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opiniÃo
from Jornal De Fato
ESPaÇo JoRNaLiSTa maRTiNS DE VaSCoNCELoS
Organização: CLauDER aRCaNJo
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PiJalHaMa
LiLia Souza
é escritora, presidente da Academia Paranaense da Poesia, e autora da obra Estórias de Trevol do Nada, dentre outras liliasouza@uol.com.b
Segundo o Aurélio, “lhama” (S. f. e m.) é: “Ruminante sulamericano, camelídeo, de pelagem longa e lanosa, e que é tido como uma espécie domesticada do guanaco.” Pessoalmente ainda não fui apresentada a nenhum de sua espécie. Em fotografias, o animalzinho me parece até simpático, vestido em sua gorduchinha pelagem, que aparenta ser quentinha.
Pois bem, tenho um pijama que parece a tal lanosa penugem do ruminante. Chamo-o pijalhama, juntando a sonoridade e o significado das duas palavras. Os que vivem em constante verão talvez não consigam se imaginar dentro de um pijalhama. Contudo, quem conhece o inverno triestacional de Curitiba pode, muito bem, compreender a gostosa sensação de tomar um banho à noitinha e se enfiar em um desse.
Querido leitor, ainda no outono, o nosso inverno começou com vontade. Temperaturas perto de zero, ou abaixo de. O frio amenizou – eu disse amenizou; não, acabou – por poucos dias; e retornou com insanos desejos de nos maltratar: temperaturas muito baixas, sensação térmica ainda pior, ventos gelados e cortantes e com pouca amplitude térmica – quero dizer que os termômetros mostravam pouquíssima alteração, era gelado sempre. Muitos dias assim, intensa e integralmente gelados. Creiam, dentro ou fora da geladeira, pouca diferença faz. Em tais períodos, costumo dizer, sair da cama quentinha, ou tirar a roupa para entrar no banho é um ato heroico! E isso não é força de expressão.
Pois estes tempos têm sido assim, com raros dias de frio mais ameno. Este inverno triestacional – sim, pois começou no outono e já avança pela primavera! – parece não querer nos deixar. Desde que deu o ar da graça – na verdade já está ficando muito semgraça –, temos usado nosso edredom mais eficiente para combater o frio, aquele que só dá para aguentar quando o mundo parece gelado; e não são poucas as noites em que temos que acrescentar mais um ou dois cobertores para tentarmos nos aquecer. Mesmo com pijamas para inverno, meias grossas e até, vez por outra, com um encorpado roupão por cima de tudo. A gente se deita, custa para se aquecer, depois não pode se mover, porque estará gelado qualquer centímetro em que não estava o corpo.
Enfim, mesmo em dias claros, e quando o termômetro ali fora (vejo de minha janela) registra temperaturas um pouco mais elevadas, de dia há um “sol gelado”, rebatido pelo vento cortante, impedindo que nos sintamos aquecidos. Conto-lhes. Há poucas semanas, ao meio-dia, Tadeu e eu almoçávamos à mesa da sala, bem agasalhados, com roupão por cima de tudo e cada um com um cobertor às costas, os dois sentindo muito frio; achei absurda aquela friagem toda (dentro de casa parecia menos de 10 graus) em um dia ensolarado, de céu azul; fui olhar o termômetro lá fora: 27 graus! Surreal! Bem sei que é até um risco lhes narrar o fato, pois pode parecer mentira, porém foi exatamente assim. E outras vezes mais ocorreu.
Apesar do exagero das temperaturas lá embaixo, por mais que queiramos, não podemos passar o dia sob as cobertas ou enfiados em grossos pijamas. Mas aquele meu, parecido com a pele do ruminante, mal sai do varal e volta à sua função. O grosso edredom já parece fazer parte da cama. Uma sopa, um chocolate quente, uma xícara de chá ajudam a ludibriar um pouquinho o frio. O pijama com cara de lhama completa o “arsenal” de proteção contra tanto frio.
E assim seguimos, na doce esperança de que a primavera – que avança gelada – tenha intenção de nos devolver temperaturas agradáveis, anunciando o verão; que não nos sintamos uma cebola, em camadas e camadas de roupas; e que possamos desvestir agasalhos, meias grossas, pesados casacos, cobertores, pijalhamas... E tenhamos ao menos uma estação com maioria de dias sem frio... Até que chegue o próximo outono, trazendo novo inverno...
Há pouco tirei do varal meu pijalhama. Vou já tomar um banho quentinho e vesti-lo. A sopa já está pronta. Servido, querido leitor?

direção geral: César Santos diretor de redação: César Santos gerente ad Mi niS tra ti Va: Ângela Karina deP. de aSSinatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.
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