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eSPaÇo JoRNaLiSTa maRTiNS de VaSCoNCeLoS

Organização: CLaudeR aRCaNJo

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COVID VIII

RaimuNdo aNToNio de SouZa LoPeS

é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com

7º Dia

Quinta-feira, dia 4 de novembro. Amanheci sem febre, sentindo o paladar e, claro, com olfato. O corpo apresentou pouca alteração em relação ao dia anterior, apesar de que ao tomar o primeiro banho notei uma pequena tremedeira, como se fosse um espasmo, uma descarga, talvez uma energia sendo atraída por algo de fora. Sei lá, essas coisas do tipo esotéricas, que falam sobre a canalização de energias, o aprofundamento do eu, da aura querendo deixar a sua matéria. Foi esquisito, mas não liguei muito. O dia, no entanto, transcorreu bem. Comi com vontade (é verdade que algumas comidas sólidas eu já nem conseguia pensar), bebi muito líquido e me esbaldei nas frutas. Aproveitei o tempo para atualizar o site da Sarau das Letras, adicionando a página dois (denominada “Jornalista José Martins de Vasconcelos”, do “Jornal de Fato” - coordenada por Clauder Arcanjo e diagramada por Augusto Paiva). O texto era do imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras Manoel Onofre, denominado Fragmentos de um jornal literário. O diagramador Augusto Paiva foi quem propôs a Clauder Arcanjo assumir a página dois (que seria extinta) e nela quinze escritores passassem a escrever, quinzenalmente, suas crônicas, contos, prosas poéticas, ensaios, artigos… enfim, que desse uma roupagem nova à página e ela fosse revitalizada. Clauder topou. Falou comigo e com Ângela Rodrigues Gurgel (Café & Poesia), convidando-nos também para escrever. Aceitamos. Um sucesso. Com o passar do tempo, criamos o site da Sarau das Letras e lá passamos, num espaço próprio, a publicar o que estava sendo escrito no Jornal de Fato. Hoje o espaço coordenado por Clauder já tem mais de trinta escritores que escrevem, periodicamente, seus textos. E de lá para cá o site acompanha esse ritmo, atualizado todos os dias por mim. Não acho ruim disponibilizar um tempo para divulgar a nossa cultura. Na verdade, o site também divulga as produções dos escritores que lançaram seus livros pela Editora Sarau das Letras. Está na página principal ou clicando na parte superior em "loja". Também tem o espaço do Café & Poesia (com fotos e eventos realizados), o espaço de vídeos do programa Pedagogia da Gestão; em síntese, é um local que agrega cultura e literatura na sua mais ampla essência.

Voltando à covid, tomei, logo cedo, o anti-inflamatório - último dia. Mais tarde, no período da tarde, o terceiro dia do corticoide. Procurei não ficar deitado, pois mesmo sem estar com sintomas de cansaço, ficar muito tempo sentado, ou ficar andando em um espaço reduzido, vez por outra, cansa muito mais. Mesmo tendo o que fazer, por exemplo, ler (estavam comigo dois livros: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Catadoras de sonhos, da jornalista e biógrafa Lúcia Rocha), navegar nas redes sociais e pesquisar na internet tudo sobre o coronavírus, convenhamos, ficar 24 horas dentro de um quarto, isolado, não é uma tarefa fácil. Dependendo da pessoa, esse “isolamento” beira a uma prisão. Agora eu sentia isso, mesmo gostando de ficar sozinho dentro de casa. Disse bem: dentro de casa e não somente dentro de um quarto. De repente, me veio à memória o filme Papillon, estrelado por Steve Mcqueen e Dustin Hoffman, dentre outros astros de Hollywood. Em uma das cenas, o personagem de Steve Mcqueen fica numa minúscula cela. Para não perder o juízo, ele caminha, no curto espaço que dispõe, de olhos fechados e contando quantos passos é preciso dar para ir da parede do fundo à porta de ferro da cela. Com o passar do tempo, ele memoriza e não é mais preciso nem contar quantos passos são necessários. Porém dois detalhes me chamaram a atenção no filme: primeiro, ele fazia de tudo para não gastar muita energia e, segundo, em nenhum momento aquele espaço, que era, segundo todos diziam, o último local de um prisioneiro daquela ilha, fez com que perdesse a esperança,

Ilustrativa

a vontade de sair dali, de fugir. Era, mantendo as proporções, um absurdo eu pensar, ou fazer um paralelo entre as situações, sem sombra de dúvidas; mas não seria absurdo eu me colocar, de forma analógica, diante dessa situação hipotética, até porque os ideais de liberdade são, todos eles, proporcionais aos desejos de cada um. De modo que ao pensar em sair daquele quarto, o desejo do personagem Papillon encarnava em mim, isso significava dizer que a minha vontade de ficar bom, de me restabelecer, de me curar, equivalia aos anseios de liberdade que este desejava. Sem saber o porquê, gostei do que havia pensado. Abrindo mais um parêntese: aqui em frente a minha casa há um estabelecimento comercial que mistura bar com lanchonete, clube noturno com ponto de encontro, além de outras coisas mais… Pois bem, os frequentadores são agraciados com música ao vivo, paredões e algumas atrações regionais. Infelizmente, o som é muito alto e incomoda a quem, por exemplo, vai trabalhar no dia seguinte. Já ouvi de muitas pessoas que moram no entorno do Bar do Gordo que é quase impossível conciliar o sono com o barulho vindo das potentes caixas de som que os artistas, os quais se apresentam às segundas, quintas, sextas, sábados e domingos, colocam a muitos decibéis além do que é permitido por lei. Pena que, enquanto em muitos lugares o local é fechado por motivos justos (perturbação da ordem pública, lei do silêncio e decibéis), esse, por incrível que possa parecer, goza de uma absoluta falta de fiscalização pelos órgãos responsáveis. Ah, e nos dias em que não há música ao vivo, só para não passar em branco, o dono do estabelecimento coloca o “som ambiente” numa altura algumas vezes superior até ao som dos artistas ao vivo. Detalhe: tudo isso passa a funcionar depois das 22 horas. Pelo que sei, já houve reclamações junto à Polícia Militar; entretanto, uma viatura vem, solicita que o som seja diminuído, porém quando os policiais se ausentam, o som volta com um volume até maior. Então, para não me entediar por completo com a minha situação, ouvir até duas, três, quatro horas da manhã “artistas” cantando nesses paredões (talvez noventa por cento das músicas com letras depreciativas, que denigrem a imagem da mulher), alguns com um tom de voz insuportável, sem o mínimo preparo para se apresentarem em shows de música; outros terminando suas participações já em um estado etílico bem avançado, foi uma opção que criei em minha mente, transformando algo nocivo, incomodador, inadequado, em um pensamento positivo que me ajudasse a suportar as longas horas de completo “silêncio” de mim mesmo.

Continua...

DI reçÃO geral: César Santos DIretOr De reDaçÃO: César Santos gereN te aDMINIS tra tIVa: Ângela Karina DeP. De aSSINatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FILIADO À

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