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OPINIÃO

eSPaÇO JOrNaliSTa MarTiNS de VaSCONCelOS

Organização: ClaUder arCaNJO

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Expansão E rEtrocEsso

JOSÉ de PaiVa rebOUÇaS

é escritor e jornalista josedepaivareboucas@gmail.com

Até dezembro de 1963, o Secern (Serviço Cooperativo da Educação do RN), através da Campanha de Alfabetização de Paulo Freire, já tinha mobilizado centenas de estudantes e dado a oportunidade para cerca de 4 mil adultos lerem e escreverem. Nesse ritmo, a meta de alfabetizar 100 mil pessoas, até 1965, seria alcançada, relata Antonia Terra no livro 40 horas de esperança, escrito em parceria com seu pai, Calazans Fernandes.

Enquanto as coisas avançavam no RN, Paulo Freire, motivado pela ampla divulgação nacional e internacional de seu trabalho, dava os primeiros passos para organizar uma campanha de alfabetização em todo o território nacional, tornando-se consultor do governo federal na busca de soluções para a educação de adultos.

Seu projeto de alfabetização já tinha se espalhado para outros estados: São Paulo, (Ubatuba e Osasco), Rio de Janeiro, Brasília, Aracaju (SE) e Porto Alegre (RS). Em 21 de janeiro de 1964, foi publicado um decreto federal instituindo o Programa Nacional de Alfabetização, consagrando o “Sistema Paulo Freire para alfabetização em tempo rápido”. Visando a criação de 60.870 Círculos de Cultura, cada um com a duração de três meses, em todas as unidades da federação, para alfabetizar, em 1964, 1.834.200 de analfabetos na faixa de 15 a 45 anos.

No dia 22 de novembro de 1963, às 12h30, o presidente norte-americano John Kennedy foi vítima de um atentado à bala, vindo a falecer, assumindo a presidência Lyndon

Acervo Tribuna do Norte

Johnson. Esse acontecimento teria tido grande impacto não apenas no futuro do programa de alfabetização, mas também no que aconteceria no Brasil em 1964, embora alguns dos envolvidos achassem que nem Kennedy pararia os militares.

Segundo o jornalista Calazans Fernandes, que fora secretário de Educação do RN nesse período, Aluízio Alves atuava em duas vertentes, de um lado alinhado com a Aliança para o Progresso, mas do outro, apegava-se às facções radicais de direita, dentro e fora do estado, no rastro de José de Magalhães Pinto, considerado o “líder civil” do Golpe Militar. Em reunião com a presença de 14 governadores na Bahia, Magalhães perguntou a Aluízio se a Polícia Militar do RN estava armada: “É fiel? Podemos precisar dela”.

Em depoimento dado à Calazans para o referido livro, publicado em 1994, Aluízio deu a seguinte declaração: "O objetivo de Kennedy era, em última hipótese, salvar a aliança na democracia, com a sua Aliança para o Progresso. Quando se configurou a sua visita ao Brasil, a conspiração contra João Goulart já havia avançado o suficiente para qualquer analista concluir que o golpe chegara a um ponto sem retorno. A embaixada americana acompanhava os acontecimentos e sabia disso. Mas a presença do presidente dos Estados Unidos no Nordeste, no calor das inaugurações de milhares de obras da aliança, ao lado do presidente brasileiro; em Brasília, na conversa com João Goulart; e todo processo de imantação desencadeado por acontecimentos de tamanha relevância... quem sabe o destino do Brasil teria sido outro...?".

Calazans, que era um entusiasta de Kennedy, deve ter se perguntado se a história seria diferente, caso não tivesse acontecido o famigerado atentado contra o presidente norteamericano. Para o mesmo livro, em 1994, chegou a falar disso com Paulo Freire e, na avaliação do professor, os generais e os conspiradores tinham tudo muito bem planejado, ou seja, seria muito difícil que a presença de Kennedy revertesse a situação.

Diante desse cenário desenhado nos bastidores políticos, muito mais do que na imprensa e no conhecimento do senso-comum e que Calazans tinha conhecimento, em 23 de dezembro, ainda de 1963, entregou a carta de renúncia do cargo de secretário de Educação. Mudou-se com a família para Recife onde passou a ser correspondente da Folha de São Paulo.

A saída de Calazans e o distanciamento direto de Paulo Freire, que desde julho seguia engajado nas atividades nacionais, esfriou o andamento da ação de alfabetização por aqui. Diante disso, no começo de 1964, o governo Aluízio Alves já não demonstrava o mesmo empenho na expansão das experiências.

Em 1° de abril de 1964, como esperado, foi instituído Golpe Militar no Brasil, financiado por forças estadunidenses e por uma elite incomodada com os avanços progressistas do país, destituindo o presidente João Goulart. 13 dias depois, o Decreto nº 53.886, de 14 de abril, extinguiu o Programa Nacional de Alfabetização. No dia 15 de abril, o general Humberto de Alencar Castelo Branco toma posse na presidência da República.

Em 16 de junho, Paulo Freire acusado de ser "subversivo e ignorante” foi preso.

Em reunião com a presença de 14 governadores na Bahia, Magalhães perguntou a Aluízio se a Polícia Militar do RN estava armada: “É fiel? Podemos precisar dela”.

dI rE ção gE ral: César Santos dIrEtor dE rEdação: César Santos gE rEntE ad MI nIs tra tIVa: Ângela Karina dEp. dE assInatUras: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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