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OPINIÃO

ESPaÇo JoRNaLiSTa maRTiNS DE VaSCoNCELoS

Organização: CLauDER aRCaNJo

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CIDADE CANÇÃO

LiLia Souza

é escritora, presidente da Academia Paranaense da Poesia, e autora da obra Estórias de Trevol do Nada, dentre outras liliasouza@uol.com.b

Há umas semanas, passamos, Tadeu e eu, alguns dias em Maringá, cidade grande e promissora no norte do Paraná. Região tida como muito quente, mas que nos recebeu com manhãs e noites de intenso frio – também ela vítima de um gelado início de primavera.

Fui a convite, junto com acadêmicos de entidades culturais de algumas cidades, para as comemorações dos 25 anos de fundação da Academia de Letras de Maringá, que nos brindou com o honroso título de membros correspondentes.

A cerimônia festiva da ALM – sob a regência e a leveza da presidente Eliana Palma – foi organizada, bem conduzida (com a competência e simpatia de Majô Batistoni e Marcelo, desenvolvendo o cerimonial), bonita e agradável, recheada de alegrias e muitos bons momentos; coroada ainda com o ingresso de dois talentosos novos acadêmicos. Ouvimos vários e belos discursos, que nos encheram de encantamento. Uma satisfação conhecer várias pessoas e reencontrar tantos amigos.

Em um momento de congraçamento, encontramos um varal com Trovas de poetas locais. Podíamos escolher algum daqueles mimos, e, aceitando o gentil convite, retirei para mim a folha dobrada com duas delas. Uma, da doce amiga Nilsa Alves de Melo: “Escute, esta é a voz do vento/ que me traz doces cantigas,/ invadindo o pensamento/ de lembranças tão antigas.”; a outra, da gentil Olga Agulhon: “No coração trago a estrada/ e no olhar terras sem fim.../ Mas a rotina, malvada,/ fez cercas no meu jardim.”

A cidade é linda e seu povo muito hospitaleiro. Em meio a atividades culturais e de confraternização, fomos agraciados com atenção e carinho dos amigos que nos receberam.

Entre as atividades, Tadeu e eu aproveitamos o tempo para alguns passeios. A pé, junto com as amigas Andréa (de Curitiba) e Lucrecia (de Toledo), fomos ao parque Ingá, onde desfrutamos do contato com a natureza, o cheiro de verde, as cores dos ruídos mil, a surpresa de muitos saguis que se achegavam para nos olharem e serem olhados, entre rápidos movimentos, depois sumirem em meio às incontáveis árvores; a incessante mistura de canto de muitas espécies de pássaros (alguns identificados, a maioria, não) deixa encantados os ouvidos de tantos humanos ali passantes. E vinha-me à mente, tantas vezes: “Quão bela é vossa obra, Senhor!”

Com Lucrecia, estivemos na Catedral de Nossa Senhora da Glória, para visitar – lembrei-me da amiga Reny, nascida no dia dedicado à Virgem; retornamos, para a missa dominical. Lá, com o olhar imantado pela alta cúpula em cone, alguns versos quiseram fazer rebuliço em minha mente. Assim se organizaram depois, na folha de papel:

CATEDRAL

No templo sagrado sob o longo cone do túnel horizontal olhos se erguem ao longínquo vértice:

em mãos de anjos ascende ao infinito a glória da Virgem.

Entre contas de luz nuvens de incenso eleva-se uma prece em fé perfumada.

Na tarde de domingo, aproveitamos o ônibus disponibilizado pela Prefeitura, especificamente para um passeio turístico pela cidade. Um valor simbólico é cobrado pelas duas horas de trajeto por vários pontos turísticos e históricos – como teatros, igrejas, praças, parques –, dos quais cito a Mesquita Muçulmana, o Templo Budista, o belo Parque do Japão (com área total de 100 mil m² e único local em que se faz uma parada para rápida visitação). Destaco a atuação do simpático e gentil motorista, senhor Anderson: ouvia-o citando inúmeras e ricas informações, por todo o trajeto, encorpando sobremaneira as explicações contidas no áudio periodicamente ligado, próximo a cada ponto. Estava pronta para perguntar ao motorista se ele fizera curso de guia turístico, quando ouvi de sua boca a informação de que era muito curioso e sempre buscava conhecimento sobre tudo que lhe cabia mostrar; afirmou gostar de pesquisar, preferindo os livros ao que se encontra na internet. Ficamos encantados com seu conhecimento e a boa vontade em se desenvolver para oferecer um melhor serviço aos passageiros que leva. Uma lição para todos nós, pois sempre é importante se aprimorar e, como em seu caso, ser proativo na busca de conhecimento. Parabéns a seu Anderson e a Maringá, que nos presenteia com algo assim! Levaremos na lembrança e no cabedal de aprendizados tal exemplo.

Fica em nós a saudade dessa cidade bonita, que tem o belo e poético epíteto de Cidade Canção.

direção geral: César Santos diretor de redação: César Santos gerente ad Mi niS tra ti Va: Ângela Karina deP. de aSSinatUraS: Alvanir Carlos Um produto da Santos Editora de Jornais Ltda.. Fundado em 28 de agosto de 2000, por César Santos e Carlos Santos.

FILIADO À

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