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OPINIÃO
from Jornal De Fato
esPAÇo JorNALIstA mArtINs de VAsCoNCeLos
Organização: CLAuder ArCANJo
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A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE (I)
rAImuNdo ANtoNIo de souZA LoPes
é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com
Quando ela começou a tomar banho, naquela noite, sabia que não era apenas um banho, era um ritual... preparavase para fazer algo que vinha pensando há muito tempo, mas ainda não encontrara coragem nem estímulo suficiente para ir adiante. Enquanto a água escorria pelo seu corpo, ela revivia os acontecimentos que a levaram até ali. Pensou em seu casamento, em como amava seu marido, como fora feliz e como tudo mudara com a traição dele... Jamais o perdoaria por tanta falta de respeito. Ser traída dentro de casa tinha sido mais do que poderia suportar. Negou-se a chorar, prometera a si mesma que nunca mais choraria por esse motivo. Terminado o banho, passou óleo no corpo – sabia que “ele” ia gostar –, escolheu a roupa, um vestido preto, maquiou-se discretamente e saiu. Marcara às 22h, mas queria chegar um pouco antes para observá-lo antes do primeiro encontro. Ligou o rádio do carro e foi ouvindo uma música suave. Enquanto subia a serra, que a separava de seu tão sonhado encontro, procurou não pensar no que estava indo fazer, não queria perder a coragem... dirigia velozmente, adorava a sensação de liberdade que a velocidade proporcionava. [...]
Enquanto isso, “ele” pensava em como tudo começara; não sabia ao certo. Aliás, sabia. Sabia, mas custava a acreditar que tudo começara apenas com a visualização de uma foto. Não era desses homens acostumados às conquistas, onde qualquer pretexto ia dar na cama.
Ilustração: Augusto Paiva

Não. Sempre gostara de um comprometimento onde as relações fossem sendo construídas, aos poucos, sem ter pressa em se relacionar carnalmente com as mulheres. Não sentia prazer assim. Era metódico. Gostava de conhecer, ouvir delas seus segredos, partilharem emoções escondidas, fantasias, sonhos, até chegar aos “finalmente” da conquista. Mas, ela não. Com ela tinha sido relâmpago. Quando a viu, pensou: ela terá que ser minha! Não descansou depois disso. “Ele” a via sempre em seus sonhos, com os olhos a lhe olhar, pedindo beijos, carícias, afagos, colo. Tinha que conquistá-la. E conquistou-a. Ambos queriam isso. Ficou fácil. Agora, estava se preparando para ir ao encontro dela. A noite prometia e o céu se encontrava brilhante com suas estrelas, todas elas, vivas no alto de sua cabeça, a guiá-lo para os braços dela. Entrou no carro e guiou, calmamente, para aquele lugar que seria o seu ninho de amor. Sentiu um leve tremor em suas pernas e percebeu que sua excitação aumentava na medida em que avançava para o local do encontro. Estava no horário, até um pouco adiantado. Olhou para cima e viu a varanda do hotel, displicentemente vazia, como uma senha para que ele a esperasse sem medo de serem vistos. Estacionou o carro e ficou, em pé, à espera daqueles olhos que sabiam olhar lá dentro da alma e que arrancavam dele, a nítida sensação do prazer.
De repente a viu chegando. Estava deliciosamente bonita, vestida de preto básico, com um sorriso nos lábios e um quê de investigação no olhar. Por certo o estava avaliando. Ele também a avaliou. [...]
Chegando ao lugar marcado, ela percebeu que “ele” já estava lá, exatamente como o imaginava. Bonito, elegante, discreto, tudo de que precisava naquele momento. Desceu do carro e foi ao seu encontro. Cumprimentaram-se com um beijo no rosto, a mão dele pousou em suas costas um pouco mais que o necessário. Ela sentiu-se perturbada com o toque de seus lábios em seu rosto. Gostou. Sentaram-se no bar do elegante hotel. Suas mãos se buscaram. “Ele” sentiu o cheiro que aquele corpo trazia e que denotava a frescura de sua pele massageada, que estava, por um óleo de amêndoas, coisa que ele adorava numa mulher. Era afrodisíaco. Ao tocá-la, ao pôr sua mão em sua perna, sentiu-a desperta. Chegaram-se. A sua mão o tocou e sentiu-o estremecer em suas carnes. Ela gostara. Sorria como quem estava antecipando o prazer que teria dali para frente.
Conversaram, mas o que eles queriam era saírem dali e irem para um lugar onde pudessem por para fora tudo que sentiam e o que estavam desejando. “Ele” voltou a tocar sua perna e subiu com o dedo por sobre sua coxa e a viu respirar mais rapidamente, soltando gemidos de frenesi, não deixando dúvidas quanto aos pensamentos que eles tinham naquele momento.
De repente, um incômodo: o celular tocou, “ele” precisava ir embora. Uma urgência pedia sua presença no hospital. Imprevistos...
Ela sentiu-se decepcionada... sonhara tanto com aquele momento! Quisera tanto! Quando voltariam a se encontrar? “Ele” fez uma ligação. Pediu que um amigo o substituísse, precisava despachar logo aquele dissabor, pois não ia deixar escapar aquele momento, aquela oportunidade. Não sabia se voltariam a se terem. Era ali ou nunca. Acabou convencendo-se que era ali, o nunca não fazia parte daquele contexto.
Continua...

dI RE çÃO gE RAl: César Santos dIREtOR dE REdAçÃO: César Santos gE REN tE Ad MINIS tRA tIVA: Ângela Karina dEP. dE ASSINAtURAS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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