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CASA COR: DESIGN, ARQUITETURA E PAISAGISMO EM MINAS, NO BRASIL E NO MUNDO
As feiras e showrooms de design e arquitetura cumprem um papel de divulgação e articulação de obras de arte contemporânea, e são um canal permeável à exibição da produção artística em geral
Por Amanda Alves
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A Casa Cor, a maior e mais completa mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas, teve sua primeira edição apresentada em 1987. A mostra foi idealizada pela brasileira Yolanda Figueiredo e pela argentina Angelica Rueda, e foi apresentada no bairro Jardim Europa, em São Paulo (SP). No local, foram expostos 22 ambientes, criados por 25 profissionais e visitados por 6,7 mil pessoas.
Atualmente, a Casa Cor possui 16 franquias nacionais (Amazonas, Bahia, Brasília, Campinas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) e duas internacionais: Peru e Panamá.
A importância do evento para os profissionais participantes cresceu junto com a expansão da Casa Cor pelo Brasil e exterior. Hoje, participar da mostra é sinal de notoriedade entre os profissionais do design, da arquitetura e do paisagismo.
Em 2022, aconteceu em Belo Horizonte a 27ª edição da Casa Cor Minas Gerais. Apresentada no Parque do Palácio, antiga residência oficial dos governadores do estado, no bairro Mangabeiras, inaugurado em 1955 com projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.
A mostra apresentou ao público 50 ambientes, assinados por 70 profissionais do segmento. O local do evento se destaca por abrigar uma área ao ar livre com mais de 12 mil metros quadrados, sendo que a maior parte maior parte dos ambientes estava concentrada nas áreas externas que contam com o projeto paisagístico assinado por Roberto Burle Marx.
A curadoria, realizada por Livia Pedreira, Pedro Ariel Santana e Cris Ferraz, apresentou o tema Infinito Particular. O conceito diz respeito à necessidade de projetar ambientes que priorizem o bem-estar físico, mental e espiritual, a harmonia, o equilíbrio e o conforto.
ENTRE A ARTE E O DESIGN: APROXIMAÇÕES E INTERSECÇÕES
As relações entre a arte e o design se iniciam principalmente a partir da experiência proporcionada pela Bauhaus, uma Escola de Artes e Ofícios fundada na Alemanha em 1919. A instituição foi pioneira ao sistematizar uma metodologia para o ensino do design e, ainda, ao buscar a relação entre os artesãos e os artistas, com foco na produção industrial.
Quase simultaneamente, as experiências dos abstracionistas geométricos do movimento De Stijl, encabeçado por Piet Mondrian, no início do século XX, buscaram integrar arte e vida utilizando o design e a arquitetura como vetores para sua teoria.
Os conceitos elaborados por Mondrian, que tinham base na exploração dos eixos bidimensionais cartesianos (altura e largura) e a utilização de cores primárias e puras (vermelho, azul, amarelo e preto) de maneira a constituir totalmente sua investigação como artista visual, acabam por contaminar o trabalho de designers e arquitetos na elaboração de design para objetos e projetos arquitetônicos, chegando até mesmo a contaminar a produção de designers no campo da moda.
As intersecções entre a atividade artística e a do design, são múltiplas. Ambas são essencialmente atividades do âmbito da criação. Além disso, a partir da incorporação nas artes visuais, das imagens técnicas e reprodutíveis, assim como a diversificação de materiais que se incorpora ao fazer artístico no início do século XX, é possível identificar com mais assertividade as semelhanças e entrecruzamentos entre as duas áreas.
O pesquisador Arlindo Antonio Stephan em sua tese de doutoramento intitulada “Entre as artes visuais e o design”, aponta a importância das relações que se estabeleceram ao longo do último século entre as artes visuais e o design.
De acordo com o pesquisador, as aproximações entre os dois campos do conhecimento possam, eventualmente, estabelecer um novo campo do conhecimento, em que as artes possam assumir compromissos sociais ao se utilizarem das linguagens projetivas do design.
E que o design, em contrapartida, possa se beneficiar de uma postura crítica e de liberdade criativa, presente nas artes, o que amplificaria seu poder de inovação e possibilidades transformativas e construtivas.
No caso do design ou arquitetura de interiores, essa intersecção se dá também na possibilidade da inclusão de obras de arte nos ambientes planejados. Neste caso o espaço, concebido pelo designer, pode estabelecer além de uma relação estética uma relação conceitual com os objetos escolhidos para compô-lo.
Em se tratando de obras de arte, especialmente as contemporâneas, a profundidade conceitual dos trabalhos escolhidos pelo designer empresta complexidade e robustez ao projeto, por trazer para o ambiente toda a carga reflexiva que um obra de arte carrega.
A arte contemporânea representa um desafio especial para ocupar de maneira harmônica um projeto de arquitetura de interiores, uma vez que esta classificação da produção artística não tem como foco principal a expressão da beleza. De modo geral a arte contemporânea é um tipo de manifestação artística que privilegia a articulação de conceitos, através de materiais e propostas muito diversificadas.
É comum que o público leigo, rejeite ou trate com indiferença alguns trabalhos de arte contemporânea, por simples incompreensão dos objetivos do artista. É necessário que, para a integração maior do público leigo, ocorram iniciativas de deslocamento dessas produções para fora das galerias de arte.
A inserção de obras de arte contemporânea, nos projetos de arquitetura de interiores, cumpre uma premissa de tornar cotidiano o contato com a produção artística de ponta. Que vem a refletir o pensamento que procura investigar as questões da era presente. De maneira a ampliar o contato do público com aquilo que há de mais relevante na produção artística atual.
É fato no entanto que, estas experiências, geradas pelas feiras e showrooms de arquitetura de interiores e design, trazem consigo um recorte social/econômico restrito. O público que experimenta estes eventos é por vezes pertencente a uma fatia da sociedade compreendida em sua maioria dentro da classe A.
De qualquer maneira, a incorporação da atividade artística contemporânea carece de maior permeabilidade em todas as faixas de segmentação social e econômica. Esta é apenas a identificação de um destes desdobramentos possíveis, dentre vários.
Neste sentido, as experiências de arquitetos de interiores e designers que buscam se apropriar dos objetos artísticos não só como ornamento para seus ambientes ou referências construtivas para seus projetos, atuam no sentido de alimentar o interesse do público, que é capturado pela experiência de interação com obras complexas, num ambiente doméstico e informal
Casa Cor E As Aproxima Es Entre Arte E Arquitetura De Interiores
A Casa Cor Minas Gerais apresentou um projeto interessante no que diz respeito ao entrelaçamento entre design de interiores e a arte contemporânea. O espaço concebido pela arquiteta Cris Capanema exemplifica uma possibilidade de se integrar às áreas .

Ao apresentar um ambiente que agrega obras de artistas como Nelson Leirner, Moisés Patrício, Desali, Eduardo Coimbra, Bruno Cançado, Thaís Helt, Leonora Weissmann e Dan Fialdini, Cris conseguiu reunir um acervo digno de uma mostra com relevância semelhante às apresentadas em galerias e espaços culturais conceituados.
A trajetória de Cris começou antes de se formar em design de interiores em 2001. Ela já trabalhava na área executando projetos para amigos e familiares. Em 2012 ela se muda para o sul de Minas onde consegue grande ascensão profissional, incluindo sua primeira participação na Casa Cor de Ribeirão Preto.
Ao retornar para Belo Horizonte, em 2018, participa, em seguida, em 2021, da Casa Cor de Minas Gerais e Ribeirão Preto, simultaneamente. Na edição de 2022, Cris