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OPINIÃO

eSPAÇo JorNALiSTA MArTiNS de vASCoNCeLoS

organização: CLAuder ArCANJo

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ISOLAMENTO, IMPERMANÊNCIAS E POESIA

ÂNgeLA rodrigueS gurgeL

Escritora e Vice-presidente do ICoP angelargurgel@gmail.com Tento, pelo menos, ler as mensagens particulares, mas nem sempre dá tempo e, assim, vou ficando desinformada, pois as pessoas não estão muito animadas a ligar ou receber ligações, preferem as mensagens ou ligar do próprio WhatsApp. O meu é silenciado, desde sempre, não tenho juízo para ficar ouvindo o som das notificações, dá logo um “farnizim” no juízo. Porém sempre que alguém liga eu retorno, do modo tradicional, mas retorno. A verdade é que esse meu distanciamento da “grande rede” provocou um isolamento ainda maior da vida lá fora.

Os grupos culturais/literários que participo estão, aos poucos, retornando às atividades, mas em virtude do trabalho quase nunca tenho tido disponibilidade, além de ainda achar perigoso participar de encontros presenciais. Isso tem me mantido longe das pessoas com as quais convivia diariamente. Sinto falta desse convívio, e essa ausência começa a pesar. Tanto que tenho andado tropeçando em mim mesma, nos escombros de saudades vão se despregando pela estrada, nos entulhos deixados pela saudade. Como diz Maria Bethânia em “Fera Ferida”, estou “tropeçando em meu caminho”.

Talvez sejam os sonhos adiados pulando da gaveta da alma, ou a esperança alertando que é preciso continuar acreditando e insistindo nessa aventura chamada viver. Não sei, sei apenas que o sorriso não é mais tão franco, e as gargalhadas nunca mais foram ouvidas nos corredores da alma. Tenho medo de me perder nesse labirinto de ausências e impermanências. E, por mais que “a vida nos ensine que não adianta ter pressa, que precisamos ser mais gentis com nosso caminhar, pois o único lugar onde vale a pena chegar é aquele que cabe toda nossa inteireza, eu insisto em continuar sendo aquela caminhante que faz seu próprio caminho”*, que aprendeu a gostar, cada vez mais, da própria companhia, a dar colo a si mesma, a abraçar-se e acalentar o meu próprio pranto. Sim, eu sei que isso não substitui a presença do outro tão necessária a construção de nosso eu, mas pelo menos alivia essa apartação temporária.

Mas (há sempre um “mas”), em meio a esses descaminhos, a poesia tem sido o alimento e a esperança. A espera e o encontro. A luz que joga claridade sobre as sombras dessa escassez de presenças. E foi ela, a poesia, que encheu meu coração de orgulho, encanto e esperança em um mundo de mais leitores e pessoas mais sensíveis ao ler este poema que compartilho com vocês, escrito por uma garota de onze anos. Destaquei o primeiro verso, ele expressa o que penso sobre a poesia. Creio que só ela nos salvará desse isolamento e de suas impermanências cheias de ausências. Obrigada, Sophia, sua poesia é bálsamo para minha alma ferida pelas lâminas das ausências permanentes...

Desde o início da pandemia venho tentando adaptarme às mudanças em relação ao uso das redes sociais. Quando elas eram apenas uma opção, eu as usava com mais frequência. Sentia prazer, alegria em compartilhar fotos, textos, bobagens etc. Veio a pandemia, e as relações virtuais tornaramse quase obrigatória. Tivemos que aprender a usar novos espaços e aprimorar o uso dos espaços já conhecidos.

Veio o HO (home office) e acabou com “toda graça”. Sempre tive dificuldade em lidar com a “obrigatoriedade”. Talvez seja o meu espírito rebelde. Livre. Ou sei lá o quê. O fato é que trabalhar com sistema e ficar horas em frente ao computador roubou toda minha vontade de usar as redes sociais. Quando finalizo minha jornada só quero uma rede, um livro e, claro, horas incontáveis de sono. Sei que existe outro nome para isso, ele consta na lista dos setes pecados e quem me conhece sabe que nasci assim e, provavelmente, morrerei assim, digo sem culpa e sem nenhuma vergonha. Estou naquela idade em que já posso dizer o que penso sobre mim mesma sem medo dos julgamentos, se antes eles não me incomodavam, imagine agora.

Nas passagens pelos grupos que participo não consigo ler todas as mensagens, menos ainda interagir como antes. O poema é a liberdade das palavras, A capacidade de se contar uma história Com rimas e poucas palavras, Uma coisa bonita com um tema intrigante, Uma poesia com estrofes a todo instante. Cada estrofe com seus versos, Cada verso com seus contos submersos. Tudo em seu canto, O mesmo canto dos pássaros que ouço Quando acordo do meu sono, O sono que sonho, Sonhos esses que paro para pensar. Pensar na vida, Pensar na minha poesia.

Anne Sophia (11 anos)

*N.A: Adaptação livre de um pensamento de Ana Jácome.

dI reçÃO geral: César santos dIretOr de redaçÃO: César santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FILIADO À

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