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eN t R evista
from Jornal de Fato
Para quem está começando a consumir vinhos, o que você precisa contar para que a experiência dele comece sendo a melhor?
Quando eu dou treinamento para pessoas de lojas, vendedores, sommeliers, atendentes, e até para garçons, metris de restaurantes, eu costumo dizer que nunca indique aquele vinho que você tanto gosta ou o que tem a pontuação elevadíssima da crítica especializada internacional para um cliente que lhe pede uma sugestão, porque gosto é uma coisa muito pessoal. Primeiro, tente compreender qual é o perfil de gosto desse consumidor, faça algumas perguntas estratégicas que vão fazer com que você, por eliminação, seja mais assertivo na sua dica, na sua sugestão. Eu sempre aconselho que no primeiro atendimento, quando você conhece o cliente, tente trabalhar dentro daquilo que é confortável para ele. E quando ganhar a confiança dele, aí você vai abrindo o leque dele, vai demonstrando que o vinho é uma bebida plural e que ele pode desfrutar desse universo de uma forma menos restrita. Isso compete muito ao vendedor da loja, eu acho que é uma responsabilidade de toda a loja, de todo vendedor de vinho, ampliar os horizontes do consumidor, e essa é uma forma de fazê-lo. Quando você conversa com o cliente desse jeito, interessado em saber o que ele espera do vinho, o que ele quer do vinho de fato, você ganha certa intimidade e pode até perguntar para ele no final uma faixa de preço para que o ofereça um vinho com esse perfil que acabou de definir, respeitando o valor indicado por ele. Com todas essas informações sobre o cliente, a possibilidade de errar é mínima, e a de acertar é a maior possível, porque eu me interessei pelo cliente e procurei entender o que é que ele espera do vinho.
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Explique um pouco sobre a entrada do vinho brasileiro no mer- cado internacional, visto que já existem rótulos reconhecidos e premiados.
O vinho brasileiro conquistou prestígio nos últimos anos, e com muito mérito. Eu posso dizer com propriedade, porque sou um dos 22 jurados na maior prova de vinhos do Brasil. Nós provamos da última vez, no começo da pandemia, 1.309 amostras sem saber exatamente o que estávamos provando, totalmente às cegas. Não sabíamos qual era a região de onde vinha, quem era o produtor, se tinha passado ou não por barrica de carvalho, uma série de informações a gente não tinha. Então deu para a gente ver que o vinho brasileiro amadureceu muito, e é lógico que a gente não chegou ao ponto mais alto, mas a gente está no caminho certo; ninguém nunca chega ao clímax porque atingir a perfeição é um desejo de todos, mas ninguém atinge, porque são muitos estilos, propostas diferentes. A questão é a seguinte: o Brasil já tem conhecimento internacional, eu não falo nem do ponto de vista do espumante, porque do ponto de vista dos espumantes nós somos o “bam-bam-bam” do Hemisfério Sul. Temos uma qualidade no Sul, a gente sabe que isso é uma coisa temporária, que o futuro é imprevisível demais porque esse aquecimento está sendo benéfico agora, mas para regiões quentes já é um desastre, então como a gente tem uma umidade muito grande no sul e um clima mais frio, o aquecimento tem feito com que as uvas amadureçam melhor, tenham menos problemas fúngicos, e a gente está cada vez mais produzindo em safras sucessivas vinhos com qualidade. Temos centenas de prêmios conquistados fora do Brasil, é mérito brasileiro isso. Dentro do próprio Brasil, o vinho está se autoafirmando, sendo reconhecido pelos brasileiros como um vinho de qualidade, e eu acho que estamos no caminho dessa excelência que a gente vai, sim, num futuro muito próximo ter condições de competir em igualdade com alguns vinhos muito tradicionais e muito famosos.