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ESTRADAS PIONEIRAS E A FAZENDA SÃO JOÃO

A Estrada Do Com Rcioa Mais Antiga

Dentre as estradas que acabaram por atender diretamente Valença e Vassouras, a mais antiga era a chamada Estrada do Comércio, planejada e iniciada no interregno 1811/1813 em razão de uma proposta da Junta Real do Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos, daí sua titulação. Vale lembrar que essa instituição foi criada em 23 de agosto de 1808 como parte das intervenções introduzidas no Rio de Janeiro após a transferência da Corte Portuguesa para o nosso país com vistas a adequar a recente estrutura administrativa colonial às novas necessidades brasileiras. Naquela então inédita conjuntura política e social, a implantação da Junta Real do Comércio aglutinou-se a outras medidas econômicas tomadas por D. João VI no Brasil, em especial a abertura dos portos aos países amigos, decisão que eliminou a exclusividade comercial da metrópole portuguesa e, paralelamente, revogou o Alvará de 1785, que proibia o estabelecimento de manufaturas e fábricas na colônia brasileira. Naturalmente, o modo de atuação da Junta Real do Comércio acompanhava o modelo daquela criada em Portugal pelo Decreto de 30 de setembro de 1755, cuja instituição ocorria no âmbito dos primeiros anos das reformas introduzidas pelo Marquês de Pombal, que procuravam reafirmar a autoridade do poder do Estado através da reorganização e do reforço de sua estrutura administrativa, buscando assim favorecer a circulação comercial e a arrecadação fiscal. A Junta substituiu a

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Mesa do Espírito Santo dos Homens de Negócios que Procuram o Bem Comum do Comércio, poderoso instrumento de fiscalização e direção das práticas mercantilistas do período de colonização.

Na verdade, o caminho teria de atravessar uma região de mata virgem para abreviar o trajeto das tropas de mulas entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais e Goiás, sendo executado pelo Coronel de Milícias José Pedro Francisco Leme por incumbência de Paulo Fernandes Viana, Intendente Geral de Polícia, o mesmo que posteriormente teria papel destacado em outra estrada batizada como Estrada da Polícia.

A Estrada Do Com Rcio

A Estrada do Comércio ficou pronta apenas em 1822. Começava na vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, subia a serra do Tinguá e chegava até o porto de Ubá, atual distrito de Andrade Pinto, em Vassouras, às margens do rio Paraíba do Sul, de onde podia seguir para Minas Gerais e Goiás. Em Piedade, a estrada permitia a conexão com diversos portos no Iguassú, de onde as embarcações chegavam aos ancoradouros do Rio de Janeiro. Outra opção era seguir por veredas que passavam pela Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá e Inhaúma até alcançar o centro da capital.

Estrada Da Pol Cia

Algum tempo depois, surgia a Estrada da Polícia (assim denominada em homenagem ao Intendente da Polícia Paulo Fernandes Viana, citado mais acima), com seus desvios para Vassouras e Valença e até mesmo com caminhos alternativos para diversas outras regiões fluminenses, fator de pronta conexão social, comercial e econômica com a região cafeeira do Vale do Paraíba.

De maneira lenta, porém irreversível, a Estrada do Comércio acabou perdendo importância, até porque, em 1858, com as viagens da Estrada de Ferro Dom Pedro II (posteriormente Estrada de Ferro Central do Brasil), todas as mercadorias antes transportadas por mulas e tropeiros passaram a ser remetidas de maneira rápida e segura pelos trens que a princípio ligavam a Corte do Rio de Janeiro a Queimados e Belém (hoje Japeri).

É ainda importante registrar que a abertura da Estrada do Comércio influenciou bastante o crescimento econômico da Baixada Fluminense e a criação da vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguassú, que depois mudou de lugar e nome para o atual município de Nova Iguaçu.

A primeira seção da estrada foi praticamente reconstruída em 1842 pelo coronel Conrado Jacob de Niemeyer, agregado ao Imperial Corpo de Engenheiros do Império, que retificou calçamentos já danificados e acrescentou outros trechos de pedra, corrigiu alguns metros mais sinuosos dos pisos e construiu novos pontilhões e outros muros de arrimo para contenção de encostas. O coronel Niemeyer, inclusive, mudou-se com a família para a serra do Tinguá, ocupando áreas onde atualmente localiza-se o distrito de Conrado, em Miguel Pereira. Acredita-se ter sido ele o responsável pela transferência da imagem e do sino de Santana das Palmeiras (vila erguida no coração da mata do Tinguá, hoje totalmente desaparecida) para a Catedral de Santo Antônio de Jacutinga, em Iguassú, que, posteriormente, repassou as peças para Conrado em 1901.

Atualmente, a histórica Estrada do Comércio pode ser percorrida em sua quase totalidade, uma vez que apenas no interior da REBIO (Reserva Biológica do Tinguá) ela está vedada a qualquer tipo de trânsito ou mesmo a simples passagens de pedestres. Entrementes, em relação ao presente estudo, ela passa exatamente em um trecho contíguo à porteira principal da fazenda São João da Barra, dali seguindo para Morro Azul do Tinguá e, posteriormente, para Vassouras e Valença.

Na próxima edição: Estradas Pioneiras e a Fazenda São João da Barra – Parte 2

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