715 C RGB 118 144 94 CMYK 60 25 70 10 HEX 76905E PANTONE 152 C RGB 56 74 49 CMYK 75 45 80 50 HEX 384A31

figura 45 Paleta de cores. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 46 Esboços de logo. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

Em seguida, comecei a estudar e trabalhar alguns caminhos de logo, tentando sempre representar o lado místico e cósmico da marca, seja com a tipografia ou com elementos visuais como a estrela. Os dois primeiros caminhos, como podemos ver ao lado, acabaram ficando muito duros e agressivos — destoando muito da forma de comunicação leve e elegante da marca. Os dois caminhos seguintes já estavam um pouco mais dentro da minha proposta de marca, com tipografias mais clássicas, serifadas, e com um pouco mais de personalidade — no entanto, ainda estavam um pouco “duras” demais, faltava movimento e delicadeza.

115

O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

figura 47 Versões logo final. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

Sendo assim, o logo final consistiu em uma versão mais refinada e elegante do último caminho (figura 47). A tipografia Wild Mango possui um charme que conversa muito bem com os conceitos da marca, passando bem essa ideia de requinte e descontração ao mesmo tempo — o alto contraste dos caracteres em conjunto com as serifas estilizadas dão um ar de elegância e tradicionalismo, enquanto as curvas suntuosas e a leve inclinação da letra “o” trazem esse ar jovial e divertido. O brilho como diacrítico do “i” funciona como a “cereja no topo do bolo”, trazendo todo aquele conceito de misticismo e de conexão com o universo. O uso do termo “cosmetics” no próprio logo funciona como um apoio para todos aqueles que se depararem com ele, de modo que as pessoas possam saber, sem precisar pesquisar, do que se trata a marca — a tipografia escolhida para representá-lo foi a Raleway, bastante limpa e coringa, em um peso mais leve e com um espaçamento maior, de modo que ficasse com uma aparência bem minimalista e não roubasse o protagonismo de “cosmic”, apenas complementasse o logo.

Aqui, podemos ver, também, alguns exemplos de aplicação do logo sobre fundos de tons diferentes, a fim 116

figura 48 Símbolo da marca. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 49 Selos. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

de ilustrar o devido uso do logo de acordo com o valor do fundo por sobre o qual ele será visto, independente da cor, evitando, assim, problemas de leitura e identificação. Além do logo, optei pelo uso de um símbolo da marca, para representá-la em momentos nos quais o uso do logo seria inadequado. O símbolo desenvolvido consiste em uma estrela de oito pontas, fazendo uma conexão bastante sutil com o brilho utilizado no pingo do “i” do logo final e servindo quase como um “selo” da marca. Inclusive, foi baseado no design desse símbolo que desenvolvi, conjuntamente, os selos da marca (figura 49), usados para decodificar de maneira visual as características dos produtos: vegano; cruelty-free; 100% reciclável; livre de materiais plásticos.

117

W O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

wild mango abcdefghij klmnopqr s t u v w x y z :)

118

R

RALEWAY

figura 50 Tipografia. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

AB C D E FG H IJ K LM N O PQ R STU V W X Y Z :) A tipografia da marca é exatamente a mesma utilizada no logo: para títulos e textos menores, com maior destaque, a Wild Mango, sempre em minúsculas; e para todos os tipos de texto mais extensos ou com menos destaque, seja em mídia impressa ou digital, a Raleway, em seus diversos pesos e estilos.

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O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

figura 51 Ilustrações tipo 1. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 52 Ilustrações tipo 2. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

Como elementos visuais, eu escolhi dois tipos de ilustração. O primeiro, mais lúdico e divertido, com formas mais orgânicas e um pouco mais abstratas, será utilizado em padronagens, seja nas embalagens, em ecobags ou em itens de embrulho, como papel de seda, por exemplo, ou nas caixas de envio por correio; pode ser utilizado apenas como o desenho em preto ou branco ou pode, também, ser utilizado em conjunto com uma forma equivalente ao desenho, porém colorida, como mostra na figura 51; este tipo contém representações de elementos da natureza, como, por exemplo: folhas, estrelas, algumas frutas, a lua e um coração, representando o carinho. O segundo tipo, mais realista e com um estilo mais vetorial, será utilizado como identificação dos cheirinhos de cada produto, sendo eles, como já dito no parágrafo sobre a paleta de cores: lavanda, morango, laranja, maracujá, hortelã e jasmim.

120

TIPO2

TIPO2

TIPO2

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O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

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figura 53 Key Visual. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

Dessa forma, desenvolvi o key visual da marca, contendo os aspectos mais importantes da identidade visual e como aplicá-los. Dentre eles, o uso do papel kraft como formato de mídia impressa (seja ela uma caixa, uma etiqueta, um cartão ou qualquer coisa do tipo), sempre acompanhado do conteúdo impresso em tinta branca, apenas. Nenhum elemento físico da marca, com exceção das embalagens principais dos produtos, conterão uma cor que não seja branco, de forma que o fundo sempre será ou o marrom do papel kraft ou alguma cor da paleta de cores. Além disso, o uso das ilustrações em branco ou preto, com ou sem as formas coloridas acompanhando. E, por fim, há, também, o uso de elementos de papelaria e colagem como fita adesiva, recortes e sobreposição de camadas — esta última parte, no entanto, fica mais voltada para aplicações em ambientes digitais, como site ou instagram.

123

O PROJETO: IDENTIDADE VISUAL

figura 54 Estilo fotográfico. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

O último, porém não menos importante, item que compõe a identidade visual da marca é o estilo fotográfico.

Ao desenvolvê-lo, optei por composições feitas em estúdio, sempre com fundos coloridos e formas geométricas (como cubos, cilindros, círculos, semicírculos, entre outros) de em cores complementares às das embalagens fotografadas, contracenando com elementos orgânicos e naturais como plantas e frutas, sempre de acordo com o cheirinho do produto fotografado — quando o produto for de lavanda (roxo), por exemplo, o fundo deve ser amarelo e os elementos orgânicos utilizados devem remeter à lavanda ou serem folhagens neutras. Na figura 54, podemos ver o moodboard de referências de estilo fotográfico montado para, a partir dele, desenvolver o produto final.

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125

O PROJETO: EMBALAGENS

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6.6 embalagens

figura 55 Referências de embalagens.

(Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

para as embalagens, montei mais um moodboard de referências bastante específicas com relação a estilos de embalagens, a fim de me guiar na hora de pensar em materiais, formatos, cores etc.. Alguns elementos já eram certezas para mim, como, por exemplo: eu sabia que queria usar o vidro como meu material principal, mas não sabia exatamente qual tipo de vidro escolher ou se deveria partir para a cerâmica; as tampas de madeira já eram uma escolha para mim, baseando-me, no entanto, apenas na estética nesse primeiro momento; e o fato de que eu não queria fazer uso de rótulo impresso — uma vez que este, se fosse colado, teria que ser feito de plástico, para não ser danificado com a água. Outros fatores, no entanto, fui descobrindo conforme desenvolvia os protótipos, como podemos observar nas próximas imagens. (figuras) 127

O PROJETO: EMBALAGENS Inicialmente, a intenção era ter um fundo branco com o rótulo impresso em preto e as cores da paleta em uma faixa, na parte inferior, a fim de diferenciar os cheiros de cada produto, como podemos ver na figura 55 (ainda com versões anteriores do logo). Já na figura 56, é possível observar um outro caminho, agora trabalhando com duas cores ao invés de três e fazendo o uso de uma moldura para delimitar bem a área do rótulo; além disso há também o uso de uma ilustração centralizada, mais um elemento para identificar o cheiro. Mais adiante, esbocei um novos caminhos, voltando ao esquema de três cores, como podemos ver na figura 57, testando cada vez mais os elementos utilizados e a disposição de cada um deles.

Na figura 58, é possível observar um caminho semelhante ao anterior, porém, agora, com o uso de formas orgânicas — o qual foi descartado por remeter, visualmente, a uma embalagem de leite. A partir da figura 59, no entanto, a embalagem começou a tomar uma forma mais fiel àquilo que eu queria passar; ainda usando três cores, comecei a trabalhar o uso das ilustrações do tipo 1 nos rótulos a fim de deixá-las mais divertidas, singulares e charmosas; a disposição permaneceu bastante similar nos próximos testes até o momento em que cheguei a uma conclusão do que seria a versão final da embalagem. Até o dado momento, estava apenas experimentando com formatos e materiais, com o intuito de explorar todas as possibilidades para, posteriormente, escolher a melhor.

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figuras 56 a 61 Caminhos de embalagem.

(Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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O PROJETO: EMBALAGENS

figura 62 Protótipo final. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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Por fim, como podemos observar no protótipo final, escolhi o vidro colorido fosco como material principal, uma vez que este é 100% reciclável e possui inúmeras possibilidades de reaproveitamento, sem contar que, por não ser transparente, protege mais o produto da intervenção de raios solares, sendo, assim, ideal para cosméticos naturais; ademais, o vidro é um material bem mais resistente e durável do que o plástico, tornando mais possível um esquema de refil dos produtos. Além do vidro, escolhi a cortiça e o bambu como material utilizado na fabricação das tampas dos meus frascos — a rolha para selar bem o produto, e a madeira para facilitar a manipulação da tampa em si e preservar a cortiça ligada a ela. Os rótulos serão totalmente impressos diretamente nos frascos por meio da técnica de tampografia, para a qual existem alternativas de tintas mais ecológicas, e em uma cor apenas, o branco, a fim de economizar não apenas no custo da produção como, também, poupar, ainda mais, o meio ambiente.

Quanto ao rótulo, usei a padronagem feita a partir da ilustração do tipo 1 para dar leveza e um ar descontraído para a embalagem, mas que, ao mesmo tempo, capturasse o olhar do consumidor. As ilustrações do tipo 2 entraram menores e centralizadas, com a finalidade de, juntamente com a cor do frasco, sinalizar o cheiro do produto. No verso da embalagem, constam os ingredientes utilizados, bem como instruções de uso, cuidados, os selos da marca, o código de barras e outras especificações obrigatórias.

figura 63 Rótulo. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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O PROJETO: EMBALAGENS

As diferentes alturas e formatos denominam qual o tipo de produto contido naquele frasco, podendo este ser: um gel de limpeza facial, um tônico facial, sais de banho, óleo para a região dos olhos, creme hidratante, esfoliante ou uma vela, como podemos ver esquematizado na figura 64. Para determinar esses tamanhos, foi levada em consideração a questão do custo-benefício levantada pela minha persona número 3, a Ananda: dei prioridade para formatos que favorecessem não apenas o uso dos produtos, facilitando a sua manipulação, como também a quantidade de produto contida em cada embalagem, de maneira que durassem mais — cada tamanho foi pensado de acordo com a frequência de uso de cada tipo de produto (o gel, por exemplo, é uma das maiores embalagens, uma vez que foi feito para ser usado todos os dias, tanto de manhã, quanto à noite; já o sal de banho, mesmo não é usado com tanta frequência possui ingredientes que estragam com bem menos facilidade, possibilitando uma embalagem igualmente grande).

Além dos produtos principais, pensei também em itens auxiliares como um conta-gotas de vidro, para auxiliar na utilização dos produtos líquidos; uma pazinha de bambu, para a utilização dos produtos cremosos; e pads de algodão, para aplicar produtos como o tônico facial, por exemplo.

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figura 64 Embalagens. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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O PROJETO: EMBALAGENS

figura 65 Produtos finais. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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figura 66 Sabonete em barra. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 67 Sabonetes. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

O único produto que não possui um tamanho pré-estabelecido ou uma embalagem dentro do padrão das anteriores é o sabonete em barra: feito de glicerina e, portanto, com uma composição bastante neutra, ele possui formato de cristal, bastante orgânico, e segue o esquema de identificação do cheiro através da cor; sua embalagem consiste em um saquinho de algodão cru, marcado apenas com o símbolo da marca, carimbado em seu exterior.

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O PROJETO: APLICAÇÕES

figuras 68 a 72 Aplicações. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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6.7 aplicações

desse modo, com os principais elementos da identidade visual definidos, parti para o desenvolvimento de itens secundários, mas tão importantes quanto os primários. Em primeiro lugar, a caixa para envios no correio: feita de papelão reciclado, apenas com as padronagens impressas nas suas faces laterais e o símbolo da marca no topo. Ao invés de fita adesiva, será usada a fita gomada, e no lugar do isopor ou plástico bolha, será usado o isopor de mandioca — duas alternativas mais sustentáveis que podem contribuir para a segurança dos produtos na hora de serem transportados.

Tanto as etiquetas dos produtos como a tag que vem em todas as compras, contando um pouco sobre a marca, serão feitas de papel kraft reciclado e impressas com a nossa característica tinta branca. Todos os detalhes pensados de acordo com a identidade da marca, a fim de conquistar o coração do cliente com todo o nosso carinho e cuidado. Além disso, desenvolvi uma ecobag para acompanhar as compras na loja física, de modo que possa substituir as sacolas de plástico e até mesmo as de papel, sendo usada para mais coisas após a compra.

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O PROJETO: EXPANSÃO DA MARCA

figura 73 Instagram. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

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6.8 expansão da marca

por fim, desenvolvi alguns elementos “extras” para complementar a expressão da marca, levando em consideração tudo o que já foi dito sobre transmídia, a fim de exemplificar o comportamento da marca em diversas plataformas e fazer com que o consumidor se sinta mais como um amigo íntimo e não tanto como um cliente. Em primeiro lugar, temos o instagram — as postagens na plataforma foram divididas em cinco categorias: (1) fotos de pessoas usando os produtos da marca, no dia a dia; (2) postagens informativas, falando sobre os benefícios dos ingredientes utilizados; (3) fotos dos produtos em fundos coloridos e divertidos; (4) vídeos no IGTV com dicas e sugestões para aprimorar a rotina, não apenas relacionados ao skincare, mas, também, ao veganismo e à sustentabilidade; (5) dados relacionados ao consumo mundial, seja de plástico, carne ou qualquer outro assunto relacionado, a fim de informar e conscientizar o consumidor. A esquematização dos posts será feita de acordo com o esquema mostrado pela figura 73, sempre seguindo a ordem de 3 posts por cor, podendo trocar a ordem das cores, a fim de não ficar sempre o mesmo esquema. A linguagem na rede será sempre descontraída, amigável e neutra, de modo que o cliente se sinta sempre à vontade para interagir e compartilhar, sem medo de julgamento.

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O PROJETO: EXPANSÃO DA MARCA

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figuras 74 a 81 Landing Page. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 82 Playlist. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

é só escanear e escutar!

Além do instagram, desenvolvi um protótipo de landing page, simulando a página inicial do e-commerce da marca. Aqui, optei por um design mais limpo, usando apenas cores como branco, preto e tons de cinza, dando bastante foco para as cores das imagens (protagonistas do site). Os botões são simples, em preto ou branco e usando a tipografia raleway, com hovering da cor oposta. Optei, também, por embutir a avaliação de cada um dos produtos, mostrando logo de cara a classificação de cada de acordo com a opinião dos usuários (mais para frente, quando mais páginas do site forem desenvolvidas, será possível ler as reviews dos outros clientes, auxiliando nas escolhas dos próximos compradores) — essa função foi pensada para suprir a necessidade da Ananda, persona número três, para quem as opiniões alheias eram extremamente importantes na hora da compra.

Por fim, desenvolvi uma playlist para a marca, no spotify, a fim de passar ainda mais a "vibe" da marca, de maneira leve e divertida, para que o consumidor possa se sentir ainda mais por dentro dela. A lista de músicas ficará disponível para o acesso a partir de um código QR, através de qualquer dispositivo e a qualquer momento.

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O PROJETO: EXPANSÃO DA MARCA

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6.9 normatização

figura 83 Brandbook. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021). figura 84 Conteúdo brandbook.

(Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

assim, reuni todas as normas e regras que coloquei para a marca em um brandbook, a fim de que fique bem claro para todas as pessoas que forem utilizá-la ou representá-la. Todos os parâmetros abordados neste livro estão presentes no manual da marca, bem como algumas especificações técnicas a mais, como a malha construtiva do logo e outros fatores importantes para a aplicação da marca, de maneira correta.

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conclusão

CONCLUSÃO

p

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para concluir este trabalho, gostaria de retroceder um pouco no tempo e analisar, brevemente, a minha trajetória durante esses três anos de curso. Quando ingressei na faculdade, eu via o design como algo puramente estético, agradável ao olhar, sem nunca ter levado em consideração o seu lado revolucionário e transformador — lado este que se tornou, ao longo do curso, a minha verdadeira paixão. Todos esses anos estudando, aprendendo e entendendo a verdadeira finalidade do design, a sua verdadeira essência pragmática, que resolve todos os problemas (não importando o quão grandes, ou pequenos, eles fossem), me fizeram entender que realmente era isso que eu queria para a minha vida.

Quando iniciei esse projeto, eu achava que podia mudar o mundo e que seria fácil fazê-lo — um pensamento um tanto quanto inocente da minha parte, afinal, se fosse fácil já teria sido feito. Hoje, no entanto, eu tenho certeza de que posso; mas sei que não será um processo fácil e, muito menos, que vai acontecer da noite para o dia. Posso dizer, com tranquilidade, que o curso em si abriu os meus olhos para a possibilidade de resolver os problemas do mundo; mas este projeto, em específico, me ensinou que, se eu tiver paciência e perseverança, eu serei capaz de encontrar uma solução criativa para cada um deles, na hora certa e do jeito certo, e nem sempre da maneira como imaginei que seria.

Logo nas primeiras semanas deste ano, quando tomei a decisão de qual tema queria seguir, eu tinha certeza de que encontraria uma solução perfeita para todos os problemas que

figura 85 Gel de Limpeza. (Fonte: Arquivo pessoal, 2021).

nossa função como designers é encontrar soluções eficientes e mudar o mundo dentro do que está ao nosso alcance. eu queria resolver. No entanto, acredito que amadureci junto com o meu projeto e cheguei à conclusão de que uma solução eficiente e possível é melhor do que uma solução perfeita, mas inviável — como sempre diz o meu pai “o ótimo é inimigo do bom”. E como designers, é a nossa função encontrar essas soluções eficientes, enquanto não podemos chegar nas perfeitas, e mudar o mundo dentro daquilo que está ao nosso alcance.

Apesar de todos os meus esforços, posso dizer que ainda não é inteiramente possível criar uma marca que seja 100% sustentável e que gere zero impactos sociais ou ambientais (pelo menos, não mediante ao modelo atual de consumo e às formas de produção que fomentam mais e mais o sistema capitalista — enquanto as poucas pessoas que estão

no poder quiserem apenas lucrar, muitos dos que estão “por baixo” serão prejudicados por isso); mas que é possível, sim, desenvolver uma marca que seja sustentável na medida do possível, de acordo com a realidade que vivemos agora, contanto que continue buscando, a cada dia, novas alternativas e formas de aprimorar os seus processos, rumo à sustentabilidade verdadeiramente ideal.

Como eu disse anteriormente, o lema que eu estabeleci para a Cosmic é “fazer a diferença dentro do nosso microcosmos, não importa quão pequena ela seja”. Cada passo é importante rumo a um futuro melhor, e tanto eu, como designer, quanto a minha marca, estamos prontas para dar cada um desses passos — esperamos que o resto do mundo esteja também.

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