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OPINIÃO

eSPAÇo joRNAlISTA MARTINS de VASCoNCeloS

A VOZ DO DIABO

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Organização: ClAudeR ARCANjo

SouSA NeTo

Professor, contista e poeta sousanetosou@gmail.com

Joventino ia entrando no seu quarto, contente que só, quando seu celular tocou. Ao olhar para a tela do aparelho percebeu que havia chegado várias mensagens. Entretanto, contentamento era um sentimento bastante efêmero na sua vida. Praticamente não sentia tal sensação. Em vista disso, a felicidade dele nessa noite, como de rotina, teve hora para acabar.

Resignado, acomodou-se na borda de sua cama para poder visualizar melhor as correspondências e respondê-las. Entre algumas mensagens, estava uma de áudio. Era de sua sobrinha de quinze anos. Resolveu ouvi-la primeiro. Ao apertar no lugar adequado, para ouvir o que ela dizia, a voz era de choro. E dizia: – Tio Joventino, estou doida para ir embora, mas mainha não está em casa, e eu não posso ir para aí e ficar sozinha! Ela não quer ir para casa!

Joventino tinha um companheiro com o qual decidiu compartilhar o fardo de sua vida. Houve uma noite em que ele até quis trazê-lo para pernoitar na residência que morava, mas fora proibido por alguns dos seus parentes. Após ouvir a fala de sua sobrinha, foi irredutível consigo: – Eu não vou deixar de dormir com Carlos por causa dela que não repousa uma noite em casa! Absurdo isso! Não pensar na própria filha!

Assim, decidiu contatar a

Joventino tinha um companheiro com o qual decidiu compartilhar o fardo de sua vida.

mãe da adolescente acerca da aflição da menina. No mesmo momento, a progenitora de sua sobrinha enraivou-se com a reclamação e o atacou, usando também mensagens de voz, com fortes agressões verbais de cunho homofóbico. A voz estava enrolada, e Joventino, depois de escutála, soltou o seu celular na cama, pasmado e arrasado com o que ouvira, cobrira sua face com as duas mãos trêmulas e, como uma criança, quando arrebatam um doce de suas garras, desabou em lágrimas. Joventino tinha tendência à depressão e já vinha sofrendo insultos homofóbicos há muito tempo. Farto de tudo isso, o homem caminhou até a cozinha, abriu a gaveta do armário, tirou uma faca grande de lâmina afiada e espelhada, e golpeou o próprio pescoço.

dI reçÃO geral: César Santos dIretOr de redaçÃO: César Santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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