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OPINIÃO

ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS

Organização: CLAUDER ARCANJO

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DESATIVANDO O “MODO DE ESPERA”

ÂNGELA RODRIGUES GURGEL

Escritora e Vice-presidente do ICOP angelargurgel@gmail.com

Tenho sido tomada por uma desagradável sensação de estar vivendo em “modo de espera”. Vez por outra me pego dizendo: quando a pandemia passar, próximo ano, nas férias, etc., etc... E, de repente, aquilo que sempre considerei perigoso parece ter virado rotina – esperar. Deixar a vida passar enquanto espero o próximo momento. Confesso ter ficado assustada, sentindo-me a musa inspiradora da canção do grande Chico Buarque, me guardando “pra quando o Carnaval chegar”. Porque, até lá, o tempo fluiu, a vida não me esperou e já terei deixado passar um tempo precioso, que, independenete de mim e de você, segue adiante.

Não adianta adiarmos o início do ano, a comemoração do aniversário, o café com os amigos, o passeio na casa do parente, o ano vai terminar, cumpramos ou não as nossas listas de promessas. Sim, eu sei, estamos vivendo um período de pandemia, mas sejamos honestos, já não fazíamos isso antes da pandemia? Cheia de interrogações e (quase) nenhuma resposta, percebi que deixei de fazer várias coisas em função dessa expectativa, do depois. Deixei a vida passar apressadamente por mim, enquanto aguardo o anúncio do fim da pandemia e/ou do isolamento social. É certo que alguns estudiosos acreditam que nossa percepção do tempo foi afetada pela pandemia. Mas o que, até que se prove o contrário, não mudou foi o fato de que o tempo continua passando. Com ou sem o coronavírus assustando nossos dias, a vida continua seguindo o seu curso.

A sensação, bastante incômoda, é que me sentei no banco da estação da vida e deixei o trem passar. É como se meus dias tivessem sido transformados em um banco de alguma sala de espera, de onde fiquei olhando a vida acontecer e não escutei quando chamaram o meu nome. Não vi a hora de partir para a próxima estação. Fiquei em modo de espera, “matando o tempo” com as monotonias que se acumulavam nos dias vazios de sentido. Não quero virar memória de um “tempo perdido”, pois, apesar de tudo e de todos, precisamos fazer valer a pena cada segundo de nossas vidas, esse presente maravilhoso que ganhamos todos os dias e precisa ser visto como uma dádiva. É certo que esperar pode ser bom, mas permanecer passivo esperando as coisas acontecerem, definitivamente, não é um “bom negócio”. Chega de esperas, a vida é agora.

“Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia”, mas isso sempre foi e sempre será assim; então, vamos levantar desse banco de espera e tomar assento no vagão do tempo para viver o que nos cabe nesse enredo. Vamos sair da plateia e subir no palco. Chegou a hora de deixar a arquibancada e voltar para o jogo. É no “campo” que definimos o resultado. Que mudamos o placar. É vivendo que fazemos a vida acontecer. Precisamos “esperançar”, contribuir para mudar o curso dos acontecimentos e transformar o que, em nós, está incomodando. Chega de letargia. De comodismo. De usar a pandemia como “escape” para permanecer passiva diante dos dias. Pode ir preparando aquele café que “eu tô voltando”, tire os livros da estante, coloque a mesa no quintal, arme a rede na varanda “que é lá mesmo que a mala eu vou largar, quero te abraçar, pode se perfumar porque eu tô voltando (...) telefone não deixa nem tocar (...) porque eu tô voltando (...)”.

Sim, estou de volta para o aconchego da poesia, da boa prosa, dos encontros cheios de gargalhadas, conversas fiadas e muitos, muitos abraços!

DI RE ÇÃO GE RAL: Cé sar San tos DIRETOR DE REDAÇÃO: César Santos GE REN TE AD MI NIS TRA TI VA: Ân ge la Ka ri na DEP. DE ASSINATURAS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FI LIA DO À

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