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OPINIÃO

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GERAIS/OPINIÃO

GERAIS/OPINIÃO

eSPAÇo JorNALISTA mArTINS de VASCoNCeLoS

O Verde dO jUazeIrO

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Organização: CLAuder ArCANJo

rAImuNdo ANToNIo de SouzA LoPeS

é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com

Enquanto voltava da caminhada, assombrou-se com o verde exuberante de um juazeiro próximo a sua casa, que há dias aparentava um aspecto definhante.

Chegou a comentar com seu esposo que, durante todo esse tempo de morada por aquelas bandas, nunca tinha visto tal coisa e lamentou sinceramente.

Que os juazeiros eram famosos pela sua resistência às intempéries do sertão nordestino e que, sob suas frondosas galhadas, muitas histórias se fizeram, disso ela sabia - só não que essa capacidade era assim tão milagrosa!

Falando em histórias… Aquele ali, por exemplo, já fora abrigo para moradores de rua, para descanso de ciganos e, por incrível que pareça, tempos atrás, algum anjo, colocou próximo ao tronco, uma engenhoca feita com canos de PVC, que funcionava como suporte de ração e água para cachorros de rua. Durante um bom tempo até que funcionou, mas o bicho homem conseguiu destruir.

Antes de continuar a caminhada, olhou admirada mais uma vez para o verde claro das folhagens novas que recobriam o juazeiro e, automaticamente, começou a cantar: “juazeiro, juazeiro me responda, por favor.” E numa fração de segundos, veio-lhe a mente uma antiga história.

Conta-se que certa vez, num final de ano, num desses restaurantes do centro de São Paulo, próximo à rodoviária - desses que ficam abertos até altas horas da noite ou madrugada recepcionando a chegada dos viajantes -, apareceu por lá um rapaz que chamou a atenção do garçom.

Instalou-se numa mesa junto à máquina de músicas e, feliz da vida, começou a mexer nos botões da máquina. Percebendo a dificuldade do rapaz, o garçom ofereceu ajuda, que de pronto aceitou, perguntando se naquela máquina tinha a música “Juazeiro” de Luiz Gonzaga.

Depois de muito procurar, o garçom não só encontrou como sintonizou a canção e perguntou se ele queria a ficha para poder ouvir. Lógico - gritou ele.

E assim foi a noite toda - ou melhor, madrugada adentro -, até o fechamento do estabelecimento. Enquanto o garçom limpava as mesas e acomodava as cadeiras em cima delas, comunicou ao último freguês - o dito cujo -, de que já estava na hora de fechar. Cambaleando desesperado, o freguês pediu que ele vendesse mais uma ficha, só mais uma ficha! Tudo bem, respondeu, mas é a última mesmo, providenciando logo para seguir.

Ele encostou o ouvido na máquina e chorou enquanto cantava.

Ao término, levantou-se com muita dificuldade e saiu cantando: “cajueiro, cajueiro, onde anda o meu amor?”.

O garçom incrédulo, não se aguentou e caiu na gargalhada. Como pode o camarada passar a noite ouvindo a mesma música e ainda sair cantando errado?

A verdade é que a letra pouco importou ao apaixonado viajante e sim a melodia que o embalou, com certeza de volta ao amor que ficara para trás.

Quantas vezes mediante a um som, um cheiro, uma situação, nos transportamos mentalmente para outros lugares.

Fosse um cajueiro ou um juazeiro, aquela melodia conduzira o rapaz a algum ponto em suas lembranças, onde não importava o nome da árvore, mas - com permissão para o trocadilho -, a raiz de suas memórias.

Também ela, diante daquele juazeiro lindamente verdejante, buscou na memória a história.

Nossas lembranças estão compiladas num maravilhoso livro de capa dura, guardado lá na estante da nossa mente.

Como chegar até ele? Quem determina o caminho é o momento!

dI reçÃO geral: César Santos dIretOr de redaçÃO: César Santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FILIADO À

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