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OPINIÃO

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GERAIS/OPINIÃO

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PriMaVera: SERÁ?

LiLia Souza

é escritora, presidente da Academia Paranaense da Poesia, e autora da obra Estórias de Trevol do Nada e Chá das cinco, dentre outras liliasouza@uol.com.b

Teoricamente, estamos no meio da primavera. Aqui pelo Sul, aquela meia-estação, comumente com início de manhãs com friozinho leve, depois vai esquentando um pouco, até o meio da tarde, quando as temperaturas descem novamente, anunciando a noite que pede um cobertor. Para onde se vai, necessário carregar algum agasalho, todos os dias, pois certamente será usado. Tempos em que as meninas (inclusive aquelas que acumulam muitos anos de juventude, feito euzinha) voltam a usar vestidos – os que ficaram guardados durante o longo inverno –, saudosas que estavam de roupas mais leves; com um casaquinho por cima, evidentemente.

Pois é. Repetindo a frase inicial: teoricamente, estamos na primavera. Na prática não é bem assim. Tivemos, em fins de outubro, dois dias com sol e um princípio de calorzinho. Disse dois dias; você entendeu certo, querido leitor. O frio retornou com vontade! Acompanhado de céu cinzento, vento gelado, chuvas. Creiam-me, temos tido invernais manhãs, tardes e noites, nestes tempos de teórica primavera.

Por uma noite, acreditando que o frio era mais ameno, retirei o edredom grosso que cobre nossa cama desde fins do outono. Deixei uma coberta mais leve, mas logo depois precisei acrescentar outros cobertores, pois os termômetros não deram trégua. O edredom, que teria o destino da lavanderia, voltou para a cama e lá permanece – não sei por quanto tempo.

Faz frio o tempo inteiro. Dentro de casa, nas ruas, aonde formos. Há pouco fui ao mercado, a 100 metros de casa. Usava um casaco com capuz, que protegeu um pouco a cabeça do vento gelado. Dentro do mercado, uma senhorinha me cercou, como se fôssemos antigas conhecidas, a falar do frio intenso, dos ventos lá fora, do inverno que não acaba. E o caso da invernal primavera em pleno novembro vira assunto de todos, em qualquer local.

Estava hoje me lembrando das cerejeiras várias que adornam a entrada do parque Tanguá (local que me encanta, por tantas belezas e um pôr do sol inebriante – quando sol há, que bem se entenda). No auge do inverno, as cerejeiras florescem e apresentam um maravilhoso espetáculo colorido, em belezas e delicadezas. Há algumas ruas da cidade que desenham corredores de cerejeiras, inebriando os olhos de quem ali passa na época de floração. E também quando ela termina, pois o chão, as calçadas e parques se atapetam de róseos e alvuras, causando uma festa aos sentidos.

Umas semanas antes de findar o inverno, já estão nuas de suas flores as cerejeiras da cidade.

Antes que chegue a primavera, é a vez de os ipês florirem. E temos outro espetáculo, com ipês rosados, raramente brancos; e, em profusão, os amarelos, que fazem em ouro as ruas de Curitiba, enchendo de luz a cidade.

Pois, nesta primavera (primavera? será?), os ipês estão muito discretos em apresentar suas belezas; modestamente floridos, não têm deslumbrado os passantes, como sói acontecer. Somente os sabiás, que voltam a cantar ao fim do inverno, têm feito seus concertos, desde a madrugada, até noite alta, a mostrarem que a nova estação é real. Somente eles. E minha orquídea branca, com boquinha de bonina, que insiste em florescer em cada primavera, presenteando-me com cachos de alvas flores, há quase vinte anos, desde que a recebi das gentis mãos de uma amiga de minha filha.

Por aqui, o sol até aparece, vez por outra; tímido, num rasgo de céu azul, vestido de vento frio. Então vêm as nuvens e acinzentam tudo de novo; ou a chuva, que cai e leva junto, ainda mais, as temperaturas.

Manhã dessas, já passando das onze horas, até vi algo inusitado. Voltando para casa, em manhã nublada e fria (só para variar um pouco), uma estranha claridade me chamou atenção e levantei os olhos para o céu, quase acima de minha cabeça. Sob a nebulosidade, o sol, por trás de uma cortina translúcida, de tal modo que podia ser encarado sem me cegar. Em torno do astro rei, um cinza azulado recheando uma gigante roda e – aí sim, o inusitado –, delimitando-o, um imenso círculo de arco-íris. Melhor dizendo, um imenso círculo-íris, com todos os tons, completo, fechado e, como jamais eu havia visto. Sem celular para registrar a inesperada visão, restou-me guardar nas retinas e aqui relembrar.

Este, mais um fato dentro do que costumo dizer sobre Curitiba e seus fenômenos: aqui, tudo pode acontecer. E em todos os dias.

Estive matutando com meus botões. Pensando que devo retornar logo ao parque Tanguá. Conferir o que ocorre. Desconfio de que as cerejeiras preparam nova floração. Confusas, com este descabido inverno em pleno novembro, talvez estejam reflorindo. E eu perdendo o possível espetáculo de cores... Bora lá espiar?

direção geral: César Santos diretor de redação: César Santos gerente ad Mi niS tra ti Va: Ângela Karina deP. de aSSinatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

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