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OPINIÃO
from de fato
eSPAÇo joRNAlISTA MARTINS de VASCoNCeloS
Organização: ClAudeR ARCANjo
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E SE RACIONALIZAR O INSTINTO?
FláVIA ARRudA
Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência. flaviarruda71@gmail.com
(Voltaire)
Ela estava sentada na velha cadeira de couro em tons terra, feita de retalhos de couro curtido, costurados à mão com linhas enceradas. A peça havia sido idealizada e construída pela jovem sonhadora, que passava as tardes usando de suas artes, invocadas pelos seus instintos, de frente para a estrada que passava pela janela da sala de estar. Ela sabia, não era fácil diante de situações difíceis, e até imprevisíveis, manter o controle emocional, afinal, os seres são, sim, animais instintivos, animais com sentidos apurados, donos de impulsos quase incontroláveis.
Seus pensamentos saltavam, buscavam respostas sobre aquilo que carregamos há milhares de anos: impulsos/instintos, que estão no nosso gene, indelevelmente entranhados nas nossas mais remotas origens.
Defender-se. Lutar pela própria sobrevivência, latejar desejos carnais, competir, demarcar território. Agressividade insana. A busca por nos conhecermos e conhecer o outro; o desvendar das incógnitas, do: por que estamos aqui e para onde vamos? A insatisfação a cada resposta encontrada, nos levando a mais interrogações... E, o maior de todos os conflitos terrenos, a procura da compreensão entre a relação do divino e o profano.
Pensando no instinto de sobrevivência. Ele que tantas ve-

zes nos surpreende revelando a nossa outra face. A face negra e oculta, escondida dos “padrões aceitáveis”. Um lado oprimido e aprisionado por dogmas, leis e normas que regem uma sociedade, e que, num instante de insanidade, nos traz o desconhecimento integral de quem realmente somos. Ora, até os seres mais providos de discernimento, diante de um instante de desespero, onde reagir garantirá sua vida, e, se assim, o matar o livrará da morte... É nesse instante que cai por terra o pensar, transgredindo a razão.
Em condições normais talvez isso nunca se concretizasse – no máximo, num momento de fúria, uma ameaça mental/ verbal, essa capacidade de matar para se defender. Sim, todos nós, postos em situações extremas, temos a capacidade de matar para nos defendermos e protegermos a quem amamos. Por puro instinto de sobrevivência. São emoções e reações inerentes aos homens. Instintos que fazem parte de nós, perfeitamente controláveis quando trabalhados através do pensamento, compreensão e razão.
Certo que, em muitos tribunais, esse instinto (natural do homem) pode servir como prática na defesa de réus mal-intencionados, com o intuito de mascarar a maldade impregnada em muitos seres – nem sei se deveriam ser chamados de humanos. Usando-a, a irracionalidade temporária, a seu serviço. Servindo para mapear e fundamentar e justificar, fraudulentamente, o caminho que o levou a tal ação. Nesse caso, faz-se necessário, sim, fazer imperar as leis que regem a sociedade em cumprimento do bem comum. Evitando causas nocivas e repetitivas que possam desgarrar o bem conviver/viver das relações sociais e coletivas.
O que não podemos deixar de compreender é que os instintos são a nossa face oculta, a parte irracional que está presente em cada um de nós. É a parte impossível de ser domesticada, pois sofre da ausência de aprendizado. Assim como na lenda do lobo bom e do lobo ruim, precisamos alimentar a face da razão, a nossa parte racional. Alimentar o nosso melhor lado, educando e elevando.
Controlar os instintos requer um profundo mergulho no cerne, na intenção e interação do reconhecer sensações e vibrações causadas quando determinado instinto está prestes a emergir, e nesse reflexo racional da percepção de si mesmo, tomarmos o controle da situação, domando e paralisando os instintos que, porventura, venham a nos trazer prejuízos, tanto individuais como coletivo.

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