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OPINIÃO
from Jornal De Fato
eSPAÇo joRNAlISTA MARTINS de VASCoNCeloS
Organização: ClAudeR ARCANjo
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SONHO E REALIDADE
RAIMuNdo ANToNIo de SouZA loPeS
é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com
Da janela do meu quarto contemplo, e ouço, o início da conversa. Ele, no auge dos seus vividos anos de experiência; ela, mulher bonita e convicta de que o agrada. A conversa é amena, cheia de lembranças recentes, em que a tônica mesmo é a aproximação. Ele tenta demonstrar sua paixão, desde que a viu pela primeira vez; ela tenta demonstrar que não percebia o que era óbvio.
O jogo é sedutor e faz parte do clima daqueles que estão loucos para se doarem, mesmo que seja apenas por breves momentos e rápidas aventuras. Ah, aventura! Palavra mágica, cheia de significados e tão tentada pelos amantes! O que seria dos amantes se não houvesse a sedução, a aventura, o risco?
Escuto, quando ela diz ter medo e que não querer se aventurar, mesmo estando atraída e tentada a confiar naquele homem com fama de mulherengo. A paixão, porém, falou mais alto. Aos poucos, ela foi se entregando ao convencimento do futuro parceiro, até porque não queria mesmo oferecer muita resistência. Ele falava, com suavidade, em seu ouvido, mostrando o que sentira quando a viu pela primeira vez, da emoção ao contemplá-la nos olhos. Havia sido mágico para ele. Foi como se tivesse sido atingido por pela corrente elétrica de um dardo desferido por um anjo. Anjo bom! A partir daquele dia, só tinha olhos para ela; não, para mais ninguém.
Entretanto, dissera ele não ter tido coragem de dizer-lhe o que estava sentindo, muito menos insinuar alguma coisa. Não podia. Ela era comprometida! Ele também! O máximo que conseguira foi ficar ao seu lado, quase que colados, separados apenas pelo temor de que alguém pudesse notar o clima. O respirar entrecortado de ansiedade evidenciava o desejo contido nos corpos e deixava claro que, se não fosse pelo local público, os corpos se fundiriam num só, buscando avidamente o prazer.
Olhei para o relógio. Precisava dormir, mas não podia perder o resto do diálogo. A curiosidade me impedia de sair da janela. Queria saber do resto, do final daquela conquista. Voltei a ouvir o que o jovem enamorado dizia, de como tentava falar algo que servisse de pretexto para um novo encontro. No entanto, não foi bem-sucedido no seu intento. Sabia, por isso, que ficaria sem vê-la por um longo período. Fiquei imaginando e criando, então, o enredo do próximo encontro...

Era meio de semana, num evento público e lá estava ela de novo. Do alto da janela do seu castelo e, de sua beleza, ela o chamou. O coração daquele jovem apaixonado bateu mais forte, quando a reconheceu. Subiu, rapidamente, os degraus daquela escada íngreme, cumprimentou-a e não hesitou em beijá-la com o gosto multiplicado pelo desejo. Ela estava linda! Tinha se preparado para aquele encontro. Era uma garota nova, renovada, radiante, exalando felicidade e esperança. Foi emocionante! Eu li. O olhar dela denunciava a alegria e o desejo contido querendo aflorar por entre lábios e corpo. Estiveram juntinhos por alguns segundos. Valeu a pena, disse ele. Foi por esse espaço de segundos que eles puderam sentir o que tanto os atraia; o porquê de quererem tanto estar juntos e se amarem pela primeira vez, com loucura, sem medir as consequências...
Olhei para o relógio novamente. Estava tarde. Precisava dormir. Se pudesse aplaudiria o diálogo romântico. Não podia. Nada podia me denunciar. Por outro lado, não podia interferir no que era belo, único. Aquilo jamais voltaria a acontecer. Por isso, o aqui e o agora são eternos. Se você viu, olhou, presenciou e guardou em sua mente, ótimo! Jamais você terá a oportunidade de ver novamente o primeiro detalhe que lhe chamou a atenção; olhar o que os seus olhos captaram; presenciar o local e guardá-lo como recordação para o seu sempre. Assim mesmo resolvi terminar o que havia iniciado com meus pensamentos...
... Desceram, em seguida, as escadas do imponente castelo. Ele, ao lado dela, pronto para ampará-la, se necessário fosse. Não foi preciso. Ficaram os dois, enfim, um de frente para o outro, a se olharem. Palavra não substituiria o que os olhos falavam. Puro sincronismo de pensamentos transmitidos via telepatia da libido. Finalmente, ele conseguiu passar o pretexto de um novo encontro. Ela, que ficara escutando o que ele dizia, convenceu-se. Também queria, finalmente dissera.
Embaixo da minha janela, ele acabava por confessar o quanto precisava viver uma grande paixão, viver uma loucura inesquecível, em que as consequências fossem apenas o começo da grande aventura entre eles. Quem sabe eu não possa lhe ensinar a amar na areia da praia, disse-lhe. Ele suplicou por esse momento, no mesmo instante, em que ela completou: uma carona... uma tarde e a liberdade de ser feliz.
Não resisti mais. Não precisava ser mais testemunha daquela obra de arte. Estava consumada entre os dois e só me restava fechar as cortinas, desligar as luzes e agradecer por uma noite em que dois amantes começaram a viver de novo.

dI reçÃO geral: César Santos dIretOr de redaçÃO: César Santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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