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Coluna Associtrus
ASSOCITRUS Associação Brasileira dos Citricultores
Baixa rentabilidade
Mercado verticalizado impede que remuneração dos produtores de citros se beneficie do equilíbrio entre oferta e demanda
No mês de julho iniciou-se oficialmente o processamento da safra de laranja 2020/21. Como já foi registrado, esta safra está estimada pelo Fundecitrus, para o cinturão citrícola paulista, em 287,76 milhões de caixas de 40,8kg, uma redução de 23,3% em relação à safra 2019/20, que totalizou 375 milhões de caixas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que a safra brasileira será de 382,8 milhões de caixas, ao acrescentar uma estimativa de 95 milhões de caixas dos demais estados, contra uma produção de 472 milhões de caixas para a safra anterior, com uma redução de 19% na oferta de laranja. Essa diminuição deverá implicar redução de produção de suco de laranja de 32% em São Paulo e de 22% no Brasil.
Em São Paulo deverão ser processados 238 milhões de caixas de laranja, enquanto os outros estados produtores deverão processar 24 milhões de caixas, totalizando 262 milhões de caixas, uma redução de 87 milhões de caixas. Para se ter uma noção do tamanho e da importância dessa redução, pode-se comparar este número com a estimativa de safra da Flórida, o segundo maior produtor de laranja e de suco de laranja, que está em 71 milhões de caixas de laranja. Desta forma, o impacto na oferta de suco de laranja será muito expressivo e deveria ter um grande impacto nos preços.
O relatório do USDA estima que a produção brasileira de suco de laranja, em toneladas equivalentes a 65°brix, na safra 20020/21, será de 1,022 milhão de toneladas, uma redução de 290 mil toneladas em relação à safra passada devido à menor oferta de matéria-prima. Na safra anterior, o Brasil produziu 1,312 milhão de toneladas equivalentes a 65°brix de suco de laranja.
O mercado de suco de laranja tem dois grandes produtos: o suco concentrado congelado a 65°brix, conhecido pela sigla FCOJ (Frozen Concentrate Orange Juice), e o suco de laranja não concentrado a 11,6°brix, conhecido pela sigla NFC (Not From Concentrate).
Estima-se que a produção de São Paulo será de 650 mil toneladas de suco de laranja concentrado e de 292 mil toneladas eq de suco não concentrado, às quais se somam 80 mil toneladas dos demais estados produtores, totalizando 1,022 milhão de toneladas.
Os estoques no Brasil totalizam 290 mil toneladas; desta forma, somando-se a produção prevista aos estoques haverá disponibilidade de 1,312 milhão de toneladas.
A exportação prevista pelos técnicos do USDA é de 965 mil toneladas eq 65°, das quais 630 mil toneladas de suco concentrado, 280 mil toneladas eq de suco não concentrado e 55 mil toneladas de suco dos demais estados. O consumo interno deverá ser de 42 mil toneladas, levando a um estoque de passagem no final de junho de 2021 a 305 mil toneladas.
O Brasil exportou na safra 2019/20 4,8% mais do que na safra 2018/19. Há indicações de que, devido à pandemia do coronavírus, houve uma mudança importante nos hábitos de consumo; os consumidores passaram a tomar o café da manhã em casa e o suco de laranja voltou a ser visto como uma fonte importante de vitamina C, que poderia aumentar a imunidade dos consumidores.
Em maio, logo após a divulgação da estimativa de safra, os contratos de fornecimento de laranja, de acordo com o Cepea, variaram entre R$ 23,00 e R$ 25,00 por caixa, sendo que em alguns casos de grandes produtores os preços atingiram R$ 26,00 a caixa. Em julho, com grande parte da fruta contratada e aumento da oferta, os preços pagos pela indústria estiveram na faixa de R$ 23,50 a caixa.
Os preços da laranja no estado de São Paulo não refletem a redução da oferta de laranja nesta safra. Apesar da redução de 23,3% na oferta, o preço em reais apresentou um aumento da ordem de 13,8%, porém em dólares houve uma redução de 21%.
É importante notar que o custo de produção divulgado pela FNP com valores de agosto de 2019 e dólar de R$ 4,027 para a fruta colhida e carregada no caminhão, portanto sem incluir o frete, estimado na faixa de R$ 3,00 a R$ 4,00, era de R$ 22,17 para um nível de produtividade de 832,32 caixas de 40,8kg por hectare, o que não deixa margem para o produtor.
Fica assim evidenciado o poder de mercado concentrado nas mãos das três maiores processadoras altamente verticalizadas, que produzem cerca de 50% da fruta que processam. C
Flávio Viegas, Associtrus