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Comunidade LGBT+: Brasil tem uma morte violenta a cada 34 hs
Visando combater a discriminação racial existente na sociedade, o Centro Gestalt-Terapia Sandra Salomão deu um grito de alerta e irá lançar um curso antirracista para profissionais de algumas áreas como psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas e estudantes que sofrem na pele negra a dor do preconceito. As inscrições podem ser feitas pelo telefone do CGT, no número (21) 2541-5186 e pelo WhatsApp (21) 96495-7888 e as aulas serão on-line já a partir de março.
O curso tem como objetivo proporcionar uma reflexão nas pessoas que buscam por espaços mais igualitários, visto que grande parte da psicologia ainda é formada por pessoas de cor branca.
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O curso de capacitação é chancelado pelo CgT em parceria com o grupo "Encontro de Manas Psi", será ministrado pelas psicólogas responsáveis Daiane de Souza Mello e novamente Roberta Massot.
Já a ideia do curso surgiu por meio do "Projeto Roberta Massot: por uma reparação histórica", anunciado recentemente no mês da consciência negra em 2022, em prol dos movimentos antirracistas.
A idealizadora do projeto, Roberta Massot, que além de negra é psicóloga e militante das causas raciais, defende a ideia de que é preciso implementar práticas antirracistas mais efetivas.

“Nós queremos dar mais oportunidade de estudo e trabalho aos negros dentro da Psicologia, principalmente dentro da Gestalt-terapia. A Psicologia ainda é branca em sua maioria. Existem poucos negros atuando na área, o que muitas vezes dificulta o atendimento de quem está do outro lado e precisa ser acolhido de igual para igual", explicou e garantiu que a ideia vai além de curar os traumas de quem sofre o racismo, mas especialmente de incluir e capacitar mais pretos especializados na Psicologia e no ambiente Gestáltico.
Mas Roberta Massot não está sozinha nessa e conta com a amiga e psicóloga Sandra Salomão, que abraçou a proposta que vem de encontro às iniciativas do novo governo, apesar de não ter uma ligação política, mas social. Segundo elas, a ideia é preparar profissionais de todas as etnias, mas especialmente brancos, para dar o devido acolhimento às pessoas negras, vítimas do racismo nas consultas terapêuticas.

“Não dá mais para não tratar do assunto por achar que é um exagero, ou excesso de vitimização. As pessoas estão cada vez mais doentes por não se sentirem respeitadas e quanto necessário, acolhidas. É o mínimo a se fazer ao falarmos de reparação histórica”, definiu Sandra Salomão, psicóloga diretora do CgT e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC).
O Janeiro Branco, mês em que psicólogos de todo o mundo têm em pauta as abordagens voltadas para a saúde mental, especialistas reforçam que “os traumas não curados arrastam consequências para uma vida inteira o que pode deixar complexos, dores e até a mudança de comportamentos, dentre eles os causados pelos tipos de preconceitos, e em maior número, o racismo que nunca sai de pauta”. Recentemente o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a lei que equipara o crime de injúria racial ao de racismo, que é inafiançável e imprescritível. Anteriormente em posse, o atual ministro dos Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, já havia reafirmado o racismo como “um problema estrutural enraizado na sociedade que precisava ser combatido por meio de políticas públicas”.
OBrasil é o país onde pessoas da comunidade LGBT+ são mais assassinadas no mundo; a cada 34 horas é registrada uma morte. Somente em 2022, foram contabilizados 242 homicídios e 14 suicídios entre o grupo. Os dados foram analisados e divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).
Registros do GGB apontam que, entre 1963 e 2022, 6.977 pessoas da comunidade LGBT+ foram mortas de forma violenta no país. O estado com mais casos é o Nordeste, seguido do Sudeste e, respetivamente, Norte, Centro-Oeste e Sul. Entre as vítimas, os gays compõem 52% das mortes violentas. Em segundo lugar ficam as travestis e transexuais, com 42%.
A idade das vítimas é predominante entre 18 e 29 anos de idade. Pessoas travestis, transexuais e transgênero são assassinadas antes de completar 40 anos; 83% delas morreram entre os 15 e 39 anos. Para o Prof. Luiz Mott, fundador do GGB e iniciador dos relatórios de mortes violentas dos LGBT+, “é absolutamente inconcebível nossa sociedade civilizada conviver com 12 casos de apedrejamento e esquartejamento de gays e travestis. Nem nos países islâmicos e africanos mais homofóbicos do mundo, onde persiste a pena de morte contra tal segmento, ocorre tanta barbárie!”.
O presidente da Aliança Nacional LGBT, Dr. Toni Reis, apresentou cinco propostas a curto prazo para a erradicação das mortes violentas LGBT+ no Brasil. Entre elas estão a educação sexual e de gênero em todos os níveis escolares; a apli- cação exemplar de dispositivos legais de criminalização do racismo homotransfóbico; políticas públicas que garantam a cidadania plena desse grupo; e incentivo para que as vítimas denunciem sempre todo tipo de discriminação. Fundado em 1980, o Grupo Gay da Bahia é a mais antiga associação de defesa dos direitos humanos de LGBT+ no Brasil. Atualmente, o GGB funciona como uma organização que oferece espaço e apoio a outras entidades da sociedade civil que trabalham com a comunidade LGBT+, especialmente no combate à homofobia e na prevenção do HIV/ aids. As ações da organização contribuem para o alcance do ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) 10, meta da Agenda 2030 da ONU que visa a redução das desigualdades.