
13 minute read
Pao L a Siviero
Copyright © 2023 Paola Siviero
Copyright desta edição © 2023 Editora Gutenberg editora responsável
Advertisement
Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
Flavia Lago editoras assistentes
Natália Chagas Máximo
Samira Vilela preparação de texto
Jana Bianchi revisão
Vanessa Gonçalves ilustração da capa Vito Quintans adaptação da capa Diogo Droschi projeto gráfico
Diogo Droschi diagramação
Christiane Morais de Oliveira
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Siviero, Paola
A lenda da caixa das almas / Paola Siviero. -- 1. ed. -- São Paulo : Gutenberg, 2023. -- (Caixa das almas, v. 1.)
ISBN 978-85-8235-698-2
1. Romance brasileiro I. Título.
23-161320
Índices para catálogo sistemático:
CDD-B869.3
1. Romances : Literatura brasileira B869.3
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
A Gutenberg Uma Editora Do Grupo Aut Ntica
São Paulo
Av. Paulista, 2.073 . Conjunto Nacional
Horsa I . Sala 309 . Bela Vista
01311-940 . São Paulo . SP
Tel.: (55 11) 3034 4468 www.editoragutenberg.com.br
SAC: atendimentoleitor@grupoautentica.com.br
Belo Horizonte
Rua Carlos Turner, 420 Silveira . 31140-520
Belo Horizonte . MG
Tel.: (55 31) 3465 4500
Me lembro das trilhas que a gente percorreu juntos. De como você me puxou ladeira acima quando as minhas pernas falharam. De como algumas vezes eu chorei de cansaço e pensei em desistir, e você insistiu dizendo que eu conseguiria chegar até o final.
Você viu essa história nascer. Me acompanhou nessa estrada longa e tortuosa, segurou minha mão no exato segundo em que comecei a sonhar e não largou nem nos momentos mais difíceis.
Para o meu primeiro leitor e meu grande amor, Henrique. Obrigada por transformar “sonhar” num verbo menos solitário.

Os dois meninos caminhavam pela Floresta Sombria tentando não fazer ruído algum. O primeiro tinha passos firmes e precisos – como se, mesmo tão novo, já soubesse o caminho a seguir e onde pisar. O segundo se esforçava, numa tentativa risível de imitar o irmão, mas seus pés desajeitados quebravam o silêncio chutando pedras, tropeçando em raízes e pisando em gravetos.
No entanto, Otto não reclamava nem olhava feio para o irmão menos habilidoso. Provavelmente porque, de todas as formas possíveis, Theo sempre estivera atrás.
Começara no nascimento. Eram gêmeos, e Otto tinha vindo primeiro. Theo demorara até mesmo para chorar ao chegar ao mundo. O mais velho dera seus primeiros passos meses antes do irmão, pronunciava palavras enquanto Theo apenas balbuciava. Tinha mais coragem nas brincadeiras, chorava menos quando caía. Era bem como diziam: idênticos, e ainda assim tão diferentes. Mas as comparações não incomodavam Theo; era o maior admirador do irmão. Mais que isso: sentia-se grato por ter Otto ao seu lado, o ensinando e incentivando a ser melhor. Não conseguia nem mesmo imaginar como teriam sido aqueles seus doze anos de vida sem ter o gêmeo como guia.
– Como você faz isso? – Theo perguntou, num sussurro, para não alertar as possíveis presas.
– Isso o quê? – Otto indagou, sem se virar.
Theo o observou com a sensação estranha de estar olhando para um espelho: Otto era alto e magrelo, tinha cabelo preto e olhos atentos de um tom cinza-escuro. O que ajudava a diferenciar os irmãos era uma marca de nascença em forma de estrela na parte interior do braço – direito no caso de Theo e esquerdo no de Otto. Bom, agora havia também o comprimento do cabelo. Mesmo sob os protestos constantes do pai, Otto se recusava a cortá-lo, e já chegava aos ombros.
– Isso – Theo disse, no momento em que Otto levantou o pé para não tropeçar, sem nem ao menos olhar para baixo. – Como você sabia que tinha uma raiz bem aí?
Mágica, irmão – Otto respondeu, rindo da própria piada. Depois se virou para encarar o outro. – Você precisa observar o terreno antes. Ir olhando de vez em quando e gravando tudo na mente... Fazendo isso dá pra sentir onde as coisas estão. Entende?
Não. Theo não tinha a menor ideia do que ele queria dizer com aquilo. Mas talvez fosse só questão de tempo, assim como todo o resto.
Naqueles poucos meses desde que mater e pater enfim haviam permitido que fossem sozinhos para a floresta, tinham levado várias caças para casa – todas abatidas por Otto. Mas agora Theo já acertava os alvos de treinamento na maioria das vezes, então tinha esperança de finalmente conseguir fazer os olhos de Carian brilharem com orgulho.
De repente, Otto estacou e se virou. Pousou o indicador sobre os lábios e apontou para a clareira à frente. Theo estreitou os olhos e viu o animal ao longe, entre os troncos pretos.
Era um cervo de poucos meses. A grande chance que estava esperando nas últimas semanas. Caçar fazia uma mistura confusa borbulhar em seu estômago: empolgação pela perspectiva de alimentar a vila, medo de não conseguir... E havia culpa também, não dava pra negar. A natureza funcionava assim, precisavam do alimento e só levavam o estritamente necessário, mas nem por isso o ato de matar um animal deixava de pesar.
Ainda faltavam quatro anos para que tivessem de escolher seus destinos, porém seria natural seguirem os passos de pater. Otto pelo menos tinha certeza absoluta de que seria um caçador. Theo provavelmente passaria a sentir o mesmo em breve. Adorava ouvir as histórias sobre o que outras pessoas dedicadas ao ofício viam e viviam... Seria divertido fazer parte daquele grupo de homens e mulheres que se embrenhavam por dias na floresta e depois eram recebidos de volta com aplausos e agradecimentos.
Eles se esconderam atrás de um carvalho. Cervos tinham uma ótima audição; tentar se aproximar seria arriscado demais, principalmente com o tapete de folhas secas que cobria o chão. Otto gesticulou para o irmão, numa conversa silenciosa de acenos de cabeça e olhares incisivos, e passou a responsabilidade do tiro a Theo. Ele sorriu e concordou, pensando que depois deixaria que o outro comesse sua porção de frutas no jantar.
Theo levou o braço para trás e puxou uma flecha da aljava. Levantou o arco, esticou a corda e fechou o olho esquerdo. Precisava de alguns instantes para ajustar a mira; se o tiro acertasse o pulmão ou o coração, o animal morreria sem sofrimento. Inspirou fundo uma última vez e prendeu o ar.
O cervo levantou a cabeça e o encarou no momento em que ele abria os dedos para soltar a flecha. O olhar era intenso, e sua expressão estava cheia de uma compreensão profunda que parecia incompatível com um animal selvagem. O tempo quase parou quando Theo entendeu o que aquilo significava. O menino moveu o arco para tentar desviar a rota do tiro, sem saber se seria suficiente.
A flecha se cravou num tronco, a centímetros do filhote. A presa não se mexeu; era como se tivesse compreendido que os humanos não eram uma ameaça. As pernas de Theo tremeram e acabaram cedendo. Ele caiu de joelhos.
– Anima – suspirou, ofegante.
O que faria se não tivesse conseguido desviar a flecha?
Teria que confessar quando chegasse à vila... Aquilo geraria uma comoção; todas as pessoas prestes a completar dezesseis anos ficariam aflitas, perguntando-se quem seria o coitado que viveria incompleto pelo resto de seus dias, sem nunca se unir a seu espírito animal. A vila inteira choraria aquela perda.
– Calma, Theo. Você não... – Otto apertou seu ombro. – Está tudo bem, o cervo não se feriu.
– Por que ele não me deu algum sinal? – Theo perguntou, encarando o animal, que finalmente virou as costas e correu.
– Mas ele deu! Animae são inteligentes, e ele te avisou na hora certa... – Otto estendeu uma mão para ajudar o irmão a se levantar. –Vem. Ainda dá tempo de achar pelo menos uma lebre.
Continuaram a busca. Em algum lugar não muito longe, um corvo grasnou quatro vezes de um jeito agourento, e o frio do outono pareceu responder. Uma neblina fina se esparramou entre as árvores, fazendo os pelos do braço de Theo se arrepiarem. Um vulto grande os sobrevoou, e ele olhou para cima já com uma flecha no arco.
– Viu alguma coisa? – Otto perguntou.
– Achei que sim... Mas deve ter sido só impressão. Uma brisa gélida soprou, buscando frestas nas roupas e chegando até os ossos. A nuca de Theo formigou e ele se virou rápido, mas de novo não havia nada ali. Fechou os botões da túnica de lã.
Se aquela fosse uma floresta comum, o dia se prolongaria por mais algumas horas, mas o líquen-carvão que crescia sobre os troncos absorvia boa parte da luminosidade. A noite sempre chegava primeiro na Floresta Sombria.
– Acho que está na hora de voltar – Theo sugeriu. Estava incomodado, sentindo que havia algo errado. Ao ver a neblina se adensar, teve um impulso repentino de sair correndo.
– Não, calma, ainda dá pra enxergar bem – Otto respondeu. –Vamos nos separar.
– Melhor não, Otto – falou Theo na mesma hora.
Mesmo caçadores mais experientes não vagavam sozinhos. Theo não acreditava em monstros, fantasmas ou qualquer criatura sobrenatural – lendas que afastavam pessoas supersticiosas da Floresta Sombria
– contudo, havia ursos e lobos na região.
– A gente não conseguiu nada a semana inteira! – Otto insistiu.
Só um pouquinho... Quando a luz estiver acabando, a gente se encontra na estrada. Ninguém precisa ficar sabendo.
Pater e mater. Os garotos tinham prometido não se separar. Theo pensou em usar isso como argumento, mas parecia bobo. E Otto sempre acabava conseguindo fazer as coisas do jeito dele.
– Tá bom – concordou Theo, contrariado. – Só que se você não estiver lá na hora marcada, vou direto pra casa contar que a ideia idiota foi sua.
Otto sorriu com o canto da boca, deu uma piscadinha e correu na direção sul. Em poucos segundos já tinha sido engolido pela neblina, então o irmão se virou e seguiu rumo ao norte.
Caminhou por alguns minutos, estranhando o silêncio. Àquela hora, os pássaros deveriam estar se despedindo do dia, os insetos preenchendo o ar com seus zunidos densos. Porém, o único som era o das folhas estalando sob seus pés. A situação toda era angustiante.
Ele chegou ao pequeno lago onde costumavam brincar no verão.
A bruma ali se dissipara, e a água refletia os últimos raios de sol. A sensação estranha passou, e ele conseguiu relaxar um pouco. De repente, aquele medo pareceu uma coisa infantil e o menino riu de si mesmo, pensando no que Otto diria se soubesse que, por muito pouco, ele não tinha saído em disparada como um animal assustado. No meio do devaneio, um movimento chamou sua atenção.
Uma doninha avermelhada corria entre as folhas secas. Talvez o dia não fosse terminar como um fiasco total, mas não havia tempo a perder; logo estaria escuro demais para enxergar qualquer coisa. Puxou uma flecha, preparou o arco e disparou.
Três coisas aconteceram ao mesmo tempo.
A doninha se enfiou num buraco.
A flecha se cravou no solo.
Um grito cortou o ar.
Theo reconheceria aquela voz mesmo em outra vida. E o horror que ela transmitia fez seu corpo congelar, do peito às pontas dos dedos. Ele largou o arco no chão e correu sem hesitar.
– Otto! OTTO!
Correu. Por que ele não respondia? Continuou na direção sul, gritando, tentando afastar da mente imagens de um ataque de lobos. Ou de um urso.
– OTTO!
Correu por muitos minutos, sempre chamando o irmão. Passou pelo local onde tinham se separado e tomou o rumo que o outro seguira. Logo estava vasculhando a parte sul da floresta.
– OTTOOOOOO! – gritou o mais alto que pôde. Sua voz e suas forças estavam se esgotando.
– Otto... por favor – sussurrou, com os olhos ardendo. Apoiou as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego, mas o ar parecia não entrar.
– Luce, Deusa da Luz, criadora da vida, por favor – implorou, numa oração simples e desesperada.
A floresta já estava escura. Um lobo uivou. Parecia um lamento.
Ele voltou a correr, com um nó na garganta e as mãos trêmulas, mas dessa vez em direção à vila.
Ao atravessar a linha das árvores, a claridade o surpreendeu. O sol se punha atrás das montanhas, fazendo os campos de aveia reluzirem como um lago dourado. As pedras brancas das casas ao longe estavam tingidas pelos tons vermelhos do firmamento. Tons de sangue. Disparou por entre os campos até alcançar as ruas estreitas de Pedra Branca. Passou pela praça do poço, tomou a segunda viela à esquerda e, algumas casas adiante, abriu a porta pesada de madeira.
Seus pés latejavam nas botas, assim como o coração dentro do peito.
Feline, a puma do pai, estava estirada ao lado da lareira. Carian saiu do quarto quando ouviu a porta bater.
– Pater... – Theo se engasgou, como se tivesse engolido uma pedra. – Otto sumiu na floresta... Ele gritou. Eu procurei, procurei por toda parte! Ouvi um lobo, não sei...
Agora que havia falado tudo aquilo em voz alta, era real. A verdade tinha o peso de uma montanha, e de repente parecia muito difícil respirar. Aquele grito... Algo horrível tinha acontecido.
Theo viu o próprio pânico refletido no rosto de Carian. O pai agarrou sua mão, e o menino se deixou arrastar pelas ruas. Feline liderou o caminho, e num piscar de olhos estavam na praça.
Pater puxou a corda para tocar o grande sino que ficava no centro.
Blém. Blém. Blém.
O som alto e profundo ressoou no estômago de Theo. Era o alerta para anúncios e emergências. Agora, soava como um chamado para a guerra.
As pessoas começaram a chegar, capas apertadas em volta do corpo e a expressão preocupada.
– Meu filho sumiu... Otto sumiu na floresta! – pater gritou. –Vamos fazer uma busca!
Enquanto ele falava com as pessoas e organizava tudo, o menino ficou ao seu lado, com o olhar desfocado. Por um momento, teve a impressão de que aquilo acontecia com outras pessoas.
Theo... Theo! – Carian teve que chacoalhá-lo para que reagisse.
– Onde exatamente ele sumiu?
– Na parte sul. A gente se separou perto da clareira grande. Eu fui para o norte e ele para o sul.
Engoliu em seco. Era tudo culpa dele. Pater assentiu e começou a gritar mais ordens.
– Eu também quero ir – Theo disse.
– Não, de jeito nenhum. Você fica. Estava prestes a argumentar quando viu uma mulher se aproximando. Alta, com ombros largos, o cabelo dourado e cacheado balançando conforme corria. Vestia uma túnica branca, calças de lã e botas de couro.
– Carian!
– Lia, ele sumiu – pater respondeu, com a voz vacilante pela primeira vez.
– Calma. A gente vai encontrar o Otto – ela disse, alternando o olhar entre o companheiro e o filho. – Preciso de uma tocha.
– Melhor não – Carian suplicou, lançando um olhar para o ventre dela. Há poucas semanas mater anunciara que havia mais um integrante da família a caminho, e a barriga já era visível. Grávida ou não, Theo sabia que ela não aceitaria ficar para trás.
– Não vou esperar sentada enquanto ele está... perdido. – Por um breve momento, ela pareceu hesitar, porém logo voltou a ser a fortaleza de sempre. – Vai ter muita gente junto, vou ficar bem.
Eles discutiram a melhor estratégia e decidiram que iriam em grupos distintos. Mandaram o filho voltar para casa, mas ele permaneceu ali, estático. Viu quando Lia estendeu uma faca para Carian. Reparou que havia uma runa desenhada no cabo de pedra.
– Já estou levando tudo de que preciso.
– É minha faca da sorte – mater insistiu.
Ela assoviou, e uma águia-real desceu do céu sem estrelas para pousar no bracelete de couro que cobria seu antebraço.
– Áquila, procure o Otto. – Lia encostou sua cabeça na da águia e impulsionou o anima para cima, que voou na direção da Floresta Sombria. – Feline?
– Já foi.
As pessoas começaram a se mover. Pater deu mais um abraço nos dois e se foi, a luz bruxuleante da tocha iluminando a barba escura, as sobrancelhas grossas e o maxilar cerrado.
Mater partiu com o segundo grupo, mas antes repetiu para o filho ir para casa. Ela provavelmente já sabia que Theo não obedeceria, e o menino acabou se juntando ao terceiro grupo.
Percorreram a floresta a noite toda, procurando pegadas de animais, vestígios de sangue, galhos quebrados ou qualquer outra coisa que pudesse indicar o que havia acontecido. Nada.
Quando os primeiros raios de sol romperam a escuridão, o líder do grupo de Theo anunciou que retornariam. O garoto se revoltou e correu para continuar procurando sozinho, mas foi arrastado de volta. Pelo menos permitiram que permanecesse na estrada, esperando as outras pessoas emergirem da linha das árvores.
O grupo de Lia apareceu no meio da manhã. Theo buscou o rosto de Otto entre os outros, mas aquela pontada morna de esperança rapidamente se transformou numa onda de decepção. Mater parou ao seu lado enquanto aguardavam os demais e segurou sua mão... para amparar o filho ou a si mesma.
Já passava do meio-dia quando Carian voltou. Não foi necessário que Theo procurasse pelo irmão: a derrota estampada no rosto de pater já dizia tudo.
Os três se abraçaram ali, no meio da estrada, como se precisassem segurar uns aos outros para não se quebrarem em centenas de pedaços. A cola que os unia era uma dor tão forte que Theo nem imaginava que pudesse existir. Os soluços eram altos, e num dado momento ninguém sabia mais de quem eram as lágrimas que encharcavam as roupas.
Era um daqueles momentos que deixa na mente uma cicatriz.
Algo que fica marcado para sempre.
Eles não desistiram. Não podiam. Aceitar uma tragédia era difícil, mas não saber o que tinha acontecido era insuportável. Procuraram por Otto mais um dia. E mais outro.
Apenas no segundo dia de buscas, Theo conseguiu comer alguma coisa. Só no quinto dormiu a noite inteira, apesar dos pesadelos. Todos os dias ele chorou.
Chorou deitado no quarto, encarando o vazio da cama ao lado. Chorou quando saíam da floresta sem encontrar nada. Chorou ouvindo os soluços de Lia e Carian no outro quarto. Chorou a cada vez que imaginava uma vida sem Otto.
Seu melhor amigo, seu companheiro desde antes de chegarem ao mundo...
Os três continuaram as buscas por semanas com a ajuda de um pequeno grupo, e por muitos meses sem o auxílio de ninguém.
Mesmo anos depois, sempre que Carian partia pela manhã para caçar na floresta, Theo e Lia o acompanhavam até a porta. Sem dizer nada, pediam que ele continuasse procurando.
E, nos olhos cinzas de pater, dava para ler a resposta. Sempre.