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Tecnologia brasileira acelera reflorestamento em São Sebastião após tragédia de 2023

Drones e biocápsulas já espalharam 134 milhões de sementes em áreas devastadas por deslizamentos

Duas primaveras se passaram desde que a chuva implacável de fevereiro de 2023 deixou mais de 800 pontos de deslizamento em São Sebastião, no Litoral Norte paulista. A tragédia, que causou perdas humanas e ambientais devastadoras, deu lugar a um esforço de recuperação ambiental inovador. Liderado pelo Instituto Conservação Costeira (ICC), o projeto Restaura Litoral Norte utiliza drones, biotecnologia e planejamento ambiental para reconstituir áreas degradadas com espécies nativas da Mata Atlântica.

A expectativa é que cerca de 203 hectares sejam reflorestados — o equivalente a mais de 280 campos de futebol — com o lançamento de 134 milhões de sementes, muitas delas encapsuladas em biocápsulas biodegradáveis. “Os desafios que precisam ser superados são inúmeros. São áreas inacessíveis, então é mui- ta dificuldade de acesso, mesmo com drone. São equipamentos caros. A gente já chegou a perder dois equipamentos no meio do projeto”, afirma Fernanda Carbonelli, diretora-executiva do ICC. A iniciativa é resultado de uma complexa rede de cooperação entre entidades públicas e privadas. Estão envolvidos o ICC, a Fundação Florestal, a Ambipar, a Prefeitura de São Sebastião, além de órgãos como o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), a Cetesb e o Ministério Público.

Inovação 100% brasileira

No campo, a inovação é palpável. Drones lançadores percorreram áreas íngremes e de difícil acesso, realizando mais de 2 mil voos e despejando quase 1,5 tonelada de biocápsulas em 850 áreas de deslizamento. As cápsulas, desenvolvidas pela

Ambipar, são feitas com resíduos de colágeno da indústria farmacêutica e compostos como o ecosolo, um condicionador de solo produzido a partir de sobras da indústria de celulose.

Essa tecnologia promove alta taxa de germinação e aproveitamento de recursos antes descartados. As sementes priorizadas são de espécies pioneiras da Mata Atlântica, como guapuruvu, embaúba e crindiúva, que têm crescimento rápido e abrem caminho para o desenvolvimento de espécies arbóreas mais robustas.

“O projeto consiste em lançar algumas espécies forrageiras, imitando a natureza mesmo para depois vir aí as arbustivas”, diz o secretário de Meio Ambiente de São Sebastião, Flávio Fernandes de Queiroz. Segundo o gestor, o objetivo é a restauração das áreas degradadas que visam à prevenção a novos desastres. “A gente também tem aí a preser-

O secretário de Meio Ambiente, Flávio Fernandes de Queiroz, explica a importância de preservar os ecossistemas vação dos ecossistemas naturais, a restauração das áreas degradadas a fim de proteger também a biodiversidade, os recursos rídicos”, complementa.

Além das sementes, biomantas e biorretentores foram aplicados em três hectares para estabilização do solo. A fase atual do projeto, iniciada após a semeadura finalizada em novembro de 2024, é de monitoramento contínuo, para acompanhar a resposta da vegetação e a segurança das encostas.

“O monitoramento é uma etapa fundamental, pois permite acompanhar a resposta ecológica das áreas semeadas. Estamos avaliando indicadores como a taxa de germinação das sementes, a cobertura vegetal ao longo do tempo, a diversidade de espécies regeneradas e o controle de espécies exóticas invasoras”, afirma Carbonelli.

Vila Sahy: um símbolo de reconstrução

A Vila Sahy, bairro mais afetado pelos deslizamentos de 2023, tornou-se símbolo da transformação ambiental e urbana. Segundo o prefeito Reinaldinho Moreira, as intervenções evitaram a necessidade de remoção permanente dos moradores: “A Prefeitura investiu cerca de R$ 123 milhões em obras estruturais, incluindo tunnel liner, terraplanagem, contenções e muros de gabião, medidas que levaram à extinção do processo de desocupação do bairro. Um novo sistema de drenagem, com travessia sob a Rodovia SP-55, melhorou o escoamento das águas pluviais no Rio Sahy, ampliando a capacidade de drenagem”, afirma. As prioridades do município para garantir a segurança e o desenvolvimento sustentável nas regiões afetadas incluem investimentos em obras de contenção, bem como a criação de uma força-tarefa entre as secretarias do Meio Ambiente, Urbanização e Segurança Urbanas, por meio da Polícia Municipal, além da parceria com as Polícias Civil e Ambiental para evitar a ocupação de áreas de risco onde já houve remoção de moradores.

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