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para proteger rebanhos
from Gazeta Rural nº 361
by Gazeta Rural
Para promover a coexistência com o lobo ibérico
Projeto LIFE WolFlux lança novo programa de cães de gado para proteger rebanhos
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O projeto LIFE WolFlux visa, a sul do rio Douro, aumentar a conectividade da subpopulação de lobo ibérico português, espécie em perigo de extinção. Uma das novas ações a ser desenvolvida através do projeto é a integração de cães de gado, sendo o Leão o primeiro filhote de Serra da Estrela a ser incorporado pela equipa da Rewilding Portugal.
“O objetivo é incorporar 100 cães com o gado existente na área do projeto”, explica Sara Aliácar, técnica de conservação da Rewilding Portugal. “Ao reduzir a predação dos lobos e, assim, promover a coexistência entre as pessoas e o lobo, o Leão e os cães que o seguirem contribuirão para a recuperação do lobo, aumentando a estabilidade, a interação e a expansão territorial das alcateias já estabelecidas”.
A subpopulação de lobo ibérico a sul do rio Douro está numa posição precária. Além de fatores como a perda de habitat, a baixa conectividade entre grupos e o conflito com seres humanos, a falta de presas silvestres continua a prejudicar a capacidade de recuperação desta espécie. Atualmente, os lobos a sul do rio Douro dependem fortemente de gado doméstico para alimentação, representando este mais de 90% da dieta de algumas alcateias. Reduzir a predação do lobo no gado só será totalmente eficaz se os lobos tiverem uma fonte alternativa de alimento.
Através do projeto LIFE WolFlux, que é financiado pela Comissão Europeia e cofinanciado pelo Endangered Landscapes Programme, a equipa da Rewilding Portugal está a trabalhar conjuntamente com os outros parceiros do projeto (Universidade de Aveiro, ATNatureza, Zoo Logical e Rewilding Europe) para conseguir garantir a disponibilidade de presas silvestres suficientes para os lobos, aumentando as populações locais de corço e, assim, reforçando as cadeias alimentares naturais. Em 2019, foi realizado um trabalho preliminar de monitorização para perceber melhor a distribuição e a abundância das populações de corço na área do projeto.
Sendo uma das raças caninas mais antigas da Península Ibérica, os cães Serra da Estrela há séculos que protegem o gado a sul do Douro contra ataques de lobos ibéricos e cães vadios, sendo parte da tradição local embora se esteja a perder, especialmente onde os lobos agora raramente são vistos. Assim como está a acontecer com o Leão agora, estes cães precisam de ser integrados em rebanhos e manadas enquanto ainda são filhotes, a fim de criar um vínculo mais forte com os animais que devem proteger.
No entanto, com o projeto LIFE WolFlux a trabalhar para apoiar o regresso do lobo ibérico ao seu papel de predador de topo na cadeia trófica esta medida proativa pode vir a ser fundamental. “Um pastor com cães Serra da Estrela pode proteger-se da predação de lobos com muito mais eficiência do que um que não os utilize”, explica Sara Aliácar. “Os cães detectam invariavelmente a presença dos lobos primeiro. Num habitat rochoso e arbustivo como aquele que caracteriza a área deste projeto, a estratégia que
eles utilizam consiste em deitarem-se, esconderem-se e ficarem de vigia”.
O novo programa de proteção de animais será implementado de acordo com a procura - os pastores primeiro precisam de solicitar os cães para iniciar o processo de incorporação. A equipa da Rewilding Portugal visita então o pastor para avaliar se o cão é realmente necessário. Se a avaliação for positiva, um cachorro de Serra da Estrela é fornecido gratuitamente, assim como os serviços de seguro, alimentação e veterinário até o animal completar os 18 meses de idade, quando se

considera que estará apto a realizar todas as suas funções. Os cães são fornecidos pelo Grupo Lobo, uma ONGA portuguesa que trabalha para conservar os lobos ibéricos e o seu habitat e que dará apoio no treino destes cães, facilitando a troca de conhecimentos fundamentais e melhores práticas neste processo. Se o cão incorporado vier a ter filhotes, o pastor envolvido é incentivado a entregar dois deles ao programa, para que este possa continuar a ajudar mais pastores.
A equipa da Rewilding Portugal também planeia distribuir vedações aos pastores (em áreas prioritárias) para permitir que eles protejam ainda mais os seus rebanhos e manadas da predação de lobos ibéricos.

Prolongado prazo para pequenos investimentos na agricultura

TAGUS abre candidaturas para apoiar cadeias curtas no âmbito do DLBC Rural
A TAGUS – Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Interior abriu o período de receção de candidaturas de projetos, inseridos na componente ‘cadeias curtas’. Com 75 mil euros, esta abertura tem como objetivo promover e agilizar os canais de comercialização de produtos alimentares locais, alargando as possibilidades de escoamento da produção. Já o concurso para os ‘Pequenos investimentos’ nas explorações agrícolas foi prolongado até 18 de Maio.
Os investimentos, enquadrados nas “Cadeias Curtas e Mercados Locais”, no âmbito do Desenvolvimento Local de Base Comunitária Rural (DLBC Rural), através Portugal 2020 e cofinanciado pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER), devem promover o contacto entre o produtor e o consumidor, contribuindo para o escoamento da produção local, a preservação dos produtos e especialidades locais, a diminuição do desperdício alimentar, a melhoria da dieta alimentar através do acesso a produtos da época, frescos e de qualidade. Os pedidos de apoio têm, também, como objetivo incentivar a práticas agrícolas menos intensivas e ambientalmente sustentáveis, diminuindo a emissão de gases efeito de estufa, através da redução de custos de armazenamento, refrigeração e transporte dos produtos até aos centros de distribuição.
As candidaturas nesta componente, da ação do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020) 10.2.1.4 – Cadeias Curtas e Mercados Locais, podem ser submetidas até 30 de Junho. E podem concorrer pessoas singulares ou coletivas, a título individual ou em parceria, que sejam titulares de uma exploração agrícola.
Os projetos podem ir desde os 500 até aos 50 mil euros de despesas relacionadas com o armazenamento, transporte e aquisição de pequenas estruturas de venda, as ações de sensibilização e educação para consumidores e para a comercialização de proximidade, o desenvolvimento de plataformas eletrónicas e de materiais promocionais, a adaptação e o apetrechamento de infraestruturas, as deslocações dos produtores aos mercados locais e entregas em pontos específicos.
Relativamente às deslocações o apoio é de 60 euros por cada uma e pode chegar a um somatório de 7.488 euros, durante o projeto, possibilitando aos produtores que este suporte, permita fazer face aos custos de transporte, portagens e alimentação, para a participação em mercados em Abrantes, Constância, Sardoal e concelhos limítrofes ou para ir aos pontos de entrega. Recordamos que os financiamentos das despesas vão aos 50 por cento do investimento material e chega a 80 por cento nos imateriais.
Já o aviso aberto para a medida 10.2.1.1. – Pequenos Investimentos nas Explorações Agrícolas, que abriu a 3 de Fevereiro, foi prolongado até dia 18 de Maio, dadas as dificuldades e os constrangimentos na submissão das candidaturas, resultantes da situação atual de pandemia e as medidas de confinamento.
Para mais informação e consulta dos avisos de concurso e legislação aplicável aos projetos a implementar em Abrantes, Constância ou Sardoal, devem os interessados ir ao sítio na Internet da TAGUS (www.tagus-ri.pt) ou do PDR2020 (www.pdr-2020.pt).
Desde a implementação do DLBC Rural, através do PDR2020, a TAGUS já aprovou cerca de 60 candidaturas, que comprometem mais de 1,5 milhões de euros, o que indica um investimento na região na ordem dos três milhões euros.
Município de Tondela cria apoios a microempresas de comércio e serviços
Quinta das Marias_Inserat halbseitig 23.08.2017 14:36 Seite 2 O Município de Tondela preparou um pacote de medidas de apoio às microempresas de comércio e serviços do concelho, que tenham sido obrigados a encerrar temporariamente, em virtude da conjuntura atual que o país atravessa relacionada com a COVID-19.
De acordo com o presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus, estes apoios visam minimizar os impactos negativos da pandemia na atividade económica do concelho e, consequentemente, da população.
“Estes são apoios extraordinários para fazer face às consequências da Covid-19, que acreditamos que irão contribuir para a preservação do comércio local e serviços, garantindo a manutenção destes postos de emprego e reduzir o risco de não reabertura de alguns destes estabelecimentos.”, acrescentou. No seu entender, este é “um apoio ambicioso, mas necessário e justo, face à vulnerabilidade económica e aos encargos que essas lojas e serviços terão de cumprir”. “Terá um forte impacto na sobrevivência de muitos espaços, em particular do comércio local”, referiu.

Quinta Marias das

VI N H O S D E QU ALI D AD E –A N O S S A PAI XÃO

Diz Abdón Fernández, “Braga é de vital importância no Caminho da Geira”, diz presidente da AJCMR
Há três anos a Associação Jacobeia do Caminho Minhoto
Ribeiro (AJCMR) apresentou em Braga o traçado do Cami
nho da Geira, coincidente, na sua quase totalidade, com o
que foi oficializado em Março de 2019 pela Igreja. Abdón
Fernández, presidente da AJCMR, realça nesta entrevista o
economia ao longo do seu traçado.
No caso do outro traçado, proposto pela associação de concelhos, os políticos usaram o seu poder, incluindo económico, para custear a sua elaboração, feito à medida dos seus interesses, nalguns casos em desrespeito pela história, e esta é uma das diferenças fundamentais entre os dois projetos.
papel da componente portuguesa e das associações envol
vidas neste projeto.
Gazeta Rural (GR): O caminho Braga-Santiago tem duas propostas de traçado (Geira e dos Arrieiros e o dos concelhos). Qual defende a AJCMR?
Abdón Fernández (AF): A nossa intenção não é diabolizar, nem prejudicar o projeto ou o objetivo global. As diferenças resultam da forma como se interpretam os dados históricos que abarcam os traçados dos caminhos de peregrinos. As duas propostas são fruto do trabalho iniciado com a fundação da AJCMR, em 2009, ainda que chegando a conclusões muito diferentes. No entanto, não devendo haver dúvidas sobre a história, quem detém o poder possui, muitas vezes, os meios para impor a sua versão.
GR: O traçado da Associação Codeseda Viva e da AJCMR coincidem?
AF: Perante as propostas apresentadas e os interesses dos peregrinos, que são quem faz viver o caminho, sem duvida que a proposta revelada em Braga a 1 de Abril de 2017 (e em Fevereiro anterior em Ribadavia) pela AJCMR é genericamente coincidente com a da Associação Codeseda Viva, reunindo na sua passagem por ‘O Ribeiro’ elementos singulares que caracterizam este caminho - o património cultural e edificado, as termas e o vinho. É uma realidade muito próxima à época das peregrinações. Já a proposta dos concelhos mescla distintas variantes, não é tão rica naqueles aspetos e passa até por locais que não existiam na Idade Média, como Leiro.
GR: Mas o Caminho da Geira e dos Arrieiros foi reconhecido pela Igreja?
AF: O Caminho da Geira oficializado pela Igreja é o resultado do trabalho voluntário e desinteressado da AJCMR e, posteriormente, da Associação Codeseda Viva; com o objetivo de valorizar a história, o património e impulsionar a
GR: Qual a importância que atribui à parte portuguesa deste caminho?
AF: A importância da parte portuguesa é vital. É a mais importante, não vou escamotear esta questão. Basta o facto de o caminho começar na Sé de Braga. Realço a importância histórica de Braga em relação à peregrinação a Santiago de


Compostela, a capitalidade espiritual ibérica em que Braga desempenhou um dos papéis mais importantes e as relações históricas e religiosas entre Braga e Santiago de Compostela. Além da importância ao nível do romano, mais antigo que o próprio fenómeno jacobeu. Mais que não fosse pela existência da geira romana, é de vital importância neste projeto. É o que faz dele único, seja a nível nacional ou internacional. É uma singularidade se o compararmos com todos os caminhos de peregrinação. É um fenómeno transfronteiriço, que enriquece as duas regiões.
GR: A geira e as termas são símbolos deste caminho?
AF: Os vínculos deste caminho com Portugal são fundamentais para a nossa associação, nomeadamente no que se refere à geira romana, que é um património romano fundamental, essencial para que seja um traçado único devido a esta referência tão antiga.
Por outro lado, de facto, abundam as termas, comuns a ambos os países, daí que não haja explicação para haver quem queira que não passe em Berán. Para além, claro, do comércio do vinho e das peregrinações religiosas. E constitui-se também como uma linha de ligação entre Portugal e a Galiza, muito interessante a diferentes níveis, por exemplo termais, o que também evidencia a a sua singularidade.
GR: As autoridades e associações portuguesas têm colaborado?
AF: Eu não tenho razões de queixa. Por exemplo, a Associação Espaço Jacobeus tem-nos dado um apoio incondicional e estou muito orgulhoso em ter conhecido muitos dos seus elementos. É um grande exemplo para mim e a seguir. Em relação às autoridades políticas também tenho boas referências, nomeadamente em relação às câmaras de Braga ou Amares - aqui através de Caldelas, onde já há um albergue, uma iniciativa que louvamos e apoiamos.
GR: Como analisa o facto do concelho de Leiro não ter aprovado a proposta de abertura de negociações de geminação de Berán com Caldelas, concelho de Amares?
AF: Os interesses que prevaleceram não foram os da promoção dos interesses das populações e deste itinerário. Se-


28 www.gazetarural.com ria uma forma de promover as termas de Berán e aproximar as relações com Portugal, através de Caldelas e Amares. Haverá razões políticas e de incapacidade pessoal que levaram à decisão de não haver esta geminação, que seria muito importante dos pontos de vista social, cultural e económico.
GR: A Igreja certificou proposta da Associação Codeseda Viva. É a que defende?
AF: A proposta da Associação Codeseda Viva é praticamente coincidente com a que apresentamos em 2017 em Ribadavia [Galiza] e Braga e concordamos com ela, embora admitamos uma variante na zona de O Ribeiro pela margem esquerda do rio Avia, ligando à Via da Prata.
No entanto, a associação dos concelhos tem um poder político muito grande para pressionar e fazer valer a sua proposta, independentemente da fundamentação histórica. Tenho algum receio em relação ao que possa acontecer. A minha esperança é que se mantenha um traçado próximo do atual Caminho da Geira, mesmo que depois sejam aprovadas variantes que não desvirtuem o projeto.
GR: Concorda que haja uma variante em A Estrada?
AF: A proposta da Associação Codeseda Viva está suficientemente documentada e não impede que se possa estabelecer uma variante, pela Via da Prata ou por Pontevedra/Ramalhosa. Esta solução é perfeitamente viável em minha opinião.
GR: Por que é que é fundamental que o caminho passe por Berán (Galiza)?
Como Leiro não existia na Idade Média, a nossa proposta é que o traçado depois de Beade siga por Berán, junto às termas, seguindo por Caldas até Lebosende e Pazos de Arenteiro. As razões para que o caminho passe por Berán assentam fundamentalmente na história.
Além disso, se este caminho é singular pela sua riqueza termal, não faz sentido ser de outra maneira. Por outro lado, Berán era um enclave pelo qual entrava em O Ribeiro quem vinha de Santiago de Compostela para negociar o vinho. Hoje, por estar a 103 quilómetros de Santiago, é um ponto de partida a pé a considerar na atribuição da Compostela. GR:E que pensa a AJCMR fazer para garantir a passagem por Berán?
AF: O que continuaremos a fazer é procurar mais documentos que sejam irrefutáveis e provem a passagem por Berán de peregrinos e caminhos de comércio. Estamos a tentar promover a cultura jacobeia e demonstrar que Berán era um ponto de referência na época medieval. E também estamos a tentar fazer um albergue de peregrinos.
Promovemos recentemente o encontro “O Caminho da Geira Minhoto Ribeiro”, em Berán, onde foi apresentado o traçado, e descreveram- -se as diferenças entre a nossa e outras propostas, e analisar a repercussão socioeconómica do caminho para Berán.
GR: Será possível haver também em Leiro uma variante (por Berán ou por Leiro)?
AF: A nossa associação tentou reunir com as associações e entidades no sentido de estabelecer um traçado comum ou com uma variante no núcleo central da comarca de O Ribeiro, com base em razões históricas fundamentadas. Tal não foi possível, daí cada um [associações e grupo de concelhos] ter apresentado a sua proposta, o que de alguma forma está a confundir os peregrinos.
GR: Ao fim destes 11 anos a lutar por este caminho, valeu a pena o trabalho da AJCMR?
AF: Sim, valeu a pena. O papel da AJCMR neste projeto é indesmentível. Basta analisar a história destes anos. E além disso, não haverá marcha-atrás, o caminho é uma realidade e muito próxima do traçado que apresentámos em 2017. Por um lado, receio que o pior dia esteja para vir, se não for reconhecido o nosso trabalho, mas, ao mesmo tempo, espero a chegada de um momento de alegria.
Até agora, a maior alegria foi ver os primeiros peregrinos a chegar a Berán, em Maio de 2017, bem como o dia de apresentação em Braga no dia 1 de Abril de 2017. A maior esperança que mantenho é que os peregrinos continuem a fazer o caminho atual, porque o caminho é deles e são eles quem o faz. É um caminho que inevitavelmente será reconhecido pelas autoridades.