Cultcom #1

REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERITAS UNG

#1

novembro 2017

OLHARES Cinema, spoiler, artes plásticas, audiodescrição e MARIA GIULIA PINHEIRO

LÁZARO RAMOS

TALENTO PARA COMUNICAR SÉRGIO POROGER GAVIÕES DA FIEL LITERATURA POLICIAL MÚSICA LATINA OS CAVALEIROS DO ZODÍACO

distribuição gratuita

+JOÃO CARLOS MARTINS

Na lista das personalidades mais influentes do mundo, ator quer interagir com o público em sua nova fase na Globo

O QUE AS AGÊNCIAS JWT | RÁI | DPZ | FULLJAZZ WUNDERMAN | ROCKERHEADS | TV1 RAPP | GREY | EUGENIO TÊM EM COMUM? TODAS CONTRATARAM ALUNOS DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UNG. FAÇA PARTE DO CLUBE DE PUBLICITÁRIOS VENCEDORES! FAÇA UNG!

Grupo Ser Educacional

Gente criando o futuro

índice | 3

fala, jornalista!

4

bastidores | expediente

5

música

6

fenômeno latino

literatura

8

romance policial

olhares 10

on demand audiodescrição artes plásticas cinema nacional

internet 14

youtubers

fotografia 16

lugares para fotografar em Guarulhos

anime e mangá 18

os cavaleiros do zodíaco

carnaval 20

Gaviões da Fiel

fotografia 22

sérgio poroger

música 26

joão carlos martins

capa 30

lázaro ramos

moda 36

ensaio brechó

galeria 42

exposição ‘releituras em foco’

convidada 44

maria giulia pinheiro

“Autorretrato com Chapéu de Palha” (1888), de Vincent Van Gogh (1853-1890), na releitura de Renan Yagi, aluno do curso de Forografia da Univeritas UNG

4 | fala, jornalista!

Primeiras palavras “Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra e assim se faz um livro, um governo ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies”. A frase foi cunhada por um dos maiores escritores brasileiros, que trabalhou como jornalista em uma época em que o país tinha raros leitores, poucos jornais e o jornalismo era coisa para intelectuais: Machado de Assis. Mas bem que pode ser aplicada ao processo de criação desta primeira edição da Cultcom - um projeto concebido e construído após muito diálogo entre professores e alunos de Jornalismo.

Aliás, o Bruxo do Cosme Velho foi um dos pioneiros expoentes do jornalismo cultural no país, segmento-tema desta nova publicação, que marca os 21 anos do curso de Jornalismo na Univeritas UNG. Gostamos de pensar então que, de alguma maneira, Machado nos apadrinha neste projeto tão importante para o curso e para os futuros jornalistas que formamos.

A orientação hercúlea coube ao jornalista, dramaturgo e professor – que também é ex-aluno do curso – Alex Francisco, profissional com farta bagagem na mídia impressa cultural. É de autoria dele também os projetos gráfico e editorial. Nas páginas da nossa revista, o leitor encontrará a opinião dos nossos alunos nos artigos da seção “Olhares” e pode esperar também uma cobertura democrática sobre todos os campos da cultura – sejam manifestações eruditas, populares ou massivas.

Entre os temas desta edição inaugural, falamos sobre a profissão cobiçada por dez entre dez jovens hiperconectados da nossa sociedade em rede, os influenciadores digitais. O leitor vai conhecer uma moçada guarulhense que aposta no seu capital social para se firmar como os novos youtubers do pedaço. Guarulhos dá samba em 2018 e contamos também os detalhes sobre o novo enredo da tradicional escola paulistana Gaviões da Fiel. E por falar em música, a explosão dos hits latinos na música pop é tema de outra reportagem. Um ensaio de moda foca nos tempos de crise, mostrando que roupa de brechó também pode ser in. A exposição “Releituras em Foco” do curso de Fotografia, que homenageou ícones das artes plásticas, também mereceu destaque visual. E a estreia da Cultcom ainda trás entrevistas com grandes nomes, como o maestro João Carlos Martins e o fotógrado Sérgio Poroger.

Mas a cereja do bolo é a reportagem especial de capa com o homem do ano de 2017. Uma entrevista exclusiva com o escritor, comunicador e ator global Lázaro Ramos, também reconhecido como uma das personalidades mais influentes nas redes sociais no mundo. Sua trajetória do teatro à televisão e o engajamento nas causas sociais e diversidade étnico-racial explicam o bom momento do talentoso artista baiano.

Que você, leitor, tenha uma excelente leitura.

E vida longa à Cultcom! c

PROF. MS. FLÁVIA DELGADO

coordenadora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Fotografia da Univeritas UNG novembro 2017 | cultcom

bastidores | expediente | 5

mantenedora Ser Educacional chanceler Prof. Janguiê Diniz reitor Prof. Dr. Jânio Janguiê Bezerra Diniz vice-reitor Prof. Ms. Elói Marcos de Oliveira Lago pró-reitora de pós-graduação, pesquisa e extensão Prof. Dra. Luciene Cristina Figueiredo

JUNTAS NA MODA

A dupla Denise Valdez e Camila Lopes ralou muito para o primeiro editorial de moda da Cultcom. Elas assinam o estilo brechó do ensaio com os modelos Claudete Arruda e Mozart Raphael.

Os cliques ficaram por conta de Gustavo Henrique e Junior Lago, alunos do curso de Fotografia. Veja na página 36.

SAMBA E REPORTAGEM

Em busca de novidades sobre o desfile da escola de samba Gaviões da Fiel, os repórteres Deyvid Xavier (na foto) e Gustavo Pimenta visitaram a quadra da agremiação no Bom Retiro (zona oeste de São Paulo), onde acompanharam um dos ensaios da bateria e conversaram com compositores, intérpretes e carnavalesco. Veja na página 20.

ENTREVISTA INESQUECÍVEL

As repórteres Nathalia Barbosa (à esq.) e Sara Fabiano estiveram na sede da Record TV, na Barra Funda (zona oeste de São Paulo), para entrevistar um dos apresentadores de maior sucesso do canal.

“Deu um friozinho na barriga antes da entrevista. Inesquecível”, diz Sara.

Ficou curioso? A entrevista exclusiva você confere em breve na Cultcom.

Cultcom é uma produção acadêmica desenvolvida na disciplina de Projeto Integrado VI pelos alunos do 7º semestre de Jornalismo da Univeritas UNG, sob a supervisão do Prof. Esp. Alex Francisco.

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores e não refletem a opinião da Univeritas UNG.

direção dos cursos de ciências humanas e sociais Prof. Ms. João José Samarão coordenadora dos cursos de jornalismo, publicidade e propaganda e fotografia Prof. Ms. Flávia Daniela Pereira Delgado

cultcom editor Prof. Esp. Alex Francisco chefe de reportagem Caio Portella redação Adalberto Silva, Aline Caroline, Beatriz Gouvêa, Brandon Tibúrcio, Bruno Neves, Caio Portella, Camila Lopes, Caroline Nunes, Celso Gomes, Daniele Barduco, Daniele Canhadas, Denise Valdez, Deyvid Xavier, Dmitry Goes, Dyana Borges, Elizabete Apolinário, Érick Xavier, Fernanda Saga, Gabriela Marinho, Gustavo Pimenta, Gustavo Azeituno, Fernanda Saga, Isabella Camacho, Isabella Tomaz, Jessica Santos e Kimberly Goes revisão Prof. Ms. Lislei Carrilo anúncios Prof. Esp. Fábio Martins diagramação e arte Prof. Esp. Alex Francisco endereço Praça Tereza Cristina, 88, CEP: 07115-280, Centro, Guarulhos - SP site www.ung.br data novembro de 2017 número 01 tiragem 1.000 exemplares

6 | música

Daddy Yankee (à esq.) e Luis Fonsi em uma cena do videoclipe de “Despacito”

foto reprodução

Latinos sem barreiras Com refrões e batidas marcantes, o reggaeton ultrapassou as fronteiras da América Latina e conquistou o mundo por Érick Xavier

Há 20 anos a dupla de músicos espanhóis Antonio Romero e Rafael Ruiz descobriu o segredo para colocar uma canção em castelhano no topo das paradas. O plano era fazer uma mistura pegajosa de flamenco com pop e uma coreografia marcante. Assim, a eterna “Macarena” dominou o mundo na metade dos anos 1990. Por duas décadas o hit do duo Los del Río ostentou o título de única música em espanhol a ficar por mais tempo nas primeiras posições do ranking da revista americana Billboard, até a chegada de “Despacito”, de Luis Fonsi e Daddy Yankee.

Desde o lançamento, no começo de 2017, a música obtém números cada vez maiores de reproduções e visualizações na internet, além de manter seu espaço nas rádios de todo o mundo. A canção foi escrita pelos porto-riquenhos Fonsi e Yankee e pela cantora panamenha (e filha de mãe brasileira) Erika Ender, e conquistou a América Latina pela mistura do reggaeton com o pop. Depois, ganhou projeção com um remix em parceria com Justin Bieber. O

sucesso rendeu ainda outras versões em ritmos como salsa, urban e mariachi.

Além de garantir 16 semanas no topo da parada da Billboard em 2017, “Despacito” venceu quatro categorias do Grammy Latino, entre elas melhor Canção e Gravação do Ano. O hit também foi indicado em três categorias do Grammy Awards, que será realizado este mês, em Nova York.

O bom desempenho da canção de Fonsi não é um caso isolado. Segundo dados da RIAA (Associação Americana da Indústria da Gravação), só no primeiro semestre de 2017 lançamentos da música latina renderam mais de US$ 115 milhões no mercado americano. Trata-se de um crescimento de 44% em relação ao mesmo período do ano anterior. Boa parte desses números é resultado de um investimento perceptivelmente alto das gravadoras em um estilo musical cada vez mais popular.

Até artistas brasileiros passaram a olhar de maneira diferente para os ritmos vizinhos Juntar artistas do mundo pop com nomes do reggaeton tem sido uma tática muito comum das gravadoras latinas.

Um bom exemplo vem da colombiana Shakira. Em 2006, a cantora lançava “Hips Don’t Lie”, música com fortes influências do estilo. Onze anos depois ela consegue números impressionantes com “Chantaje” junto ao conterrâneo Maluma, de “Felices los 4” e “El Perdedor” – os clipes somam mais de dois bilhões de visualizações no YouTube.

Também da Colômbia, o duo Cali & El Dandee colaborou com a cantora mexicana Maite Perroni, enquanto a dupla Jesse & Joy cantou com o grupo cubano Gente de Zona. “Artistas como Shakira, Rick Martin e Enrique Iglenovembro 2017 | cultcom

música | 7

sias, conhecidos mundialmente, passaram a gravar músicas com um ‘tempero de reggaeton’, o que facilitou a popularização do ritmo”, explica o DJ boliviano Pancho Valdez, que comanda festas de música latina em São Paulo desde os anos 1980.

O reggaeton surgiu na década de 1970, no Panamá. Influenciado pela música jamaicana e pelo hip-hop, o ritmo ficou por um bom tempo fora do mainstream. “O reggaeton foi marginalizado por abusar do sensualismo, sexo explorado em seus clipes e também nas letras”, explica Valdez. Nos anos 1990, Porto Rico descobriu o gênero musical e passou a protagonizar produções com os primeiros artistas que se tornariam representantes do reggaeton por toda América Latina. Uma forma interessante de entender a trajetória do reggaeton é revisitar o passado do funk brasileiro. Os dois gêneros se desenvolveram nas periferias, ainda não possuem total apoio da crítica, mas aos poucos conquistam o grande público.

Até artistas brasileiros passaram a olhar de maneira diferente para os ritmos de países vizinhos. Assim como

aconteceu no exterior, a fusão das batidas reggaeton com outros gêneros rendeu singles certeiros. Anitta já trabalhou com nomes como J Balvin e Maluma, assim como Claudia Leitte fez parceria com Daddy Yankee. Estrelas da música sertaneja se renderam ao ritmo panamenho, como Luan Santana, que gravou clipe em Cuba, e a dupla Simone e Simaria com o hit “Loka”. c

foto reprodução

Os colombianos Shakira e Maluma dançam no dueto “Chantaje”

Atualize sua playlist Aproveite a boa safra de músicas latinas e confira dicas para ficar por dentro dos artistas mais badalados do momento

“Ayo” Bomba Estéreo

“Mis Planes Son Amarte” - Juanes

“La Trenza” Mon Laferte

“Musas” Natalia Lafourcade

Trio mistura dance music e ritmos tradicionais colombianos

Cantora chilena traz facetas de pop, blues e música urbana no 5º disco da carreira

Cantor desenvolveu um álbum visual com hits pop rock, como “Hermosa Ingrata”

Mexicana e violeiros trazem ritmos tradicionais de vários países latinos

8 | literatura

fotos reprodução

Você já leu algum desses livros?

Policial à brasileira Mesmo com obras e autores consagrados, gênero enfrentra barreiras para conquistar um maior número de leitores por Isabella Camacho

Um bom livro policial apresenta em suas páginas um crime, alguém disposto a desvendá-lo e a constante luta entre forças antagônicas, o bem e o mal, no caso, o criminoso e o detetive.

O gênero policial é um dos mais lidos nos Estados Unidos e na Europa com prêmios para novos escritores, clubes de leituras e feiras que ajudam a divulgar esse tipo de literatura por lá.

No Brasil, embora o estilo não tenha o mesmo tipo de repercussão, também não deixa a desejar. Por aqui existe uma corrente de autores respeitados com público cativo, àvidos por boas tramas.

Segundo o professor e pesquisador da literatura policial brasileira Alexandre Amaral, a relação dos brasileiros com o gênero começou em 1920. “A

historiografia literária que decide olhar para literatura policial feita no Brasil tem como base fundadora a obra ‘O Mistério’. O livro, que primeiramente saiu como folhetim no periódico ‘A Folha’, foi publicado em brochura por Monteiro Lobato [1882-1948].” O livro foi escrito por Coelho Neto (18641934), Afrânio Peixoto (1876-1947), Viriato Corrêa (1884-1967), e Medeiros e Albuquerque (1864-1934).

Com fortes referências no americano americano Edgar Allan Poe (18091849), e nos britânicos Arthur Conan Doyle (1859-1930) e Agatha Christie (1890-1976), atualmente, o romance policial cresce junto com outros gêneros literários no Brasil e ganha novos seguidores. “Há uma mudança na novembro 2017 | cultcom

literatura | 9

Existe preconceito.

As pessoas falam: ‘não leiam livro nacional porque é tudo porcaria’ A lista dos principais autores de romance policial no Brasil conta com nomes, como Luiz Alfredo Garcia-Roza, autor de “O Silêncio da Chuva” (1996), Patrícia Melo, Marcos Rey (19251999), Rubem Fonseca, que escreveu “Bufo & Spallanzani” (1985), Tony Bellotto e seu detetive Remo Bellini, e Jô Soares, que escreveu títulos consagrados, como “O Xangô de Baker Street” (1995). Um exemplo recente do sucesso das histórias policiais no Brasil é o escritor Raphael Montes, autor de “Dias Perfeitos” (2014) e “Jantar Secreto” (2016), que tem atraído o público jovem para o gênero, além de ter sido publicado em outros países.

O escritor e ex-investigador Roger Franchini, autor de “Matar Alguém” (2014) e de “Richthofen: o Assassinato dos Pais de Suzane” (2011), acredita

que fatores como potencial de consumo, distribuição de exemplares, qualidade de impressão, preço competitivo, entre outros, prejudicam a boa divulgação do romance policial no país. Ele aponta ainda que o escritor precisa se questionar sobre qual é o seu público.

“O autor precisa dialogar com seu público e isso implica em conhecer profundamente sua vida e seu cotidiano”, fala. “Quando o autor se propõe a escrever um romance policial, é preciso saber como funciona a polícia. Ter conhecimento de como o órgão está inserido dentro do jogo político do poder é fundamental para contextualizar a obra no universo brasileiro.” c

Atualize sua leitura O escritor Tito Prates indica os romances policiais que não podem faltar na sua estante “O Casamento”, de Victor Bonini

Casamento de um casal jovem transforma uma reunião familiar em quatro dias aterrorizantes

“Jantar Secreto”, de Raphael Montes 1

fotos divulgação

forma, no foco e no acesso a subgêneros que ajudam a aprimorar temáticas relevantes que possam ser debatidas e desenvolvidas por meio do gênero.

Acredito que a literatura policial brasileira segue estável, sempre se reinventando”, afirma Amaral.

Para o escritor e autor de “Agatha Christie From My Heart – Uma Biografia de Verdades” (2016) Tito Prates, o gênero policial tem espaço no Brasil, mas é preciso vencer barreiras.

“Temos bastante leitores e não há um preconceito quanto ao gênero. Lancei recentemente uma coletânea de contos policiais e foi muito bem aceita. O que existe é um preconceito contra escritores brasileiros. As pessoas falam: ‘não leiam livro nacional porque é tudo porcaria’. Isso é realmente um problema.”

Romance conta a história de um grupo de amigos que organiza jantares misteriosos

“O Escaravelho do Diabo”, de Lúcia Machado de Almeida

2

Série de assassinatos em que as vítimas recebem um escaravelho

1. O ex-investigador Roger Franchini escreveu sobre o caso Richthofen 2. O escritor Tito Prates escreveu a biografia de Agatha Christie

10 | olhares | on demand

Uma avalanche de spoilers Não maratonamos séries por vício, mas por medo de alguém acabar com toda a graça

tualmente as séries são o principal alvo de spoilers.

Diante da TV, do computador ou do celular, esperamos com ansiedade as emoções do próximo episódio ou a estreia daquela temporada que promete ser bombástica e, saber antes o que vai acontecer pode tornar o clima de expectativa em decepção.

Mas sempre há os dois lados da moeda. Há aqueles que são a favor do ato de ‘spoilear’ e que não se importam em ter prévias dos acontecimentos, e há os que ficam extremamente irritados.

Esperada com ansiedade por milhares de fãs, a segunda temporada da série “Stranger Things” (Netflix) deixou os apaixonados pelas criancinhas de Hawkins um tanto descontrolados. É que logo após a estreia, uma galera resolveu pegar um dos pôsteres da série, escrever quais eram os principais acontecimentos e compartilhar no Facebook. Claro que aqueles que não assistiram aos novos episódios ficaram indignados, causaram um fuzuê nas redes, e logo trataram de maratonar a trama por medo de novos spoilers.

Agora veja, é nessa mesma web enfervecida que nos acostumanos a compartilhar tudo a nossa volta de maneira muito natural, quase sem refletir sobre seus desdobramentos.

Postamos absolutamente tudo, do prato que almoçamos ao treino pesado na academia durante a noite e, de certa maneira, o spoiler se propaga por causa desse pensamento automático de querer compartilhar nossa rotina.

Spoiler é spoiler. Não dá para voltar

Siga as luzes. Ache o spoiler.

A

por Gabriela Marinho

atrás, nem pedir desculpa. Chega a ser tão “grave” que uma única informação antecipada pode acabar com a graça de uma temporada inteira. Isso também acontece por uma imperdoável falha de sistema, como a que aconteceu com a HBO da Espanha ao vazar o sexto episódio de “Game of Thrones”.

Imagine o fã dos Sete Reinos de Westeros vendo a internet repleta de spoilers e frames de cenas propagadas à exaustão sem nem ter assistido ao comentadíssimo episódio?

O spoiler se propaga por causa desse pensamento automático de compartilhar a rotina E com seriados que estão há mais tempo no ar? “Grey’s Anatomy”, uma das mais assistidas da Netflix, tem todos os seus acontecimentos mais marcantes, como mortes, saídas de personagens importantes e trocas

no elenco divulgados nas redes.

Reviravoltas, surpresas e frustações se misturam a cada nova temporada. A criadora Shonda Rhimes adora matar os personagens mais queridos do público, e isso não é spoiler. Mas ela também revive alguns. Opa! Parei por aqui!

Ao meu ver, todas as experiências com spoilers são ruins. Nas vezes em que fui surpreendida por um, como em “Dr. House” (2004-2012), por exemplo, meu mundo caiu. A cada novo episódio, eu já aguardava pelo desenrolar dos acontecimentos com apatia. Spoiler nos deixa à mercê do que já sabemos, presos à espera do inevitável, nada curiosos pelo o que acontece entre uma cena e outra, apenas esperando acontecer.

Se atualmente já nos acostumamos a compartilhar de tudo (de tudo mesmo!), haverá o momento em que será natural lidar com spoilers sobre nossas séries favoritas, seja na roda de amigos ou nas redes sociais, mesmo que isso (sempre!) acabe com toda a graça. c novembro 2017 | cultcom

audiodescrição | olhares | 11

ilustrações Alex Francisco

Veja seu filme favorito de olhos vendados.

Vendo com outros olhos Profissional mostra como é o recurso que estimula a imaginação dos deficientes visuais

R

por Celso Gomes

ecentemente meu interesse pela inclusão social aumentou. Fiz amizades com muitos surdos, e a luta deles por espaço na sociedade me chamou a atenção para esta e outras deficiências. Comecei a pensar nos cegos, por exemplo, e em como será que eles conseguem compreender as artes visuais.

Encontrei a audiodescrição. Fui ao Facebook em busca de quem entendesse do assunto e conheci um grupo formado por profissionais da área, entre eles a audiodescritora Kelly Alcântara, que já realizou trabalhos para a TV Cultura, Fox Brasil e Justiça Eleitoral. Ela me explicou que o papel do audiodescritor é descrever claramente o que está passando diante de seus olhos àquele que, por causa da deficiência, não consegue enxergar. É um recurso de acessibilidade que consiste em descrever oralmente imagens estáticas e dinâmicas, cujo maior objetivo é

tornar acessível o conteúdo que para o deficiente é restrito, como ler um livro, assistir um filme, rir de uma comédia.

Kelly me mostrou que existem diversos canais no YouTube que oferecem vídeos com o recurso da audiodescrição, como o canal “Audiofilmes”, que disponibiliza filmes clássicos, como “Titanic” (1997) e “A Dama e o Vagabundo” (1955).

Já o canal Priscila Xavier, dedica-se a audidescrição de desenhos animados, como “Dragon Ball Z” (1989-1996).

Exibidores com mais de 21 salas deverão dispor em 50% deles o recurso de audiodescrição Então, decidi ter minha própria experiência com o recurso e escolhi assistir uma cena do filme “Cartas para Julieta” (2010). Com os olhos vendados, descobri que nossa imaginação é fantástica. Sem enxergar, imaginei as cores dos cabelos das personagens,

as roupas que usavam e os cenários.

Quando retirei a venda, tive a certeza que a imaginação é uma grande arma do ser humano: nada era conforme eu havia imaginado, mas isso não fez com que o filme perdesse o sentido.

Segundo a audiodescritora Kelly, para a audiodescrição de um filme é preciso o trabalho em conjunto com um audiodescritor roteirista, um narrador e um consultor, que é a pessoa com deficiência visual com formação em audiodescrição para fazer ajustes ao texto a fim de torná-lo mais objetivo.

Uma boa notícia: os exibidores de cinema com mais de 21 salas deverão disponibilizar em 50% delas o recurso de audiodescrição, uma obrigatoriedade da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Então, espero mais recursos como este para o desenvolvimento e inclusão social, pois a audiodescrição é um progresso para os mais necessitados e uma oportunidade para que tenham a mesma chance de captar uma mensagem. c

12 | olhares | artes plásticas

Seis minutos de sucesso Pintores dão verdadeiro show nas ruas, mas voltam ao anonimato em poucos instantes

C

por Aline Caroline

Por quanto tempo você apreciou uma obra de arte hoje?

aminhar pela avenida Paulista nos horários de pico é sempre uma loucura. Em meio à costumeira disputa de espaço na calçada com gente distraída ou muito ocupada, dia desses fui obrigada a parar quando avistei pessoas aglomeradas filmando uma performance.

Fui entrando no meio delas para ver mais de perto o que acontecia. No centro havia um homem sentado no chão fazendo uma pintura em azulejo.

Concentrado, ele pintava muito rápido.

Noto que ele desenhava uma mulher que estava à sua frente. O nariz fino, olhar marcante e os cabelos longos ganhavam vida no azulejo. Ele reproduziu o sorriso dela com perfeição.

Era impossível não se impressionar.

Enquanto ele usava vários acessórios, sprays e um guardanapo para dar os ajustes finais em sua obra, mais e mais passantes se juntavam para observar o talentoso desconhecido. Cada traço feito por aquele homem tinha a pressa de quem vive contra o tempo. E eu marquei esse tempo. Seis minutos!

A pintura termina, as pessoas que

assistiam ao show se dispersam pela calçada, como se tivessem acordado de um transe e precisassem voltar para suas rotinas. Decido esperar e reparo que os olhos do artista vão perdendo o brilho conforme as pessoas se afastam.

Ele recolhe os pertences que há poucos minutos ocupavam a calçada e decide voltar para seu canto, onde passa a ser ignorado pela multidão.

Não consigo mais passar por aquelas calçadas sem refletir sobre os pintores do nosso país Agora vejo um americano se aproximar, interessado em um quadro.

Percebo que o idioma é apenas um detalhe quando a arte está ali. Ele tem olhos claros, movimenta as mãos tentando explicar ao artista que deseja uma pintura da avenida, e que ela contenha seus prédios e pessoas. O pintor entende, reproduz na tela e o negócio está feito.

Não consigo mais passar por aquelas calçadas sem refletir sobre o que estamos fazendo com os pintores do nosso país. Nas ruas, eles são meros apresentadores que têm seis minutos de sucesso, mas que quando terminam a performance aguardam pela nossa sensibilidade em reconhecer seu trabalho, incentivar, adquirir, divulgar, repirar arte. O que fazemos é ignorar.

Esses artistas anônimos fazem das ruas e calçadas uma galeria a céu aberto, expõem suas realidades e sonham com reconhecimento. Mas como conseguir alcançar esse sonho? Falta ao brasileiro mais interesse pela arte. c novembro 2017 | cultcom

cinema nacional | olhares | 13

Luta contra o próprio público Novas experiências podem ajudar a vencer o velho preconceito com os filmes nacionais

stava em uma roda de amigos e falávamos sobre filmes. Entre recomendações e análises, eis que o cinema brasileiro entrou na conversa. Logo surgiram frases como “não assisto filme nacional”, “brasileiro não sabe fazer cinema” ou “só tem palavrão”. Essa conversa recheada de clichês e de senso comum fez-me refletir sobre os motivos pelo quais muitos brasileiros não gostam do cinema que é feito aqui.

Essa visão pré-julgada faz com que nossas produções percam público e espaço para os blockbusters nas salas de exibição. “Bingo: o Rei das Manhãs”, por exemplo, ocupou apenas uma sala do Cinemark em um shopping de Guarulhos em sua estreia em 2017 Os argumentos usados por quem torce o nariz para o cinema brasileiro mostram-se antigos, o que ressalta a falta de conhecimento sobre o atual cenário do que é produzido aqui. Basta buscar pelos títulos mais recentes e encontrar obras que demonstram a maturidade do trabalho cinematográfico nacional, como “Aquarius” (2016).

Títulos mais recentes demonstram a maturidade do nosso trabalho cinematográfico O filme polêmico se junta a outros títulos cujo drama da questão existencial e as relações humanas são a temática principal. Cinema nacional não é só comédia, palavrão e violência.

Alguns ainda colocam a culpa da

Não deixe de assistir “O Filme da Minha Vida”.

E

por Brandon Tibúrcio

baixa qualidade dos filmes nacionais na falta de um bom roteiro. Poderia listar aqui obras que refutam esse argumento, como “Central do Brasil” (1998), mas vou usar como exemplo o longa “O Filme da Minha Vida” (2017), dirigido por Selton Mello. A serra gaúcha dos anos 1960 é o cenário para a história de Tony (Johnny Massaro), filho de um francês e uma brasileira, que vai estudar na capital e acredita ter uma vida perfeita. Tudo muda quando ele retorna e assiste o pai partir sem explicações­.

Sensivelmente, o longa nos leva para tristeza de Tony com a ausência do pai e seu processo de amadurecimento. Com um roteiro delicado, mergulhamos na

história graças a uma fotografia precisa e requintada, atuações impecáveis e a suave direção de Mello, que continua dando provas de ser um dos maiores diretores de sua geração.

“O Filme da Minha Vida” é um nacional de alta qualidade, mas que pode não ser o suficiente para que essa visão deturpada sobre nossos filmes se apague, já que existe em nossa cultura o costume de rebaixar algo genuinamente brasileiro. Então, um passo de cada vez.

O preconceito com o que é nosso é um clichê, um lugar comum, é o resultado de uma ideia repassada por gerações. Então já passou da hora de abandonar esse pensamento. c

14 | internet

Meu papo é nas redes Conhecidos por uns, anônimos para outros, os youtubers estão mais perto do que se imagina e ganham cada vez mais seguidores por Adalberto Silva e Daniele Barduco

Ser um youtuber, termo usado para aqueles que criam conteúdo para a internet, não é mais uma exclusividade dos famosos. Hoje em dia, seu colega da faculdade, sua mãe ou até mesmo um parente distante podem ganhar espaço na mídia, fazer sucesso, ter milhares de seguidores e até lançar um livro, ir parar no teatro ou na TV. São muitos os nomes que nasceram na web, como Kéfera Buchmann e Windersson Nunes, e que se tornaram grandes influenciadores ao falar apenas sobre suas rotinas. Foi assim com o jornalista Rodolfo Pelegrini, 25 anos, ex-aluno da Univeritas UNG, que tinha o sonho de ser ator, e nem imaginava fazer vídeos para a web até receber a dica de um colega de trabalho. “Ele disse que eu deveria ter um canal, porque eu ficava falando tudo o que acontecia comigo de maneira engraçada. Ele ria muito. Mesmo assim, só depois de um ano eu criei o ‘RodsRules’”, conta ele, que tem cerca de 350 seguidores.

Em frente às câmeras, Pelegrini conta histórias do cotidiano em um clima descontraído e isso faz parte da fórmula que o aproxima de seu público alvo. “Quando criei o canal, não pensava em segmentar, mas, atualmente, além dos vlogs, que são vídeos em que falo de coisas que acontecem comigo, faço covers de músicas que gosto e percebo que agrada meus seguidores” Do outro lado da tela estão as pessoas que alimentam essa indústria, principalmente crianças e adolescentes, que buscam nos canais um conteúdo mais atrativo e que atenda às suas expectativas de maneira mais eficiente. Vitória Silva Rocha, 19 anos, estudante de fotografia da Univeritas UNG, é dona do canal “SR Vick” que tem cerca de

600 inscritos. Em sua página ela posta vídeos cristãos para o público jovem.

Já acostumada com as câmeras, Vitória fala que sempre teve paixão por vídeos.

“Gravava tags e postava no Facebook e Instagram, isso bem antes de pensar em ter um canal. Com o tempo surgiu a ideia de tentar edificar as pessoas por meio dos vídeos e não havia muitos youtubers com essa pegada, foi onde me joguei”, conta. “Meu desejo é levar aquilo que acredito, e tentar ajudar a vida das pessoas, nem que seja por cinco minutos”, complementa.

Você não é todo mundo Para alguns colegas da época da faculdade, o jeito debochado e sem filtro da jornalista Michele Barbosa, 31 anos, é anterior ao perfil adotado por muitos youtubers. Tanto que a consideram uma espécie de pioneira no gênero. Ex-aluna da Univeritas UNG, toda semana ela diverte mais de 3 mil seguidores no canal “Você Não É Todo Mundo”. A ideia veio quando ela estava desempregada.

“Assitia TV quando vi duas adolescentes que falavam sobre a dificuldade em encontrar sites e livros que realmente as entendam. Daí pensei em criar um blog como esse bordão clássico das mães [você não é todo mundo], e do blog fui para o canal de vídeos. Uma coisa gerou a outra”, lembra.

Michele ficou encantada ao ver que conseguia levar alegria aos seguidores, em sua maioria adolescentes. Mas, apesar de usar o YouTube, afirma que seus vídeos tem mais repercussão no Facebook. “Postei um vídeo sobre meu primeiro dia no novo emprego e que viralizou, tem mais 500.000 views. Hoje me comunico mais com os seguidores pelo perfil no Facebook”, conta. c novembro 2017 | cultcom

internet | 15 1

foto Erick Novaes

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foto Rafael Monteiro

1. A jornalista Michele Barbosa, do canal “Você Não É Todo Mundo”

3

2. A estudante de fotografia Vitória Silva Rocha, do canal “SR Vick” 3. O jornalista Rodolfo Pelegrini, do canal “RodsRules”

foto reprodução

16 | fotografia

Imagem bucólica do Parque Núcleo Cabuçu pouco explorado para realizar ensaios fotográficos

O outro lado da cidade Fotógrafos indicam locais diferentes para fazer ensaios em Guarulhos e revelam belezas pouco conhecidas na região

foto Leandro Andrade

por Daniele Canhadas

Embora seja conhecida pelo aeroporto, pelo Bosque Maia e pelo agitado centro, Guarulhos também reserva bonitas paisagens em outros pontos da cidade, e que podem ser aproveitados para diversos tipos de ensaios fotográficos.

Parques, mirantes, bares e restaurantes são alguns dos pontos mais comuns onde diversos fotógrafos já fizeram seus cliques, A fotógrafa Camila Carvalho, 24 anos, é uma das que valorizam o uso do Bosque Maia, na região central, para produzir boas imagens.

“Alguns bares e restaurantes na aveni-

da Paulo Faccini são bonitos e ótimos para fazer ensaios. Nesses locais prefiro fotografar no período da tarde, depois das 16h que é um horário mais calmo.”

Para o fotógrafo Leonardo Lopes, 31 anos, os melhores horários para as fotos são sempre no período da manhã.

“Em lugares abertos, a preferência é durante o dia. Lugares fechados posso fotografar em qualquer horário, pois não dependo da luz natural”, diz ele, que também fotografa ensaios sensuais em motéis locais, sem precisar se deslocar para São Paulo. “Motéis como o novembro 2017 | cultcom

O Cabuçu é um lugar pouco explorado, repleto de cachoeiras e espaço para fazer boas imagens Para o professor de fotografia da Univeritas UNG, Alexandre Vilas Boas, qualquer lugar pode ser um bom lugar para se fotografar. “A fotografia neste caso é, além de uma forma de expressão, linguagem e opção estética, também um documento. Muito do que você fotografa pode ser sempre um último registro. Você pode fotografar algo hoje e na próxima vez que voltar o poder público já deixou ruir ou permitiu que alguém se apropriasse e transformasse em condomínio ou estabelecimento comercial”, comenta ele, que também indica outros bons cenários na cidade. “Gosto muito de fotografar as ruínas das antigas estações de trem.

Gosto também do Centro de Guarulhos, o antigo Paço Municipal e o Colégio Capistrano de Abreu. Já em Bonsucesso, fotografo a igreja e as casas que também já se foram”, explica. c

Ao lado, ensaio fotográfico com uma grávida no Parque Núcleo Cabuçu; abaixo, fotografia realizada no Viaduto Cidade de Guarulhos, na região central

foto Leandro Andrade

Portas do Sol são ótimos lugares para fazer esse tipo de foto”, complementa.

Cenários como o Parque Núcleo Cabuçu, o Lago dos Patos, a Trilha Mirante Morro do Nhanguçu, o Teatro Adamastor e a Livraria da Vila são alguns dos lugares preferidos do fotógrafo Leandro Andrade, 25 anos. “O Cabuçu é um lugar pouco explorado. Lá existem possibilidades incríveis, é repleto de caminhos cheios de árvores, cachoeiras e espaços para bons cliques”, diz.

Ponto de encontro tradicional no bairro Vila Galvão, o Lago dos Patos também é utilizado por Andrade para diversos tipos de ensaios, principalmente para fotos de casais. “É um lugar muito particular para eles devido ao clima romântico, com a vista do lago, os pedalinho e o clima agradável”, conta.

foto Camila Carvalho

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18 | anime e mangá

Os guerreiros de Atena, da esq. para a dir.: Ikki, Shun, Yoga, Shiryu e Seiya

Com mais de 30 anos de existência e uma legião de fãs, “Os Cavaleiros do Zodíaco” ainda tem cosmo para queimar por Caio Portella

foto divulgação

Sucesso além do zodíaco Entre 1994 e 1997 a extinta TV Manchete tranformou as tardes dos jovens os levou a subir as doze casas do zodíaco na Grécia, conhecer Asgard (cidade mitológica de deuses nórdicos) e explorar os setes oceanos liderados por Poseidon, o deus dos mares. Isso é um breve resumo do anime clássico de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, reprisado tanto quanto o número de vezes que Seiya se erguia em uma luta.

Há mais de 30 anos, a criação do mangaká Masami Kurumada foi uma oposta da companhia japonesa de brinquedos Samtoy para vender bonecos no Brasil e se tornou um fenômeno. O que ajudou na popularidade do anime foi também sua dublagem. Como não se lembrar do famoso “Cólera do Dragão!”, eternizado pelo dublador Elcio Sodré, 58 anos, que deu voz a Shiryu.

“Para mim, assim como para os outros dubladores, era só mais um desenho como outro qualquer. Não tínhamos noção do que representaria e do que se tornaria esse trabalho”, lembra ele.

Após o sucesso na década de 1990,

“Os Cavaleiros do Zodíaco” voltou a TV brasileira por meio do canal Cartoon Network em 2003, e na Band em 2004. Para essa nova exibição, a saga foi redublada. O gerente de conteúdo da Editora JBC, Marcelo Del Greco, 46 anos, que trabalhou na adaptação do anime clássico no Brasil, passou pelos desafios da redublagem. “Editar essa nova versão foi bem complicado porque não queria tirar a essência e a magia da dublagem original, nem os termos consagrados. Ao mesmo tempo tinha muita coisa para se arrumar.

Achar esse equilíbrio não foi fácil”, conta Del Greco.

A volta da animação à TV foi importante, pois conseguiu trazer novos fãs para série, como a fotógrafa Sabrina Barbosa, 21 anos, ex-aluna da Univeritas UNG. “Fiquei fascinada quando assisti as chamadas com aqueles personagens extremamente bonitos, vestindo armaduras incríveis e lutando. Lembro que contei os dias para assistir e me apaixonei no primeiro episódio”.

Três décadas se passaram e “Os novembro 2017 | cultcom

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O projeto será um remake da série clássica animada em computação gráfica.

Assim, o relógio de fogo do Santuário está longe de ser apagado. As novas obras e a forte nostalgia dos fãs faz “Os Cavaleiros do Zodíaco” ser muito mais do que um desenho que passava nas tardes da Manchete, no canal 9. c

1. A fotógrafa Sabrina Barbosa mostra sua coleção de álbuns da série 2. O gerente de conteúdo Marcelo Del Greco posa no trono de Poseidon 1

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Fiquei fascinada quando assisti as chamadas com aqueles personagens extremamente bonitos As obras estenderam a saga dos guerreios de Atena e prolongaram sua existência. Desde o mangá clássico (1985), novos títulos foram feitos, como “Episódio G” (2003), “Lost Canvas” (2006), “Next Dimension” (2006) e “Saintia Shô” (2013), que receberá uma adaptação para anime, ainda sem data de estreia. Para a TV, novos animes foram produzidos. como “Omega” (2012), que tinha como objetivo atingir um público mais jovem, e “Alma de Ouro” (2015), feito para os fãs dos cavaleiros de ouro. Também existe um novo anime, “Knights of The Zodiac”, que vai ser feito pela Netflix e a Toei Animation, que deve estrear em 2019.

3. O editor Claudio Prandoni faz selfie com a armadura de ouro de Leão

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fotos arquivo pessoal

Cavaleiros do Zodíaco” ainda recebe novas histórias e coleciona novos fãs.

Para o editor do site The Enemy BR e fã do anime, Claudio Prandoni, 32 anos, a saga ainda tem muito cosmo para queimar. “Histórias de superação são comuns no mundo do entretenimento, e ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’ embala isso em um universo fácil de entender, em que a hierarquia de poder entre as armaduras é fácil de assimilar, assim como as armaduras dos inimigos.

De bônus, tem todo o apelo das constelações e signos do zodíaco, que facilita ainda mais a compreensão da história.”

A saga de “Os Cavaleiros do Zodíaco” foi importante no Brasil, pois possibilitou a chegada de outros animes, como “Sailor Moon” e “Yu Yu Hakusho”. Antes, as principais obras japonesas que passavam na TV brasileira eram os tokusatsus (produções audiovisuais de ficção científica com heróis e monstros), como “Kamen Rider Black RX” e “Jaspion”.

20 | carnaval

Cidade nas asas da Gaviões História da tribo que deu origem à Guarulhos será contada por meio de samba de enredo e empolga foliões por Deyvid Xavier

No próximo desfile das escolas de samba do grupo especial de São Paulo, a cidade de Guarulhos terá sua história contada com o samba de enredo “Guarus... Na Aurora da Criação a Profecia Tupi – Prosperidade e Paz aos Mensageiros de Rudá”, da Gaviões da Fiel.

Com o tema, a escola mostrará que a cidade é muito mais que “cidade do aeroporto” ou da banda Mamonas Assassinas (1995-1996). Para o pesquisador da letra do samba, o carnavalesco Sidnei França, que tem longa trajetória no Carnaval paulistano, o desfile quer exaltar a importância de Guarulhos e de seu povo para o país. “Uma cidade é feita de pessoas, então quando a Gaviões escolheu Guarulhos, ela abraçou a possibilidade de exaltar uma cidade que tem uma importância grandiosa para o funcionamento, não de São Paulo, mas do Brasil”, diz. “O Carnaval tem a função de educar, de aculturar e de informar, além da questão da alegria, da descontração e do entretenimento, que é intrínseco por ser essa uma festa de origem popular”, complementa.

A ideia de falar da tribo indígena, que deu origem à cidade, surgiu por integrantes da escola de samba serem de Guarulhos. Segundo França, o desfile no Sambódromo do Anhembi pretende mostrar o surgimento do povo guarulhense, mesmo não citando o nome Guarulhos na letra do samba. “Quando tive a ideia de desenvolver o tema, ao invés de contar a história da cidade de uma forma linear, histórica e pedagógica, como um livro escolar, preferi ir por uma linha mais lúdica, mais poética, que é exaltar o povo dessa terra por meio da sua origem, que são os índios guarus”, explica.

O caminho percorrido para fazer

a letra de um samba começa com o trabalho de pesquisa a partir do tema proposto, feito pelo carnavalesco da escola. Depois, a história é repassada aos compositores, com mais detalhes e com foco no que deseja o carnavalesco, e como será contada a história por meio do grande desfile na avenida.

Para Luciano Costa, um dos autores do samba de enredo, o fato de não citar diretamente o nome de Guarulhos na composição não é um problema e ressalta a dificuldade que é para a escola desenvolver um desfile sobre o nascimento de um povo. “O carnavalesco França buscou fazer esse trabalho em cima de uma lenda indígena, depois mostraremos o progresso da cidade.

Na avenida, o público verá uma história em cima de outra história, e tenho certeza de que vamos representar muito bem Guarulhos.”

A escola quer exaltar uma cidade que tem uma importância grandiosa para o estado e o Brasil A voz da Fiel Um dos grandes nomes do Carnaval de São Paulo e nome inconfundível da Gaviões da Fiel é o intérprete Ernesto Teixeira. O cantor e compositor está na escola desde 1984, quando ainda era apenas bloco, e terá a missão de cantar Guarulhos na avenida. “Minha ligação com Guarulhos vem de muitos amigos que eu e meus filhos temos na cidade, e dos jogadores de futebol, que por meio da parceria que o Corinthians manteve por anos com o Flamengo de Guarulhos, treinaram no estádio Antônio Soares de Oliveira”, conta Teixeira. novembro 2017 | cultcom

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fotos divulgação

A voz oficial da escola de samba acredita que não ter o nome da cidade na letra do samba não mudará a opinião dos jurados do quesito na avaliação do desfile. “O enredo foi desenvolvido em cima da lenda da tribo guarus. Isso está na descrição do samba e das fantasias e, com certeza, os jurados não julgarão o samba por não ter o nome da cidade dito abertamente. Torcemos para que o enredo se torne mais um sucesso da Gaviões. Vamos trabalhar para que esse hino também entre para a história como um desfile vencedor”, fala. c

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1. Bateria da Gaviões da Fiel esquenta os tambores na quadra da escola 2 . O compositor Luciano Costa, que também assina a letra do samba sobre os índios guarus 3. O pesquisador e carnavalesco Sidnei França

foto Gustavo Pimenta

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4. Ernesto Teixeira, intérprete oficial do samba de enredo

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Blues na lente da câmera

foto divulgação

Fotógrafo brasileiro Sérgio Poroger percorreu a rota do blues e de outros gêneros musicais do sul dos EUA para compor o livro “Cold Hot” por Érick Xavier fotos Sérgio Poroger

A música sempre esteve presente na vida de Sérgio Poroger. Aos oito anos, ele já ostentava uma coleção de compactos simples (singles lançados em vinil) dos Beatles. “Meu gosto musical é bastante amplo, acabo me identificando com os mais diferentes gêneros”, explica ele que, aos 12 anos, fazia duetos com a mãe na Igreja do Calvário, em Pinheiros (zona oeste de São Paulo).

Viajar de carro pelas longas rodovias norte-americanas também era um sonho do fotógrafo e jornalista, que uniu tal façanha ao seu encantamento pela música. No fim de 2014, Poroger começou uma jornada de mais de 3.000 quilômetros pelos sul dos Estados Unidos. Sempre com a câmera a postos, ele colocou em prática as influências do fotógrafo suíço Robert Frank, aclamado pelo livro fotográfico “The Americans” (1958), que retrata em imagens a realidade diversa, e muitas vezes desigual, dos americanos da década de 1950.

“Pessoalmente, me identifico com os

fotógrafos viajantes”, diz Poroger.

A ideia de fotografar os estados de Georgia, Tennessee, Mississipi, Louisiana e Texas fez com que Poroger se entregasse a uma pesquisa de quase dois anos pela musicalidade da região, que resultou no primeiro livro da carreira, chamado “Cold Hot” (2016).

“Pensei numa das minhas paixões, a música. Bingo! Resolvi fotografar uma das regiões mais musicais dos Estados Unidos: o Sul”, diz Poroger. Trata-se de um cenário em que a conexão com a música vai além dos palcos ou do rádio, mas um lugar onde a sonoridade se relaciona com as paisagens, a arquitetura e os costumes de quem vive por lá.

O livro é dividido em duas partes, já evidenciadas no título “Cold Hot”, que representam as tonalidades das fotos de Poroger durante o rigoroso inverno americano. O cenário frio e acinzentado das imagens externas coloca em evidência as construções antigas, muitas já deterioradas pelo tempo e o abandono. novembro 2017 | cultcom

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Enquanto outros registros (da parte “quente” do projeto), mostram os jogos de luz e o aquecimento de ambientes internos, como os pubs e casas de shows.

Os bares tradicionais do sul do país foram passagem obrigatória para Poroger. Os famosos pubs americanos recebem apresentações de artistas locais que preservam ritmos musicais históricos de cada estado, e essas personagens depositam nas músicas a realidade enfrentada por quem decide viver da arte em cidades do interior.

Imerso na rotina dos shows, Poroger encontrou a beleza e a melancolia das histórias, muitas vezes também expostas nas letras ou no ritmo sombrio de gêneros como blues e jazz. O fotógrafo relembra episódios emocionantes, como quando passou o réveillon de 2015 na Beale Street (Memphis, Tennessee), conhecida como a rua mais icônica da América. “Naquela noite vi um cantor seduzindo uma mulher solitária que só queria um carinho na virada do ano. Qual não foi minha surpresa quando, logo após o show, ele foi para um canto e começou a contar os dólares que havia juntado naquela noite.”

Ele colocou em prática as influências do fotógrafo suíço Robert Frank, de “The Americans” (1958) Na pequena cidade de Clarksdale, no norte do Mississipi, o fotógrafo capturou uma das fotos mais marcantes do livro, a imagem de um verdadeiro bluesman americano: o cantor Josh Razorblade Stewart, um veterano da Guerra do Vietnã, que se apresentava

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“Surge um senhor com uma boina vermelha caída sobre a testa.

Ele cumprimenta algumas pessoas, pega o microfone e assisto a um dos melhores shows de blues de todos os tempos” no palco do Red’s Blues Club. “Lá dentro presenciei uma banda tocando em cima de um tapete persa surrado, quando, de repente, surge um senhor de bengala e uma uma boina vermelha caída sobre a testa. Ele cumprimenta algumas pessoas, pega o microfone e aí, eu já delirando com minha câmera, assisto a um dos melhores shows de blues de todos os tempos.”

O percurso feito pelo fotógrafo tem como trilha sonora outros gêneros além do blues do Mississipi, estado em que ele pôde conhecer a Rota 61, a lendá-

ria Blues Highway. A viagem começou com o country do Tennessee, estado que abriga também o rock de Memphis. O jazz aparece em New Orleans, e por fim o cajun, música folclórica de Lafayette, as duas cidades ficam em Luisiana.

Quando questionado sobre qual música não pode faltar na playlist de “Cold Hot”, Poroger seleciona o clássico do R&B (rhythm and blues) “Members Only”, de Bobby “Blue” Bland (19302013) – cantor integrante do Blues Hall of Fame, chamado por muitos de Sinatra do blues. A canção é legenda de novembro 2017 | cultcom

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uma das imagens do livro e foi ouvida por Poroger em Clarksdale. O fotógrafo revela ainda que os diferentes gêneros musicais “servem de fundo musical silencioso para as imagens do livro”.

Formado em jornalismo pela USP (Universidade São Paulo), ele já atuou como repórter em jornais de São Paulo e veículos da Europa. “O jornalismo me despertou a adoração pelo fotojornalismo”, explica. Desde que começou a levar a admiração pela fotografia como uma profissão de fato, Poroger desenvolveu portfólio com trabalhos em Miami, Uruguai e Japão. Com toda essa bagagem, hoje ele deixa um conselho para quem sonha em ter uma carreira como fotógrafo: “Fotografar muito, todos os dias e aperfeiçoar o olhar a cada momento. Isto é tudo”. Agora, Poroger se prepara para outro desafio nos Estados Unidos: mostrar a influência do cinema no cotidiano das cidades americanas e de seus moradores, por meio de um projeto intitulado “On Movies”. c

Capa do livro “Cold Hot” (2016), Editora Alfaiatar

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foto divulgação

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A música sempre vence Maestro João Carlos Martins fala da carreira, dos planos para o futurao e de sua relação com os jovens músicos de Guarulhos por Beatriz Gouvêa

A música clássica brasileira tem representantes de peso, como Heitor Villa-Lobos (1887-1959), mas no atual cenário, um nome que tem mais se aproximado do público jovem é o maestro João Carlos Martins, 77 anos. Sua trajetória se confunde com a de muitos iniciantes apaixonados pelos clássicos.

Com apenas 18 anos, Martins, sempre dedicado à música, já se apresentava no exterior. “Foi emoção e ansiedade muito grandes. Uma vontade de mostrar tudo que eu tinha, de emocionar as pessoas. Sabia da minha responsabilidade, mas sempre me preparei bem e cada concerto era uma missão a ser cumprida”, relembra o maestro.

A carreira internacional lhe porporcinou a experiência mais marcante de sua vida: apresentar-se no Carnegie Hall, em Nova York, quando tinha 20 anos. Após um acidente, enquanto jogava futebol, precisou fazer uma série de cirurgias, mas o que agravou a saúde do maestro foi uma pancada que recebeu na cabeça quando sofreu um assalto na Bulgária, em 1995, que prejudicou o movimento de suas mãos.

Durante a vida, Martins fez 23 cirurgias além de inúmeras sessões de fisioterapia para recuperar os movimentos.

“Eu cheguei a parar profissionalmente duas vezes, mas a música sempre me salvou e me trouxe de volta. Passei por momentos difíceis, mas a música venceu. Por isso este ficou sendo meu lema ‘a música venceu’”, afirma.

Foi com essa afirmação de vitória

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“Quero realizar o sonho de Villa-Lobos e fechar o Brasil em forma de coração por meio da música”

João Carlos Martins e orquestra durante apresentação no aniversário de Guarulhos, em 2010

foto divulgação

que o maestro foi homenageado pela escola de samba de São Paulo Vai-Vai, em 2011. O grandioso desfile emocionou o Sambódromo do Anhembi e deu à escola o título de campeã do desfile do grupo especial daquele ano.

Martins é sinônimo de persistência e vontade de viver. Ele acredita que a vontade de fazer a diferença e deixar um legado para as futuras gerações é o que o motiva a não desistir, principalmente, da música. “Quero realizar o sonho de Villa-Lobos e fechar o Brasil em forma de coração por meio da música”, diz ele, que inspira ao demonstrar fibra e colocar em prática projetos ousados.

“Recentemente lancei o Orquestrando São Paulo, que visa levantar orquestras no interior do estado, em cidades de até 70 mil habitantes. Meu desejo é poder levar isso para todo o Brasil.”

Relação com Guarulhos João Carlos Martins é uma inspiração para os guarulhenses, tanto que já esteve na cidade diversas vezes para

se apresentar com a Orquestra Jovem Municipal, e em todas elas fez lotar o teatro do Centro Municial de Educação Adamastor, no Centro. “Tenho uma relação muito boa com a cidade. Sempre me recebem muito bem, as pessoas me param na rua e conversam, é muito bacana. Acompanho o trabalho de música clássica que é feito em Guarulhos e é sempre um prazer estar com todos esses jovens talentos”, fala.

Segundo o maestro especializado em ópera e fundador da Orquestra Jovem Municipal, Emiliano Patarra, João Carlos Martins é um grande parceiro e incentivador da música clássica na cidade. “Ele é um intérprete histórico, que contribuiu muito para a história da interpretação de Sebastian Bach [compositor, 1685-1750], para a música no Brasil e, além disso, ele tem um trabalho muito importante de divulgação de concertos pelo país”, comenta. “A plateia de Guarulhos é um exemplo de quando a gente consegue mostrar a música clássica para as pessoas, elas se novembro 2017 | cultcom

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1. João Carlos Martins comemora título da escola de samba Vai-Vai que o homenageou 2. Cena do filme “João, o Maestro” (2017), com Alinne Moraes e Alexandre Nero

encantam, elas gostam muito. Então, quando o maestro João Carlos faz todo esse trabalho de divulgação, as pessoas ficam interessadas, querem conhecer”.

Para Caio Pereira, 19 anos, aluno da Orquestra Jovem, o maestro Martins é uma inspiração. “Além de grande maestro ele é um pianista incrível. Ele fez um solo de piano quando se apresentou em Guarulhos, e nós [alunos] ficamos fascinados. Alem disso, ele nos ajudou bastante nos estudos”, conta. O estudante Fabio Menezes, 21 anos, compartilha do mesmo pensamento do colega de orquestra e tem Martins como uma referência. “Os problemas que ele passou servem de lição de vida para muitas pessoas. Eu acredito que muitos músicos tenham um exemplo por meio da história de luta deles.”

Ele é um intérprete histórico, que contribuiu muito para a história da interpretação de Bach

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foto Fernando Mucci/Platinum

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No ano passado, a história de Martins esteve nas telonas com o longa-metragem “João, o Maestro”, dirigido por Mauro Lima, de “Tim Maia” (2014). “Foi uma honra ter recebido esta homenagem em vida. Foi um projeto muito bem feito e recebi retornos muito positivos. Acho que se aproximaram mais de mim após o filme, tenho sentido isso quando converso com as pessoas”, conta Martins, que é só elogios para o ator Alexandre Nero, que o interpretou no filme. “Ele esteve ótimo, assim como todo o elenco. Brinco que o Nero foi tão bem que agora eu preciso imitá-lo para ser o João Carlos Martins”, comenta. c foto LC Barreto

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foto Joรฃo Miguel Junior / TV Globo

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NAS ASAS DA COMUNICAÇÃO por Caroline Nunes

2017 foi o ano de um dos homens mais influentes do país: Lázaro Ramos. O ator que passou a investir em projetos paralelos, tornou-se um símbolo de representatividade negra e, juntamente com a mulher, Taís Araújo, tornou-se uma das personalidades mais influentes do mundo.

Além dos trabalhos na TV, no cinema e no teatro, ele tem se dedicado a carreira de comunicador, com discursos voltados aos problemas sociais do Brasil e com o livro “Na Minha Pele”, obra que lhe rendeu o prêmio GQ Brasil Men Of The Year 2017.

Prestes a estrear o descontraído “Lazinho com Você” (Globo), ele propõe uma maior interação com o público aos domingos: um programa++ de rua sem frescuras, que une o carisma dele com o do povo brasileiro e promove maior conectividade na telinha.

32 | capa | lázaro ramos foto Juliana Hilal/divulgação

O casal Lázaro Ramos e Taís Araújo em cena, na peça “O Topo da Montanha”

Um dos rostos mais conhecidos no Brasil é do ator e comunicador Lázaro Ramos, 38 anos. Mas, como o ditado mesmo diz, não é só um rostinho bonito, há talento e vontade de mudar a realidade por trás dos objetivos do artista. Talvez isso seja o reflexo de sua adolescência voltada para a arte. Crescer em um ambiente como Salvador (BA), com

Lázaro conheceu as questões culturais, raciais, étnicas e sociais, todas apoiadas com o pensamento a partir do Bando de Teatro Olodum. “Quando você não tem a oportunidade de vivenciar isso, você tem que encontrar essa reflexão em outros lugares e, às vezes, é justamente por não encontrar isso, que as pessoas ficam na ignorância das potências.”

“Tive um lugar para expressar, minhas dores, alegrias e meu jeito de ser. Isso transformou a minha vida” questões sociais para serem resolvidas em cada esquina, desenvolveu nele a vontade de fazer a diferença e de deixar um legado. “Entrar no Bando de Teatro Olodum, aos 15 anos, fez eu me reconhecer naquele lugar. Tive um lugar para expressar meus pensamentos, as minhas dores, minhas alegrias, e o meu jeito de ser. Isso transformou a minha vida e descreve quem eu sou”, diz ele ao lembrar da adolescência desenhada por referêcias da prática teatral.

Foi pelas ruas da capital baiana que

Recentemente, o ator emocionou o público ao interpretar o símbolo de luta para a conquista dos direitos civis norte-americanos, Martin Luther King (1929-1968), na peça “O Topo da Montanha”. “Esse personagem foi como um alimento para minha vida, para o meu universo criativo e uma inspiração. É uma peça que eu acho que vou fazer durante muito tempo da minha vida porque é teatro da melhor qualidade e é uma mensagem de coragem, afeto e luta que é importante”, comenta. novembro 2017 | cultcom

lázaro ramos | capa | 33 foto Marilia Cabral/TV Globo

Para apresentar “Lazinho com Você” (Globo), o ator gravou nas ruas do centro do Rio de Janeiro

Mas os palcos já estão pequenos para a vontade do ator levar sua mensagem ao grande público. O programa dominical “Lazinho com Você” (Globo) é sua aposta em um formato menos engessado de programa aos domingos, pois a equipe coloca o pé na estrada para entrar diretamente em contato com o telespectador e estimulá-lo a expor e colaborar com criações próprias nas áreas de música, texto, vídeo, imagens e experimentações temáticas. “O ‘Lazinho’ é isso: têm vários quadros, com formatos diferentes, mas todos eles têm o propósito de entreter e fazer com que a gente se veja, se entenda e converse um pouco mais”.

Segundo o ator, o intuito da atração é conhecer pessoas e fazer com que o público conheça um Lázaro mais do dia-a-dia. E, esse espaço na TV é fruto de uma ousadia do ator, que na cara de pau e no anseio de ver o Brasil com os olhos dos brasileiros, montou um projeto e expôs à emissora. “Todo mundo tem histórias interessantes para contar e pode ser um criador; e liberdade não tem regra. A criatividade é solta”.

A interação com o público se dá

também por meio do uso das ferramentas digitais e do site oficial do programa (www.lazinhocomvoce.com.br). “A gente tem que aceitar a internet como promotor de encontros e como algo positivo. Então formatamos o projeto para encontrar as pessoas, seja lá onde elas estiverem, e mostrar seus talentos, com dança, música e texto. É deixar as pessoas falarem livremente e mostrarem que caras compõem o nosso país.”

Outras maneiras Além do programa dominical, Lázaro expandiu sua maneira de comunicar com o público do modo mais clássico possível, lançando o livro “Na Minha Pele” (2007, 152 págs. Editora Objetiva). A obra fala, principalmente, sobre as discriminações e a formação de identidade étnica-racial do ator. É a maneira mais justa de comunicar, pois se trata de um negro que denuncia, fala e protagoniza a vivência dos negro baiano em uma região majoritariamente composta de afrodescendentes e que ainda sofre com a desigualdade social.

O livro mostra a humanidade de Lázaro de maneira autobiográfica (ou

Atualize sua leitura Lázaro Ramos relata experiências da adolescência e faz reflexões no livro “Na Minha Pele” (Companhia das Letras)

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foto Estevam Avellar/TV Globo

seria um diário?) com dados cheios da famigerada “vergonha alheia”, quando expõe fatos que são comuns a uma sociedade ainda preconceituosa, com problemas étnicos e que ainda demonstra que, parafraseando Racionais Mc’s, “preto não tem vez”. O momento “vergonha alheia” vai para o tapa na cara da sociedade quando Lázaro diz que a libertação dos escravos não foi por meio da Princesa Isabel (1846-1921), e sim pela luta e resistência deles mesmos.

A cor da pele é o cerne da narrativa.

“Enquanto comunicador, tive a oportunidade muito rica de lançar meu livro que, no meio dessa falta de diálogo [do país], conseguiu conquistar vários ouvidos. As pessoas entenderam qual era a proposta e saíram motivadas.”

Afeto, relações afrocentradas, nascimento dos filhos, pesquisas e recenseamentos sobre a situação do negro no Brasil, e o racismo contido nas entrelinhas, são como um grande recheio para o livro, que termina de forma franca, como o restante de seu conteúdo.

“Exercite o olhar, sem pré-conceber nada. E seja feliz”.

O autobiográfico “Na Minha Pele” reneu a Lázaro o prêmio GQ Brasil Men Of The Year 2017. O troféu foi entregue por sua mulher, Taís Araújo, e pela sua tia-avó, Dona Helenita, 93 anos, a quem ele chama carinhosamente de Dindinha. Segundo Lázaro, Dindinha é uma figura muito marcante em sua vida e uma das personagens principais do livro. Durante a premiação, ele se emocionou ao lembrar-se da infância com sua tia-avó, que sofre de câncer.

“Esta mulher criou 19 crianças na casa dela. Nunca teve filho de sangue, mas de coração. Tenho muito orgulho de ser filho dela. O meu livro conta essa luta por sobrevivência mas, acima de tudo, a luta pelo direito ao afeto. O livro é sobre afeto, não sobre racismo”.

Em setembro deste ano, Lázaro e Taís passaram a integrar a lista da Organização das Nações Unidas (ONU), que elencou os 100 negros mais influentes do mundo. Sobre a homenagem, que contou com a presença de Ndaba Mandela, neto de Nelson Mandela (1918-2013), Lázaro disse nas redes sociais que “é uma honra estar entre novembro 2017 | cultcom

foto divulgação/TV Globo

Da esq. para a dir.: Flavio Canto, Leandra Leal, Dira Paes e Lázaro Ramos durante o “Criança Esperança” (Globo)

“Enquanto comunicador, tive a oportunidade muito rica de lançar meu livro que, no meio dessa falta de diálogo [do país], conseguiu conquistar vários ouvidos”

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os afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo, também é uma grande responsabilidade”.

Responsabilidade esta que foi possível conferir no acalorado discurso de Lázaro no último “Criança Esperança” (Globo). A fala do ator causou grande comoção nas redes sociais ao abordar o respeito e as desigualdades que ainda acontecem no Brasil. “Aquele discurso que viralizou na internet é o resultado da compreensão do momento que nós vivemos. O ‘Criança Esperança’ se tornou, mais do que um projeto de doação de dinheiro. No programa a gente fala muito sobre as angústias da sociedade, tentando encontrar alternativas. As doações permanecem, mas a gente tem um número grande de pessoas visitando projetos voluntariamente, se oferecendo pra participar ou às vezes apenas ir até esses lugares para dar um abraço em uma criança.”

Em seu livro, Lázaro expõe fatos que são comuns a uma sociedade ainda preconceituosa Também sucesso nas redes sociais, Lázaro figurou na lista “Os Influenciadores de 2017 - Quem Brilha na Tela dos Brasileiros”, realizado pelo Google e o Instituto Provokers. E, é com esse poder de disseminar boas mensagens na internet que o comunicador quer ir além. “O que a gente quer fazer com ‘Lazinho Com Você’ é incentivar o lado bacana da internet. Não ao ódio, a separação, mas a possibilidade de encontro, histórias divertidas que entretêm.

Quando a gente incentiva as pessoas a escolherem determinado tipo de coisa, contribuímos para uma reeducação de olhar nessa pluralidade que é o país e isso, talvez, ajude os meios de comunicação a serem menos desiguais”. c

36 | moda Colete verde militar, camiseta de banda, short jeans e bota do Mariposa

Bom, bonito e brechó Em busca de preço baixo, lojas de roupas usadas oferem opções que são tendências em diversos estilos por Camila Lopez produção Denise Valdez fotos Gustavo Henrique e Junior Lago modelos Claudete Arruda e Mozart Rhafael apoio Marcelo Caruso

Queridinhos entre os jovens, além de bom negócio para o bolso em tempos de crise, os brechós são a alternativa para quem deseja economizar, manter o estilo e ajudar o meio ambiente.

A regra em um brechó não é possuir as últimas novidades da moda, é garimpar peças muito, mas muito antigas e que dão um toque de estilo diversificado dos padrões modernos, como conta a consultora de vendas Sabrina Costa, 18 anos, iniciante no ramo com a loja virtual Brechó Strety. “A loja torna-se um ícone muito importante porque abrange todos os gostos. Você pode criar seu estilo sem seguir padrões”.

A roupa usada apresenta elementos simbólicos que a distingue de peças no-

vas, fato que representa a originalidade do produto. Para os homens, por exemplo, é possível encontrar uma grande variedade de peças, como as camisas que, além de estarem em alta, podem ser encontradas em inúmeros modelos.

Já para as mulheres, encontrar um vestido de festa não é uma missão difícil.

Pelos cabides é possível abusar de peças vintage, como a calça pantalona.

Este acervo de variedade é o que motiva consumidores, além dos preços baixos oferecidos, claro! A proprietária do Mariposa Brechó, Marianna Matildes, defende esta acessibilidade para encontrar estilos diferenciados. “Acho que a moda já está feita. Tudo o que aparece a cada ano é apenas uma renovembro 2017 | cultcom

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petição do que já foi usado em algum momento. A moda é você quem faz. Ao frequentar um brechó, você consegue ter acesso a todo um acervo histórico de décadas”, diz Marianna.

Garimpar exige atenção, pois nem todas as peças estarão em boas condições, dependendo, claro, do lugar em que se procura. Além disso, com criatividade é possível investir em peças básicas e customizá-las de acordo com seu estilo. Os jeans são os achados primordiais de qualquer compra em brechó, tanto para os homens, quanto para as mulheres. E vamos combinar, não existe peça mais coringa que um jeans desbotado ou até mesmo um destroyed. É claro que o mercado de brechós não vem acompanhado da facilidade que é ir ao shopping e encontrar dezenas de lojas no mesmo lugar. Para isso, a internet deu oportunidade às lojas de antiguidades de serem encontradas.

Além de todos esses motivos, com mais revendas, menos tecidos precisam ser criados por máquinas, evitando que toneladas de CO2 entrem em contato com a atmosfera. Assim, os brechós e bazares entram no segmento de reciclagem, porém, do mundo fashion.

Garimpar em brechós exige atenção, pois nem todas as peças estarão em boas condições E essa prática não é tão nova assim.

A compra de peças usadas se popularizou tanto na Europa que desembarcou no Brasil no século 18. Um ambulante chamado Belchior democratizou a venda de produtos de segunda mão no Rio de Janeiro. Um século depois, surgiu um comércio de objetos usados que levava o nome de Belchior. Mas foram o tempo e a popularização que se encarregaram de lapidar a definição, surgindo então o termo brechó. c

Regata azul marinho, bermuda jeans e sapatênis do Strety

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Jaqueta jeans, macaquinho estampado e tĂŞnis do Mariposa

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Camiseta militar, bermuda jeans e bota do Strety

Colete jeans, segunda pele, calรงa e botas do Strety

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Camisa listrada manga curta, calça jeans e sapatênis do Mariposa

Colete jeans do Strety Calça estampada do Mariposa

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Jaqueta branca, calça jeans e sapatênis do Mariposa

AGRADECIMENTOS Brechó Strety instagram.com/brechostrety Brechó Mariposa instagram.com/mariposabrecho

foto Estela Félix

foto Vitória Rocha

foto Daniel Fernandes

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Inspirados pela arte Alunos de fotografia produzem releituras de grandes nomes da arte moderna na exposição “Releituras em Foco” por Jessica Santos

Algumas das maiores obras da história da arte moderna foram transformadas em releituras fotográficas por alunos do curso de Fotografia da Univeritas UNG. “Releituras em Foco” reúne 60 imagens desenvolvidas especialmente para a exposição que revisita consagrados artistas modernistas, como Frida Kahlo (1907-1954), Van Gogh (18531890), Renoir (1841-1919) e Pablo Picasso (1881-1973), além dos brasileiros Tarsila do Amaral (1886-1973) e Di Cavalcanti (1897-1976), entre outros.

As releituras tiveram como ponto de partida as vanguardas europeias, como Fauvismo, Impressionismo, Expressionismo, Cubismo e Surrealismo.

A estudante Laury Domingos, 18 anos, integrante da comissão organizadora, diz que algumas obras mostram como seriam as cenas nos dias atuais. “A exposição serviu para mostrar a pintura consagrada e como ela seria em fotografia, de acordo com o olhar dos alunos. Por ser uma releitura, pudemos dar um novo olhar para aquela obra”.

A obra que inspirou a estudante Aline Shimasaki, 18 anos, é uma versão de “Os Amantes” (1928) do surrealista René Magritte (1898-1967). Trata-se de um casal posado em uma paisagem e com os rostos cobertos por panos. “Em

minha releitura alterei para a imagem de duas mulheres com marcas de sangue no pano, na altura da boca. O objetivo é impactar e expressar a opressão vivida pelas mulheres”, comenta Aline.

Quem também se inspirou no surrealismo de Magritte foi o estudante Patrick Moura, 19 anos, que fez a releitura de “The Glass House” (1939).

“Quando a escolhi, já imaginei no cenário, que foi o lugar mais alto do meu bairro. Depois convidei um vizinho para ser o modelo”, conta. “Para mim, é uma imagem que passa a mensagem de passado, presente e futuro. Eu achei uma experiência incrível.”

As releituras tiveram como ponto de partida as vanguardas europeias e a arte moderna brasileira O autoretrato de Van Gogh inspirou o estudante Renan Yagi, 22 anos, por causa dos transtornos e da depressão representados na obra do artista. Com o auxílo de um colega de sala, Yagi chegou a uma das imagens mais bonitas da exposição (veja na página 3). “O objetivo é ter criatividade na releitura e trazer algo a mais, como mostrar uma mensagem ou uma crítica social”. c novembro 2017 | cultcom

foto Eduardo Souza

foto Caroline Capella

foto Caroline Cruz

foto Patrick Moura

foto Aline Shimasaki

foto Priscila Silva

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44 | olhares | convidada

Quatro paredes de ‘A Mulher na Poesia’ POR MARIA GIULIA PINHEIRO

PRIMEIRO Sou poeta. Não sou poetisa.

As palavras importam. A linguagem promove mundos. Me diga o feminino de “luta”, “garra”, “criação”.

Poeta é palavra feminina, é ofício feminino. Nos expulsaram da função e do nome e nos colocaram estrangeiras num país “poetisa”, datado do século XIX, olha que coincidência, nas origens do feminismo e das represálias.

Não, meu bem, sou filha de Safo, natural do país “poeta” e me recuso a aceitar a nacionalidade “poetisa”. Corrigirei, sim, cada vez que me chamarem assim. Não, eu não. Se outras assim desejam, todo o direito a elas. Eu sou poeta.

As palavras importam. Importam gente pra lugares que não querem estar. “Poetisa”, pra mim, não é palavra para ocuparmos, como “zona” ou “vadia”. Também não é função criada, que exige palavra nova para nascer, como “presidenta”.

“Poetisa” é tiro no pé.

Sou poeta e as palavras carregam mundos.

Sou poeta.

E ponto.

SEGUNDO

O que é ser mulher?

Uma performance?

Um tom de voz?

Um jeito de cruzar as pernas?

Uma figura geométrica depilando a boceta?

Ser mulher é depilar-se, arrancar-se os pelos, o que existe além...?

O estupro, o feminicídio, o útero, o que é ser mulher?

A masmorra, o barba azul, o casamento, o que é ser mulher?

O salário, o assédio, a interrupção, afetam a mulher?

O afeto, o cuidado, a louça, a casa, vassoura, pano e cozinha são a mulher?

As culpas, as desculpas, os excessivos por favor com licença

obrigada perdão, a educação para a inferioridade martelando os compassos dos meus passos, a cabeça baixa nas ruas, uns pintos duros no cruzamento, o silêncio, o não não não ouvirem o não, a loucura, é isso a mulher?

Minha namorada é mulher?

Eu, por ter namorada, sou mulher?

O que é, mulher?

O buraco.

Se usa sutiã e não tem bigode é mulher?

Mas e eu? que fico irritada com o bagulho me comprimindo as costelas emprestadas? que fico puta com a cera quente tapando a boca?

Quando sou puta, sou mulher?

Para quem?

E Geni, era mulher?

Amélia que...?

Sempre quis ser Madame Clessi.

E quem escreveu essas mulheres (se é que...)?

A sorte é que tem aquelas outras, que vivem que lutam que falam e brigam, respiram ou respiraram, escreveram ou escrevem ou foram escritas sobre por para mulheres, mas o que é mulher?

E minha mãe?! É mulher?

E eu que não sou mãe?

Quem é mais mulher?

Higienópolis, Guarulhos, Perus ou Aracaju?

Existe “mais mulher”?

Ou é um termo absoluto, é ou não é? É adjetivo? novembro 2017 | cultcom

Quem sabe um substantivo um sujeito! um pronome possessivo infinitivo finitivo definido definitivo indefinido indecifrável uma esfinge um mistério oco, sem dentro sem expressão sem voz ou sem tradutor, desta língua esquisita deste país estrangeiro - quem é o nativo? ou sem o outro que escute e veja e considere que é sem ser sendo

convidada | olhares | 45

A fotografia performática “Autorretrato das Costelas Emprestadas”, publicada no livro “Avessamento” (2017)

Considerações sobre a palavra “mulher”: não são todos não é universal não é a humanidade é só “mulher” não é norma é desvio.

Talvez se um homem se vestisse de mulher (salto, batom, vestido, peito, é isso a mulher? o artigo feminino, é isso a mulher?

E o feminino, o que é, gente?), talvez um homem de máscara mulher poderia me explicar, como sempre me explicam tudo tão detalhado como sofre uma mulher o que vive uma mulher como pensa uma mulher o que sente uma mulher e como como como luta uma mulher! o que o que o que a mulher deve fazer: uma mulher!

E eu possa, finalmente, ser onça.

continua >

46 | olhares | convidada TERCEIRO

QUARTO Literatura que faz da carne o corpo. Que faz da letra o osso.

Palavra que cobre de músculo o sentimento.

Literatura para engolir aos poucos, comer com cuidado, precaução para não vomitar demais.

Linguagem que é nudez maior do que a pele.

Pele arranca–se, Desejo, não.

Essa gente, essa gente achando que boceta aberta é risco, Ave, Não sabe que risco maior é de caneta.

Escrever com a boceta aberta, Ler com o peito rasgado, E costurar com a linguagem as marcas dos nossos corpos.

Eis o que desejo da arte: risco.

Da carne ao corpo, Do corpo ao texto: Literatura é fome De alma do avesso.

Qual a cor da tua carne, o cheiro do teu território, me deixa fincar bandeira na tua imaginação?

foto Gabriela Yoshimoto

E poesia, o que é? “Muita resposta vaga / já foi dada a essa pergunta”, disse Wislawa Szymborska. E, como a poeta, não sei e me agarro a ela como a uma tábua de salvação Digamos antes: “o que é a palavra?” verbo. O princípio é o verbo. Antes era o caos e é o verbo que inaugura a criação.

Não da ordem, necessariamente, mas do Ser, os limites que permitem a existência de algo, que separam um eu de um outro. É o verbo que origina. O verbo é tudo aquilo que já não é Deus – Deus é anterior à linguagem –, mas que traduz a sua manifestação sagrada. O verbo é desejo, na medida em que corporifica o movimento, e é também recusa, na medida em que cria peles e limites. A alma, então, humana, tem a sua potência experimentada na palavra. No som dotado de sentido a um ouvido. Outro.

Além de criar, a palavra é também aquela que escolhe o futuro de algo – se ele permanece ou morre. Sendo o presente absoluto, é aquela embrenhada de futuro. A palavra é o vínculo entre o humano e o divino. Entre a Partícula e a Totalidade existe a ponte (falha e em constante estado de busca) que a fala produz e corporifica. Digo “falha e em constante estado de busca”, pois assim como a palavra é o vínculo com o sagrado, a crise é também moradora da linguagem. A palavra é, na maioria das vezes, insuficiente.

Ainda que seja sagrada, ela é uma fagulha do divino e não ele em si. Ela é dita pelo humano em busca do divino.

E a Poesia, o que é?

A palavra como força ativa destrói aparências e encontra os ossos até chegar ao espírito. Da carne humana ao sangue divino, o caminho é a palavra em sua potência máxima a poesia! -, que inaugura e nomeia as possibilidades. As estruturas estéticas de uma sociedade são fundamentadas em seus valores éticos, tanto quanto sua cultura e sua ciência. Assim como a organização dos acontecimentos passados cria a história dos vencedores, a poesia e as ditas leis da estética podem criar as regras da Beleza que reforçam, recriam e perpetuam os padrões de uma sociedade patriarcal, heterocapitalista e colonialista. A linguagem está sedimentada pelas estruturas e estéticas da sociedade patriarcal.

Mas é a poesia, esta tábua de salvação, que tem o potencial de reinaugurar a palavra – o verbo – e fundar campos de liberdade.

novembro 2017 | cultcom

Momento capturado pelas lentes de alunos do curso de fotografia da UNG. Vá além das técnicas fotográficas e amplie seus horizontes.

Faça fotografia na UNG!

Foto integrante do ensaio "TRIBO TABAÇU RENKO" Maciel Menezes, Railda Bezerra e Romildo Ferreira

ESTES SÃO OS ALUNOS VENCEDORES, QUE REPRESENTARAM A COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNG NA EXCOPOM 2017!

Pelo terceiro ano consecutivo, os cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UNG foram finalistas do Prêmio Expocom Sudeste, o mais importante reconhecimento acadêmico dos cursos de Comunicação Social, desta vez com seis trabalhos, em diferentes categorias: reportagem de TV, programa de rádio, publicidade em mídia digital, publicidade em outros meios, campanha promocional, filme publicitário.

O programa "Timão Universitário" foi o vencedor da seletiva reg ional e ficou entre os 5 melhores do Brasil, deixando para trás outras renomadas instituições de ensino!

Parabéns a todos os alunos e professores envolvidos!

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