Documento A Hora - 16 e 17/07/2022

JULHO/2022

DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA COLONIZAÇÃO AO LESTE DO PARAGUAI POR FAMÍLIAS DO VALE COMPLETA CINCO DÉCADAS. PROTAGONISMO REGIONAL SE DESTACA PELA PRODUÇÃO AGRÍCOLA A busca por melhores condições de vida e a oferta de terra barata motivaram a migração no início da década de 70. Os brasiguaios colonizaram cidades como Santa Rosa del Monday e Santa Rita.

Para implantar a produção de grãos, tiveram de superar a falta de infraestrutura e os aspectos culturais do outro país.

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PALAVRA DO

"MESMO EM OUTRO PAÍS, PARECIA QUE ESTAVA NO VALE"

A

oportunidade de conhecer o interior do Paraguai proporcionou uma experiência memorável. Foi uma quebra de paradigma sobre ser um país de 'muambas' onde só se vai para comprar algo por um preço mais atrativo. As primeiras impressões ao cruzar a fronteira, de fato são essas, mas quando se avança para outras cidades o cenário muda.

O agito do comércio de Cidade do Leste dá espaço a extensas áreas de produção. E o bacana disso é saber que muitas das colônias ao leste do Paraguai foram desenvolvidas por ex-moradores do Sul do Brasil, os brasiguaios. Essa característica é tão forte que ao estar em Santa Rosa del Monday e Santa Rita parecia que continuava no Vale do Taquari.

FELIPE LUIS NEITZKE

Ao ouvir as histórias dos migrantes, que iniciaram na década de 70 a ida ao Paraguai, imagino a força e coragem em deixar seus familiares rumo ao desconhecido.

A impressão que tive é que valeu a pena. O agronegócio mudou a realidade daquela região de mata fechada e das pessoas que escolheram outro país para evoluir.

Alguns ainda deixam transparecer a saudade dos amigos e familiares no Vale, outros consideram o Paraguai como sua pátria e não cogitam voltar.

Pela condição econômica global, hoje, comprar uma área de terra está mais difícil, a valorização dos grãos também puxou para cima o preço da terra. Quem empreende por lá diz que há espaço e se prepara para uma rápida expansão industrial.

COOPERATIVAS ATUAM NA COMERCIALIZAÇÃO DE GRÃOS E FORNECIMENTO DE INSUMOS AOS PRODUTORES NO INTERIOR DO PARAGUAI

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DIFERENTE DA ÁREA COLONIZADA POR PESSOAS DO VALE, CIDADE DO LESTE TEM A ECONOMIA FORTALECIDA PELO COMÉRCIO

PRODUÇÃO

EXPEDIENTE

TEXTOS

Felipe Neitzke felipeneitzke@grupoahora.net.br

ARTE E DIAGRAMAÇÃO

Fábio Costa

FOTOS

IMPRESSÃO

Felipe Neitzke e divulgação

Grafica Uma/ junto à Zero Hora

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CINCO DÉCADAS DE COLONIZAÇÃO FAMÍLIAS QUE MIGRARAM DO VALE AO PARAGUAI SE DESTACAM NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E PRESERVAM A CULTURA E COSTUMES DOS DESCENDENTES GERMÂNICOS E ITALIANOS. AS NOVAS GERAÇÕES SE ADAPTAM AO MODO DE VIDA MARCADO PELA INTEGRAÇÃO ENTRE OS HÁBITOS DOS DOIS PAÍSES A dificuldade em prosperar nas terras íngremes fez famílias buscarem oportunidades fora do Vale do Taquari. Algumas tiveram o Paraná como ponto de parada e outras foram direto ao Paraguai.

Depois de conhecerem as áreas, voltaram ao RS para vender o que tinham e levar a família ao outro lado da fronteira.

Um dos destinos foi o leste do Paraguai. Sem saber o que encontrariam pela frente, se aventuraram em uma região de mata densa. Os primeiros movimentos de ingresso ao país vizinho ocorreram entre maio e junho de 1972 por incentivo do governo paraguaio em colonizar o sul do Rio Monday.

Na ocasião, havia a disponibilidade de pelo menos 950 mil hectares pertencentes à família Muxfeld.

O fracionamento em colônias era conduzido por corretores de terras que tinham como desafio atrair trabalhadores e tornar essas áreas produtivas e evitar a ocupação ilegal por camponeses.

Mesmo assim, aconteceram confrontos em algumas regiões do país entre nativos e brasileiros.

Não foi o caso das famílias que saíram do Vale.

UNIÃO DE ESFORÇOS PROMOVEU A RÁPIDA TRANSFORMAÇÃO DOS VILAREJOS EM CIDADES. EMIGRANTES DO VALE OCUPAM FUNÇÕES ESTRATÉGICAS NA ECONOMIA E POLÍTICA DOS MUNICÍPIOS EMANCIPADOS NA DÉCADA DE 90

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MIGRAÇÃO DO VALE PARA O LESTE DO PARAGUAI AS PRIMEIRAS MUDANÇAS FORAM TRANSPORTADAS NO INÍCIO DA DÉCADA DE 70.

COMO ALTERNATIVA À TRAVESSIA POR FOZ DO IGUAÇU, ALGUNS COLONIZADORES OPTARAM POR ATRAVESSAR DE BALSA AO SUL DO RIO MONDAY, PELA ARGENTINA.

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FAMÍLIAS ASSUMEM PROTAGONISMO MORADORES DO VALE DO TAQUARI COMEÇARAM A COLONIZAR O LESTE DO PARAGUAI EM 1972. MIGRAÇÃO FOI INCENTIVADA PELA OFERTA DE TERRA COM PREÇO ACESSÍVEL E IDEAL PARA A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

PIONEIRISMO E TERRA BARATA

Famílias do Vale do Taquari começaram a migrar para outras regiões no início de 1900 e, antes de cruzar a fronteira, tentaram prosperar em outros estados. Esse foi o caso de Nicolau Pellenz (in memoriam), natural da região de Estrela, ele se estabeleceu no noroeste gaúcho.

Mais tarde, a nova geração mudou para Toledo/PR, em meados de 1966.

A dificuldade em pagar pela área os fez mudar outra vez.

Entre os três pioneiros para desbravar as terras férteis no leste do Paraguai, estava Eleotério Pellenz, 88. Ele viajou à capital Assunção, mas foi surpreendido com altos valores na região central do país. Em outra tentativa, ofereceram a área sem qualquer infraestrutura e que ainda precisaria ser aberta para servir à produção agrícola.

Em troca do preço acessível e prazo de dez anos para pagar os 53 hectares, Pellenz precisou incentivar outros agricultores a povoarem o local. Longe da família, começou a trabalhar na sua nova propriedade em 1973. “O pai trabalhou um ano até conseguir trazer nós para o Paraguai”, lembra o filho Alcides Pellenz, 60, hoje dono de posto de combustíveis em Santa Rosa del Monday.

Com todos estabelecidos, o desafio foi a abertura de estradas e a extração de madeira para possibilitar o plantio dos alimentos de subsistência. A notícia das terras férteis se espalhou de forma rápida e promoveu o boom da colonização onde hoje é o estado paraguaio do Alto Paraná.

“Sinto muito orgulho em ter ajudado o pai na lavoura, isso me possibilitou mais tarde seguir nos estudos e buscar novas perspectivas de vida”, conta Pellenz. Ele ingressou no seminário com o objetivo de seguir na vida religiosa. Mais tarde percebeu que deveria retornar para o vilarejo onde cresceu e recomeçar.

ANTES DE CRUZAR A FRONTEIRA OS PAIS DE ALCIDES PELLENZ E JANE PETTER MORARAM NO PARANÁ. SEUS PAIS ESTÃO ENTRE OS PIONEIROS DA COLONIZAÇÃO

INTOLERÂNCIA E RACISMO

A partir do momento que ingressaram em solo paraguaio, os emigrantes tiveram de se adaptar às normas e leis locais. “O contato com os nativos, em primeiro momento marcado pelo racismo e intolerância, deu espaço ao convívio harmonioso e uma relação comercial que se fortaleceu”, lembra Alcides Pellenz ao mostrar um livro escrito por seu pai em castelhano.

O ecumenismo foi fator decisivo para garantir a integração entre povos. Católicos e evangélicos uniram esforços para instalar a primeira escola e construção de igrejas. Com o passar dos anos outras organizações religiosas tiveram representação na cidade de Santa Rosa del Monday. Em uma das ruas são pelo menos 12 igrejas.

"Aqui só não se salva quem não quer (risos)", brinca o empresário.

Pellenz lembra também que os atritos de expressão, divisa e ocupação persistem até hoje, mas foram atenuados com a legitimação dos brasi-

RELIGIOSOS CONTRIBUÍRAM PARA GARANTIR A EDUCAÇÃO DOS FILHOS DOS BRASILEIROS NO PARAGUAI

PEDRO SCHMITT NASCEU EM FORQUETINHA E JUNTO DE 11 IRMÃOS SE MUDARAM PARA SANTA ROSA DEL MONDAY EM 1974

guaios. Acordos e decisões políticas entre o Brasil e o Paraguai promoveram a regularização em 2010.

OCUPAÇÃO DAS ÁREAS E CONSTRUÇÃO DE MORADIAS Incentivado pelos pioneiros, o pai de Pedro Schmitt, 61, saiu de Forquetinha em 1974 para olhar a área. Encantado pela região, vendeu 12 hectares por 20 mil cruzeiros e comprou no Paraguai o dobro de terra pela metade do preço.

De Kombi, a primeira etapa da mudança foi feita até Foz do Iguaçu. “O pai já conhecia a região e foi um mês antes para construir uma casa de madeira. Nós somos uma família numerosa, eram 12 irmãos, hoje dois são falecidos”, conta Schmitt, que preserva o dialeto alemão e o sotaque germânico.

Na mudança para Santa Rosa del Monday, levaram duas novilhas, com a intenção de desenvolver a produção de gado. Quando já estabelecidos, negociaram um touro para começar na criação leiteira e para venda de carne.

Antes ainda, a família abriu roças para plantio de feijão, mandioca e cana-de-açúcar. A fonte de água da família provinha de um poço escavado de forma manual com 22 metros de profundidade. A retirada era feita com um balde amarrado em uma corda.

Com viajantes que cruzavam a região vindos da Argentina, a família negociava a farinha e vendia alguns de seus produtos cultivados naquela terra fértil. Os Schmitt também se destacaram na música. O pai e seis irmãos de Pedro tocaram o primeiro baile na localidade, tendo como instrumentos dois bandoneons.

O evento de estilo germânico marcou a construção da primeira escola no vilarejo. Além dela, havia apenas o imóvel da empresa que vendeu os

lotes de terra. “Nossos pais passaram dificuldades, não foi fácil esse início por aqui. Mas a união das famílias e a vontade de vencer superou tudo isso”, Hoje, ainda mantém a tradição de bailes e festas da terceira idade. “Apesar de tudo, não saberia viver em outro lugar a não ser aqui. Nossa região desenvolveu muito e em pouco tempo chegou a mecanização para transformar a realidade.”

Pai de três filhos, dois ajudam Schmitt na propriedade. Além da produção leiteira, cultivam 34 hectares de soja e milho. Também atuam na prestação de serviço e fabricam feno em propriedades do entorno.

O plantel leiteiro é formado por 60 vacas. O setor também enfrenta dificuldades, a exemplo do que ocorre no Brasil. Por lá, o litro de leite é vendido a 2,5 mil guaranis, na conversão direta representa R$ 1,84.

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EGOMAR KREMER É UM DOS PRINCIPAIS PRODUTORES DE GRÃOS NO LESTE DO PARAGUAI E VEREADOR EM SANTA ROSA DEL MONDAY

ENTRE O AGRO E A POLÍTICA

Em menos de duas décadas, mais famílias se somaram ao vilarejo e uniram forças para melhorar as condições de vida. O protagonismo dos colonizadores fez a região se desenvolver ao ponto de hoje contar com pelo menos 7,5 mil habitantes e ser município desde outubro de 1990.

O trabalho ainda muito braçal impossibilitava a produção em maior escala. Desta forma, muitas das negociações ocorriam entre as famílias ali estabelecidas.

“Quando nós chegamos, era tudo mato, tive de abrir um lugar para conseguir me instalar. Terminei a mudança apenas em 1978, dois anos depois de comprar a terra”, resume Egomar Kremer, 62, natural de Forquetinha.

Sempre atento ao cenário político do país, Kremer recorda do bom momento que viveu até a queda do ex-presidente Alfredo Stroessner, que governou entre 1954 e 1989. Descreve o governo do militar como incentivador do agronegócio e da colonização por parte dos brasileiros. “O sucessor já não tinha essa percepção e passamos por períodos de opressão.”

Kremer que começou sua propriedade com apenas dois hectares, conquistou seu espaço e hoje, por questão de segurança prefere não revelar o tamanho do patrimônio. Também passou a atuar e contribuir na comunidade. Com

isso, foi eleito vereador de Santa Rosa del Monday.

O agricultor e político reforça o fato de ter conquistado os direitos de um cidadão nativo. Ao comparar a região com a cidade onde cresceu, observa que faltaram incentivos e melhores condições para desenvolver cidades como Forquetinha. “Percebo que há problemas na sucessão daquelas propriedades, diferente da nossa realidade aqui no Paraguai.”

VOTO IMPRESSO

Kremer participa da política há 20 anos, está no segundo período na câmara de Santa Rosa del Monday. A estrutura é muito similar aos municípios brasileiros.

São 12 vereadores eleitos pela comunidade, com o diferencial de uma prévia com maior participação dos filiados. O mandato do parlamentar é por cinco anos.

Eleitores nascidos no Brasil não podem participar da escolha do presidente e governador, apenas no pleito local.

Outro diferencial é o voto impresso auditável. O país adotou essa modalidade junto do sistema eletrônico. O eleitor confere seu voto na cédula impressa e deposita em outra urna antes de deixar o local da votação. Mesmo com a verificação do voto impresso, a apuração dos dados promete ser rápida. Em média, o resultado é divulgado em até 40 minutos após o fim do prazo nas seções eleitorais.

OPORTUNIDADES AO EMPREENDEDORISMO Sobre a mesa do empresário Almiro Petters, 56, as bandeiras da Alemanha, Brasil e Paraguai. O retrato de um povo que tem orgulho das origens e escolheu uma região colonizada por brasileiros para desenvolver seus negócios.

A esposa é de Forquetinha, filha de Sereno Immich que também é um dos pioneiros da cidade de Santa Rosa del Monday. Ele saiu do RS, com um ano, quando moraram em Toledo/PR. Seu pai comprou a

ALMIRO PETTERS É GAÚCHO E CASADO COM CLAUDETE, NATURAL DE FORQUETINHA. EMPRESÁRIO DESTACA AS OPORTUNIDADES A PARTIR DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

terra em 1972, e entrou com a mudança em 1973.

“Foi louvável a coragem deles em entrar numa área de mata fechada. Alguns até falam que invadimos, mas não é.

Compramos e temos as escrituras”, reforça Petters. No início, a família abriu uma lavoura de dois hectares onde cultivaram aipim, arroz e feijão. A terra sem insetos e fungos garantia ampla produtividade.

Com o passar dos anos e os processos mecanizados, o culti-

vo de grãos ganhou protagonismo. Tanto a produção de milho e soja quanto o trigo na entressafra. Além de considerar um bom lugar de viver, Petters investiu em diferentes setores para aproveitar as oportunidades do agronegócio.

Além de vender insumos, o empresário é dono de moinho e silos. “Prosperamos muito nestes 50 anos. É uma cidade pequena, mas com muito potencial produtivo e de negócios”, resume Petters.

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LERCY E SERENO IMMICH VIVEM NO PARAGUAI DESDE 1976. ELES SAÍRAM DO VALE DO TAQUARI NA DÉCADA DE 60 E ANTES DE CRUZAR A FRONTEIRA MORARAM NO PARANÁ

“AQUI É MINHA PÁTRIA, É ONDE DECIDI VIVER” O orgulho pela cidade onde decidiram estabelecer residência prevalece até hoje. Os pais pobres e a experiência no Exército fizeram Sereno Immich, 78, perceber a vida de forma diferente. Ele saiu de Forquetinha em 1968 com destino ao Paraná e em 1976 para o Paraguai. Ao lado da esposa Lercy Immich, 76, che-

garam no início da colonização.

Em um espaço entre tocos de árvores, construíram uma pequena casa de madeira e lona.

O casal recorda da falta de infraestrutura naquela época. Até mesmo em Cidade do Leste os recursos eram escassos. Em um primeiro momento compraram uma terra em Santa Maria de Fé, mas não se estabeleceram por lá. Ficaram em Santa Rosa del Monday, onde iniciaram um comércio.

Naquela época, as negociações envolviam venda de menta,

algodão e depois os grãos. Os principais compradores eram da região de Assunção. Entre as dificuldades, a precariedade das estradas para levar os produtos.

A terra vermelha em dia de chuva dificultava a viagem. “Teve caminhão que ficou duas semanas na estrada e a soja brotou nos sacos”, lembra Sereno.

A instalação do primeiro silo no vilarejo ocorreu em 1977, por iniciativa de uma cooperativa de grãos. A extração de madeira e destocagem para o boom da produção de soja iniciou na década

de 80. Naquele período, em média, três famílias chegavam de mudança por dia.

“Santa Rosa del Monday é a cidade mãe em um raio de 100 quilômetros. Mas perdeu o protagonismo com a construção do asfalto que contemplou primeiro Santa Rita e tirou o movimento daqui”, detalha Sereno com o sentimento de frustração.

Apesar das dificuldades em desenvolver a região, o casal sente muito orgulho do lugar onde escolheram morar. “Aqui é minha pátria, é onde decidi viver”, enaltece

Immich. Os desafios atuais são em relação à previdência e saúde.

O sistema de governo do Paraguai tem carga tributária menor e com isso a arrecadação dos municípios também é impactada. Isso reflete na estrutura dos serviços à população. Várias famílias ainda mantêm vínculos com o Brasil para acessar o SUS ou até mesmo a aposentadoria.

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SAUDADE DA FAMÍLIA

Marcelo Wunder, 38, está desde 2004 no Paraguai. Ele conheceu a esposa Marciani Behling, 36, que já morava em Santa Rosa del Monday, durante visita aos familiares em Canudos do Vale. Os dois filhos, de 10 e 12 anos, nasceram do outro lado da fronteira. Ele trabalha em uma empresa de insumos agrícolas, na função de soldador e manutenção de máquinas.

Mesmo bem acolhido, sente saudade do Brasil e não descarta um dia voltar à terra natal. Até duas vezes por ano visita os pais e a irmã em Araguari, interior de Canudos do Vale. “Santa Rosa del Monday é um lugar bom de viver, temos bons empregos.”

Diferente do que muitos familiares pensam sobre como é viver no Paraguai, diz que o interior do país é muito produtivo e os costumes da população nas cidades colonizadas pelos brasileiros se assemelham com as cidades do Vale. “Nossa região não tem nada a ver com o agito de Cidade do Leste”, reforça.

Antes de trabalhar para uma das principais empresas da cidade, Wunder tentou empreender.

Chegou a montar uma empresa de fabricação de cercas em PVC. O resultado não atendeu as expectativas e desistiu do negócio.

DEPENDÊNCIA DAS COMMODITIES

Ao avançar pelo interior do Paraguai, o que se percebe são extensas áreas de milho ou soja.

A estiagem recorrente em dois ciclos comprometeu a produção de grãos no leste. Uma das cooperativas de Santa Rosa del Monday recebe 11 mil toneladas em anos de condições normais.

Na safra passada, registrou um volume cinco vezes menor. O cenário gera preocupação aos produtores, em especial quem

SALETE E JAIR WINTER MORAM NO PARAGUAI DESDE 1976. ELE É NATURAL DE TRAVESSEIRO E CONHECEU A ESPOSA, TAMBÉM GAÚCHA, EM SANTA ROSA DEL MONDAY

MARCELO WUNDER, DE CANUDOS DO VALE, MORA EM SANTA ROSA DEL MONDAY DESDE 2004. ELE NÃO ESCONDE A SAUDADE DA TERRA NATAL

CIDADES COLONIZADAS POR FAMÍLIAS DO VALE DO TAQUARI TÊM NA PRODUÇÃO DE GRÃOS A PRINCIPAL FONTE ECONÔMICA

arrenda áreas e ainda não está estruturado.

A quebra de produção compromete o pagamento de financiamentos e dos insumos da nova safra. Diferente do Brasil, onde há programas de acesso ao crédito com juros subsidiados pelo governo, no Paraguai a relação é direta entre cliente e instituição financeira ou até mesmo com a empresa que co-

mercializa a máquina.

HÁBITOS E COSTUMES PRESERVADOS

Além da culinária, músicas e futebol, os canais de televisão também são brasileiros. Mesmo em outro país, as famílias querem estar por dentro do que acontece no Brasil.

Quem faz esse ajuste é o técnico em eletrônica Jair Winter, 55.

Ele é natural de Três Saltos, interior de Travesseiro. Em 1975, seu pai foi conferir as terras onde o avô já havia se estabelecido um ano antes.

Por carta, dizia que era muito bonito, com terra produtiva e acesso a rios. Quando conheceu a área ficou encantado e logo decidiu vender as poucas coisas que tinha. Na despedida, familiares acreditavam que jamais os viram novamente.

Eles chegaram em solo paraguaio em fevereiro de 1976. A família nunca teve uma área de terra no Paraguai. No início ficaram na casa dos avós e em propriedade de um tio.

Quando chegaram tinham poucas casas no vilarejo, algumas com lona.

“As pessoas se ajudavam para plantar e colher, não haviam máquinas, o serviço era braçal.”

Winter recorda que o principal alimento era o pão de milho. “Nós ganhamos pão de trigo apenas em ocasiões especiais. Mesmo em um outro país, preservamos nossos hábitos e costumes.” A culinária tem por base pratos típicos e tradicionais dos germânicos e italianos, com um toque dos gaúchos. Os colonizadores pouco aderiram aos alimentos nativos.

Ainda criança, aos 12 anos, Winter começou a trabalhar como auxiliar de pedreiro e, mais tarde, no comércio do tio, que desenvolveu até

FUTEBOL É UMA DAS OPÇÕES DE LAZER NOS FINS DE SEMANA. RIVALIDADE PREVALECE ENTRE OS DOIS CLUBES DA CIDADE

estruturar um mercado. “A região era toda de mata. Não havia nativos, eles começaram a chegar depois dos brasileiros. Vinham com a proposta de comércio para atender as demandas dos imigrantes.”

Winter conheceu a esposa, também brasileira, quando chegou para trabalhar de cozinheira. Seu sogro atuava na construção de silos. Depois de oito meses de namoro, casaram. Os dois filhos nasceram em Santa Rosa del Monday. A filha, de 31 anos, morou no RS por um ano e depois voltou para o Paraguai.

Após bons períodos, Winter começa a perceber dificuldades. Chega a cogitar o retorno ao Brasil. “O salário mínimo está na faixa de R$ 1,7 mil, mas a carga tributária começa a pesar e falta a estrutura de saúde que existe no Brasil.”

TERERÊ NÃO SUBSTITUI O CHIMARRÃO Na bagagem, além das roupas e ferramentas agrícolas, as

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famílias levaram os hábitos e costumes. As características do povo gaúcho também perpetuam. No dia a dia não pode faltar o chimarrão. A bebida típica do Paraguai, o tererê, embora também seja consumida pelos imigrantes, não substitui o hábito gaúcho.

Diferente do chimarrão, seu preparo ocorre a partir de ervas medicinais denominadas “pohã

ñana” esmagadas em pilão e misturadas em água gelada. Já a erva-mate, a maior parte é comprada do Brasil, assim como o café. Outra bebida muito presente no cotidiano dos brasiguaios é o chá.

Na mesa, o aipim não pode faltar. Ele acompanha o feijão, o churrasco, a galinhada e outros pratos. Outra tradição dos gaúchos e preservada pelos brasi-

guaios é o costelão. A carne assada faz parte dos encontros entre amigos. Basta uma mensagem no celular que a confraternização está marcada.

BOTECO, CARTA E FUTEBOL

Antes do almoço, o boteco é ponto de parada para os “para-

gaúchos” onde, entre uma pinga e outra, jogam cartas e contam causos. No esporte, dois clubes tradicionais ainda seguem ativos na cidade. A quantidade de jogadores locais reduziu de forma significativa nos últimos anos. Hoje participam da quinta divisão da União do Futebol do Interior (UFE).

Há 30 anos eram pelo menos 20 clubes de futebol amador,

agora resistem apenas o 12 de Outubro e o Clube Desportivo Santa Rosa. A paixão mesmo é pela dupla Gre-Nal. As famílias e os grupos de jovens se reúnem quando as equipes gaúchas entram em campo. Em Santa Rita, os gremistas têm um paradouro certo para vibrar pelo seu time.

DUPLA GRE-NAL MOBILIZA COMUNIDADES COLONIZADAS

TORCEDORES DO OUTRO LADO

TORCIDA PRESTIGIA CLÁSSICO

POR GAÚCHOS PRESERVAM A

DA FRONTEIRA. AMIGOS

ENTRE 12 DE OUTUBRO E CLUBE

TRADIÇÃO DO COSTELÃO E

ACOMPANHAM FINAL DO

DESPORTIVO EM JOGO PELA

OUTRAS COMIDAS TÍPICAS DO SUL

GRÊMIO NO GAUCHÃO (FOTO)

QUINTA DIVISÃO DO FUTEBOL

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DE VOLTA AO VALE

Do segundo andar e com vista panorâmica para a Via Láctea, em Teutônia, o empresário Egomar Immich, 64, conta sua experiência do período que viveu em Santa Rosa del Monday. A ideia de deixar a região surgiu em 1988, quando trabalhava em uma distribuidora de bebidas em Estrela.

Naquela época, enfrentava problemas de saúde e recebeu proposta do irmão que já residia do outro lado da fronteira. A decisão de largar o emprego de 13 anos não foi fácil. Junto com Immich também migraram os pais e a irmã que ainda moravam em Forquetinha.

Todos embarcaram, mas com a promessa de um dia retornar.

A esposa Maristela não queria ficar em definitivo por conta da família. Immich trabalhou com o irmão proprietário de silos e comércio com mais de mil clientes.

A negociação deles envolvia a venda de menta e grãos.

“Ao cruzar a fronteira, se percebe a diversidade de etnias, diferente das pequenas cidades colonizadas pelos brasileiros”, lembra. Immich tinha experiência em estoque e setor administrativo que lhe proporcionaram rápida adaptação no trabalho. Entre os motivos que o fizeram retornar ao Brasil, está a falta de perspectiva de futuro fora da dependência da agricultura. A volta para o Vale do Taquari aconteceu em 1992.

Em Teutônia teve sociedade em oficina mecânica, fabricação e venda de chinelos e comercialização de aromatizantes. Em 2002, abriu a própria empresa no segmento e desde 2006 passou a industrializar. Agora em projeto de fabricação de aromas.

“Naquela época, não se tinha uma perspectiva de educação, o ensino superior era oferecido na capital Assunção ou do lado brasileiro em Foz do Iguaçu. Não queria que as nossas filhas ficassem sem graduação, era um sonho que eu tinha.”

APÓS QUATRO ANOS, EGOMAR IMMICH DECIDIU RETORNAR COM A FAMÍLIA PARA O VALE ONDE EMPREENDE NO RAMO DE AROMATIZANTES, COM UNIDADE EM TEUTÔNIA

Sem revelar números, pai e filho apenas dão alguns exemplos do potencial econômico gerado a partir daquelas terras que formavam uma imensidão de mata. Com o investimento em tecnologia, adquiriram máquinas robustas e elevaram a capacidade de produção por hectare.

“Nosso maquinário é importado da Europa. Um dos grandes diferenciais dessa região é a facilidade em negociar com países muito à frente em relação ao agronegócio”, destaca Vilson ao mostrar imagens de uma das recentes aquisições. A família investiu em uma colheitadeira de esteira, uma das mais avançadas

TECNOLOGIA E ROBUSTEZ NO CAMPO

A pecuária de corte é outra atividade de expressão. Entre as famílias tradicionais com raízes no Vale do Taquari, Vilson Schorr, 50, e o pai Ignâcio, 74. Eles têm propriedades em Naranjal e Santa Rita. Acreditam que o avô seja da região de Lajeado, mas moraram em Medianeira (PR) antes de ir ao Paraguai.

O início deles na produção agrícola também foi sofrido e árduo.

Depois de limpar as áreas e mecanizar a produção de grãos, investiram na criação de suínos e bovinocultura leiteira. A mais recente, o gado de corte.

IGNÂCIO E VILSON SCHORR TÊM PROPRIEDADES EM NARANJAL E SANTA RITA. ELES MANTÊM CONTATO COM FAMÍLIAS EM LAJEADO

no mercado.

HOTEL, SALÃO DE BAILES E VENDA DE CIGARROS Os pais de Telmo Pilger, 72, decidiram deixar o interior de Canudos do Vale quando ele tinha 11 anos. Primeiro, se estabeleceram em Toledo (PR) e dois anos depois compraram terras no Paraguai. A negociação envolveu 100 alqueires e três chácaras, sendo que no início se instalaram na vila de

Santa Rosa del Monday, em um barraco de madeira e zinco, com chão de terra batida.

Neste mesmo local construiu um hotel e mais tarde foi proprietário de um salão de festas.

O movimento gerado pelos imigrantes e nativos que iam até o vilarejo para fins comerciais fez o investimento prosperar. Pilger também ficou conhecido na região por negociar cigarros. A dificuldade em andar pelas estradas do interior fez com que poucos concorrentes se mantivessem neste segmento.

O dom pelos negócios fez a família evoluir em curto período.

Em paralelo ao cultivo de grãos,

ingressaram na venda de bebidas. Hoje são distribuidores da Coca-Cola e Ambev para a microrregião ao Sul do Alto Paraná.

“A nossa condição no Paraguai melhorou muito faz 20 anos, fruto do esforço dos colonizadores que por décadas trabalharam pelo melhor de suas famílias”, sintetiza Pilger.

Hoje, com a terceira geração da família Pilger estabelecida no Paraguai, os momentos difíceis são apenas lembranças. Há uma expectativa muito forte pelo desenvolvimento industrial no país, com ampla oferta de energia elétrica e incentivos para novos postos de trabalho.

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TELMO PILGER NASCEU EM CANUDOS DO VALE. NO PARAGUAI A FAMÍLIA EMPREENDEU COM HOTEL, SALÃO DE BAILES E HOJE CONTA COM DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS E OUTROS NEGÓCIOS VOLTADOS À AGRICULTURA

FIM DA INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA Em novembro de 2019 um senador foi afastado pelo governo paraguaio após atos de violência contra imigrantes brasileiros. Por um período de pelo menos quatro anos, as famílias sentiram insegurança e medo.

O empresário Emerson Pilger, 47, resume aquele momento como de frustração para quem era de fora do Paraguai.

Com o apoio do governo para manter boas relações internacionais, esses conflitos cessaram e medidas ju-

APÓS 32 ANOS DA EMANCIPAÇÃO, SANTA ROSA DEL MONDAY CONTA COM NOVO CENTRO ADMINISTRATIVO

diciais foram adotadas para garantir os direitos de quem protagonizou a colonização de uma das regiões mais produtivas do Paraguai.

Por outro lado, a segurança, inclusive para turistas, ainda está em processo de evolução. Moradores alertam para o que chamam de “perseguição” aos brasileiros. No interior, crimes em propriedades rurais também aumentaram com a valorização de equipamentos e dos produtos agrícolas.

Para garantir a segurança, Pilger contratou um vigilante armado. No ano passado, durante assalto à empresa de bebidas, um dos funcionários foi baleado e morto por criminosos. “Essas ações não

são comuns por aqui, mas precisamos ficar atentos. Assim como em qualquer lugar do mundo, há pessoas mal intencionadas.”

“A INDÚSTRIA É A BOLA DA VEZ”

Assim como ocorreu o boom na produção agrícola, Emerson Pilger acredita em uma rápida expansão do setor industrial. Dois são os fatores indicados pelo empresário.

Além da produção de energia com custo reduzido, há programas do governo para instalação de empre-

EMERSON PILGER FALA DA RÁPIDA EXPANSÃO INDUSTRIAL E DA FALTA DE SEGURANÇA EM DETERMINADAS REGIÕES DO PARAGUAI

sas com menor carga tributária.

“Aqui também se paga imposto, mas bem menos que em outros países. A grande diferença é que não há incentivos sociais. Se você trabalha tem o que comer, ninguém te dá coisas. Ao olhar para o Brasil, parece que o problema está no assistencialismo”, considera Pilger, que está à frente da distribuidora de bebidas.

Para a agricultura diz não haver espaço a novos produtores, todas as

áreas estariam ocupadas. “A terra valorizou muito e por isso fica inviável fazer negócios para ampliar a atividade. Mas tem vaga para quem quer trabalhar nas empresas”, reforça.

Outra área em desenvolvimento é a da educação. O Paraguai ganha destaque na formação de médicos.

Estudantes de outros países buscam a qualificação a um menor custo. “O custo aqui representa 30% em relação ao Brasil”, comenta Pilger.

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POR CARLOS WAGNER, JORNALISTA

carloswagnerreporter@gmail.com

ARTIGO ARTIGO

A RAIZ CULTURAL GUARANI FACILITOU A UNIÃO ENTRE BRASIGUAIOS E PARAGUAIOS

C

onheci, no final da década 80, a história dos brasiguaios, como são chamados os 350 mil agricultores brasileiros, sendo 30% deles gaúchos e seus descendentes, que nos anos 70 atravessaram a fronteira e foram povoar extensas regiões no Paraguai. Desde então tenho viajado para lá a cada dois anos escrevendo reportagens e livros. Vou citar um trecho da primeira dessas reportagens, que acabou se transformando, em 1990, no livro *Brasiguaios: homens sem pátria.* – Então quer dizer que não temos os direitos dos paraguaios porque não somos paraguaios; não temos os direitos dos brasileiros porque abandonamos o país. Mas me digam uma coisa: afinal, o que nós somos?

– Vocês são brasiguaios, uma mistura de brasileiros com paraguaios, homens sem pátria.

Foi deste diálogo – que aconteceu em 1985 entre um camponês e o então deputado federal Sérgio Cruz – que nasceu a expressão brasiguaios. A vida dos brasiguaios nunca foi fácil. Os primeiros que lá se estabeleceram enfrentaram de imediato um grande problema, porque a população local só falava guarani e espanhol. Mas outros motivos tornaram os anos 80 o período mais difícil para os brasiguaios. A maioria das propriedades que compraram tinha problemas de documentação. Muitas haviam sido vendidas para até cinco pessoas diferentes. Além disso, muitas dessas áreas já eram largamente utilizadas pelos campesinos, como são conhecidos os pequenos agricultores paraguaios, que praticavam uma agricultura de subsistência. Um terceiro motivo foi os movimentos de redemocratização de vários países da América do Sul que colocaram fim às ditaduras militares no Brasil (1964 a 1985) e no Paraguai (1954 a 1989).

Em 1975, os governos do Brasil e Paraguai iniciaram a construção da hidrelétrica de Itaipu, finalizada em 1984.

Itaipu fica no Departamento (estado) do Alto Paraná, uma região densamente povoada por brasiguaios. Na opinião dos nacionalistas paraguaios, a presença deles era uma ameaça à integridade do território do Paraguai. Em todas as eleições, vários candidatos defendiam a expulsão dos brasiguaios.

Com o tempo, essa bandeira política perdeu força. Por quê?

Os brasiguaios começaram a se misturar com a população nativa por meio de casamentos, sociedade em negócios e participação na vida política e cultural do país. Nos dias atuais vivem no Paraguai mais de 1 milhão de brasiguaios. Eles tornaram o país um grande produtor de grãos e carnes (suínas e frango) e transformaram pequenas cidades, como Santa Rita, em importantes centros de produção e comerciais.

Bem antes do Brasil e do Paraguai serem povoados pelos europeus os índios guaranis perambulavam pela região. As fronteiras foram erguidas bem depois pelos colonizadores.

Tanto brasileiros, em especial os gaúchos e seus descendentes, quanto os paraguaios, têm uma forte influência da cultura guarani. O brasiguaio hoje é um cidadão paraguaio, um “doble chapa” como chamam na fronteira com o Uruguai aqueles que têm as duas nacionalidades. Digo que a raiz da cultura guarani que une brasileiros e paraguaios facilitou a integração dos brasiguaios e assegurou a sua sobrevivência.

OS PRIMEIROS QUE LÁ SE ESTABELECERAM ENFRENTARAM DE IMEDIATO UM GRANDE PROBLEMA, PORQUE A POPULAÇÃO LOCAL SÓ FALAVA GUARANI E ESPANHOL. MAS OUTROS MOTIVOS TORNARAM OS ANOS 80 O PERÍODO MAIS DIFÍCIL PARA OS BRASIGUAIOS.