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Entrevista

“TEREMOS UM ANO MAIS PRÓXIMO DO NORMAL”

Com experiência acadêmica na análise de risco, responsável pela equipe de economia do Observatório Fiesc e líder técnico das análises econômicas e setoriais, o economista Marcelo Masera de Albuquerque atesta que para 2022 teremos um ano mais próximo do normal. Isso, diante da pandemia que se vivenciou nos últimos dois anos. Marcelo faz uma análise do impacto econômico causado pelo coronavírus na economia catarinense e produção industrial.

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TUDO - Considerando que a infraestrutura catarinense sofreu os impactos da pandemia, qual sua avaliação após a retomada do setor neste ano?

MARCELO – Paradoxalmente, Santa Catarina, na parte de investimentos nas rodovias, e principalmente em função do aporte do Governo Estadual em nossas obras estratégicas, os terão um grande impulso na execução. Também paradoxalmente, nossos portos mantêm a agenda de investimentos e movimentação recorde desde o início da pandemia, tanto nas exportações quanto nas importações. Entretanto, grandes desafios ainda permanecem. Estes projetos refletirão em resultados positivos para todo Estado e todo o país.

TUDO - Qual foi o maior desafio nestes dois anos de pandemia?

MARCELO - A pandemia exigiu adaptações em muitos aspectos da nossa sociedade. No setor produtivo, a busca pelo equilíbrio entre a preservação das vidas e a manutenção da atividade econômica foi um dos maiores desafios. Desde o início desse processo fomos atuantes, criando protocolos de proteção contra a doença e que permitiram a retomada das atividades. São ações fundamentais que vão permitir às nossas empresas saírem mais fortes do que entraram neste período difícil.

TUDO - Agora com a pandemia mais controlada, como você avalia que será o próximo ano em Santa Catarina? Qual a perspectiva?

MARCELO - Apesar de todos os desafios, o industrial catarinense tem se mantido otimista com a economia. De maneira geral, as perspectivas para o próximo ano são positivas. A vacinação contra a covid-19 tem avançado de maneira positiva em Santa Catarina. Hoje, o estado é o terceiro do país com o menor índice de pessoas que não voltaram para tomar a segunda dose, atrás apenas do Paraná e Rio Grande do Sul. Com o avanço da imunização é possível observar a retomada de atividades econômicas que apresentaram maiores dificuldades, principalmente no setor de serviços. Isso indica um reequilíbrio maior entre os grandes setores econômicos e um crescimento mais sustentável no próximo ano em Santa Catarina.

TUDO - Qual foi o maior impacto causado pelo vírus para os catarinenses e para o setor econômico?

MARCELO - A apreensão com o futuro e a necessidade do isolamento social para enfrentar a covid-19 fizeram com que as empresas e as famílias revisassem planos de investimento e reorganizassem as escolhas de consumo. A abrupta mudança nos padrões de consumo gerou uma desorganização das cadeias globais de produção. Os reflexos desse movimento ainda estão sendo sentidos em diversos setores. A escassez e alta nos preços dos insumos industriais, como é exemplo a falta de semicondutores, tem relação com esse descompasso. É o que vivenciamos com a inflação acelerada no país nos últimos meses, por exemplo. Houve também uma redução da produção e das vendas e consequentemente diminuição de empregos. Esses efeitos foram sentidos de forma mais intensa ao longo de 2020. Neste ano, com o avanço da vacinação e a retomada gradual das atividades, a atividade econômica do estado já retomou aos patamares pré-pandemia.

TUDO - Você acredita que o recuo do primeiro ano de pandemia trouxe muito impacto para os catarinenses? De que maneira? Comente.

MARCELO - O primeiro ano de pandemia foi de profundas transformações sociais e muitos aprendizados. Como comentei, as famílias e as empresas tiveram que readaptar suas rotinas para enfrentar um novo cenário. Ao longo de 2021, os níveis de produção e de geração de empregos foram recuperados. Mas para além da retomada da atividade econômica, penso que os reflexos da pandemia serão sentidos ainda por muito tempo. Há, por outro lado, avanços importantes que refletem a resiliência e a inovação dos catarinenses. Tivemos ganhos significativos com tecnologia e novos processos produtivos, que vão deixar um legado para as futuras gerações.

TUDO - O que esperar de Santa Catarina, no cenário econômico, para 2022?

MARCELO - Os desafios para o restante do ano de 2021 e para 2022 se concentram na equalização dos elevados níveis de preços e na manutenção da produção, emprego e renda, tendo em vista os entraves logísticos globais que atuam diretamente na cadeia produtiva do estado. Além disso, devido ao ambiente global de alta na inflação, é esperado também para 2022 um ciclo de elevação das taxas de juros como instrumento para conter o aumento de preços, especialmente nos Estados Unidos. No Brasil, as expectativas de mercado apuradas pelo Banco Central são de manutenção do ciclo de alta na taxa básica de juros para 2022, com a Selic em 11% ao ano, o que acaba por encarecer o crédito produtivo às empresas.

TUDO - Muitas pessoas acabaram perdendo o emprego e muitas empresas precisaram fechar as portas por conta do cenário que vivenciamos com a covid-19. Você acredita que teremos um “respiro” no setor no próximo ano? De que forma?

MARCELO - Os impactos do coronavírus foram intensos, tanto na geração de emprego e renda, como nos resultados de diversas cadeias de negócios no estado. O avanço da vacinação está possibilitando a retomada total da economia e o crescimento mais equilibrado entre os grandes setores. Os efeitos da vacinação em massa já estão presentes em nosso cotidiano, o que acaba por trazer cada vez mais alento e confiança para a população voltar a sua rotina normal. Além disso, a possível normalização entre oferta e demanda dentro das cadeias produtivas deverá trazer também uma menor pressão de preços sobre as matérias-primas industriais.

TUDO - Muitos projetos acabaram sendo adiados por conta da pandemia. Quais foram os principais projetos que precisam ficar engavetados no setor e quais os planos futuros para eles?

MARCELO - O cenário de incertezas e as medidas de restrições impostas no início da pandemia derrubaram a intenção de investir do empresário industrial catarinense. Em abril de 2020, o índice registrou o menor nível desde o início da série histórica, em 2013. Com o avanço da vacinação e retomada das atividades econômicas, essa disposição de investir nos setores produtivos voltou a crescer em Santa Catarina, superando os patamares pré-pandemia.

TUDO - Você acredita que 2022 será o ano que vamos voltar ao “normal”? De que maneira?

MARCELO - O avanço da vacinação e a retomada das atividades nos permitem acreditar que em 2022 teremos um ano mais próximo do “normal”. É claro que o mundo mudou. Todo esse processo gerou transformações irreversíveis. Houve avanços na ciência e na tecnologia, na digitalização e na revisão de processos. Eventos dessa magnitude permitem à sociedade inovar e avançar. Acredito que, em Santa Catarina, saímos mais fortes do que entramos nessa pandemia.