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Perdas de Grãos na Armazenagem e suas Relações com o Clima – Marcos Wendt

Marcos Wendt

Instrutor TAG Treinamento em Armazenagem de Grãos marcos.cristian.wendt@gmail.com

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As perdas de grãos na armazenagem nos silos e armazéns brasileiros são recorrentes, ano após ano. Levantamentos oficiais mostram números, geralmente, na casa de 3-4%, embora já tenhamos visto números consideravelmente maiores.

Em 2015 números da Embrapa Milho apontavam percentuais que chegavam a 15% do volume total armazenado.

Se levarmos em conta situações mais pontuais, temos registros de perdas em armazéns brasileiros que ultrapassam os 10%, extrapolando todas as médias.

Analisando as projeções feitas pela CONAB em seu 10° levantamento para o ciclo da safra 2021/2022, onde foi apontado um crescimento de 6,7% frente ao ciclo anterior (2020/2021), temos uma previsão de produção estimada em 272,5 milhões de toneladas de grãos.

Desse montante, considerando perdas médias na casa de 04% durante a armazenagem, é possível já estimar números próximos a 11 milhões de toneladas de grãos avariados nos silos e armazéns brasileiros, resultando em prejuízos que somarão bilhões de reais.

Esse percentual de 04% de perdas, enquanto visto como número, não parece tão expressivo e, muitas vezes, é interpretado como “dentro do aceitável”, entretanto quando trazemos isso para dentro dos portões de unidades armazenadoras, estamos falando de aproximadamente 01 a cada 20 silos, ou seja: a cada 20 silos de grãos, 01 será perdido durante o ciclo de armazenagem da safra brasileira.

Não se trata se alarmismo, mas matemática das mais simples.

Mas, além de fatores operacionais, teríamos outras particularidades que tornam nossa armazenagem suscetível às perdas, estas muitas vezes muito acima das médias oficiais de 3-4%?

Em meu último trabalho, O Mínimo Que Você Precisa Saber Sobre Armazenagem de Grãos (veja acessando o QR Code, figura 01), apresentei um breve comparativo mostrando as relações entre per-

das de grãos nos silos e armazéns brasileiros conforme levantamento feito pela Embrapa durante a armazenagem da safra do ciclo 2016/2017 e as condições climáticas registradas pelo Inmet no ano de 2017 nas mesmas regiões.

Esse estudo teve o objetivo de verificar possíveis relações entre perdas na armazenagem e suas relações com condições climáticas.

Organizei os dados em uma tabela (figura 02) de modo a facilitar a observação e análise.

Podemos observar alguns números e daí extrair algumas conclusões interessantes quanto às perdas registradas em cada Estado e suas relações, por

Se levarmos em conta as condições climáticas desses dois Estados que ocupam os extremos do levantamento, podemos notar que a condição climática pode ter parcela significativa de contribuição para os resultados obtidos nos silos e armazéns de ambos.

Em termos de manejo, considerando, por exemplo, utilização de aeração convencional, com insuflação de ar ambiente na massa de grãos, podemos facilmente perceber que o Estado da Bahia impôs uma condição favorável à secagem de grãos abaixo do padrão comercial de 14% praticado atualmente.

Já o Estado do Paraná, com umidade relativa mé-

horas estreitas, com as condições climáticas registradas no período.

Como podemos observar, o Estado que registrou as menores perdas médias foi a Bahia, que apresentou no período umidade relativa ambiente média na casa de 59,88%.

Já o Estado do Paraná, que apresentou as maiores perdas médias (acima da média nacional), alcançando 5,62%, registrou umidade relativa ambiente média na casa de 79,63%.

Figura 2. - Percentual de Grãos Avariados X Condição climática

dia mais elevada, obteve melhores condições para a manutenção de teores de umidade próximos dos 14% praticados pelo mercado.

Devemos levar em conta, no entanto, que faixas de umidade relativa mais elevadas, como as registradas no Estado do Paraná durante o período, são mais favoráveis ao desenvolvimento de fungos e pragas na armazenagem, elevando também a atividade metabólica dos grãos, acelerando assim os processos de deterioração dos mesmos.

Umidades relativas mais baixas apresentam melhores resultados quanto ao controle de pragas na armazenagem, contribuindo também para a melhor conservação dos grãos, uma vez que seu teor de umidade de equilíbrio é reduzido, reduzindo também sua atividade metabólica, contribuindo para uma melhor conservação.

É possível que, no período analisado, o Estado da Bahia tenha retirado a safra dos silos e armazéns com teores de umidade abaixo do padrão de 14%, resultando em perda de peso do produto, entretanto, seus “prejuízos” ainda foram muito inferiores comparados aos registrados no Estado do Paraná, onde (pela condição climática mais favorável) possivelmente teores de umidade próximos de 14% foram obtidos com maior facilidade.

Temos assim uma situação bastante evidente quanto à contribuição do clima na conservação – ou não – na armazenagem de grãos.

Casos como esses nos devem levar a analisar com mais atenção as nossas estratégias quanto à armazenagem de grãos.

Precisamos colocar na ponta do lápis as possíveis perdas que podemos sofrer devido uma armazenagem com teores de umidade mais elevados (suscetível a problemas com pragas, fundos, insetos e deterioração), ou as perdas por quebra de umidade.

O exemplo visto na relação Bahia X Paraná nos leva a crer que a armazenagem com teores de umidade mais baixos pode representar vantagem, trazendo os índices de perdas para patamares muito abaixo das médias registradas nos últimos anos.

Se tivermos condições de limitar perdas e evitar prejuízos, essas possibilidades devem ser avaliadas e consideradas com mais atenção.

Temos alguns fatores que impõe dificuldades para a armazenagem de grãos no Brasil, então precisamos nos adaptar e mudar o que for necessário para amenizar e reduzir prejuízos.

Precisamos levar em conta alguns pontos: não conseguimos mudar a nossa condição climática; não conseguimos mudar a fisiologia dos grãos; não conseguimos mudar as características biológicas de fungos e pragas.

Podemos, no entanto, mudar nossa estratégia de armazenagem de modo a limitar os impactos causados pelos fatores que não temos meios de alterar.

Acima de tudo, é necessário pensarmos com mais atenção quanto às convenções praticadas (e padronizadas) pelo mercado.

Muito embora convenções como o teor de umidade, por exemplo, sejam um padrão praticado anos a fio no mercado brasileiro, cabe avaliar se o mesmo é realmente viável para a nossa característica de clima, se o mesmo é realmente vantajoso e lucrativo, ou se tem, na verdade, nos levado a sofrermos alguns prejuízos que poderiam ser evitados caso o reduzíssemos em alguns pontos percentuais.

A história parece testemunhar que nossos padrões não são os mais adequados.

Além de perdas, podemos considerar ainda fatores relacionados à qualidade do grão o que, na armazenagem, tem uma ligação estreita com o seu metabolismo, uma vez que este é regulado pelo teor de umidade e temperatura.

A atividade metabólica dos grãos, quando acelerada, é responsável pela queima de energia, consumo de matéria seca e aquecimento da massa.

Grãos com teor de umidade mais elevado e atividade metabólica acelerada apresentam perdas de valor nutricional, por exemplo.

A atividade metabólica dos grãos é reduzida consideravelmente conforme o teor de umidade é reduzido, contribuindo assim para uma melhor conservação e preservação dos índices de qualidade.

Esse assunto não é nada recente. Temos literaturas com mais de 50 anos já apresentando valores ideais de teor de umidade na casa de 11% para uma obtermos boa conservação e preservação de índices de qualidade de grãos de soja (por exemplo) na armazenagem.

Cabe adaptarmos nossos métodos para não seguirmos, ano após ano, atingindo os mesmos números e obtendo os mesmos resultados nos levantamentos de perdas na armazenagem de grãos.