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OPINIÃO
from Jornal De Fato
eSPaÇO JOrNaliSTa MarTiNS de VaSCONCelOS
organização: Clauder arCaNJO
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PreteNSa crôNIca de abrIl
ÂNgela rOdrigueS gurgel
Escritora e Vice-presidente do ICoP angelargurgel@gmail.com
“A beleza das coisas naturais provém de sua comunhão com um pensamento [razão, logos] que provém dos deuses.”
(Plotino)
Última crônica de abril, este mês de céu avermelhado, tardes quentes e noites mornas. Voltando de uma rápida viagem que fiz durante o final de semana passado, observei, pela janela do carro, o dia despertando lentamente e, numa preguiça gostosa e infinita, desenhar no céu uma bela aquarela que nos seguia estrada afora. Até aquele momento só havia visto aquele céu avermelhado nas fotos postadas, todas as manhãs, por Ailton Siqueira e Vanda Jacinto no grupo do WhatsApp do Café & Poesia. Os raios, quais hábeis pincéis, iam dando beleza e brilho àquela tela que, a cada momento, se tornava maior e mais bonita. A verde vegetação, banhada pelas águas da generosa chuva que caíra na noite anterior, inebriada com o cheiro da terra molhada, dançava ao ritmo silencioso de um vento tímido e discreto. Toda aquela beleza fazia meu coração pulsar mais forte. A natureza em sua plenitude é um espetáculo extasiante, diante dela transbordo de emoção pelo simples prazer de respirar e observar a vida acontecendo de forma tão original. Diante de um espetáculo dessa magnitude é impossível não acreditar em Deus.
Eu, assumidamente interiorana, entreguei-me por inteiro àquele mágico momento, onde a manhã, com suas mãos delicadas e frias, puxava para longe os últimos vestígios da madrugada e nossas retinas testemunhavam o nascer de um novo dia de abril. Sem nada anotar registrei tudo, torcendo para que, no momento oportuno, nada tivesse escapado. Os arquivos fossem encontrados e eu pudesse dizer da alegria de, depois de muito tempo, ver o sol nascer além da minha janela. Gosto de registros. Tanto quanto gosto de fotografia e literatura, mas naquele momento não me ocorreu fotografar ou anotar. Queria apenas observar os traços e riscos daquela paisagem que me fazia enxergar a vida em movimento. Talvez essa seja uma afirmação um tanto estranha para alguém que gosta de escrever, mas, às vezes, mesmo correndo o risco de não conseguir resgatar o momento vivido – e acontece constantemente – é difícil “despregar” os sentidos daquilo que vejo/sinto. Então perco o texto e fico com o momento.
Eu, eterna aprendiz de escritora, tenho um coração que pulsa na sucessão regular das palavras que vão formando frases e criando o texto; portanto, onde surge a beleza nasce junto o desejo de fazê-la circular através das palavras que brotam silenciosas e urgentes. Invejo aqueles que dominam a técnica da escrita limpa, enxuta, elegante e precisa e, consciente de minhas limitações, mergulho nessa tentativa de fazer a arte atravessar a fronteira do visível e, em um vocábulo qualquer, transformar-se em poesia, mesmo que o poema – meu gênero predileto – não consiga ser construído. Mas a paixão que me habita, conhecedora de minha necessidade de escrever, vai colocando palavras em minhas mãos e ditando o texto que preenche a tela branca, ansiosa por algo publicável. Ainda não será desta vez, mas continuarei tentando. Prometo debruçar-me sobre as coisas essenciais da vida, aquelas que se sobrepõem às frivolidades desse mundo tão cheio de fragilidades, embaraços e dor... que se misturam a fé e a esperança que dialogam entre si e vão ressignificando a vida e traçando os desenhos que dão cores nítidas à emoção de quem sonha em escrever aquele texto capaz de transformar a transitoriedade do momento na permanência do instante que nunca se repetirá. Uma espécie de sumo das belas experiências que surgem da poética do instante “irrepetível”, seja ele feito de dor ou da beleza das coisas simples. Afinal há uma relação fluida e transparente entre imagem e pensamento, coração e intelecto; mas vale registar que não é uma associação fácil de ser traduzida.
Finalizo minha pretensa crônica despedindo-me de abril com imensa gratidão por tudo que vivi e sonhei. Próximo sábado será dia de encontrar meus companheiros do Café & Poesia para, juntos, comemorarmos o Dia Nacional da Biblioteca e o Dia Nacional do Livro Infantil, datas importantes para todos que amam a literatura. Este também é o mês do aniversário de grandes nomes da literatura*. Dentre eles, destaco, Rizolete Fernandes (11/04) e Raí Lopes (22/04), companheiros de sonhos e letras.
Haja Café e Poesia para tantos parabéns! Vida longa aos companheiros e à nossa confraria.
*Milan Kundera (1929), Edgar Wallace (1875-1932), Émile Zola (1840-1902), Maria Clara Machado (19212001), Hans Christian Andersen (1805-1875), Marguerite Duras (1914-1996), Márcia Tiburi (1970), John Fante (1909-1983), Robert Kiyosaki (1947), Charles Baudelaire (1821-1867), Raul Pompeia (1863-1895), Daniel Defoe (1660-1731), Christopher Hitchens (1949-2011), Samuel Beckett (1906-1989), Aluísio Azevedo (1857-1913), Henry James (1843 -1916), Karen Blixen (1885-1962), Monteiro Lobato (1882-1948), Lygia Fagundes Telles (19232022), Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), Manuel Bandeira (1886-1986), Rosa Lobato Faria (1932- 2010), Hilda Hilst (1930-2004), Charlotte Brontë (1816-1855), Vladimir Nabokov (1899 -1977), Jorge de Lima (1893-1953), William Shakespeare (1564-1616), Mary Wollstonecraft (17591797), Harper Lee(19262016), Terry Pratchett(19482015).



dI reçÃO geral: César santos dIretOr de redaçÃO: César santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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