Primeira mao dezembro 2015

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Revista Laboratório do curso de Jornalismo Universidade Federal do Espírito Santo Ano XXVI Dezembro 2015 edição 144

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FALTA ÁGUA SOBRA LAMA Enquanto a água ameaça desaparecer, o rio Doce é encharcado de lama tóxica em dois grandes desastres ambientais - Páginas 4 a 11.

O BARRO, O MANGUE, AS PANELAS

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ALIMENTOS AGROECOLÓGICOS primeira páginaDEZ015 22

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PRIMAVERA FEMINISTA

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mais do que amigo Espírito Santo ganhou seu primeiro Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-Guia

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EDITORIAL Para encerrar com chave de ouro a participação da turma de Jornalismo 2013/1 na Revista Primeira Mão, nós convidamos a você, caro leitor, a refletir sobre dois temas preocupantes: a maior crise hídrica dos últimos tempos no Espírito Santo, e os impactos ambientais causados pelo rompimento da barragem de resíduos de minério da Samarco, em Mariana, causando impactos ambientais, sociais e econômicos. Nossos repórteres foram a campo para entender a real causa desses problemas e como a lama que atingiu o Rio Doce pode agravar ainda mais a situação da seca. Nessa 144ª edição nós apresentamos um conjunto de reportagens, entre as quais se discute a importância da prevenção ao câncer de próstata e a comercialização de alimentos orgânicos, além de as novidades importantes, como a inauguração do primeiro Centro de Treinamento de Cães-Guia do Estado A cultura também tem um espaço especial nessa última edição de 2015, com os 10 anos da saga Star Wars, a força do mercado de livrarias sebo, e o cotidiano das famosas paneleiras de Goiabeiras. Agradecemos por nos acompanhar até aqui, aproveite a leitura e boas festas!

SumÁrio CRISE HÍDRICA

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DESASTRE AMBIENTAL

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SEBOS 16 CAMINHONEIROS

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VIDA NO HOSPITAL

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MARIA DA PENHA

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ALIMENTOS ORGÂNICOS

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PRIMAVERA FEMINISTA

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AS PANELEIRAS

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LIÇÕES NO MANGUE

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NOVEMBRO AZUL

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CORPO E ARTE

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STAR WARS

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JORNALISMO

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ASTROLOGIA 30 Primeira Mão está utilizando nos seus textos principais a fonte tipográfica Ufes Sans, desenvolvida pelo Laboratório de Design História da Ufes. Autores: Ricardo Esteves e Filipe Motta.

Expediente

LIVROS Os livros ainda são importantes meios de educação e entretenimento. Editoras e sebos estão aí para garantir leitura de qualidade.

Primeira Mão é uma revista laboratório, produzida pelos alunos do 6º período do curso de Comunicação Social/Jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo (Av. Fernando Ferrari, 514, Goiabeiras | Vitória ES CEP 29075-910) revistaprimeiramao@gmail.com. Ano XXVI, número 143. Semestre 2015/02. Reportagem e edição: Andreia Ferreira, Ariane Barbosa, Barbara Coutinho, Bianca Vailant, Brigida Valadares, Bruna Vermeuln, Carina Dall Orto Costa, Caroline Pinna, Geraldo Campos Junior, Jessyka Saquetto, Julia Pavin, Julia Zumerle, Juliana Benichio, Kayque Fabiano, Lais Rocio, Lorraine Paixao Lopes, Luiza Marcondes, Mariah Friedrich, Nadine Alves, Paloma de Oliveira, Rafaela Laiola, Thalita Mascarelo, Thamara Machado, Vil Rangel. Foto de Capa: Rafaela Laiola; Diagramação: Barbara Coutinho, Paloma de Oliveira, Kayque Fabiano e Ruth Reis. Professora orientadora: Ruth Reis Impressão: Gráfica Universitária

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A fonte está secando O estado do Espírito Santo está vivendo a maior crise hídrica dos últimos tempos. Os efeitos da estiagem prolongada já afeta grande parte dos municípios capixabas e só tende a piorar. Diante de tal situação, várias medidas estão sendo desenvolvidas para amenizar o problema. Andreia Ferreira e Juliana Benichio

Já experimentou ficar um dia sem beber água? Segundo estudos, o ser humano consegue sobreviver três a cinco dias sem tomar água, porém, um único dia já é suficiente para se ter uma sensação muito desagradável. A estação mais quente do ano já bateu em nossas portas e nesse calorão tudo o que queremos é poder nos refrescar e nos manter hidratados. Logo, é no verão que o consumo de água aumenta consideravelmente. Para este verão, está previsto que a temperatura média aumente em três graus. Vários fatores contribuem para essa elevação e, segundo estudos feitos por cientistas, o fenômeno do El Niño é um deles. Em uma breve explicação, esse fenômeno refere-se a um superaquecimento das águas do Oceano Pacífico na região tropical, que pode afetar fatores climáticos regionais e globais. Aparece em intervalos de dois a sete anos, com um período de duração que varia de 10 a 18 meses. O professor do Departamento de Engenharia da Ufes Antônio Sérgio Mendonça, PHD em Engenharia de recursos hídricos, afirma que existe um trabalho científico publicado em 1983 mostrando que o El Niño causou recordes de máximas temperaturas em parte do planeta e mínimas temperaturas em outras; DEZ2015

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enchentes muito fortes em algumas áreas e secas extremas em outras. “Acontece que o El Niño aumenta os extremos de temperatura e do volume de chuva. Esse fenômeno tem dois efeitos marcantes no Brasil: é muita chuva no sul e temperaturas recordes de seca no nordeste”, diz Antônio. Meteorologistas alertaram que neste ano haveria uma intensificação nos efeitos decorrentes do fenômeno. Portanto, o que estamos vendo são os reflexos provocados pelo El Niño. O sul do país está sendo castigado com muita chuva, enquanto que o Sudeste e o Nordeste estão sofrendo com a estiagem. O Espírito Santo está passando por uma das piores crises hídricas de sua história e a seca prolongada já afeta boa parte da população capixaba. A pergunta que fica é: o que fazer para evitar o desperdício de água em um verão escaldante e com poucas chuvas? Outras secas Há registros de que existiu no estado um período significativo de seca nas décadas de 50 e 60, e, no intervalo das décadas de 80 e 90, ocorreram secas menores. Os grandes rios que abastecem a Grande Vitória chegaram a ter o volume de água abaixo do estado crítico no co-

meço do ano, e tal situação tem se tornado cada vez mais grave. O engenheiro Antônio Sérgio fala sobre a construção de barragens por conta própria. “Quando não existe uma gestão adequada, a população procurar um jeito de resolver o problema. Nessa seca no final da década de 80, por exemplo, muitos fazendeiros foram pegos desprevenidos. Morreu o gado, morreu plantação e cada um construiu, então, uma barragenzinha dentro de sua propriedade”. Essas barragens causam grandes danos ao meio ambiente, uma vez que não são, na maioria das vezes, construídas e administradas corretamente. “O ideal é que se construa um reservatório para uso múltiplo, tanto para os irrigantes, como para a cidade, operada para todo mundo e construída com técnica e segurança, e não cada um fazer do seu jeito” diz. Além disso, o professor também comenta que a elaboração de um plano estadual de recursos hídricos é muito importante, pois “decidir onde vai ser um reservatório como esse de


Fred Loureiro/ Secom ( 12/11/2015)

O Rio Doce, o maior do ES, vem sofrendo há anos um processo de assoreamento, agravado pela pela seca de 2015. (foto obtida em www. fotospublicas.com: 12/11/2015- Colatina- ES, Brasil- imagem aérea mostra a lama no Rio Doce, na cidade de Colatina.) uso múltiplo, por exemplo, depende de um plano de todas as bacias do estado”. Mendonça explica que, no passado, muitas pessoas não tinham noção de como utilizar corretamente os meios de captação de água que a natureza fornece. As construções indevidas de barragens e perfurações de poços trouxeram consequências que são sentidas até os dias de hoje. Segundo ele, a seca no rio não é imediatamente devida à falta de chuva. “Tem uma quantidade de água que está armazenada na bacia e ela, quando não chove, vai saindo pelas nascentes, sai pelo fundo do rio. A maior parte da água que alimenta o rio durante o período de seca está saindo lá do subsolo”, explica. O professor enfatiza que a árvore tem um papel muito importante nessa questão de reservar a água em períodos sem chuvas. Muitas áreas são desmatadas e há substituição de árvores para construção de pastagens. Além disso, a degradação das bacias hidrográficas é resulta-

do, principalmente, da urbanização do espaço, de sua impermeabilização, o que reduz a infiltração e a recarga do lençol subterrâneo. Tudo isso faz com que o problema seja ainda mais grave. Antônio informa que em 1997 foi instituída a política nacional e estadual de recursos hídricos, uma série de instrumentos que serviriam para a questão de gerenciamento da água. Para o professor, os problemas provenientes da seca no Estado não são recentes, e é necessário que as ações elaboradas sejam aceleradas. “O que tem que se pensar é que essa questão não é algo para se tratar prioritariamente só depois que ocorre o problema. Tem que ser uma política de longo prazo”, afirmou. Além disso, conscientizar a população sobre o uso e economia da água é também, para Antônio, uma medida indispensável. “Conscientizar sobre uso de mangueira pra lavar calçada, carro, é positivo. Quando presencia uma série de vazamentos na rua é preciso comunicar imediatamente a concessio-

nária de saneamento pra resolver. Tem também o aproveitamento de águas de chuva, alguns prédios já possuem, por exemplo, sistemas em que a água que cai do telhado se dirige a uma grande caixa d’água que você usa pra regar jardim, etc. Podemos também, ao invés de jogar no rio, reutilizar o esgoto para uso menos nobres, como irrigação, paisagismo, desde que tratado e sem causar riscos à saúde pública” enfatizou.

Engenheiro Antônio Sérgio Ferreira Mendonça, PHD em Engenharia de recursos hídricos, defende urgência na adoção de medidas de combate à crise hídrica

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IMPACTOS no interior Uma das regiões mais atingidas pela seca no estado é o norte. Segundo o professor Antônio Sérgio, “grande parte das chuvas que caem no Estado vem do Sul, e nós temos a montanha, que funciona como uma barreira natural. Então, um tipo de chuva (orográfica, aquelas que ....) faz que o vapor d’água suba para poder condensar e isso ocorre nas montanhas”. Matilde, por exemplo, é um dos locais que chove 2.100 mm por ano, enquanto no norte tem áreas com menos de 800 mm. Essas regiões que estão após as montanhas não conseguem receber a chuva, pois as nuvens foram impedidas de chegar nestes locais. Contudo, o nível da seca está tão elevado que ela está presente até nas regiões serranas, onde o clima costuma ser mais fresco. Mas os seus efeitos podem ser mais senti-

Vera Luduvico, mostra o baixo nível da nascente que sempre abasteceu a sua propriedade. Hoje, onde passava o córrego, existe uma mangueira que por onde a pouca água flui

Estado e municÍPIOS DISCUTEM FORMAS Muitos municípios do estado estão em situação extremamente alarmante, sobretudo na região Norte. Diante disso, foram tomadas medidas de preservação da água pelo poder público. Em alguns lugares, o uso da água está definido apenas para o consumo humano e animal. Quem desperdiçar água para outro fim está sujeito a multas e outras penalizações. Essas resoluções não chegaram apenas para os moradores, mas também para empresas que estão localizadas nessas regiões onde a situação de abastecimento é crítica. O uso da água é permitido entre o horário de 18h às 5h. Nas

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outras horas do dia o consumo se limita ao uso humano e animal, de forma racional e consciente, evitando desperdícios. A Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) está aplicando medidas para o bem comum. De acordo com a nova norma estabelecida pela instituição, o volume de água fornecido para grandes indústrias deve ser reduzido também na Grande Vitória, uma vez que as empresas situadas nesses locais utilizam muita água devido ao seu porte O engenheiro Antônio Sérgio Mendonça informa que grandes empresas contam com sistemas

de reaproveitamento de que alcançam aproximadamente 99% da água. “Elas rodam, rodam e só adicionam o que evaporou, o que foi perdido. Sabem que água custa dinheiro e sabem que não são prioridade, então para evitarem gastos, poluição e problemas com órgãos ambientais, agem no sentido de reduzir ao mínimo o uso de água para produção. Entretanto, grande parte do volume potável de água é destinada a abastecer essas grandes indústrias e, por isso, as resoluções vieram com intuito de diminuir o consumo provocado por elas”. Em reunião realizada em ou-


dos no interior do Estado do que nas regiões da Grande Vitória. Mais de vinte municípios estão em situação de racionamento. Desses, a grande maioria é localizada no interior, o que dificulta ainda mais o abastecimento. Em alguns locais, os rios que atendiam a cidade secaram, e as casas estão sendo abastecidas com caminhões-pipa. Em cidades como Itapemirim, Marataízes e São Mateus a água que chega à torneira é salgada. No município de Marechal Floriano, em Soído de Baixo, algumas famílias estão sendo prejudicadas pela falta de chuva. Moradora há cerca de 20 anos, Vera Ferreira Luduvico conhece sua propriedade há 40, e está preocupada com a transformação da nascente que abastecia mais de seis famílias na região. “Onde antes corria uma água límpida e abundante, hoje há folhas e lama”, contou a proprietária do terreno. Nunca houve uma seca tão prolongada, nada ao ponto de secar

a nascente e ser necessário furar poços para dar conta do abastecimento. Perguntada sobre as leis que estão regulamentando o uso da água, ela diz que está ciente das ações de como preservar e como não ser punida pelo desperdício. “Eu lavo o arroz e com essa água eu molho o pé de couve, eu não perco uma gota d´água”. Sobre a fiscalização, Vera diz que só ouviu comentários, mas que ninguém de algum órgão, a fim de fiscalizar, foi visitar a sua propriedade nem as que estão ao redor. “Ouvimos comentários que não poderá ter mais tanques com peixes. O tanque que temos aqui era abastecido com a água da nascente que descia por gravidade, mas não vamos mais poder usar por causa da escassez. Já fizemos um reservatório aqui dentro do quintal para colocar os nossos peixes”. Vera conta também como está fazendo para poupar água. “Toda a vida eu fui econômica com tudo,

com a água principalmente. Independente da crise eu sempre falei: temos que economizar água. Eu pego água do tanquinho e jogo ela nas plantas, pego água da máquina e limpo toda a casa. Antigamente, a gente lavava a louça em uma bacia, e a água que sobrava dava para os animais,. Na rádio, eu ouvi eles ensinando a mesma coisa. Para as criações tem um córrego bem pequenininho, que está morrendo aos poucos, e o gado bebe água lá. Para as galinhas, a gente coloca a quantidade que nós sabemos que elas bebem, uma panelinha. Todas as crises passam, mas a crise da água está sendo muito triste.” Outra medida que a proprietária da casa falou que vai tomar é utilizar copos descartáveis, já que recebe muitas visitas e consequentemente sujam muitas louças, trocando-as por descartáveis poupa a água para lavar. Segundo ela, lavando um copo sujo são necessários três outros copos de água limpa.

DE ATENUAR O DESPARECIMENTO DA ÁGUA tubro entre o governador Paulo Hartung, representantes de municípios, secretário do governo e o presidente da Cesan , foram apresentadas várias alternativas para que o abastecimento de água seja normalizado. Acordos de cooperações também foram assinados pelos municípios com o compromisso do uso consciente da água. O secretário da Agricultura, Octaciano Neto, disse à imprensa que serão iniciadas as obras para construção de 32 barragens no interior do estado. Também serão investidos cerca de R$70 milhões para a obra de captação e tratamento de água do rio Reis

Magos, localizado em Nova Almeida, na Serra. A previsão é que fique pronta em 2017. Com a captação no rio Reis Magos, parte do volume de água do rio Santa Maria ficará disponível para abastecer outras regiões do município de Serra e Vitória. O Santa Maria, por ser um dos responsáveis pelo abastecimento de parte da Grande Vitória, também está em estado alarmante. O programa Reflorestar, outra iniciativa do governo do Estado, consiste no incentivo aos agricultores a plantar espécies de árvores nativas que são fundamentais para manter as nascentes. O projeto auxilia o produtor

com recursos financeiros para a compra de mudas e insumos necessários. Outro programa é o Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas. O objetivo é a redução da erosão e assoreamento dos mananciais nas áreas rurais. De adesão voluntária, esse projeto prevê o apoio técnico e financeiro à execução de ações de conservação da água e do solo. Também conta com benefícios financeiros aos produtores rurais que, comprovadamente, contribuem para a proteção e recuperação de mananciais, gerando ganhos para a bacia e a população.

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Júlia Zumerle e Mariah Friedrich

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s prejuízos causados pelo rompimento das barragens de Fundão e Santarém, pertencentes à Samarco, no município de Mariana (MG) no dia 5 de novembro, tiveram consequências que ainda estão sendo avaliadas por especialistas de diversas áreas. Estima-se que foram despejados o equivalente a 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos no distrito de Bento Rodrigues e no Rio Doce. As proporções que esse acontecimento tem tomado o colocam como a maior tragédia ecológica da história do Brasil. Segundo levantamento feito pelo Volt Data Lab, em parceria com o Aos Fatos (agência e plataforma independentes de jornalismo), a partir de dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministério de Minas e Energia, há no Brasil um total de 598 barragens de mineração. Destas, 29 foram classificadas com alto risco de rompimento. A negligência da mineradora no caso de Mariana é atestada pelo fato de a licença de operação da barragem de Santarém estar vencida desde 2013, de acordo com o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) de Minas Gerais. Sobre catástrofes e suas equivalências, o filósofo francês Jean-Luc Nancy já sustentava que não se pode falar em acidentes naturais, quando por trás desses estão atividades produzidas pelo homem. Os desastres atuais são fenômenos artificiais. “O estado do capitalismo em superaquecimento financeiro em face da irresponsabilidade de uma empresa produtora de energia, os deslocamentos das relações geoeconômicas e políticas são a evidência crescente da ausência de reflexão a longo e mesmo médio prazo, tanto ecológica quanto tecnológica, sociológica e de civilização.”, des-

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creve o filósofo em entrevista para a publicação francesa Humanité sobre a sua teoria desenvolvida a partir de análises do desastre nuclear de Fukushima (Japão), ocorrido em março de 2011. O Rio Doce, que já passava por uma fase de estiagem bastante delicada, teve seus problemas acentuados com a onda de lama que vazou das barragens. Além do comprometimento dos ecossistemas do rio, o estrago se estende aos ecossistemas associados. O Parque Estadual do Rio Doce, maior remanescente de Mata Atlântica em Minas Gerais, teve grande parte de sua fauna e flora destruídas, segundo especialistas. Outro problema que surge

dessa conjuntura é a indisponibilidade de nutrientes e recursos no solo das regiões afetadas e no curso de água, que foram soterrados pela lama. O desastre tem também como consequência a intensificação do assoreamento do Rio Doce, que, por sua vez, é irreversível e traz com ele a perda da vegetação subaquática e do entorno, a mudança do seu curso e a maior suscetibilidade a enchentes. Antecipando-se à lama que chegou à cidade no domingo, 15 de novembro, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu (ES), primeiro município atingido no estado, desenvolveu análises da água contaminada e


TRAGÉDIA ANUNCIADA O Rio Doce sofre os impactos da negligência que resultou no maior desastre ambiental do país

Foto: Paulo de Araujo/ MMA (23/11/2015), obtida em www.fotospublicas.com

encontrou níveis alarmantes de metais como arsênio, chumbo, cobre, mercúrio, ferro, alumínio e outros, que, em excesso e em determinadas condições de solubilidade em água, são nocivos à saúde humana. O índice de ferro apontado no relatório da SAEE estava 1.366.666% acima do que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula como aceitável, enquanto a concentração de alumínio estava 645.000% maior do que o normal. Durante debate promovido pelo Centro Acadêmico de Oceanografia da UFES, o professor Agnaldo Martins, doutor em Oceanografia Biológica pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg), explicou que

a lama proveniente das barragens é formada no processo de obtenção do minério de ferro e é uma mistura da água utilizada durante a extração e da camada de solo que cobria o minério. Esse material, apesar de natural, é armazenado em reservatórios para evitar danos ambientais devido a alta concentração dos metais que o compõem. Agnaldo acredita que apenas a concentração não determina se a água se tornou tóxica. É preciso avaliar o estado de biodisponibilidade em que esses componentes se encontram, que é o que determina se eles estão passíveis de serem absorvidos pelos organismos e contaminá-los. Em nota, a Samarco sustenta que

o material dos rejeitos é inerte e não tóxico e afirma estar tomando as providências possíveis para amenizar as consequências da tragédia. A empresa pertence à companhia brasileira Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, que foi multada em US$ 77 mil por derramamento de cobre no Peru. Para Alex Bastos, doutor em Oceanografia Geológica pela University of Southampton, no Reino Unido, muitas especulações têm circulado devido à baixa quantidade de informações técnicas apresentadas à população. Ele afirma que o problema apenas começou no rompimento das barragens, suas consequências ainda serão sentidas por

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Protestos em Vitória por responsabilização da Vale Em Vitória, a população tem protestado contra as violações praticadas pela mineradora. A Frente Capixaba de Lutas, composta por entidades sindicais, fóruns, movimentos sociais, partidos de esquerda e coletivos, tem articulado militantes, pesquisadores e estudantes, entre outros setores da sociedade, para exigir a responsabilização da empresa e questionar o modelo de desenvolvimento em vigor no país. Na sexta, 13 de novembro, e na segunda-feira, 16, os manifestantes saíram da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e seguiram até a sede da Vale, onde aconteceram intervenções artísticas e a encenação da morte do Rio Doce. “Era uma tragédia anuncia-

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da! A Samarco/Vale/BHP já vêm cometendo sucessivos crimes socioambientais e vêm sendo combatidas e denunciadas por diversos movimentos sociais, entidades sindicais e ambientalistas por crimes que vão de poluição de rios a agressão a comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e pesqueiras”, pressiona a organização. As principais pautas defendidas nos protestos foram a paralisação dos processos de licenciamento de construção e manutenção de barragens; levantamento das famílias atingidas e negociação coletiva junto às comunidades; realização de consulta popular prévia para empreendimentos que interferem no meio ambiente e na dinâ-

mica de comunidades e controle social das empresas que exploram recursos naturais. Em nota, a Vale alega estar priorizando o monitoramento e a mensuração das consequências do estrago e promete providenciar apoio adicional às prefeituras e comunidades. “Nós e a BHP Billiton nos comprometemos a apoiar a Samarco e já estamos criando um fundo de emergência para trabalhos de reconstrução e para ajudar as famílias e comunidades afetadas. É nossa intenção trabalhar com as autoridades para fazer este fundo funcionar o mais brevemente possível”, publicou a empresa em resposta aos questionamentos que a população tem feito na sua página do Facebook.


Antonio Cruz/ Agência Brasil (09/11/2015)

Antonio Cruz/ Agência Brasil 09/11/2015

Rogério Alves/TV Senado (19/11/2015)

décadas. “Só um desastre dessa magnitude para mostrar que a preocupação com o meio ambiente vai além de salvar baleias ou plantar árvores. Ela está relacionada ao modo de vida das pessoas, à saúde pública, à economia”, concluiu. Os impactos socioeconômicos também são complexos de serem solucionados. O número oficial de mortes ocasionadas pelo rompimento das barragens divulgado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais é de 11 pessoas, embora exista um número considerável de desaparecidos. Os danos vão desde prejuízos à vida dos habitantes das regiões afetadas até dificuldades no tratamento e distribuição de água para as comunidades. “O pescador não pesca, o agricultor não irriga. Fica tudo paralisado. O principal impacto recai sobre a população, por conta do desastre e da loucura que se fez com a desinformação sobre o que aconteceu”, analisa Daniel Rigo, doutor em Engenharia Oceânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rigo afirma ainda que diante da dimensão do estrago há poucas coisas que os seres humanos podem fazer para recuperar os danos ao Rio Doce. “Nesse espaço de tempo nós não temos ferramentas nem meios. O que podemos fazer? Rezar duas vezes. Uma para chover e outra para essa lama não ser tóxica. A recuperação não é uma coisa que vai acontecer a curto prazo. Esse processo só está começando e ainda vai durar anos. O que vai transportar essa lama é basicamente a vazão do rio. O poder público, junto à empresa, vai ter de trazer de novo uma ordem para o funcionamento das regiões afetadas, porque no momento é um caos instalado. O quanto antes é preciso restabelecer os sistemas de tratamento de água, a vida naquelas cidades tem que continuar.” Segundo a professora Caroline Grilo, PhD em Oceanografia Ambiental, é preciso que seja feito um monitoramento de todo o processo.

O distrito de Bento Rodrigues, em Marina (MG), foi todo destruído no dia em 5 de novembro pela lama de rejeitos de minério, que desceu da barragem Fundão, operada pela Samarco, que é de propriedade da Vale e da BHP Billiton.

Um fator agravante se deve à quantidade de organismos mortos que foram soterrados pela lama e estão em decomposição no Rio. O acúmulo de matéria orgânica neste estado aumenta o número de bactérias decompositoras que consomem oxigênio; e a baixa oxigenação na água, além de levar peixes e outros organismos aeróbicos à morte por asfixia, favorece a mudança de estado dos metais presentes nos rejeitos que se misturaram à água para o seu estado tóxico. Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro do Conselho Editorial da Revista de Direito Ambiental, o professor da Ufes Marcelo Abelha afirma que a legislação vigente no Brasil já prevê a responsabillização das empresas em casos de danos ao meio ambiente derivados de suas atividades, o que dispensa discussões em relação à culpabilidade. “Este é o pior acidente ambiental da história do país. Não

há um precedente que orienta como proceder. No meu sentir, a Samarco deveria buscar uma solução pacífica junto ao Ministério Público e o poder público e formar uma comissão de gestão/resolução do dano ambiental à semelhança do que já foi feito em outros acidentes deste porte no mundo. É preciso fazer um grupo de atuação emergencial e outro a longo prazo. Uma auditoria externa, de empresas estrangeiras com expertise no assunto (acidentes ambientais) e cumprir o plano de ações a médio e longo prazo”, propôs. Ele cita o artigo 14, §1º da Lei 6938/81, o qual determina que “é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.”

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Mais do que amigo O Espírito Santo ganhou seu primeiro centro para formar instrutores e treinar cães-guia. Brígida Valadares e Geraldo Júnior ACS/Ifes

Que o cachorro é conhecido por ser o melhor amigo do homem, todo mundo sabe. Mas, além da lealdade e do carinho que os cães proporcionam, alguns deles têm uma função ainda mais importante: a de emprestar seus olhos para deficientes visuais. O número estimado de cães-guia no Brasil não passa de 100 animais, para uma população de 506 mil pessoas cegas, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. No entanto, apesar do grande número de deficientes visuais e da eficácia de um cão-guia no cotidiano de um cego, existem poucas instituições no País que treinam e distribuem esses animais. Para o deficiente visual DouDEZ2015

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glas Christian Ferrari de Melo, que é doutorando na área de Educação e líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Deficiência Visual e Cão-guia do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), esses animais podem ser considerados como uma tecnologia na questão da acessibilidade. “O cão-guia propicia aos deficientes visuais mais autonomia e independência. Uma de suas funções é a de ajudar a esse deficiente a se proteger dos obstáculos aéreos, como postes e orelhões que acabam não sendo percebidos só com o uso da bengala”, comenta. Treinamento Em agosto deste ano o Espírito Santo ganhou seu primeiro Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de CãesGuia. O Centro de Treinamento (CT) foi instalado no Campus de Alegre do Ifes e faz parte do

Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Viver Sem Limite, que foi lançado em 2011 pelo Governo Federal. O CT de Alegre é o segundo no Brasil, e o primeiro a ofertar um curso técnico nessa área. O curso é destinado a quem já concluiu o Ensino Médio e tem duração de dois anos. Serão ofertadas 20 vagas e o processo seletivo acontece por meio do Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec), do Ministério da Educação. O objetivo da capacitação é formar profissionais com consciência ética e capazes de atuar com competência no treinamento e instrução desses animais, proporcionando um aumento no número de cães-guia em atividade no País e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência visual.


Os cães usados para esse treinamento são da raça labrador, que são conhecidos por serem rápidos, inteligentes e por terem um faro apurado. O treinamento será dividido em várias etapas. A primeira delas é a socialização dos filhotes depois de chegarem ao Estado já desmamados. Nessa fase, 20 cãezinhos são acolhidos por famílias socializadoras em suas casas, pelo período de um ano. De acordo com a professora do CT, Cláudia Castro de Carvalho Nascimento, essas famílias são voluntárias e acolhem o cão por um período de 15 meses. “As famílias foram selecionadas a partir de um cadastro, seguido de entrevista, visitas in loco e capacitação. Todo apoio necessário é dado a esses voluntários. Cada família recebe um kit de manutenção do animal e são realizadas visitas mensais de veterinários”, afirma. A servidora pública Moramey Regattieri é uma das famílias socializadoras do projeto e afirma que a experiência é maravilhosa. “Não se trata só de interagir com o animal, mas é muito bom quando a gente está com esses deficientes visuais e você entende a dimensão do trabalho e do impacto que ele vai ter na vida dessas pessoas. A partir desse contato a gente passa a ter certeza de que vai conseguir devolver o cachorro. Não existe uma questão financeira nisso, você faz por prazer, é uma entrega. O projeto faz tanto bem para mim quanto para o deficiente que vai receber o cão”, contou. Após esse período de adaptação a uma rotina, os cachorros serão entregues pelos voluntários para completar seu treinamento junto aos estudantes em formação, em Alegre. Esse treinamen-

to será realizado em duplas compostas por um cão e um deficiente visual, que terão o acompanhamento de um estudante. Essa instrução dos animais acontecerá dentro das disciplinas do curso técnico. Quando os alunos concluírem o curso, os animais serão entregues a pessoas com deficiência visual, já cadastradas pelo Governo Federal por meio da chamada do programa Viver Sem Limite. A previsão é de que todo esse processo leve dois anos. Para Douglas essa novidade é muito importante e gera muita expectativa na comunidade de deficientes visuais. “Esse pro-

jeto é muito rico para o Estado pois da visibilidade à causa dos deficientes visuais, além de chamar a atenção de outros lugares para esse tipo de iniciativa”, comentou. A lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005, assegura que à pessoa portadora de deficiência visual usuária de cão-guia o direito de ingressar e permanecer com o animal nos veículos e nos estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo. (Fonte: Ministério da Casa Civil).

Mais informações sobre o projeto no site www.alegre.ifes.edu.br2 ou pelo telefone (028) 3552-8430.


Mundo dos livros Ler contribui na multiplicidade do saber exercendo influência na educação

Caroline Pinna e Thalita Mascarelo Rafaela Laiola

Em meio à “era da liquidez” em que transformações constantes ditam nosso ritmo de vida, o tempo parece ficar mais curto e a preocupação com a leitura muitas vezes fica em segundo plano. A leitura no Brasil é coadjuvante na vida das pessoas, o que reflete diretamente na educação do brasileiro. Uma pesquisa feita pela Federação do Comércio (Fecomércio) do Rio de Janeiro em 2014 mostrou que 70% da população não leu sequer um livro no ano passado. A maioria dos entrevistados respondeu que não lê por falta de hábito e desinteresse. Apesar de hoje aspectos da vida moderna dividirem a atenção das pessoas, em relação à leitura, o problema no país é mais complicado. O brasileiro, DEZ2015

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historicamente, não é acostumado a ter a leitura como parte do seu dia a dia, por isso, apesar de ser alarmante o índice de leitores no país, o dado é mais para se lamentar do que para se espantar. A própria cultura do povo brasileiro, mais oral do que textual justifica os dados apontados pela pesquisa, no entanto há quem aponte outras razões. O coordenador da Editora da Ufes (Edufes), Washington Romão dos Santos, acredita que a falta de leitura no Brasil é um problema com várias causas: “uma delas é o alto custo do produto livro no Brasil. A outra causa é o baixo estímulo à leitura logo nos primeiros anos de alfabetização, quando deveria ser ao contrário, pois é através da leitura que se apreende o mundo, que melhoramos o nível de conhecimento sobre os fatos que nos rodeiam e desenvolvemos senso crítico”. Uma das tarefas realizadas

pela Edufes é desenvolver ações visando aproximar mais a leitura ao processo educativo, disponibilizando livros para todos, como explica Romão. “Temos o circuito Ufes de leitura e os concursos literários que têm a função de estimular escritores iniciantes e levar ao público interessado a arte da escrita. Além disso, a publicação de livros eletrônicos, com permissão de download gratuito, tem a função de socializar o conhecimento produzido na universidade e facilitar o acesso aos livros”, informou. É preciso entender a importância da leitura para uma melhor educação. Ler ajuda em uma maior compreensão da língua portuguesa, na interpretação de textos e falas, na elaboração de um vocabulário mais rico, na capacidade de análise. É através da leitura de um livro que há uma maior eficiência de aprendizado.


E-books, uma ameaça? A internet trouxe novas possibilidades em muitos aspectos, como no entretenimento, na comunicação e na informação. Diante da possibilidade de se informar via internet, questionamentos começaram a surgir em relação à cultura do livro impresso e a novidade do digital. No final do século XX, o surgimento do livro num suporte eletrônico que o virtualiza, criou uma nova maneira de ler. Não se pode pontuar quais serão as reais consequências dos e-books na sociedade, ou seja, se esse artifício é uma continuação do livro tradicional ou se é uma ruptura com os antigos padrões de leitura. Para o coordenador da Edufes, Washington Romão dos Santos, não existe uma verdadeira ameaça ao livro impresso. Para ele, “o livro impresso sempre vai existir e o ofício das editoras em selecionar e adequar os originais para publicação é uma atividade que confere valor ao produto final, seja ele impresso ou digital”. O coordenador da Edufes ainda explicou que no caso específico das editoras universitárias, as publicações em PDF podem ajudar a popularizar o conhecimento científico e a difusão do que vem sendo produzido na universidade. Além do mais, o universo editorial é muito vasto, e com possibilidades de se reinventar constantemente. Portanto, Romão acredita que depende de como essa mudança no paradigma editorial é analisado. Paixão por livros Apesar da dificuldade de se inserir a leitura entre uma das atividades do brasileiro, existem pessoas que são apaixonadas por livros. A estudante de Jornalismo Ana Carolina Ronchi explica os benefícios e a importância que

é a leitura para ela: “Sempre gostei de ler, desde criança que adorava quadrinhos. No ensino fundamental comecei a ler romances e no médio outros tipos de textos. Com certeza, essa minha facilidade em ler, já que eu tenho feito isso a minha vida toda, me levou a amar escrever e a escolher o jornalismo como o meu curso”. A estudante também ressalta

como a leitura propicia uma democratização de conhecimento. É através dela que se faz possível conhecer novos mundos, ampliar o aprendizado e exercitar o cérebro: “O hábito da leitura traz somente boas consequências, como uma boa escrita e possibilidade de uma discussão profunda a respeito dos mais diversos assuntos”, enfatizou.

Edufes completa 20 anos e renova livraria A Editora da Ufes, que completou este ano 20 anos, é a maior do Estado e uma editora de referência na publicação de livros. Seu catálogo regstra disponível no site registra 227 títulos impressos, 75 títulos digitais (estes são gratuitos) e 19 títulos de revistas científicas. A Edufes é o mais importante instrumento de divulgação científica da Universidade Federal do Espírito Santo priorizando materiais de interesse técnico, científico e cultural com a finalidade de difundir o conhecimento gerado na universidade. Os livros podem ser encontrados em meio digital e também na livraria localizada no Centro de Vvência da Ufes, reformada recentemente para melhor atender seus usuários (foto abaixo). Para mais informações, o site da editora é www.edufes.ufes.br.

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Onde se pode garimpar conhecimento Além da variedade de livros, os sebos oferecem discos, gibis e revistas para quem quer pagar menos

Paloma de Oliveira

Rafaela Laiola

As estantes no corredor guardam uma grande variedade de livros usados. É quase impossível não se encantar com as prateleiras cheias. O ambiente faz parte da história de Valderedo Souza de Carvalho, dono do Sebo Veredas, que entrou no negócio por acaso. Na universidade onde trabalhava, em São Paulo (USP), os amigos comercializavam livros e precisavam de alguém para ajudar nas vendas. Desde então sua história esteve marcada por livros. Ele veio para o Espírito Santo e montou seu sebo em 2005, onde trabalha até hoje. Procurar em sebos é sempre uma prazerosa aventura. Observar minuciosamente prateleira por prateleira e encontrar, por um mero acaso e, despretensiosamente, um livro perdido ou uma obra rara é uma das melhores experiências que vivenciamos dentro desses espaços. Visitar uma loja de livros usados é uma alternativa para quem busca preços mais acessíveis e obras que já não são mais comercializadas nas livrarias convencionais. Os sebos se tornaram um catalogo de raridades onde é possível encontrar de tudo. Localizado na Rua da Lama, o Sebo Veredas, além de um grande acervo de livros catalogados, comercializa revistas, gibis, quadrinhos, discos de vinil, CDs e DVDs. O grande segredo desse comércio é o garimpo. Aqueles que estão à procura de obras específicas chegam a ir diversas vezes à loja. Além de muita paciência, o visitante precisa de uma ótima capacidade de atenção para passar horas entre as estantes de livros. E se você

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Valderedo seleciona os livros com todo critério para atender sua clientela é daqueles que associam os sebos a lugares empoeirados e descuidados, saiba que esse estereótipo está sendo abandonado. Para conseguir concorrer com as livrarias tradicionais, os sebos tiveram que se repaginar. Hoje, os livros encontrados estão cada vez mais em bom estado de conservação e os ambientes mais bem organizados. Além da compra, um outro atrativo que esses espaços oferecem é a troca. No sebo Verdedas, quando o cliente traz um livro para trocar é realizado um trabalho de análise do material. Após estabelecer o valor, o dono do livro fica com o crédito para outras compras no local. A procura cresceu tanto que hoje o mercado de sebos já ultrapassou os espaços físicos. Ele passou a existir virtualmente, por meio do comércio eletrônico. Com o avanço da internet, o comércio dos livros foi obrigado a sofrer algumas adaptações. Os crescimentos de serviços

online, como a Estante Virtual, trouxeram como maiores conseqüências o aumento da concorrência do mercado, a redução do público que frequenta a loja física e a elevação do custo de aquisição do livro usado. “Às vezes, antes de vender o livro, a pessoa pesquisa no site o preço e quer vendê-lo ao sebo por um valor mais próximo do final.” Há mais de 20 anos nesse mercado, ele garante que o meio virtual virou uma nova forma de comércio, mas não extinguiu os espaços físicos. Ler ainda está bem longe de se tornar um hábito da população brasileira, e gastar muito dinheiro com o consumo de livros também está fora da nossa realidade. Mas, no que se refere aos sebos, eles se tornaram peça fundamental de democratização da leitura. Com o alto valor praticado no mercado tradicional das grandes livrarias, os sebos possibilitam uma alternativa para aqueles que não podem pagar muito.


Para além das estradas Eles transportam a saudade de casa, viram noites, levam cargas leves e pesadas e várias histórias para contar

Nadine Alves

Responsáveis por transportar alimentos, roupas, matéria-prima e inúmeros elementos para a sobrevivência, o transporte terrestre exerce uma função fundamental para a economia do país e do mundo. Pelas estradas e rodovias do nosso território, muitos caminhoneiros vivenciam experiências, perigos e momentos únicos. Nas idas e vindas de um caminhão, além de materiais, eles transportam a saudade de casa e da família, viram noites e levam aos mais distantes lugares cargas leves e pesadas e várias histórias para contar. A fim de conhecer um pouco a experiência desses viajantes, peguei uma carona com o caminhoneiro Abel Claudionor de Oliveira,

70, que está nas estradas há mais de 40 anos e é dono do seu próprio veículo, um 1113 azul, que não troca por nada. Logo no início da manhã, escuto um motor ligar, é mais uma vez o caminhão se preparando para uma longa jornada. Entro na cabine e vejo Abel fazendo uma oração para que a viagem seja tranquila. Conforme o veículo começa a percorrer o trajeto, ele inicia algumas histórias que presenciou ao longo dos anos, relatos de acidentes que terminaram bem, experiências boas e pessoas que conheceu, construindo assim grandes amizades. Abel conta também que prefere preparar a sua própria refeição na cozinha improvisada do caminhão. “Com o tempo a gente acaba acostumando com a comida de restaurantes, até que chega um momento que preferimos algo mais caseiro, mais nos-

so”, ressaltou. Realizando viagens semanais para Belo Horizonte, nas quais leva pedras ornamentais e sempre traz para o Espírito Santo cal ou cimento, ele conta que a vontade de se tornar caminhoneiro começou cedo e, embora sempre tenha convivido com a saudade de casa e da esposa. “O caminhão é a minha segunda casa, é aqui que passo a maior parte do meu tempo”, destacou. Ele ressaltou também que devido ao imenso perigo nas estradas é necessário ter muita atenção. “É preciso dirigir para você e para os outros motoristas que trafegam o mesmo percurso,” conclui. Logo chego ao meu destino, me despeço desejando uma boa viagem, ele agradece com um sorriso de satisfação. Percebo que ele realmente faz o que gosta.

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Sob os cuidados hospitalares A dura realidade da espera de quem tem que trasnsformar hospital em lar

Estar em casa é sempre umas das melhores sensações que há. Não existe lugar melhor que o nosso canto, ele nos transmite sensação de aconchego e liberdade. Porém, em alguns momentos, pessoas precisam deixar os seus lares para passarem uma temporada em hospitais, alterando a sua rotina e de

eu sentia falta do meu canto, da minha família. Os dias eram longos demais e não há nada melhor do que estar em casa”, declarou. Para o enfermeiro Mikhael Buzon Lessa, que trabalha em um dos hospitais de Cachoeiro de Itapemirim, a situação de pessoas que precisam permanecer determinado período em leitos hospitalares atinge também as famílias, pois é preciso que elas estejam disponíveis e es-

efetivação de exames, medicamentos e cirurgias, que a Primeira Igreja Batista em Itaparica (Pibi) iniciou o projeto “Passo a Passo” no Hospital Infantil de Vila Velha. Por ser o único hospital de referência do estado do Espírito Santo em atendimento as crianças com doença congênita, ou seja, má formação nos genes, que configurou na estrutura dos pés tortos. O projeto tem por objetivo levar

seus familiares em busca de tratamentos e os cuidados médicos. Esse foi o caso da aposentada Senira ntônia Oliveira, 65 anos, que precisou ficar pela primeira vez no hospital, durante 22 dias, devido a problemas respiratórios e a diabetes. Hoje, em casa, um pouco fraca e carregando o seu carrinho de oxigênio para onde vai, ela senta à nossa frente, pausando durante alguns segundos para recuperar o ar, e conta que foi muito bem tratada no hospital, os profissionais eram sempre cuidadosos. “Eles tinham muito carinho por todos nós, acredito que para que tivéssemos sensação de estar em casa, mas mesmo assim

perançosas para transmitir isso aos enfermos. “Devido às mudanças impostas pela doença, à família e os amigos mais próximos tendem a mudar, ter um novo estilo de vida”, frisou. Mikhael destaca, também, que dentro dos hospitais há o apoio das assistentes sociais, que visam conversar com as famílias e os pacientes, buscando levar tranquilidade e momentos de descontração. Pensando nas famílias e pacientes que precisam permanecer algum período ou até mesmo deslocam-se de outras regiões para realizar algum tipo de tratamento, e lidam com dura realidade da espera para a

o café da manhã para os pacientes e os acompanhantes, todas as quartas-feiras do mês, que é quando é realizado o atendimento a essas famílias. Miriam Nascimento de Saturno que colabora na produção e distribuição do café da manhã, destaca que os perfis das pessoas que utilizam este serviço são de famílias humildes, não tendo muitas das vezes o dinheiro para tomar café. “Eu encontro um momento único para falar de Deus para mães que diversas vezes estão passando por momento de aflição e também sinto uma satisfação enorme em poder ajudar e garantir um direito delas, que a alimentação”, conclui.

Ariane Barbosa e Nadine Alves

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Maria da Penha: persistência na luta contra a violência A mulher quando vai a uma delegacia não quer conselho, quer justiça Nadine Alves

ressaltou a importância de o Estado criar mecanismos para diminuir as estatísticas da violência doméstica. “As políticas públicas já existentes fazem com que, atualmente, a Lei funcione em todas as cidades brasileiras, mas ainda é preciso mais ações públicas. A carência delas é fruto do machismo na nossa sociedade. O Estado tem que fazer o seu papel, se não, a Lei passa a ser desacreditada”. Ela ressaltou também que o papel de um delegado ou juiz não é dar conselhos de como ela deve tratar o seu cônjuge para

que ele não pratique a violência; “a mulher quando vai a uma delegacia Acervo MPES não quer conselho, quer justiça, ” finalizou. O Exame do Nacional do Ensino Autora do livro “Sobrevivi... posMédio (Enem) desse ano, trouxe so contar”, Maria da Penha relata como tema de redação “A persistênnas páginas toda a sua luta para cia da violência contra a mulher na conseguir punições justas para o sociedade brasileira”, deixando ainseu ex-marido e agressor, os procesda mais clara a importância de se sos judicias que enfrentou e seus debater a questão. De acordo com dramas pessoais durante anos de estatísticas, a cada cinco horas, luta. Hoje é fundadora do Instituto uma mulher é agredida no Espírito Maria da Penha (IMP), organização Santo, fazendo com que o estado não governamental que tem por ocupe o primeiro lugar no ranking objetivo auxiliar no combate contra nacional de homicíviolência doméstica, que dios contra a mulher atinge especialmente as VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: DENUNCIE durante os últimos mulheres. 10 anos, sendo ultraPode ser considerada violência doméstica toda agressão passado apenas pelo física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, realizada o estado de Roraipor um membro de um núcleo familiar em relação a outro. ma no último ano de Se você conhece alguém que é vítima, denuncie! Ligue para 2014. o número 180. A ligação é gratuita e não há necessidade de Porém, o fim da identificação. violência contra mulher, está longe de acabar. Depois da divulgação do tema da redação do Enem, os comentários machistas na internet comprovaram que boa parcela da sociedade ainda acredita que a culpa das agressões contra a mulher é inteiramente dela. Maria da Penha Maia Fernandes, 70, que deu nome à Lei 11.340/06, que visa diminuir a violência doméstica e aumentar o rigor das punições sobre crimes contra a mulher, esteve no estado em novembro para uma palestra a convite do Núcleo de Enfrentamento da Violência Doméstica contra a Mulher (Nevid), núcleo de apoio ao Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES). Na palestra ela contou sua experiência de vida e logo no início Maria da Penha: ausência de ações públicas é devida ao machismo da sociedade

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Luiza Marcondes

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ores vivas, vegetais maiores e mais atrativos. O cheiro convidativo das feiras nos fins de semana pode mascarar um grave problema: o uso excessivo de agrotóxicos e a produção de alimentos transgênicos. Numa análise feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em 2012, com 25 vegetais importantes na alimentação dos brasileiros, 32% apresentaram não só agrotóxicos acima dos limites permitidos como também o uso de substâncias proibidas na agricultura. Alternativa possível e contraposta ao modelo do agronegócio, o MPA fomenta o debate da qualidade dos alimentos que chegam às nossas mesas. Os sistemas agroecológicos reforçam a proposta de um novo desenvolvimento campesino que seja pautado na regulamentação fundiária, e que a produção de comida possa dinamizar economias e abastecer mercados locais com produtos saudáveis. Com a diminuição do latifúndio, essa produção poderá atender as demandas da população mundial. Segundo dados da Secretaria da Agricultura do Espírito Santo (SEAG), em 2013 o estado tinha 100 áreas produtivas de orgânicos. A estimativa é de que esse número triplique no final de 2015. “Hoje a gente consegue produzir absolutamente tudo, até carne, usando recursos da homeopatia, de forma agroecológica, sem insumo químico, porém em baixa escala” afirma André Michelato, professor do Departamento de Ciências Sociais da Ufes e coordenador o projeto “Incubadora Tecnológica de Economia Solidária” da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Existente há cerca de 15 anos, o objetivo da incubadora é auxiliar na comercialização do que é produzido pelo MPA. O MPA é organizado em secretarias regionais, que congregam e oferecem apoio aos produtores. A de Ponto Alto, no município de DominDEZ2015 OUT2015

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gos Martins, atende 120 famílias que seguem o modelo agroecológico de não usar aditivos químicos e fazer produção de semente crioula (sem alteração genética). Um desses produtores, Rone Januth, entrou para o MPA em 2011, quando suspendeu completamente o uso de defensivos em suas terras. Logo, ele percebeu a mudança no solo: “o cheiro mudou, aparecerem mais minhocas e percebi a presença de outros bichos pelas fezes deixadas na terra”. Na saúde, ele não identificou alterações, mas outras produtoras lhe relataram que já não sentem mais dores de cabeça, frequentes no período em que aplicavam agrotóxico. Os casos de intoxicação por insumos são dificilmente registrados por profissionais de Saúde no Brasil, que enfrentam uma enorme dificuldade em diagnosticar e encaminhar esses pacientes. Dentre

os mais frequentes sintomas estão: dores de cabeça, náuseas, vômitos, dificuldades respiratórias; quando em casos de intoxicação aguda, são, normalmente, sentidos após o contato direto com o veneno. Câncer, cegueira, má-formação fetal, abortos, infertilidade e depressão podem ser efeitos da intoxicação crônica e levar à morte. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que, para cada caso registrado de intoxicação por agrotóxicos, há 50 não notificados. Um relatório realizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), publicado em 2011, registra que, no Brasil, são despejados sobre as plantações 1 milhão de toneladas de agrotóxico, o que equivale a um consumo médio de 5,2 kg de veneno por habitante. “Além dessa quantidade, cer-


MENOS VENENO, MAIS SAúde e oportunidades

O cultivo agroecológico de alimentos é uma alternativa para produtores e consumidores

BRASIL, o MAIOR CONSUMDOR DE agrotóxicos O Brasil hoje ostenta o título de maior consumidor mundial de veneno agrícola. São inúmeros os programas de incentivos fiscais e tributários na comercialização de defensivos agrícolas, como a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviço (ICMS), a isenção completa da cobrança de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS/PASEP (Programa de Integração Social/ Programa de Formação do Patrimônio do Servidor) e do COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). De 2001 a 2008 a receita obtida com a comercaialização desses venenos passaram US$ 2 bilhões para US$ 7 bilhões.

diferenças entre Orgânicos e agroecológicos: Uma das diferenças entre a produção orgânica e agroecológica é a defesa da pequena propriedade e o entendimento de que o latifúndio promove desertificação vastas áreas pela monocultura. O agroecológico não considera a terra como acumulação e se colaca contra a exploração do produtor ou do consumidor. Além disso, a diversificação de cultivo pode ajudar a combater pragas caso sejam aplicados os conhecimentos técnicos.

CERTIFICAÇÃO A certificação dos produtos orgânicos é feita por uma empresa privada, para a qual o produtor paga R$ 2,5 mil por ano para monitorar sua plantação, recebendo ao final um selo. Já as produções agroecológicas são certificadas atualmente através de associações de consumidores e produtores que fiscalizam a produção. Outra forma é pela OCS, forma de certificação em que a garantia de que é orgânico é atribuída pelo produtor, acompanhado de perto pela sociedade. Ela é feita pelo Ministério da Agricultura gratuitamente, porém, demora para ser emitida.

ca de 30% dos agrotóxicos no Brasil são contrabandeados, o que pode aumentar o consumo individual para quantidades absurdas”, alerta André Michelato. Apesar do crescimento da produção de orgânicos, Rone Januth, ressalta a falta de incentivos para a produção e comercialização. Ele explica que para evitar ter sua produção contaminada caso um vizinho use agrotóxico, é necessário que se faça uma cerca verde. A contaminação se dá por espalhamento do veneno pelo ar, água e solo. Outro aspecto que Januth destaca é a falta de fiscalização nas nascentes dos rios. Além disso, para que a produção agroecológica continue crescendo é necessário dar assistência aos agricultores que a adotam. “Hoje fica difícil produzir orgânicos, porque o governo não oferece o mesmo suporte para o desenvolvimento de pesquisas na mesma proporção que apoia a indústria de agrotóxicos”, constata André Michelato, coordenador. Ele explica que o Ponaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) é o maior financiador de agricultura familiar hoje no Brasil, mas não atende as formas de produção agroecológicas, por não serem consideradas rentáveis. Apesar da importância do programa, ainda é muito pouco quando comparado aos incentivos de outros países. Ele dá o exemplo de que se houver uma super safra de tomate no sul, através da Ceasa esses produtos chegam ao Espírito Santo e fazem com que o estado precise subsidiar todas as atividades agrícolas.

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Feiras de orgânicos VITÓRIA Barro Vermelho Rua Arlindo Brás do Nascimento, atrás da Emescam. Funcionamento aos sábados, das 6h às 12h. Praça do Papa Estacionamento da Praça do Papa, na Enseada do Suá. Funcionamento às quartas-feiras, das 15h às 20h30. Jardim Camburi venida Isaac Lopes Rubim, próximo ao campus da Faculdade Estácio de Sá. Funcionamento das 6h às 12 horas, sempre aos sábados Ufes Avenida Fernando Ferrari, Ufes, entre os ICs II e III. Funcionamento de 12h a 18h às quartas-feiras. CARIACICA Campo Grande Praça John Kennedy, também conhecida como Praça do Parque Infantil. Funciona aos sábados, das 6h às

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PRODUTORES E CONSUMIDORES EM SINTONIA Foi no projeto “Incubadora Tecnológica de Economia Solidária” que Rone Januth e as outras 120 famílias do MPA, em Domingos Martins, encontraram solução para a comercialização de seus produtos. Toda quarta-feira é montada entre os prédios do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) uma feira agroecológica, onde se pode comprar alimentos por preços acessíveis. Os produtores recebem também o apoio de sindicatos que compram cestas semanalmente. A “Incubadora” tenta junto com o MPA estimular o comércio próximo. “A gente chama de circuitos curtos de comercialização, que é quando tem a menor quantidade possível de atravessadores”, afirma o coordenador da incubadora, André Michelato. Outro apoio vem do grupo de mães e mulheres grávidas Zalika, que compram 70 cestas semanais e ajudam no processo de distribuição. O objetivo do grupo é proporcionar

uma alimentação saudável e sem veneno durante a gravidez e para suas famílias. Na tentativa de eliminar produtos industrializados da sua rotina, Graziele Rodrigues, doula do Zalika, começou a repensar os alimentos que consumia ao participar do “Cesta Cheia”, projeto do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), realizado em parceria com a “Incubadora Tecnológica de Economia Solidária” da Ufes. “Por vezes, um inhame que você não escolheria no supermercado pela sua aparência, você recebe na cesta e descobre que ele tem um sabor infinitamente melhor que os selecionado no mercado. E não apenas pelo sabor, mas por compreender que para aquele produto vistoso encontrado no supermercado chegar ali, diversos outros foram descartados em plena condição de consumo, apenas para garantir a bela aparência e o preço elevado”, afirma. “O projeto entrou na nossa vida de forma que facilitou nosso acesso aos orgânicos e ortaleceu a relaçãocom os produtores. Não recebemos a cesta pela simples facilidade na aquisição, mas por acreditarmos que essa relação estreita os laços entre homens e mulheres do campo e da cidade. É uma maneira de contribuirmos na relação direta da luta pela terra e na soberania alimentar, de nos inserirmos na campanha contra o uso de agrotóxicos e na valorização dos pequenos produtores, em detrimento dos grandes latifúndios”, defende Graziele Rodrigues, que também faz parte do projeto “Cesta Cheia” desde que foi criado em 2011.


Piauí, lugar dE jornalismo “diferente” Com quase uma década de existência e apostando em um jornalismo diferenciado, a revista Piauí se torna referência em informação e narrativa de qualidade. A jornalista Luiza MIguez falou para estudantes da Ufes sobre a experiência de viver a Piauí. Nadine Alves

Que jornalista não quer atuar num lugar que se abre à criatividade, propõe o desafio de fazer grandes reportagens e só concluí-las quando tudo for devidamente esquadrinhado, checado e apresentado num texto bonito e agradável de se ler? Luiza quis e foi em busca do destino desejado: Piauí. Capixaba, formada em Jornalismo pela UFRJ, Luiza Miguez esteve conosco em outubro para falar sobre?! ...jornalismo. Com entusiasmo que nem a trapaça renal que lhe acometeu conseguiu diminuir, falou de sua experiência e deu uma dimensão do tamanho do desafio que é atuar numa publicação que busca um jornalismo “diferente”. Idealizada pelo documentarista, roteirista e produtor de cinema João Moreira Salles, a revista Piauí foi lançada em 2006. Segundo o próprio Salles, ‘’o que a Piauí faz é contar bem uma história’’. Com periodicidade mensal, a revista é conhecida por produzir um jornalismo que se coloca ao largo das formas convencionais do mercado de notícias brasileiro, inclinando-se para um jornalismo de fôlego, com pautas e visões diversificadas. A Piauí é publicada pela Editora Alvinegra, de João Moreirta Salles, impressa pela editora Abril e, na internet, está conectada ao grupo Estatão. Para início de conversa, Luiza fa-

lou do começo da sua jornada na revista como “checadora de notícias” - função que tem por finalidade verificar a veracidade das matérias que os repórteres produzem para a publicação. “Você precisa ver se cada linha da matéria é verdade, desde a capa até as cartas, tudo precisa estar certo”, explicou. Hoje, como repórter da revista, ela afirma que para trabalhar na Piauí é preciso que o jornalista vivencie a sua pauta. “Em algumas matérias você precisa ficar muito tempo com a pessoa. Ela precisa enjoar da sua cara, querer que você vá embora, até que uma hora ela fica tão cansada que vai te tratar como um jarro. Aí a matéria começa, porque sua fonte irá relaxar e será ela mesma”, explica. Na Piauí, a vivência integral da matéria que está sendo apurada é muito incentivada.“Se for necessário que você fique um ano tendo contato com a sua estória e com suas fontes, fique, porque você descobrirá qual será a melhor narrativa que tirará da experiência”, recomenda para uma atenta turma do sexto e sétimo período de jornalismo da Ufes. Singularidade é uma palavra chave para o jornalismo da Piauí. Outro segredinho: “sempre temos um personagem. Mesmo nas matérias grandes, você tem que escolher uma pessoa que será o seu contorno

narrativo, isso ajuda muito. Se vocês, algum dia, precisarem investir numa narrativa assim, primeira dica: encontrem o personagem principal’’.. Com inegável inspiração na revista New Yorquer e no seu velho (e bom) new jornalism, a Piauí, é uma revista para quem gosta de ler, e não só “se informar”. A propósito dessa forma de fazer jornalismo e da distinção narrativa que ostenta a Piauí em meio ao cenário de uma mesmice muitas vezes rasa e simplista das publicações atuais, Luiza desafia: é preciso que a profissão se reinvente, mas que, acima de tudo, saiba ser comprometida com a verdade dos fatos. “Repetidas vezes vemos em circulação matérias com enfoque errado, às vezes, com erros bobos, faltando um pouco de atenção. Devido a essa pressa de publicar, essa rapidez do online, as notícias são postadas nos portais sem um mínimo de apuração”, constata. Na onda do jornalismo online e do paywall (pagamento de assinaturas a alguns portais de jornalismo), também adotado pela Piauí, Luiza ressalta a importância da boa apuração e da qualidade do texto. “Um jornalismo de fôlego é informação que os leitores estarão propensos a pagar e terão vontade de manter, ” acredita.

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#primavera feminista em Vitória Centenas de mulheres capixabas marcharam pela capital contra a criminalização do aborto e pela saída de Eduardo Cunha Lorraine Paixão

Tati Hauer

Primavera, 6 de novembro de 2015. O sol ainda ardia e elas já se encontravam em concentração no estacionamento da Universidade Federal do Espírito Santo. Estavam reunidas desde as quatro da tarde para o ato “Mulheres Contra Cunha e o PL 5069 - Vitória”. Eram centenas de meninas, mulheres, senhoras, negras, brancas, mulheres mães, mulheres sem filhos, casadas, solteiras, mulheres lésbicas, bissexuais, héteros. Com tambores, faixas, cartazes, tintas, apitos e carro de som, todas ali por uma única causa: poder decidir sobre seus corpos. Cantavam em coro palavras de ordem como “Cadê o homem que engravidou? Por que a culpa é da mulher que abortou?” e “Vai cair, vai cair, o Cunha vai Cair”. As capixabas se somavam à #primaverafeminista que varre o Brasil desde o dia 21 de setembro, data em que o Projeto de Lei 5069/2013, de autoria do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania. “O corpo me pertence, logo eu tenho que ter o direito de tomar decisões sobre ele e não o Estado dizer o que posso ou não fazer com o meu corpo”, setencia indignada a professora Jose Varejão, 36, com o filho de 11 meses nos braços. No Brasil, o

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aborto é legal apenas em casos de estupro, risco de morte da mulher e em casos de fetos anencéfalos. A Lei nº 12.845, de 2013, garante às vítimas de violência sexual o atendimento imediato, integral e obrigatório em todos os hospitais da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), sem que a vítima precise comprovar a violência sofrida. Basta que a mulher vá até um hospital e relate o ocorrido. Porém, o PL 5069/2013, aprovado pela CCJC, vem para limitar esse direito conquistado pelas mulheres, abrindo brechas para a criminalização total do aborto. Além do humilhante e longo processo burocrático que será imposto às vítimas de violência sexual, o texto do projeto proíbe o uso de meios abortivos sem especificar quais seriam esses meios abortivos. A pílula do dia seguinte seria abortiva? Outra medida presente no projeto de lei que se soma a esse retrocesso e dificulta o acesso ao aborto seguro e legal é a que permite ao profissional de saúde decidir se realize ou não um aborto. Diz o texto “nenhum profissional de saúde ou instituição, em nenhum caso, poderá ser obrigado a aconselhar, receitar ou administrar procedimento ou medicamento que considere abortivo”. Se um profissional de saúde considerar a pílula do dia seguinte um medicamento abor-

tivo, ele poderá se recusar a realizar o atendimento em uma mulher vítima de violência sexual. Jose diz que escolheu ser mãe, e por isso estava ali para marchar contra a proposta. “É uma violência institucionalizada. Nesse momento eu tenho o Pedro, sou mãe, mas diversas mulheres morrem por falta da possibilidade de pagar por um aborto seguro em clínicas caras. O


aborto é uma realidade. A questão é que pessoas que têm maior poder aquisitivo fazem e sobrevivem, já as pobres e negras morrem em açougues”, denuncia a professora. As capixabas saíram do ponto de concentração por volta de seis e meia e seguiram pelo bairro Jardim da Penha em direção a Camburi. Durante a marcha, mulheres seguravam cartazes com dizeres como “pelo direito de ser mulher e fazer do meu corpo o que eu quiser”, “aborto é uma questão de saúde, não de religião” e “tirem seus rosários de meus ovários”. Ao saírem da Universidade, a marcha parecia ter dobrado de tamanho. Se havia umas duzentas mulheres na concentração, ali na rua já tinha umas quatrocentas. O ato havia tomado corpo em poucas horas. Por toda a caminhada, as mulheres repetiam em coro “Cadê o homem que engravidou, por que a culpa é da mulher que abortou?”, grito de ordem mais mencionado no ato. Homens abortam e nada lhes

acontece. Simbolicamente, mas abortam. Muitas são as crianças que crescem sem a presença do pai. Muitas nem conhecem aquele que contribuiu para a sua existência. Cadê o homem que engravidou? Ao chegarem na Avenida Dante Michelini, as mulheres colaram na placa que indica o nome da avenida um adesivo com a inscrição Av. Araceli C. A intervenção era para lembrar o caso Araceli Cabrera Crespo, que aos oito anos foi raptada, drogada, estuprada e morta, no Espírito Santo, em 1973. Os assassinos da menina foram inocentados do crime. Ainda em memória a Araceli, o movimento fez um minuto de silêncio em frente ao terreno onde se localizava a boate Franciscano, no começo da Avenida Dante Michelini, onde a menina foi brutalmente assassinada e mantida em cativeiro por dois dias. O ato se encerrou na Assembleia Legislativa com uma proposta de mais manifestações em Vitória para os próximos dias de #primaverafeminista.

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O barro que atravessa gerações O ofício das mulheres de goiabeiras que trazem consigo a tradição indígena ancestral da panela de barro mais famosa do mundo

Julia Pavin

Em meio ao transtorno urbano e próxima a uma das avenidas mais movimentas da cidade, se esconde uma comunidade, composta em sua maioria por mulheres, quase todas parentes entre si, que trabalham na beira do mangue e trazem consigo uma técnica de mais de 400 anos de tradição e história passada de mãe para filha por gerações. Não passava das duas da tarde daquela terça-feira quando entrei na rua, que não por coincidência, carrega o nome de Rua das Paneleiras, no bairro Goiabeiras, em Vitória. Guiada pelo mangue, cheguei até o local que pude identificar como meu destino ao ver duas mulheres já com as mãos cobertas de barro, dando forma ao que antes fora apenas um misto de lama, gravetos e pedras. Estrategicamente posicionada, a Associação das Paneleiras se localiza em frente ao manguezal,

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e se resume em um grande galpão com pequenos estandes na parte de dentro, defronte a uma grande fogueira para queima das panelas. Aos 63 anos, pele negra e cabelos cujos fios se misturam entre pretos e brancos, Eonete Alves Correia, me guiou por todo o tempo que estive lá para desbravar o local onde se fabrica a panela de barro mais famosa do mundo. Com selo de autenticidade para provar que é da lá mesmo, a panela é feita com barro legítimo do Vale do Mulembá, originado do bairro de Joana D’Arc, onde desde os primórdios já era extraído para o mesmo propósito pelos índios, há mais de quatro séculos atrás. Eonete é “filha de geração”, como ela mesma se define, que desde moleca já sujava suas mãos para dar forma à matéria prima, o barro. Ensinada por sua mãe, Donaria, que aprendeu com sua avó,

Domícia, também ensinada por sua bisavó, desconhecida por ela, Eonete perdeu seus pais aos 16 anos de idade. Seu Floripes, morreu aos 42, coletando barro para as panelas no Mulembá: teve um infarto que não lhe poupou a vida, seis meses depois de Donaria, também aos 42, porém de câncer. “Sou cria dos outros”, conta ela, enquanto molda, com destreza, pequenas cumbucas de barro ao mesmo tempo em que responde minhas perguntas, sem titubear, com seu jeito doce e risonho de quem leva a vida na batalha e não se deixa abalar por infortúnios. Enquanto conversávamos, as paneleiras se dividiam cada uma em seu canto dentro do galpão da Associação, em estandes apertadinhos, que separam umas das outras por falsas paredes compostas de madeira e plástico, onde moldam e vendem as panelas, simultanea-


mente. O lucro não é dividido, cada uma tem o seu. Os preços variam de cinco reais, as cumbucas menores, até sessenta, as panelas maiores, e é dali que cada uma tira o sustento da família. A famosa panela de barro do Espírito Santo, foi tombada pelo Iphan em 2002 como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O processo de produção das panelas não é nada simples. Começa na coleta do barro, que só pode ser feita no Vale do Mulembá, isso porque, ensina Eonete, o do Vale tem a consistência ideal, nem fino nem grosso, e se for diferente a panela “poca” na fogueira. Além disso, o ofício de coletar o barro já é por si só um engenho, feito quase sempre por homens, em especial por Ronaldo, primo de Eonete, um pardo alto e forte, de mais ou menos uns 45 anos, que naquele dia tinha suas roupas cobertas de barro, como

quem havia chegado há pouco de sua função. Depois da coleta, o barro que chega precisa ser limpo para tirar o excesso de gravetos e pedras, que dificultam seu manuseio na hora de moldá-lo. A partir daí, já está pronto para ser tratado pelas mulheres, cujas mãos carregam impressas as marcas do ofício diário. Antes de pronta, a panela é moldada e depois posta na fogueira, e dali sai enrijecida, como uma espécie de cerâmica. A última etapa é a coloração, proveniente da casca do mangue vermelho, árvore típica do manguezal. Por sorte ou premeditação, existem dois ou três homens que passam por lá quando requisitados só para buscarem a tal casca de árvore que dá cor à panela. Depois de extraída do manguezal, é preparada e aplicada nas panelas com a muxinga, instrumento em

forma de uma pequena vassoura, porém composta por pequenos galhos finos, envolto na parte superior por um cipó ou barbante para dar um porte mais firme. A partir disso, a panela só precisa ser untada com óleo e ir para o fogo até secar. Por fim, está pronta para ser utilizada, e ouvi por lá que a moqueca capixaba é o prato ideal para ser preparado na panela. O trabalho é árduo, e não é à toa que Eonete coleciona uma série de enfermidades, que vão de tendinite a osteoporose, e lhe causam algumas dores mas não a impedem de exercer a sua função diária. O descaso e a desvalorização de seu trabalho também não a desanimam, até porque, de vez em quando, chegam algumas encomendas, que, encaixotadas, vão para os Estados Unidos e até para Alemanha, como ela mesma disse com brilho nos olhos, cheia de orgulho de seu trabalho. Habilidosa, Eonete pole suas panelas enquanto responde minhas perguntas e aponta para lá e para cá. Ora para sua irmã Berenice, vice-presidente da Associação, ora para suas primas nos estandes vizinhos, cujas mãos não param de se movimentar sobre as panelas nem um segundo sequer, como quem não tem tempo a perder. A técnica reconhecida como legado cultural Tupi-guarani, foi apropriada por colonos e descendentes de escravos africanos que ocupavam a margem do manguezal, que não a deixaram se perder, formando hoje a comunidade tradicional em que os sobrenomes se confundem e os laços familiares alcançam grande parte de seus integrantes.

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Sabedoria herdada do Mangue Heraldo Correia Fernandes, especialista nas riquezas do mangue

Thamara Machado

Poucos sabem, mas a típica panela de barro capixaba não é de coloração naturalmente preta. Para o símbolo máximo da cultura espiritossantense tornar-se tingida é necessário que após a queima do barro haja um processo de açoite, ou como é conhecido entre as paneleiras a "sova". Com a peça ainda quente, o ritual da tintura se inicia com uma espécie de vassoura de ramos e galhos (muxinga) espalhando o caldo da casca de tanino para a panela. A substância que colore as panelas, o tanino, é extraída do mangue vermelho que se localiza à beira da Associação das Paneleiras, no bairro de Goiabeiras em Vitória. Em contato direto com o mangue, não é de se estranhar que a relação entre as paneleiras e os demais envolvidos

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com a produção da panela, que atuam nos processos de extração de barro, limpeza e queima seja estreita. Esse é o caso de um casqueiro bem conhecido na região de Goiabeiras, Heraldo Correia Fernandes, de 47 anos. Filho de pescador, mãe paneleira e neto de índios, Heraldo não esconde a honra que sente ao participar dessa tradição que é a confecção de panelas. Ele conta que começou dentro do "barreiro” (mangue onde é retirado o barro) aos 10 anos levado pelo irmão, José Carlos. Mas foi só aos 15 que Heraldo aprendeu a tirar a casca do mangue, de onde sai o tanino, uma das principais matérias-primas para as paneleiras. Ele explica que a importância do tanino para confeccionar as panelas é uma questão de tradição. Desde os primórdios da fabricação de panelas, a coloração adotada foi a preta. Heraldo ainda complementa que a tinta torna a panela impermeável, o que facilita o cozimento. Com ar de professor, Heraldo ensina sobre os principais fatores que podem influenciar em uma boa extração de casca no mangue. Segundo ele, primeiramente é necessário entender que existem três tipos de mangue: o amarelo, que contém muitos espinhos, o vermelho e o preto. Para o tanino, o mangue adequado é o vermelho, e é só nele que se encontra o material ideal a ser utilizado. Heraldo ainda explica que as fases da lua e os movimentos da maré, podem interferir na quantidade de tanino extraído. Nos dias de lua e maré cheia, consegue retirar uma maior quantidade do material, que é armazenado em latas. Cada lata é vendida por cerca de R$ 20 às paneleiras. Outro fator importante para uma boa extração de material, segundo Heraldo,

é a preservação do mangue. Para tanto, ele ressalta que existe um modo correto de retirada da casca que não põe em risco o manguezal. Os troncos não devem ser descascados por inteiro, é necessário retirar apenas uma parte para que brotos possam surgir de onde não foi extraído. Acontece que, como o próprio casqueiro diz "o mangue é uma espécie de labirinto”, e isso torna bem difícil a diferenciação de uma árvore e outra. Para solucionar esse e demais problemas, ao longo destes mais de 30 anos de extração no mangue, Heraldo criou uma série de táticas e engenhocas para facilitar seu trabalho. Ele passou a marcar todas as árvores que já foram extraídas, evitando assim que alguma seja utilizada mais de uma vez, o que provocaria a morte da vegetação. Outra alternativa criada por ele, foi fazer a retirada da casca utilizando um porrete e um objeto inventado por ele mesmo, que nada mais é do que uma lata acoplada a ganchos que é fixada na árvore extraída, permitindo assim, uma maior mobilidade para os braços de Heraldo enquanto extrai o tanino. Orgulhoso desses e de demais inventos, o casqueiro conta que não imagina sua vida fora do mangue, que isso é uma herança familiar, passada para ele e seus irmãos. Esse legado proporcionou a ele uma série de entrevistas com pesquisadores internacionais à respeito da vegetação local, já que para Heraldo, estar em contato com o mangue é sinônimo de estar em paz. "Dentro do mangue você se distrai, vê os passarinhos cantando, os macaquinhos. Às vezes eu vou para lá sem a finalidade de extrair a casca, alimento os peixes. Me sinto bem lá, me dá paz. É a tradição, é divertido! ".


NOVEMBRO AZUL Bianca Vailant

No dia 17 de novembro é comemorado o dia mundial de combate ao câncer de próstata, e por esta razão o mês de novembro foi escolhido para a realização da campanha de conscientização da doença. A informação é sem dúvida o método mais eficaz para a diminuição dos casos de morte pela doença, e essa é a grande contribuição da campanha para a saúde masculina. Segundo o Instituto Lado a Lado pela Vida, idealizador da campanha, somente em 2014, 75 milhões de pessoas foram impactadas com informações sobre fatores de risco e prevenção à doença. Em 2015, a campanha está muito maior, ampliando a base de conhecimento da população sobre a importância do diagnóstico precoce da doença. Apesar de ser uma campanha nova, o Novembro Azul tem conquistado um alcance expressivo, podendo ter sua relevância praticamente equivalente ao Outubro Rosa. Embora os números de casos da doença sejam alarmantes, dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) apontam 69 mil novos casos por ano no Brasil. Ainda existe muito preconceito e desinformação com relação à importância da realização do exame para descoberta precoce da doença. Quando diagnosti-

cado cedo, o câncer de próstata tem 90% de chance de cura. Sobre a necessidade de afastar o preconceito e a resistência masculina ao exame preventivo, o Instituto Lado a Lado busca intensificar as informações divulgadas à população. “Os homens cuidam menos da saúde de forma geral e, por isso, vivem sete anos menos do que as mulheres. Com relação ao exame de toque, há vários estigmas envolvidos que vão desde os relacionados à masculinidade até a falta de informação sobre sua real importância na descoberta da doença. Para contornar o preconceito, o Instituto busca incentivar os homens a cuidar da saúde utilizando uma abordagem clara e direta, sempre embasada em dados de pesquisas e mediante aprovação do comitê científico. A prevenção da doença é fundamental para a descoberta precoce do câncer, aumentando as chances de cura. Dessa forma, é possível reduzir o número de mortes por câncer de próstata. Os homens a partir dos 50 anos de idade devem procurar um urologista anualmente. Se fizerem parte do grupo de risco (histórico familiar de câncer de próstata, pele negra, obesos e sedentários), mesmo na ausência de sintomas, a prevenção deve começar aos 45 anos.

TRATAMENTOS Existem vários procedimentos para curar ou controlar o câncer de próstata. A indicação dependerá das características do paciente, da doença e de seu estágio. Vigilância ativa – É o acompanhamento clínico do paciente. Pode ser indicada nos casos de câncer de baixo grau e daqueles que crescem lentamente. Tem a vantagem de evitar cirurgias e outros tratamentos desnecessários. Cirurgia – Compreende a retirada da glândula, das vesículas seminais e dos linfonodos pélvicos. Indicada para pacientes que têm o câncer localizado somente na próstata, ou seja, quando ele ainda não se espalhou pelo organismo. Índice de cura próximo a 95%. Radioterapia – Também indicada para o tratamento do câncer de próstata localizado a fim de matar as células cancerosas. O tratamento pode ser externo (quando os raios são gerados e emitidos por uma máquina) ou com braquiterapia (implante de sementes radioativas diretamente na próstata). Terapia hormonal – Utiliza medicamentos que interrompem a ação da testosterona sobre as células cancerosas, suspendendo seu crescimento por um período. Está indicada nos casos avançados, quando não há mais a possibilidade de cura por cirurgia ou radioterapia ou juntamente da radioterapia. Quimioterapia – Usada quando a doença já se disseminou pelo organismo (metástase) e está resistente aos tratamentos hormonais. Consiste na aplicação de substâncias que destroem as células do câncer. Novos tratamentos orais – Nos últimos anos, novas drogas orais foram aprovadas para o tratamento do câncer de próstata avançado. Elas atuam nos mecanismos de crescimento da doença, auxiliam no aumento da sobrevida e, principalmente, na melhora da qualidade de vida dos pacientes. Tratamento com radiofármacos Recentemente, foi aprovado no Brasil um medicamento radioativo (radiofármaco) para o tratamento das metástases ósseas do câncer de próstata resistente à castração. Ele melhora a sobrevida dos pacientes e traz benefícios em qualidade de vida, pois retarda as complicações ósseas sintomáticas.

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CORPO EM QUESTÃO As performances e as fotografias de Lou Isky como manifestação artística e corporal

Barbara Coutinho David Benincá.

Nossas experiências e sensações são determinadas por fatores sociais e culturais que reforçam padrões de comportamento. Isso é evidenciado principalmente em nosso corpo, que é cheio de significações construídas cultural e historicamente, mesmo que predomine nele um registro apenas biológico. Esse corpo engessado, moldado e construído é a principal crítica das fotografias performáticas de Louise Siqueira, mais conhecida como Lou Isky, que utiliza seu próprio corpo como forma de expressão e experimentação da vida. Artista e estudante de Artes Visuais, o nome que escolheu é um trocadilho sonoro oriundo do seu nome oficial e também um encontro com o seu trabalho: “Eu tinha um amigo que brincava com a sonoridade do meu nome. Meu apelido era “Lou” e ele colocava a terminação ’uísque’. Depois, eu modifiquei e coloquei ‘Lou Isky‘. Tem a ver com meu trabalho e comigo. Meu trabalho é introspectivo e onírico, o que remete também ao céu”, explica. Aos 14 anos, começou seu projeto, que utilizava o corpo como uma forma de experimentação relacionando-o a objetos, materiais e paisagens urbanas. Para ela, o corpo sempre foi um meio de expressão de ideias, um modo de desenvolver a criatividade e se de colocar no mundo. “Da mesma forma que uma DEZ2015

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pessoa usa o papel ou uma tela, eu uso o corpo. O corpo é o meu suporte”, afirma. Seu trabalho ficou mais conhecido com as publicações de fotografias na página “Provando a Existência”, no Facebook, que hoje conta com mais de 3.000 curtidas. Além das fotos, a artista já realizou algumas performances de interação com o público que testavam os seus limites físicos e psicológicos. Confira a entrevista que a equipe do Primeira Mão realizou com a artista. Como começou seu interesse pela arte e qual sua trajetória como artista? Eu nasci em Vitória e com 12 anos, fui para Madri. Estudei cinco anos num colégio de freiras, onde eu passava 7 horas por dia tendo aula. Lá a gente só recebia informação e não tinha um espaço para se expressar. Eu sempre fui muito observadora; buscava analisar e entender as coisas que estavam ao meu redor. Percebi que tinha muita coisa que questionava, não concordava. Eu tive uma criação religiosa e sempre senti que esse ambiente reprimia muito o corpo e deixava as pessoas mais contidas. Comecei a tirar as fotos com 14 anos e encontrei na fotografia e no meu corpo um meio de expressar todos aqueles questionamentos que tinha de uma forma silenciosa. O ambiente da escola foi fundamental para eu começar a procurar formas de expressão. Foi algo natural e intuitivo. Antes disso eu tentei desenho, pintura,

escrita e outras formas, mas foi na fotografia e no corpo que eu encontrei voz. Eu sempre tive característica de fazer coisas experimentais. Eu utilizava materiais como sangue, creme, remédio, vômito. Via todo mundo só repetindo e reproduzindo valores automaticamente, sem pensar e questionar o que estava estabelecido. Eu era considerada louca porque quando saímos dessa linha e fazemos algo um pouco diferente, a tendência é a rejeição, as pessoas não tentam entender o que estamos querendo dizer. No meu caso, tinha muita coisa por trás, porque eu queria transmitir uma mensagem. Quais são os principais temas de suas performances e de suas fotos? Na fotografia, eu busquei questionar o que estava ao meu redor: tradições, costumes, comportamentos, e mostrar para as pessoas que as coisas podem ser diferentes e que elas podem fazer do jeito delas. Eu tentei passar para as pessoas essa idéia de se assumir, de aceitar as próprias singularidades, ter autonomia. Com uma visão muito singular do mundo, eu tentava expressar um novo jeito de olhar para a realidade com a fotografia e com meu corpo. Na performance do miojo eu estava querendo tratar da relação com o próprio corpo, entendendo que ele é um histórico de tudo o que já se viveu. Alimentação, peso, as exigências, tudo isso reflete no próprio corpo, e fica registrado nas marcas


Quais são suas referências e suas inspirações? Quando eu comecei, não tinha contato com arte contemporânea. Eu tinha uma matéria de artes plásticas, mas só ia até artistas modernos. Eu não sabia o que era performance. Eu não tenho tanta preocupação em ter referência de fotógrafos. Penso que posso transformar outro tipo de informação e de arte em imagem. Eu tive muito a referência da cantora e compositora, Björk. Ela tirava algumas foto-

grafias artísticas porque acreditava que iria ajudar as pessoas a entender a música que ela fazia. E tudo o que ela faz tem um padrão próprio. Isso é algo que eu sempre quis: tentar fazer as coisas de uma forma singular. As pessoas têm uma necessidade muito grande de se colocar em um molde e seguir um padrão, mas isso acaba fazendo com que elas fiquem engessadas quandopoderiam se permitir assumir sua singularidade. Hoje em dia, me identifico muito com a Marina Abramovich, porque ela sempre procura ultrapassar os limites e testar o corpo e a mente através das performances. Hoje, a página “Provando a Existência” já passa das 3.000 curtidas. Como foi o processo de criação da página? Qual é a sua relação com as redes sociais? Eu comecei expondo minhas fotos no Orkut. É engraçado porque todo o contato que eu tinha com o português e com o Brasil era através dessa rede. Poucas pessoas entendiam e outras questionavam se o que eu estava fazendo era arte e até hoje tem gente que questiona, o que é ótimo porque isso mostra que meu trabalho gera debate. Eu lembro que na época até me colocaram na comunidade de piores perfis do Orkut. Em 2013, eu criei a página “Provando a Existência”.. É um projeto que vem desde os meus 14 anos e eu decidi levar para a internet tam-

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bém. Esse nome tem muito a ver com o meu trabalho com a fotografia, porque estou experimentando a existência com o meu próprio corpo. As redes sociais foram muito importantes porque quando comecei, eu não tinha contato com o meio acadêmico, tinha pouco reconhecimento, ou seja, eu não tinha como expor em galerias. Depois, tive várias oportunidades por causa das redes. Fui convidada para a exposição “Corpo-Casa”, no Sesc Glória, porque a curadora conheceu meu trabalho através do Facebook. O David Benincá conheceu meutrabalho pela internet, e sem as postagens eu não teria feito as outras exposições no Rio. Como foi desenvolver fotografias que relacionasse o corpo com o ambiente externo? Nesses sete anos do projeto “Provando a Existência”, eu só tirava fotos em casa procurando a relação do meu corpo com objetos e cômodos da casa. Eram trabalhos mais intimistas, introspectivos, sempre com os olhos fechados. Quando eu conheci o David Benincá, a gente começou a experimentar tirar fotos nas ruas do Rio de Janeiro. Nós não planejávamos muito. Saíamos pelas ruas improvisando e procurando a relação com o corpo e a cidade. Essas fotos renderam a exposição chamada “Cabeça de Dolores” no Centro de Arte Maria Teresa Vieira e o curador foi o cartunista André Dahmer .

Da mesma forma que uma pessoa usa o papel ou uma tela, eu uso o corpo. O corpo é o meu suporte.

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presentes. Na performance da escada, eu fico subindo e descendo durante duas horas até chegar à exaustão e no meu limite psicológico. Busquei falar da obsessão. Há uma outra performance, em que busquei tratar de vulnerabilidade e do controle. Eu deixo uma outra pessoa me bater, cortar meu cabelo e meu braço. Na fotografia, sempre tenho muito controle, porque sou eu mesma que tiro a foto e edito. Então, fiquei pensando em como eu poderia me colocar em uma situação em que experimentaria não estar no controle. A performance com a bola tem a ideia de que o espectador seja o artista. Eu também tive intenção de evidenciar o comportamento das pessoas e as reações como piedade, crueldade, compaixão, indiferença, etc. As pessoas acham que eu estou exposta, mas não seria na verdade as pessoas que estão se expondo?

(Lou Isky, 21, artista)

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Kylo Ren, o novo vilão da saga acompanhado do seu exército de stormtrooppers

Há um certo tempo, em uma galáxia nada distante, um cineasta criou uma saga que conquistou fãs em todo o mundo, e que se tornou uma das franquias mais clássicas e de maior lucro na história do entretenimento. Em 1977, o jovem cineasta americano George Lucas criou um complexo roteiro intergaláctico, resultando no filme Star Wars: Episódio IV – Uma nova esperança (na época, lançado no Brasil com o título Guerra nas Estrelas). O filme virou um fenômeno instantaneamente, quebrando recordes de bilheteria e vencendo 7 das 11 categorias as quais foi indicado ao Oscar de 1978. A história é repleta de naves espaciais, soldados, viagens a vários planetas, povos de diferentes raças e, claro, os cavaleiros jedi (uma espécie de guardiões da paz, pertencentes ao lado iluminado da ‘‘Força’’). Entretanto, também conta com um forte teor político em sua trama, apontando relações de ambição e poder, muito DEZ2015

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o retor no DoS j e dis Bruna Vermeuln e Kayque Fabiano

comuns no mundo real. Segundo o próprio Lucas, sua inspiração inicial foi antigos filmes japoneses, o que o levou a adaptar histórias de samurais para aventuras espaciais. Não é à toa que uma das marcas registradas da franquia são as lutas de espadas - que, no caso, são os famosos ‘’sabres de luz’’. Outra referência aos filmes orientais é o capacete do vilão Darth Vader (sim, você o conhece!), que muito se assimila ao de um samurai. De lá para cá, George Lucas acabou por redefinir o conceito de ficção científica e influenciar enormemente a cultura pop - além de construir uma fortuna estimada em aproximadamente US$ 5 bilhões, segundo apuração da revista Forbes em 2015. Atualmente, após a

venda de seu estúdio Lucasfilm para a Walt Disney Company em 2012, o cineasta, juntamente com o diretor J.J. Abrams, trazem uma nova aventura para os fãs da saga: Star Wars: Episódio VII – O despertar da força, que estreia em dezembro. O sétimo filme da franquia, produzido pelos estúdios Disney, se passa 30 anos após o episódio O Retorno de Jedi, trazendo o combate entre a Primeira Ordem, uma ramificação do governo ditatorial do Império Galáctico, e a Resistência, uma nova organização que carrega os ideais da Aliança Rebelde. Além de personagens já conhecidos, surgem novos heróis, assim como um novo vilão. Uma das maiores curiosidades dos fãs acerca dessa nova parte da história é saber

o que aconteceu na vida de alguns dos personagens principais dos outros filmes, como Luke Skywalker, Princesa Leia e Han Solo. ‘‘Estou muito ansioso com a estreia, principalmente para saber qual foi o destino de Luke’’, conta o fã e Web Developer Clayton Vieira, de 28 anos. Apesar do sexto e mais recente filme da franquia ter sido lançado há 10 anos, o espírito jedi é algo sempre presente na legião de fãs, sempre conquistando novos adeptos. Em muitos casos, familiares que tiveram contato com o universo de Star Wars quando adolescentes acabam influenciando os membros mais novos da família. E isso foi o que aconteceu com o estudante Lucas Pereira, de 16 anos, nascido mais de duas décadas após o lançamento de Uma Nova Esperança. ‘‘A minha mãe sempre se interessou por aventuras espaciais, então ela se tornou muito fã da saga desde o primeiro filme. Com o tempo, a paixão por Star Wars continuou, e acabou sendo passada para mim e para minha irmã’’, conta Lucas. Ele também ressalta a expectativa de ver os personagens clássicos da franquia, como o merce-


O despertar da procura O Despertar da Força bateu recordes antes mesmo de estreiar. No primeiro dia de pré-venda de ingressos, a procura foi tão grande que os sites Fangando e MovieTickets.com ficaram fora do ar por um tempo. As vendas antecipadas ultrapassaram os US$ 50 milhões só nos Estados Unidos, um feito inédito. Muitas salas de cinema ao redor do mundo já estão com ingressos esgotados e outras providenciando sessões extra. A expectativa é que o filme alcance o posto de maior bilheteria da história, posto atualmente ocupado por Avatar (2009), com 2,78 bilhões de dólares. Os britânicos Daisy Ridley e John Boyega interpretam Rey e Finn sempre ao lado do mais novo robo da série, BB8 nário Han Solo, interpretado pelo veterano Harrison Ford, seu temperamental amigo Chewbacca e os carismáticos dróides R2-D2 e C-3PO. Por ser um dos maiores marcos do cinema de ficção e possuir personagens tão clássicos, como Darth Vader e seus famosos soldados Stormtroopers, Star Wars coleciona não só um enorme número de fãs nesses 38 anos de existência, mas também se tornou referência cultural presente em filmes, séries e até em peças publicitárias. Um fato que contribuiu muito para que a saga sempre estivesse tão presente, mesmo sem lançamento de filmes, é a participação no mercado de games, livros, cadernos, brinquedos, itens colecionáveis e animações. Agora, com o lançamento de O Despertar da Força, esse mercado só tende a lucrar e se expandir ainda mais. Apesar desse maravilhoso clima de expectativa e nostalgia em torno da nova aventura de Star Wars, algumas pessoas, incluindo fãs da saga, se envolveram num lamentável episódio preconceituoso: um movi-

mento online foi criado para boicotar o filme, fazendo alegações racistas que colocavam como um fato absurdo o protagonista da história, o ser interpretado por um negro. Além disso, havia reclamações também por causa do grande destaque de um personagem feminino. O boicote gerou mais repulsa que adesão, e John Boyega, intérprete de Finn, se manifestou: ‘‘Eu estou no filme, o que vão fazer em relação a isso? Não estou dizendo para eles se acostumarem com o futuro, porque ele já está acontecendo. Pessoas negras e mulheres estão aparecendo cada vez mais nos filmes’’, declarou o ator. Entretanto, com esse novo episódio de Star Wars, toda a ansiedade dos fãs será apenas levemente domada- levemente mesmo, pois a Disney já confirmou a produção de mais dois filmes da franquia nos próximos anos, assim como parques temáticos na Flórida e na Califórnia, ambos nos Estados Unidos, com previsão para 2017. Enquanto isso, nos preparemos então para mais uma aventura pelo Império Galáctico, e que a força esteja com você!

Acima, os cartazes de Wtar Wars 1977 e 2015. Abaixo, o projeto do parque temático idealizado pela Disney,

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ASTROLOGIA Carina Costa Chegamos à terceira e última edição do especial de Astrologia. Finalizaremos com uma breve caracterização dos elementos de cada signo, que são fogo, terra, ar e água. Esses elementos permitem um conhecimento sobre a natureza básica de cada signo. Como poderá ver a seguir, cada elemento é representado por três signos:

SIGNOS DE FOGO: Áries, Leão, Sagitário Signos da ação. Extrovertidos, líderes, otimistas, ágeis, expansivos, competitivos, enérgicos, autoconfiantes e aventureiros. SIGNOS DE TERRA: Touro, Virgem, Capricórnio – Signos da praticidade. práticos, realistas, conservadores, sérios, determinados, eficientes e objetivos. SIGNO SOLAR EM SAGITÁRIO Os sagitarianos são independentes, livres e otimistas. Movimentam-se pela vida para buscar conhecimento e novas experiências. Para eles, aprender é o principal motivo de vida. Também amam a liberdade e estão sempre em constante movimento, seja físico ou mental. Por serem otimistas, gostam de motivar as pessoas, estimulando-as a agir e perseguir seus sonhos. Mas às vezes são impulsivos e excessivamente otimistas e vão em frente sem pensar nas consequências. São os piadistas engraçadinhos do zodíaco! SIGNO SOLAR EM CAPRICÓRNIO Os capricornianos são conservadores, práticos e ambiciosos. Têm desejo por status e posição social. São pessoas que pensam e planejam muito antes de agir. Também são reservados e geralmente possuem um estilo de vida sério. Por serem focados e almejarem a ascensão social, os capricornianos têm o trabalho como o fator de vida mais determinante. Os interesses profissionais ocupam a maior parte de sua rotina. São generosos e amigos fiéis nas relações pessoais. Também conhecidos pelo senso de humor seco. Amam o dinheiro e o poder!

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SIGNOS DE AR: Gêmeos, Libra, Aquário Signos da sociabilidade. Intelectuais, populares, comunicativos, expressivos, racionais, curiosos e flexíveis. SIGNOS DE ÁGUA: Câncer, Escorpião, Peixes – Signos da espiritualidade. Sentimentais, intuitivos, compreensivos, vulneráveis, receptivos e perceptivos. SIGNO SOLAR EM AQUÁRIO Os aquarianos são independentes, excêntricos e altruístas. Preocupam-se com causas humanas e gostam de se envolver em atividades coletivas. Trata-se do signo universal da amizade Têm a reputação de serem diferentes e imprevisíveis. Também podem parecer distantes e frios. Estão muito ligados ao futuro e sempre atentos às novidades tecnológicas. São determinados e teimosos, bem como persistentes e autoconfiantes. Têm a necessidade de se rebelarem contra o status quo. São os revolucionários do zodíaco! SIGNO SOLAR EM PEIXES Os piscianos são sensíveis, generosos, sonhadores e idealistas. Possuem uma natureza psíquica, e por serem impressionáveis, absorvem as vibrações de pessoas, lugares e coisas. Buscam ver apenas o melhor dos outros. São pessoas criativas e podem expressar forte orientação visual pela arte, fotografia ou artesanato. Têm um humor flutuante e são como um camaleão que se adapta a circunstâncias cambiantes e a quase todos os lugares, com qualquer pessoa. Vivem no mundo da lua!


NÓS FIZEMOS A REVISTA PRIMEIRA MÃo 2015/2

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o homem e o mangue Thamara Machado

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