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OPINIÃO
from Jornal De Fato
eSPAÇO JORNALISTA MARTINS de VASCONCeLOS
Organização: CLAudeR ARCANJO
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aO MeStre COM CarINHO: derIValdO dOS SaNtOS
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Escritor e pesquisador da Literatura Potiguar thiagokats@hotmail.com
No poema “Especulações em torno da palavra homem”, Carlos Drummond de Andrade nos traz uma verdadeira reflexão filosófica em torno do sentido da vida. É a partir desse pensamento – sobretudo quando o poeta mineiro pondera nos versos: “Quanto vale o homem?”, num mundo capitalista e desumano – que lamentamos consternados a notícia de que o professor Dr. Derivaldo dos Santos, junto com outros competentes professores, foram descredenciados do PPGEL (UFRN). Não vamos debater questões burocráticas por não entender muito bem como funcionam esses descredenciamentos. Contudo, vamos falar do ser humano e profissional capacitado que o programa perdeu.
Para nós, não cabe aqui julgar os que tomaram tal medida, baseada em critérios técnicos, porém como já afirmamos, reconhecemos (falamos por dezenas de alunos e exorientandos dele) o grande professor e ser humano que Derivaldo dos Santos foi para o PPGEL, chegando inclusive à direção do programa, anos atrás. Com certeza se ele estivesse na mesma posição hoje, agiria diferente para com os colegas.
Derivaldo dos Santos não é apenas um professor com título de doutor, ele é, humanamente, fora de série. Um profissional que ama o que faz, um intelectual sensível, inteligente, que nos relembra o mestre Antonio Candido no seu conhecido ensaio Direito à Literatura, para ressaltar uma das grandes virtudes dele, uma das características mais nobres do ser humano: o senso de humanidade. Candido defende a humanização como “o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante.”
É essa uma das maiores virtudes desse professor que, desde sua origem humilde em Nova Cruz, vem contribuindo há mais de vinte anos na formação de uma nova geração de professores, isso pra contar só na UFRN. Com efeito, ele contribuiu para educar e formar centenas de profissionais que estão hoje no mercado e não apenas como professores, pesquisadores, mas também como verdadeiros entusiastas da nossa literatura: Regina de Medeiros, Charlyene Souza, Kalina Paiva, Gilvan Oliveira, Sara dos Santos, Bruna Caballero, Marília Silveira, Ligia Michele, Célia Marilia, Aluísio Barros, dentre tantos outros que estão aí, atuando na sociedade, para provar. Apoiador da cultura regional, Derivaldo recebeu em 2016, das mãos do ex-reitor da UFRN Diógenes da Cunha Lima, o título de sócio benemérito da Academia Norte-rio-grandense de Letras, pela sua contribuição relevante a nossa literatura. Derivaldo organizou e participou de inúmeros eventos, palestras, além de incentivar a leitura de autores potiguares, orientar ensaios, artigos, pesquisas. Para reforçar o que afirmamos basta mencionar uma de suas parcerias de longa data, com o poeta e escritor Humberto Hermenegildo de Araújo, isso para não citar outros nomes, como o próprio José Luiz Ferreira e a poeta Valdenides Cabral, estes dois últimos também afastados do programa e igualmente entusiastas das nossas letras.
Tendo em vista os méritos e virtudes que Derivaldo possui, fizemos a relação com o poema de Drummond; e, se tivéssemos oportunidade de falar ao professor, diríamos o que ele já nos disse tantas vezes: que o ser humano sempre valerá muito, independente de sua raça, cor, posição política/ideológica ou religião; uma importância única, um significado que transcende a sua existência, com relevância para os demais homens e mulheres. Derivaldo saiu como já dissemos lá de Nova Cruz para fazer a diferença na vida de tanta gente, seja em Natal, Currais Novos, dentre outros lugares por onde passou.
Descredenciar professores como Derivaldo, do PPGEL, nos pareceu uma falta de empatia para com profissionais que estavam ali há anos, como é o caso dele, que contribuiu tanto tempo com o programa, sendo evidentes as exigências e o cuidado do docente com seus orientandos. Tomaram uma atitude que talvez pudesse ser revertida, não levaram em conta, por exemplo, que passamos nos últimos anos por uma pandemia, muitos docentes perderam familiares e amigos, e tiveram sequelas, dado o momento opressor em que vivíamos. Atitude insensível, por ser o PPGEL um espaço de formação, da área de humanas, para a sociedade. Por fim, o afastamento dos referidos professores nos parece também ser uma medida excludente e elitista, justamente num ambiente que deveria romper com paradigmas seculares. Fica a impressão de que ali é um espaço para poucos.
Na realidade quem mais perde nessa história toda são os futuros ingressantes do programa, pois, como é sabido, com o descredenciamento desses professores, algumas linhas de pesquisa irão ficar suspensas; e, com isso, por exemplo, diminuem as chances de surgirem novas pesquisas sobre literatura norte-riograndense, literatura e ensino etc.
Escrevemos este artigo em nome dos atuais alunos de Derivaldo, na pós-graduação: Aparecida Rego, David Tintino, Rosimary Alves, Grabriela Rocha... ao mesmo tempo que o dedicamos aos outros professores afastados.
Sejamos como os discípulos do professor Keating, no filme Sociedade dos Poetas Mortos, que se revoltam contra a exclusão do professor do quadro docente da escola e, em um ato de protesto, sobem nas carteiras da sala de aula e recitam o primeiro verso do poema “Oh Captain! My Captain”, de Walt Whitman.





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