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Grupo Olho D'Água comemora centenário

Com três unidades, companhia deverá moer nesta 100ª safra, 4,2 milhões de toneladas de cana

O Grupo Olho D'Água está completando 100 anos. O centená rio é comemorado a partir da aquisição do Engenho Olho D'Água (PE), em 1920, pelo empresário Artur Tavares de Melo. A partir daí, a companhia iniciou sua rota de ex pansão, com a criação de novas indústrias e vem se destacando pela atuação no setor sucroenergético, se tornando o maior produtor de açúcar e etanol do Nordeste.

Gilberto Tavares de Melo, neto do fundador e diretor presiden te do grupo Olho D`Água desde 2004, avisa que a escalada não foi simples. Ao falar das dificuldades enfrentadas ao longo desse perío do, ele cita a crise de 1929, que foi muito impactante e um momento difícil enfrentado pela empresa. Os desafios da 2ª Guerra Mundial e uma seca avassaladora na década de 50, também foram obstáculos a serem enfrentados nestes 100 anos.

Nos últimos tempos, foi a vez do tabelamento de preços dos com bustíveis imposto pelo Governo Federal e a falta de uma política pú blica para o setor sucroenergético, serem o empecilho ao crescimento. Aliado a isso, a irregularidade de chuvas no Nordeste foi mais uma adversidade a ser enfrentada e ame nizada com projetos de irrigação, sendo que, atualmente, 60% dos canaviais do grupo são irrigados.

Neste ano, a pandemia da Co vid-19 foi outro fato que marcará a história do grupo. Com 7.809 fun cionários, foi um desafio manter as atividades, garantindo a segurança de todos, contribuindo ainda com as comunidades das regiões onde atua. Foram implantadas medidas de prevenção ao coronavírus, do ação de álcool 70% a funcionários e população e alterações da rotina de trabalho, com segregação dos turnos e home-office, entre outros. O aumento do custo de produção também foi intenso, como exem plo, o preço dos insumos importados impactados pelo câmbio.

Gilberto Tavares de Melo, diretor presidente do grupo Olho D'Água

Para transpor esses anos, com êxito, foi preciso ter foco, determi nação, profissionalismo e seriedade. “O nosso lema é pouca inspiração e muita transpiração”, afirma Melo. E assim, vem ocorrendo desde a criação da companhia, com muito empenho e dedicação de todos os envolvidos.

O Engenho Olho D'Água deu origem à Usina Central Olho D’Água, em 1928. Depois, com a criação do Grupo Tavares de Melo, em 1953, a partir do início das atividades da Maguary, e de novas empresas, a companhia che gou no início dos anos 90, reunindo cinco usinas de cana-de-açúcar

FOTOS DIVULGAÇÃO

e duas indústrias: a Usina Central Olho D’Água (PE); a Usina Esti vas (RN) (1969); Destilaria Giasa (PB) (1974); Usina Passa Tempo (MS) (1982); Usina Maracaju (MS) (1985); Indústria de Embalagens Sacoplast (RN) (1989) e Indústria de Sandálias Dupé (PE) (1992).

Com a saída do sócio e diretor do Grupo Tavares de Melo, Murilo Tavares de Melo, a companhia fi cou somente com a Usina Central Olho D’Água. Sob sua liderança e dos filhos Artur e Gilberto Tavares de Melo, iniciou-se um novo ciclo de crescimento, que deu origem ao Grupo Olho D’Água.

Em 2002, o Grupo adquiriu a Destilaria COMVAP, no Piauí e em 2019, ampliou seu conjunto de usinas ao comprar a Usina GIASA, pertencente à Biosev. As três usi nas da companhia devem processar nesta safra histórica 4,2 milhões de toneladas, produzir 255 mil tonela das de açúcar; 175 milhões de litros de etanol e 195 GWH de energia, volumes que representam cerca de 2% a mais do que os produzidos na temporada passada.

De acordo com o diretor pre sidente do grupo, no momento, não há planos para novas aquisi ções. “A nossa prioridade é crescer verticalmente, aumentar a produ tividade no campo e na indústria. Hoje ainda temos ociosidade na indústria de 600 mil toneladas de cana-de-açúcar nas três unidades”, explicou. Além disso, a intenção é aumentar a produção da capacida de da fábrica de açúcar da usina do Piauí, passando das 270 toneladas por hora atuais para 400 toneladas por hora. Assim, mais de 60% da matéria-prima será destinada à pro dução do adoçante.

Para obter tais resultados, a em presa vem investindo para conseguir mais produtividade, com o objetivo de atingir 10 toneladas de açúcar por hectare. Também inves te na renovação dos seus canaviais. No último ano, foram renovados 18% e esse percentual será mantido neste ano. O grupo mantém 48 mil hectares de canaviais próprios que produzem cerca de 2,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.

Apesar do momento conturba do pela pandemia da Covid-19, o grupo aproveitou os bons preços do açúcar. Embora não tenham op tado por fazer hedge no mercado interno, no externo fixou boa parte do volume.

Vislumbrando o futuro, o em presário tem boas perspectivas sobre o RenovaBio, que dará ao setor um reconhecimento até en tão desprezado. “O programa é fundamental e ajudará a despoluir o mundo. Estamos sentindo a me lhora do ar proporcionada com o isolamento e o baixo uso dos com bustíveis fósseis. Estamos virando a bola da vez”, ressaltou.

As três unidades do grupo já contam com a certificação do pro grama e devem gerar 140 mil CBios. “Ainda não comercializamos os créditos de carbono, pois estamos aguardando melhores preços”, avi sou ao comentar os desafios do desenvolvimento do RenovaBio.

Outro fato que vem sendo mo tivo de preocupação é a tarifação da importação de etanol, princi palmente com a postura exigente dos EUA, para manter a cota com alíquota zero. “Os americanos têm que praticar reciprocidade. Não adianta abrir o nosso mercado de etanol e eles ficarem com o merca do fechado de açúcar. O prejuízo não será apenas para os produto res do Nordeste, mas para todo o setor, que será afetado caso a cota seja mantida”, alertou.

Ao ser questionado sobre um conselho para as empresas que querem comemorar o centenário, Melo é categórico. “O nosso setor é muito regulamentado, então os empresários além de cuidar dos de talhes da porteira para dentro, têm que agir no ambiente externo, caso contrário seremos surpreendidos, como os preços de combustíveis internos não acompanhando o ex terno durante mais de dez anos”, explicou.