RUMO - 30/04 e 1º/05/2022

CADERNO ESPECIAL |

ENTRE A CARÊNCIA E A OPORTUNIDADE PESQUISA OUVE EMPRESÁRIOS E ESTUDANTES PARA CONHECER AS NECESSIDADES SOBRE O MERCADO DE TRABALHO E A EXPECTATIVA DOS NOVOS TRABALHADORES

2022

EDITORIAL EDITORIAL

CONHECIMENTO, CONHECIMENTO, TRABALHO TRABALHO E EVOLUÇÃO EVOLUÇÃO O Grupo A Hora apresenta os resultados da pesquisa “RUMO, o futuro da mão de obra na região”. Pensado para ser um documento para ajudar estudantes e empresários na tomada de decisão, o levantamento considera as mudanças no mundo do trabalho, as expectativas dos setores econômicos e dos futuros trabalhadores, bem como as formações mais desejadas nas corporações.

Em meio às transformações na sociedade, no que apostar?

PATROCÍNIO:

O que merece ser estudado? Onde e como se preparar? Quais as oportunidades na região e em quais segmentos? Perguntas estas que auxiliam na compreensão da nova realidade no mundo do trabalho.

De fato, as novas gerações estão desafiadas a serem propositivas.

O momento é marcado pela inovação, pela tecnologia, por novos processos e formas de se relacionar.

Neste ambiente cada vez mais imerso na tecnologia, há um vácuo de profissionais justo nesta área.

Também uma necessidade crescente em profissões tradicionais, como vendedores, mecânicos, na construção civil e mesmo nas salas de aula.

Com base nas informações da pesquisa RUMO, há mais clareza sobre as carências das empresas e também as perspectivas dos jovens. De tudo, fica uma evidência relevante: é preciso fortalecer o preparo dos futuros profissionais.

Toda a metodologia, as entrevistas, avaliação e estatísticas foram feitas pela consultoria Macrovisão, coordenada pelo professor Lucildo Ahlert. O ineditismo da pesquisa está naquilo que movimenta as empresas: as pessoas.

Para os estudantes, foram aplicados 604 questionários para matriculados no Ensino Médio. Quanto aos empresários, foram mais de 200 entrevistas nas seis maiores cidades do Vale. Os

EXPEDIENTE PESQUISA REALIZADA POR:

MACROVISÃO Consultoria, Asessoria e Treinamento

PRODUÇÃO

Filipe Faleiro e Luciane Eschberger Ferreira

dados foram coletados do dia 7 de dezembro de 2021 até 11 de ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Fábio Costa

IMPRESSÃO

Grafica Uma/ junto à Zero Hora

março de 2022.

Em suma, o desafio é aproximar esses diferentes públicos, dando mais sentido ao conhecimento téorico por meio da experiência prática.

PERFIL DOS

EMPRESÁRIOS A pesquisa tem como objetivo conhecer as percepções sobre o novo mercado de trabalho e sobre o tipo de qualificação necessário para atender a demanda no Vale do Taquari. Os resultados trazem informações sobre as características dos empresários e das empresas; sobre a rotatividade da mão de obra; como são feitos os processos de seleção e recrutamento dos funcionários; mecanismos de qualificação interna; sugestões de melhorias para formação dos novos trabalhadores; entre outras temáticas.

O levantamento considerou empresas dos seis maiores municípios da região (Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado, Arroio do Meio e Taquari). Para atingir uma amostragem prevista de 510 empresas, foram selecionadas 1.169 organizações de diferentes setores.

RAIO-X DAS EMPRESAS

A pesquisa tem o objetivo de conhecer as percepções sobre o mercado de trabalho e o tipo de qualificação necessária para o Vale do Taquari Pela metodologia, foram definidos 300 questionários para empresários O estudo tem um grau de confiança estatístico de 95% Um erro amostral relativo de 5,6% A seleção das empresas considerou dois critérios: • Em Lajeado e Encantado, a lista sugerida pelas administrações municipais foi depurada com a retirada dos cadastros de MEIs; • Estrela, Teutônia, Arroio do Meio e Taquari, a seleção foi por cotas de acordo com as atividades, por meio de pesquisa pela internet pelo nome de empresas enquadradas nessa classificação;

Foram selecionadas 1.169 empresas

• Para atingir a amostra, foram contatadas 511 empresas que aceitaram participar da pesquisa; • De 7 de dezembro de 2021 até 11 de março, 206 empresas responderam (40% de participação da amostragem total de 511 empresas)

PERFIL DOS

ESTUDANTES

A pesquisa com os estudantes apresenta as percepções dos jovens sobre o mercado de trabalho e a qualificação que consideram necessária para atender a demanda de empresas do Vale do Taquari.

Também traz informações sobre os estudantes em relação a seus hábitos, sua avaliação sobre o Ensino Médio, preparação e visão em termos de mercado de trabalho e o que pensam sobre futuro profissional.

Do total de 3.899 estudantes matriculados no segundo e terceiro anos, nas 24 escolas públicas e privadas de Lajeado, Estrela, Teutônia, Taquari, Arroio do Meio e Encantado, 604 participaram da pesquisa.

A aplicação dos questionários autoexplicativos ocorreu entre 28 de outubro e 16 de dezembro de 2021, via link e senha de acesso, sem identificação dos estudantes.

LIGADOS NAS

REDES SOCIAIS

A internet é o meio pelo qual praticamente todos jovens buscam informações. Pesquisas no Google, vídeos no YouTube e sites de notícias são a maioria dos acessos. Artigos científicos no Google, sites de empresas e filmes também estão na lista das buscas.

A facilidade em ter a informação na palma da mão faz com que tenham menos interesse em ler jornais e ouvir rádio. Mas para os que leem o impresso, as áreas de maior interesse são esportes, política, meio ambiente, eventos, entretenimento, artes/cultura e economia. Pelas ondas do rádio, os assuntos preferidos são música, notícias e esportes.

WhatsApp e Instagram são as principais redes sociais utilizadas. Em segundo plano aparecem o Twitter e o Facebook. É nas redes e em sites que os jovens buscam informações sobre as empresas nas quais têm interesse em trabalhar.

Por parte dos gestores, 72,8% consideram a mão de obra ofertada na região distante do necessário às empresas. Já para os alunos dos últimos anos do Ensino Médio, quase 60% consideram-se aptos para o trabalho.

Esses números, avalia a consultora organizacional Ana Giovanoni, mostra a dicotomia presente em diversos níveis entre empregador e funcionário. “Tem um resultado semelhante de outra pesquisa. Feita em âmbito nacional sobre o trabalho remoto. De um lado, os diretores

afirmavam que a produtividade caiu.

Já os trabalhadores em casa dizem que estavam produzindo mais.”

Com os dados da RUMO, Ana considera um pouco desta visão diferente. Para ela, o mais evidente deste desencontro está em falhas na comunicação. “Por vezes o trabalhador não tem com clareza quais são suas obrigações. E por outro lado, o empregador espera que esse funcionário saiba o que a empresa precisa quase que no automático.”

Quando a relação é entre diferentes gerações, há um hiato ainda

Dos 604 estudantes ouvidos na pesquisa, 59,6% consideram-se aptos para o trabalho.

ALUNO, VOCÊ SE CONSIDERA APTO PARA O TRABALHO? NÃO

SIM, EM PARTE

36,4% (220)

maior. “Há razões dos dois lados.

Essa juventude nascida neste mundo tecnológico tem uma nova forma de ver o trabalho e o mundo. É diferente do que foi para o avô, para o pai, para a mãe. Querem mais flexibilidade de horários, querem bem-estar, lazer e qualidade de vida.”

Por parte dos empresários, diz Ana, há processos mais estabelecidos no ambiente corporativo. Essas regras, condutas e disciplina precisam também ser respeitada por esse novo profissional. “O segredo está no equilíbrio.

Tanto o empresário deve entender

4% 59,6% (24) (360)

Consultora organizacional

esse modo de ver o mundo por parte dos jovens, quanto esse novo trabalhador precisa ter um pouco mais de paciência e mostrar seus talentos ao longo do trabalho.”

A MÃO DE OBRA OFERTADA ESTÁ ADEQUADA?

27,2% (56)

CONSIDERA QUE ESTÁ SIM

ANA GIOVANONI

72,8% (150)

DOS EMPRESÁRIOS CONSIDERAM QUE NÃO ESTÁ DE ACORDO COM AS NECESSIDADES DAS EMPRESAS

EMPRESÁRIOS EMPRESÁRIOS

ADEQUAÇÃO DA MÃO DE OBRA POR MUNICÍPIO

PERCEPÇÃO DOS EMPRESÁRIOS SOBRE O NOVO MERCADO DE TRABALHO POR MUNICÍPIO

MUNICÍPIO

ESTÁ ADEQUADA NÃO ESTÁ

Lajeado

29,3

70,7

Estrela e Taquari

30

70

Arroio do Meio e Encantado

29,4

70,6

Teutônia

15,2

84,8

Total

27,2

72,8

ESTUDANTES ESTUDANTES CONFIANÇA NAS SUAS HABILIDADES

A maioria dos jovens se considera responsável e persistente; costuma cumprir com os compromissos assumidos, tem objetivos bem definidos e sabe estabelecer prioridades. Não abdica dos valores morais e éticos, está aberto a mudanças e encara os problemas com otimismo.

EMPRESÁRIOS EMPRESÁRIOS OPINIÃO DIFERENTE A visão dos empresários sobre os jovens mostra distanciamento com a autoavaliação dos estudantes.

Em especial pela falta de objetivos e clareza sobre o que fazer da vida; para o desenvolvimento de habilidades, entre outras afirmações.

ASPECTOS DE MENOR CONCORDÂNCIA ENTRE OS EMPRESÁRIOS (EM ORDEM DE IMPORTÂNCIA): A remuneração paga

EXPRESSÕES DOS EMPRESÁRIOS SOBRE A REALIDADE DO MERCADO DE MÃO DE OBRA:

permite a elas ter uma qualidade de vida adequada e fazer

• Para os jovens desenvolverem habilidades, precisam receber oportunidades em forma de desafios, com metas e prazos;

custo de vida;

frente ao seu No Vale do Taquari e regiões próximas há uma escassez

• Jovens entram no mercado e preferem ganhar menos e trabalhar em horário normal, até sexta-feira, com fim de semana livre;

total e absoluta de mão de obra na

• Com a falta de disponibilidade de mão de obra qualificada na região, há competição entre as empresas por aqueles já empregados;

área de tecnologia;

• Pessoas vão à busca de um emprego sem estar preparadas e sem saber a atividade que gostariam de exercer; • Problemas sobre a mão de obra ofertada na região estão ligados a comportamentos pessoais;

A remuneração paga é

• Falta de comprometimento;

tados que apresentam

• Falta de iniciativa; • Pouca flexibilidade a horários de trabalho;

2º

às pessoas contratadas

• Maioria dos jovens não tem clareza sobre o que quer ser na vida e muda constantemente de ideia;

• Desrespeito as regras;

1º

maior para os contra-

3º

melhor qualificação em comparação aos demais, no mesmo nível de formação; A oferta de mão de obra de

PARA QUEM PROCURA EMPREGO, OS EMPRESÁRIOS DIZEM QUE FALTAM INICIATIVAS, TAIS COMO:

nível superior em geral está adequada, com deficiências em termos de conhecimentos

• Curiosidade e inquietude para enriquecer o conhecimento;

práticos, pois o aluno dá mais

• Priorizar o preparo profissional;

importância ao certificado

• Trabalhadores técnicos são escassos;

do que desenvolver

• Há pouca qualificação, em especial para eletricistas, encanadores e outras atividades específicas;

4º

conhecimentos alinhados à prática do mercado;

MELHORIA NA FORMAÇÃO DE NOVOS PROFISSIONAIS

CURSOS COMPLEMENTARES

ESTUDANTES ESTUDANTES

EMPRESÁRIOS EMPRESÁRIOS

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Nos treinamentos, 45,6% (94 entrevistados) das empresas disseram contar com parcerias externas. A maioria 54,4% (112) não desenvolve atividades com parceiros. Principais instituições lembradas: • Empresas fornecedoras de equipamentos industriais e comerciais; • Associações industriais e comerciais; • Universidades; • Consultoria externa; • Instituições do sistema S (Senac, Senai, Sesi, Sebrae); • Sescoop, Sincovat, Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDL); • Outras instituições

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Atributos pessoais mais procurados no mercado de trabalho (por ordem decrescente de importância): • • • • • • • • • • • • • • • • •

18

Comprometimento/responsabilidade; Postura pessoal segundo os princípios da empresa; Ser disciplinado; Proatividade (transformar dificuldade em mudança); Manutenção da integridade e da ética; Foco; Habilidades no relacionamento interpessoal; Empatia (entender o outro lado); Humildade; Controle emocional; Persistência; Entusiasmo; Agilidade; Abertura às mudanças; Resiliência (encarar o problema com otimismo); Iniciativa e curiosidade; Ambição para crescer no seu devido tempo;

Atributos considerados menos importantes (por ordem decrescente): • • • • • • • • •

Habilidades com softwares; Conhecimento e visão do mercado atual; Capacidade de liderança; Visão sistêmica; Coragem para assumir riscos; Flexibilidade em relação a horários; Raciocínio lógico; Conduta imparcial em relação a preconceitos; Mente criativa;

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ESTUDANTES ESTUDANTES IMPRESSÕES DOS ALUNOS SOBRE O ENSINO ENSINO MÉDIO DEVE PREPARAR PARA VIDA ADULTA

Embora a maioria dos estudantes considere o Ensino Médio bom ou ótimo, nas questões abertas são expressas a necessidade de um olhar para parte emocional, o respeito às diferenças, estímulo à convivência, inclusão, preparação para o mercado de trabalho e para vida adulta, além da atualização dos conteúdos e métodos pedagógicos mais atrativos que incentivem o aluno a melhorar.

Temas como finanças, direitos trabalhistas, mercado de trabalho, oratória, revisão dos métodos de ensino não focado apenas no vestibular e aulas práticas também aparecem nas respostas abertas.

Conciliar curso técnico e Ensino Médio é opção de 20% dos jovens Dos alunos entrevistados, 20,9% estão fazendo concomitantemente um curso técnico. O que predomina é administração. Ainda se destacam, em ordem de importância, informática, eletromecânica e logística. Estudo da língua inglesa e participação no programa Jovem Aprendiz são outras opções.

As instituições mais citadas pelos estudantes que fazem cursos técnicos são Senai (26,7%), Instituto Estadual de Educação Pereira Coruja (9,2%) e Colégio Teutônia (7,6%).

(126)

(478)

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Áreas tecnológica e de saúde são as mais promissoras, na visão dos jovens As áreas mais promissoras para o futuro profissional são tecnológicas e saúde, quando se fala em curso superior. Medicina humana e veterinária, computação e programação, mundo digital e tecnologia da informação estão no topo da lista. Logo atrás aparecem marketing, administração, comércio, direito e agropecuária.

Na escolha de cursos, as mulheres são maioria nas opções medicina, veterinária, administração, psicologia, arquitetura e urbanismo, enfermagem, relações internacionais, odontologia, pedagogia (4,8% contra zero do público masculino), nutrição, fisioterapia e engenharia química.

Os homens são maioria na opção de cursos como educação física, engenharia civil, engenharia de software, ciências econômicas, design, jornalismo, tecnologia da informação (5,2% contra zero do público feminino) e programação.

Apresentam equilíbrio, considerando a questão de gênero, as graduações em direito, ciências contábeis, biomedicina, marketing e publicidade e propaganda.

Empresas de tecnologia da informação sofrem com a carência de profissionais. Por outro lado, o setor é uma das preferências dos alunos

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FUTURO DOS ESTUDANTES

Continuar os estudos depois do Ensino Médio é o plano de 94,2% O planejamento de 94,2% dos alunos após a conclusão do nível médio é continuar os estudos. Apenas 5,8% pretendem parar de estudar. Dos que têm planos para continuar a vida acadêmica, a maioria (63,8%) quer fazer um curso superior e os demais (36,2%), curso técnico.

Os estudantes entendem que o curso superior amplia as possibilidades de mercado. E a escolha do curso tem a ver com a afinidade com a área.

Mas também é considerada a perspectiva de trabalho e de remuneração.

As preferências variam significativamente entre os alunos, mas os cursos tradicionais aparecem com maior frequência. Pela ordem de importância, são citados: medicina, direito, medicina veterinária, administração, psicologia, arquitetura e urbanismo.

Uma boa parcela dos entrevistados diz que ainda não tem ideia em relação ao curso que gostariam de fazer.

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Curso técnico: formação mais rápida e barata A pandemia impôs novos formatos de aulas: on-line, semi-presencial e híbrido. No entanto, a maioria dos estudantes (63,6%) prefere o tradicional modelo presencial: sala de aula, estudantes e professores. Os demais se dividem entre formato híbrido e EAD (18,9%) ou indiferente (17,5%).

Quanto às expectativas, consideram que o técnico oferece mais perspectivas de mercado e prepara em menos tempo.

O custo, inferior ao da graduação, também influencia.

A escolha do curso está ligada à área. Mas também é levado em conta a perspectiva de trabalho e de remuneração. As preferências variam significativamente entre os alunos, mas o que aparece com frequência é o curso técnico em administração. São citados, por ordem de importância, o técnico em informática, enfermagem, eletrotécnica, computação, mecânica, tecnologia da informação, eletromecânica, agropecuária, edificações e tecnólogo em marketing.

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Os percentuais foram calculados sobre o total de observações. A soma é superior a 100% por conta da possibilidade de respostas múltiplas.

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Mercado de trabalho: 40% querem atuar na área tecnológica Quando pergunta é sobre a segmento de atuação, 40,4% pretendem atuar em áreas tecnológicas. E 59,6% têm intenção de trabalhar em outras atividades.

Quanto a planos futuros, há um equilíbrio entre as diversas possibilidades, destacando-se levemente o grupo que quer procurar um trabalho em empresas. Os demais dividem-se em continuar com o seu trabalho atual, apenas estudar, atuar como autônomo e abrir um negócio próprio.

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MÃO DE OBRA

RUMO DA MÃO DE OBRA

PESQUISA VOLTADA PARA CONHECER A

REALIDADE LOCAL O uvir estudantes e empresários para conhecer as necessidades em termos de qualificação, área de trabalho e expectativas de ambos os públicos para o futuro. Nesta base se sustenta a pesquisa “RUMO”.

Coordenador do estudo, o economista e professor universitário aposentado, Lucildo Ahlert, desenvolveu um método específico para o Vale do Taquari. “Nosso objetivo é conhecer as preocupações e propor soluções”, diz.

Para chegar no formato, o primeiro passo foi entrevistar empresários.

Nestas conversas surgiram as questões fundamentais para formatação estatística. Na prática, a “RUMO” traz consigo três linhas de pesqui-

sa: qualitativa (entrevistas com 29 empresários) e quantitativa com diretores e donos de negócios (206 questionários respondidos), por fim com os 604 alunos dos 2º e 3º anos do Ensino Médio.

Nestes dois públicos, mais contrastes do que conexões. Para Ahlert, na maioria das escolas ainda há um direcionamento dos jovens para prepará-los ao vestibular. “Para os alunos, parece que a vida só começa depois dos estudos. Só depois do Ensino Médio é que vão pensar no que fazer.”

Por parte dos empresários, também percebe uma certa distância em compreender e se comunicar com as novas gerações. “É preciso ver aspectos positivos mesmo na

OS JOVENS SE FORMAM COM MUITAS DÚVIDAS. TALVEZ UMA FORMAÇÃO TÉCNICA CONCOMITANTE FAÇA COM QUE ELES TENHAM MAIS CLAREZA.”

dificuldade. Encontrar soluções para atrair os talentos e fazer com que sigam na empresa.”

Os detalhes presentes na pesquisa trazem um cenário preocupante, ressalta Ahlert. Na avaliação dele, é preciso antecipar a preparação do jovem para o mundo do trabalho.

“Os jovens se formam com muitas dúvidas. Talvez uma formação técnica concomitante faça com que eles tenham mais clareza.”

Diversas conclusões para um objetivo

LUCILDO AHLERT PESQUISADOR

FILIPE FALEIRO

Diante da amplitude das informações presentes no estudo “RUMO”, o pesquisador aponta algumas linhas centrais possíveis para interpretar o material. A começar pelo sistema de ensino, junto com a relação professor\aluno.

“Há uma carência na escola em auxiliar o jovem a conhecer suas aptidões. Ele precisa experimentar, errar e acertar. Neste processo, o professor é muito importante. É ele que vai indicar os caminhos, ajudar esse aluno a se conhecer.”

Como referência, lembra de instituições em áreas rurais, com metodologias de aprender pelas experiências. “Só o conhecimento teórico não cria envolvimento. O aluno diz que a aula é chata porque não encontra significado na vida com aquilo que está aprendendo.”

O pesquisador chama atenção para as respostas do aluno a respeito das avaliações. Conforme Ahlert, os estudantes destacam a atuação daqueles professores que ajudam a apontar potenciais e carências.

“Mestres com empatia, que ajudam o aluno a ver seus erros, são os mais desejados pelos alunos.”

Encontrar um equilíbrio nas expectativas de empresários e jovens. Essa é uma das conclusões do pesquisador.

Para Ahlert, o professor pode ajudar o aluno a conhecer suas aptidões

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O vácuo de profissionais com qualificação passa por diversas atividades. Além das funções na área tecnológica, existe carência em profissões tradicionais, como vendedores e mecânicos

Detalhes sobre a construção dos questionários • A entrevista com 29 empreendedores serviu de base para elaboração das perguntas à parte quantitativa do estudo; • Foram selecionadas empresas de diferentes setores, incluindo indústria, comércio, construção civil e serviços;

Empresas abertas para inovar

Conhecer as características locais, o perfil da mão de obra e as aptidões das equipes são conceitos fundamentais nos negócios.

Estes três apontamentos, na

avaliação de Ahlert, servem como um norte para gestores, diretores e proprietários das empresas.

Uma das experiências desenvolvidas chamou atenção do pesquisador. “Um empresário de São Paulo chegou na região. A ideia dele era contratar só pessoas com experiência. Quando começou a

seleção, não tinha.”

Por meio da observação dos candidatos, da faixa etária, dos gostos e preferências, encontrou um formato para facilitar o treinamento dos trabalhadores. “Ele levou conceito do mundo dos jogos para a organização, com metas, objetivos e recompensas.”

• A análise considerou também o porte de cada empresa, de 500 até 8 funcionários; • As entrevistas ocorreram do dia 1º de outubro até 27 de dezembro de 2021.

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ENTREVISTA ENTREVISTA “OS JOVENS DEIXAM OPORTUNIDADES PARA TRÁS POR FALTA DE PACIÊNCIA” Equilibrar a expectativa do empresário e dar mais experimentação aos jovens. Essa é uma das conclusões do pesquisador Lucildo Ahlert sobre os dados coletados no diagnóstico “RUMO”. Para ele, a comunicação entre empregador e novo profissional precisa ser clara e objetiva.

A HORA – Quais foram as principais dificuldades para fazer o estudo?

Lucildo Ahlert – A primeira ainda era

a pandemia. Vivíamos ainda algumas restrições. Isso interferiu muito sobre nossos movimentos. As escolas estavam vazias, muitos alunos ainda com aulas remotas. Nas empresas também era um momento de tensão, havia muitas dúvidas entre retomar às atividades presenciais a pleno. Havia um compasso de espera.

Junto com isso, tínhamos um período de fim de ano, se aproximava o Natal e a virada do ano. Apesar dessas barreiras, eu diria que conseguimos um resultado positivo. Trouxemos informações valiosas e que podem contribuir para o entendimento do mercado de trabalho e o que se espera em termos de qualificação da mão de obra.

Sinto-me feliz pela receptividade dos alunos, das escolas e também das empresas que fizeram um esforço muito grande para participar.

Como foi conseguir entrar nas escolas e nas empresas?

Ahlert – Tivemos de conseguir autori-

zação nas escolas, em especial da rede pública. Criou-se um problema justo neste período que foi a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Havia muitas dúvidas e o entendimento de “oito” ou “oitenta”. Antes podia tudo e agora não pode nada.

Só que não é bem assim. Fomos buscar apoio jurídico, até para entender como proceder. Mesmo com a lei, a pesquisa tem de acontecer. Nossa estratégia foi deixar bem claro os motivos e o uso dessas informações. Nos comprometemos em usar as informações com fins científicos, sem jamais expor detalhes sobre o estudante ou o empresário. Após idas e vindas nas escolas,

conseguimos as autorizações.

Já nas empresas, lidamos com muita desconfiança. Havia bastante receio por parte dos gestores. Tanto que dos mais de 500 questionários daqueles que se comprometeram em responder, tivemos o retorno de 40%.

Nas entrevistas para o levantamento qualitativo, que serviu de base para o questionário, tivemos a colaboração dos empresários em dedicar meia hora ou até mais para a nossa entrevista. É um tempo valioso para os administradores.

Eles precisaram fechar as outras atividades e pensar só naquelas questões.

Conseguir essa confiança, gravar a entrevista, isso tudo trouxe dúvidas aos empresários. Mesmo assim, temos de agradecer essa atenção que nos foi dedicada.

Quais as conclusões que o senhor tira a partir dos resultados? O que essa experiência diz sobre o mercado de trabalho regional?

Ahlert – Do ponto de vista do mer-

cado regional, percebi que falta um pouco para as empresas conhecerem a realidade local e pensar objetivamente em formas de se adaptar. Há aqueles que conseguem inovar, mas ainda é um número limitado. O desafio é ver o cenário de dificuldade para determinada mão de obra e encontrar meios de superar as limitações.

Como é o caso do empresário de São

Paulo que levou métodos dos jogos eletrônicos para dentro da organização.

Entendo que em meio ao trabalho cotidiano é complicado pensar soluções e definir novas estratégias à formação da equipe de trabalho.

Por parte dos jovens, falta compreender que toda experiência conta. O esforço, tanto na sala de aula quanto no momento em que se chega no mercado de trabalho, faz o aprendizado. No futuro isso será um diferencial.

As empresas dizem que falta vontade de crescer. Já o novo trabalhador, ou aquele que está para chegar no mercado, quer pular etapas. Pensa em fazer tudo muito rápido. A construção de uma carreira demanda tempo e paciência. Não vai se chegar em um dia e no outro virar gerente ou administrador. Vejo que os dois lados precisam entender um pouco melhor cada um desses aspectos.

Quando o senhor fala em cada lado se entender um pouco mais.

Onde estão essas pontas soltas?

Ahlert – No trabalho, temos uma

pessoa que quer entrar na empresa. Precisa daquele ofício para se sustentar. O salário é o fim. Mas para a empresa isso não interessa. O que se espera é alguém de confiança para assumir responsabilidades e garantir o resultado.

Na escola vejo um distanciamento entre o conhecimento teórico e a vida real. É fundamental ter o conceito, mas é preciso aproximar da prática. O estudo tem mais significado quando o aluno ver aquilo funcionando.

Na minha avaliação, o contato do jovem com o mundo do trabalho precisa ser mais cedo. Não pode pensar o que fazer só depois do Ensino Médio. Essa reformulação é necessária. Costumo dizer: precisamos de dois livros. Aquele impresso e o outro que está aberto lá na rua, onde a vida acontece.

Uma das informações que mais chama atenção no estudo é que 72,8% dos empresários considera a mão de obra inapropriada para as necessidades das empresas. De outro lado, 60% dos alunos se sentem prontos e aptos para trabalhar.

Como avalia essa dicotomia?

Ahlert – É importante fazer uma res-

“AS EMPRESAS DIZEM QUE FALTA VONTADE DE CRESCER. JÁ O NOVO TRABALHADOR, OU AQUELE QUE ESTÁ PARA CHEGAR NO MERCADO, QUER PULAR ETAPAS.”

salva. Ainda que os empresários afirmem que a mão de obra está distante do que se espera, a maioria das saídas de trabalhadores ocorreu por pedido de demissão e não por desligamento por parte das empresas.

Seja por parte de mulheres que precisavam ficar com os filhos ou mesmo a busca do profissional por outra empresa. Neste espaço de tempo, com a falta de profissionais, começou a ocorrer uma competição entre as empresas.

Em vez de treinar o novo contratado, houve uma procura maior pelo profissional pronto, com mais experiência, para chegar e já dar resposta para aquela função específica. E aqui não é só aquele profissional com formação, também vendedores, atendentes com experiência passaram a ser mais procurados.

Com relação aos estudantes, eles consideram que ter tido boas notas, terem aprendido as disciplinas, o que daria o conhecimento para o mercado de trabalho. Agora falta a vivência.

Essa é uma parte fundamental.

Durante a pesquisa, conhecemos histórias marcantes. Como um dos alunos, o melhor da classe. Ele ingressou em uma empresa. Com grande conhecimento, formação em uma área específica. Chegou, foi colocado no primeiro dia em uma atividade que não era a dele e desistiu. Nem deu tempo de mostrar o seu talento.

Esse testemunho nos ajuda a compreender a necessidade da vivência, da experimentação. Não é do dia para a noite que se faz uma carreira profissional. Os jovens deixam oportunidades para trás por falta de paciência.

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