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INTRODUÇÃO

“E vou escrever esta história para provar que sou sublime. [...].”

Otarô chegou em minha vida em 1993 e, desde essa data, continua sendo um importante caminho para todo o meu processo de autotransformação e um farol para momentos muito significativos da minha jornada de individuação.

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Com ele, venho desempenhando meu ofício sagrado de servir ao mundo com algo que possa fazer a diferença na minha vida e na de muitas pessoas.

Durante toda a trajetória que percorri pelos caminhos da espiritualidade e do autoconhecimento, na busca por me aprofundar na compreensão da alma humana, o tarô foi a ponte que me permitiu conhecer e estudar diversos outros sistemas simbólicos, que também são artes poderosas de autoconhecimento e transformação interior, como é o caso da astrologia, da numerologia e de tantos outros oráculos e saberes da alma. Enquanto me dedicava a diferentes atividades, sempre me surpreendia ao encontrar nelas também o tarô: na arte, na literatura, na filosofia, na psicologia e mesmo em situações do cotidiano. Lá estavam os arcanos, apresentando-se em uma miríade de formas, alimentando em mim o interesse e o desejo de continuar aprofundando-me em seus mistérios.

Seguindo o caminho que as próprias lâminas me apresentavam, vi-me trilhando a jornada que elas abriam à minha frente e experimentando a profunda sabedoria contida em cada uma de suas figuras. Quanto mais prosseguia por esse caminho, maior se tornava também minha vontade de beber do conhecimento simbólico a ser desvendado em cada lâmina do tarô.

Logo cedo compreendi que, para além de um mero instrumento de adivinhação e previsão do futuro, como muitas vezes o tarô é pensado e praticado, havia nesse livro sem palavras um valioso tesouro, que no tarô podemos explorar muito mais do que sua simbologia previsional, pois ele contém uma dimensão arquetípica e é um depositário da história e da experiência da humanidade, que se registra no infinito do tempo.

Muitos anos se passaram, e somente em 2018 recebi uma intuição muito clara de que essa busca à qual sempre me senti convocado – como no arcano O Louco, que nos leva a percorrer o desconhecido – precisava de uma nova transformação. Sem demora, passei também a me dedicar ao estudo da psicologia analítica de Carl G. Jung e nela encontrei a fundamentação teórica necessária para desenvolver uma visão mais profunda sobre o tarô.

A obra Tarô Arquetípico, que agora você tem em mãos, é fruto dessa história – uma relação intensa e íntima que desenvolvi ao longo de mais de duas décadas com esse instrumento tão sagrado que é o tarô e com tudo o que ele despertou em mim.

Ao receber o convite da Editora Pensamento para desenvolver este projeto, sabia que estava diante de um grande desafio: como traduzir em palavras uma experiência que não era simplesmente teórica, mas visceral e íntima?

O tarô é um desses sistemas de conhecimento que exige de nós uma vida inteira de dedicação e esforço – quase um sacerdócio, no verdadeiro sentido da palavra –, e, quanto mais avançamos, mais percebemos que ainda há muito que explorar e conhecer. Por meio deste livro, especialmente preparado após uma longa jornada pessoal, sinto que posso não apenas compartilhar com você um pouco de tudo o que aprendi e experimentei com cada arcano do tarô, mas também reunir em uma mesma obra diversos aspectos do conhecimento, muito valiosos e raros a mim.

O Tarô Arquetípico acompanha um baralho com as 78 lâminas coloridas do tarô, sonhadas por mim, desenhadas pela artista plástica Cristina Martoni especialmente para esse projeto e nascidas de um lugar de intimidade com sua simbologia.

O baralho que exerceu grande influência em minha formação como tarólogo e inspirou o nascimento do Tarô Arquetípico foi o clássico Rider-Waite, idealizado por Arthur Waite6 e ilustrado por Pamela Colman Smith7, impresso pela primeira vez em 1909.

O trabalho de Waite e Pamela foi pioneiro em ilustrar as cartas dos Arcanos Menores com cenas relacionadas a seu significado, influenciando para sempre a história e a compreensão desse oráculo. A artista plástica responsável por ilustrar cada uma das cartas do Tarô Arquetípico foi capaz de capturar a essência do que acredito estar representado em cada arcano e, ao mesmo tempo, conferir a elas uma identidade que refletisse também minha relação e minhas fontes de inspiração ao trabalhar com o tarô e que estão presentes em meu universo pessoal.

Dedicamos aproximadamente três anos de muito trabalho e pesquisa à elaboração deste livro e do baralho, muitas vezes passando por desertos, outras, por grandes oásis, num exercício de paciência com o ritmo de um tempo para além da nossa compreensão consciente.

O Tarô Arquetípico impôs seu tempo, que respeitei, entrando em acordo com ele e seguindo o curso do rio interior. No Capítulo 1 (Definição, Origens e História do Tarô), percorreremos a história do tarô, buscando desfazer as lendas sobre suas origens e mostrar as diversas influências responsáveis por seu surgimento. No Capítulo 2 (O Tarô e o Inconsciente), conheceremos as origens da psicologia analítica e as contribuições que ela pode trazer ao estudo e à compreensão do tarô como ferramenta de autoconhecimento.

No Capítulo 3 (Arquétipo, Símbolo e Sincronicidade no Tarô: O Mundo

6. Arthur Edward Waite (02/10/1857-19/05/1942) nasceu nos Estados Unidos, mas, após a morte prematura do pai, retornou com a mãe inglesa para Londres. Desde cedo, manifestou interesse por ocultismo e espiritualidade graças ao contato com a obra de Éliphas Lévi. Foi membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e participou ativamente da maçonaria e do Rosacrucianismo. Publicou diversos títulos sobre diferentes temas relacionados ao ocultismo, como a cabala, a astrologia, a teosofia e a alquimia. Entretanto, Waite eternizou seu nome ao idealizar o famoso baralho de tarô que ficou conhecido como Rider-Waite, que inovou ao criar cenas ilustradas para os Arcanos Menores, com imagens criadas pela artista plástica e ilustradora Pamela Smith. Seu baralho estava repleto de símbolos astrológicos e ocultos, fazendo com que rapidamente se popularizasse. Hoje, entre todos os baralhos de tarô o mais famoso é conhecido como Waite-Smith, em homenagem a Pamela Smith, sem o nome Rider, que era apenas o editor da obra.

7. Pamela Colman Smith (16/02/1878-18/09/1951) viveu na Inglaterra e desde cedo se interessou por desenvolver seus talentos artísticos. Participou das atividades do Lyceum Theatre, em Londres. Aos 15 anos, foi estudar arte no Pratt Institute e voltou para Londres após concluir sua formação. Em 1901, ingressou no templo Ísis-Urânia da Ordem Hermética da Aurora Dourada, onde conheceu das Formas e as Imagens Arquetípicas), entenderemos o sentido de símbolo, arquétipo, imagem arquetípica e sincronicidade, todos conceitos fundamentais para que possamos analisar o tarô à luz da teoria da psicologia analítica e estabelecer um diálogo entre ambos.

Arthur Edward Waite. Com ele trabalhou na criação do famoso baralho Rider-Waite e foi responsável por criar suas ilustrações, que passariam a inspirar todos os estudiosos da arte do tarô e os baralhos desenvolvidos a partir de então.

No Capítulo 4 (A Dimensão Simbólica no Tarô) vamos abordar a jornada do arcano O Louco e sua trajetória pelos Arcanos Maiores como fases de um ciclo de desenvolvimento interior dentro de uma perspectiva simbólica e arquetípica. Aqui poderemos aprofundar todos os elementos que compõem a imagética do Tarô - figuras e construções humanas, animais e corpos celestes. No Capítulo 5 (Os Arcanos Maiores) inicia-se nossa jornada através das cartas. Nele, exploraremos cada uma das 22 lâminas dos Arcanos Maiores, discutindo seus significados oraculares, olhando atentamente para os seus principais elementos simbólicos e refletindo sobre o sentido das cartas na busca pelo desenvolvimento humano e das lições de vida que podemos aprender com as expressões arquetípicas e mitológicas contidas em cada uma delas. No Capítulo 6 (Os Arcanos Menores e as Quatro Dimensões da Vida), voltaremos nossa atenção às cartas que compõem os naipes de Paus, Ouros, Espadas e Copas, visando a uma maior compreensão das diversas áreas da experiência humana, contidas em cada uma delas no processo de amadurecimento no reino arquetípico dos quatro elementos – Fogo, Terra, Ar e Água. Ao mesmo tempo, estabeleceremos um paralelo entre esses quatro elementos e os quatro tipos psicológicos presentes na teoria junguiana –intuição, sensação, pensamento e sentimento, respectivamente –, para que possamos compreendê-los não apenas como forças externas e atuantes na natureza, mas também interiormente, na alma humana.

Após discutirmos cada uma das 78 lâminas do tarô, exploraremos as maneiras de utilizar as cartas em diversos métodos de tiragem e interpretação. A isso é dedicado o Capítulo 7 (Interpretação e Métodos de Tiragem). Já no Capítulo 8 (Aspectos Práticos para a Leitura), você encontrará informações sobre a preparação, o início e o término de uma leitura de tarô. E no Capítulo 9 estão as respostas para as dúvidas mais comuns sobre o trabalho com esse oráculo.

Despedimo-nos com as considerações finais, nas quais deixo a você minhas palavras de encerramento.

Ao longo de minha trajetória, pude desenvolver um incontável número de cursos, palestras e atendimentos e falar sobre o tarô em diversos veículos midiáticos, como rádio, televisão e internet. Sempre utilizei todas essas

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