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OPINIÃO

ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS

Organização: CLAUDER ARCANJO

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HONRA E EMOÇÃO

LILIA SOUZA

é escritora, presidente da Academia Paranaense da Poesia, e autora da obra Estórias de Trevol do Nada, dentre outras liliasouza@uol.com.b

Já lhe disse, querido leitor, do orgulho imenso que tenho de minha mãe. Já lhe contei que ela, que segurou minhas pequenas mãos e me ensinou a andar, plantou em mim a segurança para caminhar pela vida. Ela mesma, depois, segurou-me a mão para me ensinar a escrever; sim foi mainha que, em sua simplicidade e (na época) com apenas o segundo ano primário e incompleto, me ensinou a ler e escrever. Quando entrei na escola, estava alfabetizada e apaixonada pelo mundo gráfico! Queria ler tudo que me aparecia pela frente: placas de estabelecimentos, letreiros dos ônibus, jornais, revistas, o que fosse. Através de mamãe abriuse para mim o portal para o mundo escrito – esse universo maravilhoso que me encantou desde o início e assim permanece, florescendo em inimagináveis caminhos vida afora, paixão constante. Além disso – que não é pouco –, ensinou-me valores tantos que carrego enraizados e me norteiam os dias. Também já devo ter dito, querido leitor, que, desde a meninice, em tudo eu me envolvia – fosse na escola, na igreja, no bairro; constantemente chegava em casa novidadeira, dizendo a mamãe das apresentações, festejos e coisas mil, para o que fora convidada – e lá estava a guriazinha miúda e inquieta, “nos antes, durantes e depois”, de tudo participando. E mamãe nunca me disse um não para qualquer dessas invencionices; ao contrário, apoiava-me, incentivava-me, colaborava no que estivesse a seu alcance – como confecção de alguma indumentária e outras coisitas. E segue a nos dar lições de sabedoria, em momentos vários. Digo que mamãe me deu asas – e que ninguém ouse segurá-las ou cortá-las!

Talvez já tenha falado também sobre minha filha, Sheila, presente maravilhoso que Deus me deu. Linda por fora e por dentro. Cresceu em graça e bondade, alegria e simpatia, em fé e maturidade. Não se acomoda diante das necessidades do dia a dia e é competente nas várias áreas em que atua; nos reveses da vida, fortaleceu-se e se tornou uma mulher gigante, de quem tenho um orgulho imenso.

Inicio falando dessas duas mulheres, caro leitor, para que entenda a dimensão do que contarei a seguir.

Recentemente fui agraciada com um convite que muito me honrou: ser sócia efetiva da ALJA – Academia de Letras José de Alencar –, estando meu nome já aprovado. Além de ser uma tradicional entidade cultural em nossa Curitiba (83 anos agora comemorados); de receber o nome de escritor de tão grande importância para nossa identidade nacional e literária, que atuou ainda como jornalista, crítico, advogado, orador, político; já convivo com alguns de seus brilhantes acadêmicos, desenvolvendo, ao longo de anos, fraternos laços. Assim, foi com grande alegria que aceitei o convite.

A cerimônia foi agendada e se pediu aos ingressantes (sócios efetivos e acadêmicos patronímicos) a indicação de um ou dois nomes para colocação da pelerine. Indiquei o nome de mamãe e de Sheila.

No dia da solenidade, lá estava eu, feliz da vida, contando com a presença de Tadeu (meu marido), meu irmão e esposa (Francisco e Gildete), Sheilinha e mamãe. Tinha a meu lado (também a ser empossada) a amiga Andréa – com quem dividi esse importante momento; e o prestígio de alguns gentis e queridos amigos (Madalena e André).

Sou muito emotiva, bem o sabem os que me conhecem um pouco. Sentia-me honrada e feliz. No ato da colocação da pelerine, sendo o ritual realizado por mamãe e Sheila – essas mulheres maravilhosas, de uma geração acima e uma abaixo –, a emoção foi indescritível! As duas me envolveram os ombros com a peça, e Sheila atava os cordões, enquanto mamãe, impaciente e orgulhosa, cheia de emoção, do outro lado me dizia: “Posso te abraçar, filha?”. Sem conseguir conter as lágrimas, respondi: “Pode, mãezinha, só espere um pouquinho.” Atada a peça, voltei-me para mamãe e me lancei em um emocionado abraço! Em seguida, outro em Sheila. Logo depois, recebi das mãos da amiga Madalena o diploma de sócia efetiva, com suas palavras carinhosas a me intensificarem a emoção.

Agradeço de coração a acolhida dos confrades da ALJA, com os quais, estou certa, terei muito o que aprender, tendo a esperança de conseguir humildemente contribuir e ao menos minimamente retribuir. Gratidão especial à presidente Anita, ao vice Des. Joatan, à secretária Vera.

Bem, querido leitor, depois olhei fotos feitas por familiares e amigos. Eu ladeada por duas mulheres de meu sangue, observei-as, lindas! Chamou-me atenção a postura de mamãe: do alto de saltos e de seus 99 anos bem-vividos, ereta, firme, orgulhosa. Essas duas a encherem-me de orgulho e emoção. A serem exemplos e graças em minha vida.

Afirmo, o ingresso na ALJA – por si tão importante –, que me proporcionou grande honra, revestiu-se de maior significado pela participação de dona Onir e Sheilinha: a mulher cujo ventre me gerou e abrigou; e a outra, fruto de meu ventre. Relação mais carnal e amorosa não pode haver. Concorda?

DI RE ÇÃO GE RAL: Cé sar San tos DIRETOR DE REDAÇÃO: César Santos GE REN TE AD MI NIS TRA TI VA: Ân ge la Ka ri na DEP. DE ASSINATURAS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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