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OPINIÃO

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GERAIS/OPINIÃO

GERAIS/OPINIÃO

eSPaÇo jornaLiSTa MarTinS de VaSConCeLoS

organização: CLauder arCanjo

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a (deS)CONtINUIdade dO dOMINgO

ÂngeLa rodrigueS gurgeL

autora de Ensaio Poético e Confissões Crônicas Idealizadora da confraria Café&Poesia angelargurgel@gmail.com

Noite de domingo I

Vi gente chorando quando o STF declarou encerrada a eleição. Havia choro de revolta, de alegria, de decepção, de medo... De alívio. Vi homens e mulheres cuspindo ódio. Vi mulheres e homens, exultantes, reexperimentando a esperança. Vi jovens e idosos festejando a vitória e outros, consternados, reclamando da derrota. Uns vibravam de alegria, outros praguejavam contra as urnas. Uns celebravam a transparência do processo, outros denunciavam manipulação de dados. Vi a decepção controlada no rosto de alguns e a alegria escancarada no rosto de muitos.

Tarde de domingo II

Vi o povo, vestido de esperança e entusiasmo, caminhando ordeiramente, no grama do Planalto. Vi uma nação inteira representada por aqueles que subiram a rampa. Vi a felicidade estampada em cada olhar. Vi a democracia sendo coroada pelas mãos do povo que passava a faixa presidencial ao novo Chefe da Nação. Havia sorrisos, lágrimas, abraços. Havia esperança em cada olhar.

Tarde de domingo III

Vi, escandalizada, a polícia escoltando o povo que seguia para a Praça dos Três Poderes. Assisti, sem acreditar no que via, a esses mesmos policiais fazendo selfie com aqueles que, inconformados com o resultado das urnas, decidiram “dar um golpe na democracia”. Vi, incrédula, homens e mulheres depredarem a sede dos Três Poderes, destruírem obras de arte e documentos. Vi um aparato policial subserviente e conivente, fotografando e fazen-

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do vídeos, enquanto o caos se instalava.

As cenas de violência patrocinadas por pessoas que se autodenominam “patriotas” e usam, constantemente, o slogan “Deus acima de tudo” tomaram conta das redes sociais e dos noticiários. Leiga que sou não consigo enxergar Deus onde reina o ódio. A intolerância. A violência. Como cidadã que defende a democracia, fico indignada diante de situações como essa. E não venham me dizer que o que aconteceu em Brasília foi um ato em defesa do País. Não tentem argumentar que o vandalismo praticado por aquelas pessoas é a mesma coisa que as manifestações pacíficas por melhores condições de trabalho e de vida. Há diferenças fundamentais. E a mais perceptível aos olhos de qualquer um é a forma como os policiais tratam os envolvidos. Trabalhadores são recebidos com bombas de gás, spray de pimenta, cassetetes, balas, nem sempre de borracha e chamados de bandidos, vagabundos etc. Os “patriotas”, nem preciso dizer como são tratados. Os vídeos estão aí para mostrar a cordialidade e a eficiente polícia. Enquanto trabalhadores, negros e pobres são tratados como vândalos, os terroristas podem destruir tudo sob os cuidados da “guarda amiga”. Foi nojento e revoltante testemunhar tais cenas. O fascismo não morreu.

Dói, na carne e na alma, perceber que ainda vivemos cercados de gente que divide o mundo entre os que tem e os que não tem dinheiro. Entre brancos e negros. Passados tantos anos do fim (?) da escravidão, estamos cada dia mais separatistas, segregacionistas. Mudamos apenas as formas de escravidão e exclusão. Testemunhar pessoas pedindo intervenção militar (ditadura), quando ainda nem saramos as feridas desse tenebroso período, é assustador.

Não, não havia uma centelha de organização política, social ou coisas do gênero nas cenas que roubavam a tranquilidade da tarde de domingo. Vi o terror sendo espalhado, e as pessoas perplexas diante do caos instalado na Praça dos Três Poderes. Vi a aflição dos jornalistas, impedidos de fazerem seu trabalho, vi homens e mulheres, “defensores da família, da moral e dos bons costumes”, as chamadas “pessoas de bem” urinando sobre obras de arte, quebrando portas e móveis. Vi extremistas espalhando medo e tristeza sobre os destroços da esperança que eles tentam, a todo custo destruir.

Vi pessoas que não sabem lidar com a derrota, tentando impor suas vontades. Criminosos fazendo desordem na Casa do Povo. Terroristas, provavelmente financiados por alguns covardes, “tocando terror” em um espaço público de significativo valor para uma nação democrática. Vi o germe da intolerância apodrecido pelas vontades egoístas e doentias dominando homens e mulheres que se julgam acima da lei.

Mas o que esses senhores e senhoras não sabem é que somos feitos de sonhos. De esperança. De fé. Que eles podem destruir os bens materiais, mas nunca conseguirão destruir a nossa coragem de continuar lutando por dias melhores. Por um Brasil para todos os brasileiros. Inclusive para eles.

Fascistas/terroristas não passarão. Sem anistia!

dI reçÃO geral: César santos dIretOr de redaçÃO: César santos gereN te ad MINIS tra tIVa: Ângela Karina deP. de aSSINatUraS: alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FILIADO À

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