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OPINIÃO
from Jornal De Fato
esPAÇo JorNALIstA mArtINs de VAsCoNCeLos
organização: CLAuder ArCANJo
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leVaNta, SacOde a POeIra e dá a VOlta POr cIMa!
ÂNgeLA rodrIgues gurgeL
autora de Ensaio Poético e Confissões Crônicas Idealizadora da confraria Café&Poesia angelargurgel@gmail.com
Li outro dia, aqui mesmo nessa coluna, uma série de frases sobre o Brasil. De tudo que foi dito sobre esse imenso e amado país a que gosto mais é: “O melhor do Brasil são os brasileiros”. Infelizmente o pior também. Somos um país de dimensões continentais. Belezas naturais a perder de vista. Banhado pelo oceano. Vestido pelo verde de suas florestas. Cheio de curvas, rios, serras e lagos. Um sertão cheio de encanto. Um pantanal rico em fauna, flora e mistérios. Tem as caatingas, os igarapés. Grutas e muito mais.
Um país rico. Produzimos sal, petróleo, alimentos, vestimentas, transportes etc., mas esse país, acariciado pelo vento que produz energia limpa e aquecido pelo sol, outra fonte de energia, é também abrigo de muitas desigualdades. Aqui se produz fome e miséria com a mesma “competência” que se produz alimentos. Desenvolvemos várias tecnologias de ponta, porém, infelizmente, não aprendemos a mais básica das lições: repartir o pão. Avançamos nas descobertas científicas, mesmo com os últimos retrocessos, no entanto continuamos bem atrasados na missão de conhecer e respeitar o outro.
Aumentamos a oferta de vagas nas universidades, mas continuamos analfabetos no que se refere a justiça social, equidade e inclusão. Chegamos a sinalizar que estávamos despertando para construção de um país mais justo. Entretanto, ventos contrários às conquistas e aos avanços estão jogando tudo pelo ar. O mesmo vento que parece ter jogado fora muitas máscaras e mostrado a verdadeira face de muitos brasileiros. E o povo manso, alegre, irreverente, brincalhão e gentil foi cedendo lugar ao preconceituoso, entreguista, violento e intolerante. Sim, eu sei, eles sempre existiram. A história da humanidade é rica em exemplos de atrocidades e desrespeito aos direitos básicos do cidadão e no Brasil não é diferente.
Contudo o que assusta é a volta de coisas que imaginávamos “do passado”. É ver jovens defendendo a tortura. É ver e ouvir “pessoas do bem” assumindo o discurso de ódio e exclusão, religiosos usando a palavra e o nome de Deus para proclamar o preconceito. É a naturalização, cada vez maior, da violência crescente contra pobres, negros, índios e mulheres. É ver “professomanutenção da ordem patronal e sentando-se à mesa com os empregados. Em contrapartida, há um povo bravo, valente, resistente e cheio de esperança que se nega a deixar de sonhar e de lutar pela construção de país livre, independente, respeitado e admirado dentro e fora de suas fronteiras. É este país imenso, de um povo forte e corajoso que nos enche de orgulho e nos faz continuar acreditando em dias melhores para todos, inclusive para aqueles que estão pisando em nossos sonhos, destruindo a frágil democracia construída com o sangue e a vida de muitos que não se curvaram à tirania dos poderosos.
Esse Brasil verde e amarelo precisa ser respeitado como nação. E nós, brasileiros, precisamos aprender a amar e a respeitar nosso país. E a melhor maneira de fazer isso é sendo a nossa melhor versão. É respeitando a nossa história. Nosso povo. Nossas riquezas. Nossos cientistas. Nossa arte. Liberdade e igualdade nunca foram dadas. Sempre foram conquistadas com muita luta. Só nós, unidos contra tudo e todos que querem nos destruir, podemos construir uma nação livre, feliz e digna desse chão tão belo e rico. Podem cortar e queimar as árvores, envenenar as sementes, poluir os rios e mares, envenenar os ares, todavia jamais deterão a força dos sonhos e da esperança. Essa força é incontrolável e nada pode impedir que ele pulse livre e vibrante no coração valente de cada brasileiro. Sim, o melhor do Brasil é o seu povo. Esse povo que se reinventa quando tudo parece perdido. Que extrai da adversidade a matéria para sua reconstrução.
Finalizo fazendo coro com o desejo de Mia Couto em carta escrita ao Brasil no dia de seus 200 anos de independência:
“O meu maior desejo é que os brasileiros superem de vez e para sempre esta sua passagem pelo inferno. O Brasil que ganhou o respeito do mundo não pode ser representado senão por alguém que celebra a vida e que defende o tesouro maior da nação brasileira: a infinita diversidade do seu passado e pluralidade do seu futuro. Não é apenas um desejo pessoal. É uma certeza: você vai-se levantar, vai sacudir a poeira e vai dar a volta por cima”.
res” negando a ciência, logo ela que já nos salvou de tantos males, boicotando pesquisas e minimizando o seu valor para erradicação de tantas doenças e para o crescimento e fortalecimentos de todos os segmentos sociais. É o ataque e descaso com a arte, ela que diariamente nos salva da loucura que é viver em um país que incentiva clube de tiro e fecha bibliotecas.
Sim, o Brasil é um país lindo de gente maravilhosa, mas é também um palco de guerras urbanas e rurais. Seus encantos e belezas escondem a face sombria de uma gente que não aceita quem pensa diferente e ousa sonhar com igualdade e liberdade. Os grilhões da escravidão mudaram de forma e de mãos. Os troncos são outros. Os “capitães do mato” continuam assegurando a


dI reçÃO geral: César santos dIretOr de redaçÃO: César santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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