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"Verdadeiro repúdio ao que ele representa", diz Anielle sobre Daniel Silveira

Agence France-Presse

Opapa Francisco fez um apelo ontem

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(2) aos milhares de jovens reunidos em um estádio de Kinshasa para que trabalhem por um futuro melhor e lutem contra a corrupção na República Democrática do Congo, um país assolado pelo desemprego e a violência.

Ao som e ritmo dos tambores, cantos e danças tradicionais, o líder da Igreja Católica fez uma entrada triunfal no Estádio dos Mártires a bordo do papamóvel, acenando e abençoando a multidão.

Mais de 65.000 pessoas, de acordo com os organizadores, participaram do encontro em um país que sonha com a paz, mas sofre com a violência na região leste. Diante do "tribalismo" e do "individualismo", Francisco pediu aos fiéis que priorizem a "comunidade" e os convidou a dar as mãos e a respeitar um momento de silêncio, pensando "nas pessoas que os O papa também criticou a corrupção, um problema grave na República Democrática do Congo. "Todos juntos digamos: 'Não à corrupção'".

"Você é indispensável e responsável pela sua igreja e pelo seu país. Você pertence a uma história maior que o convoca a ser ator", disse Francisco em uma mensagem aos jovens, em um país marcado por conflitos, desemprego e lutas pelo poder e onde quase 60% da população tem menos de 20 anos. Nas arquibancadas do estádio, milhares de adolescentes, estudantes, mas também de adultos, cantavam e aplaudiam o pontífice sob um intenso calor. Muitos usavam camisas e bonés com a imagem de Jorge Bergoglio, o primeiro papa a visitar o país desde João Paulo II em 1985.

"O M23 está matando muitos de nós no leste, gostaria que terminasse porque acontece há muito tempo", afirmou à AFP Sheila Mangumbu, de 21 anos, em referência ao grupo rebelde acusado pelo governo de ser apoiado por Ruanda.

A visita, muito aguardada, foi marcada pelo encontro na quarta-feira do papa com as vítimas da violência e o "apelo veemente" que ele expressou diante das "atrocidades cruéis" cometidas no leste do país.

"Suas lágrimas são as minhas lágrimas, sua dor é a minha dor", afirmou Francisco, que deseja chamar a atenção para as tragédias que afetam algumas "periferias" do mundo.

O pontífice também se declarou "indignado" com a "exploração sangrenta e ilegal da riqueza" da República Democrática do Congo, onde a violência dos grupos armados matou centenas de milhares de pessoas e provocou a fuga de milhões.

Inicialmente, Francisco pretendia visitar a cidade de Goma, no leste do país, mas o deslocamento foi cancelado pelos riscos para a segurança.

Na tarde de quinta, durante o encontro com sacerdotes e religiosos na catedral de Nossa Senhora do Congo, construída em 1947, o papa convidou padres e religiosos a não cederem à "tentação do conforto mundano".

Aministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, dispensou qualquer tipo de diálogo com o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), preso em Petrópolis, no Rio de Janeiro, ontem (2/2), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após descumprimento de normas da restrição de liberdade.

“Ele ofendeu diversas pessoas da minha família na internet. Eu tenho um verdadeiro repúdio ao que ele representa. Eu prefiro estar do outro lado da história, e sinto muito orgulho por estar”, afirmou Anielle, em entrevista ao programa CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília.

A imagem de Silveira comemorando a destruição de um cartaz que simulava uma placa em homenagem à irmã de Anielle, a vereadora Marielle Franco, morta em um ataque brutal em 14 de março passado de 2018, no Rio de Janeiro, viralizou nas redes sociais em outubro daquele ano. Na classificação de Anielle, Daniel precisa “responder judicialmente por tudo o que foi feito e falado”. “Sempre falei, desde que mataram a Marielle, em 2018, que eu tinha um sonho de dialogar com pessoas que pensam diferente de mim. Mas eu falava para pessoas que respeitam os nossos posicionamentos, valores e crenças”, contou a ministra.

“Prefiro não dialogar com pessoas que ultrapassem essa linha. Por exemplo, em 2018, quando o ex-presidente foi eleito, eu fui cuspida na cara em um shopping no Rio de Janeiro com a minha filha de dois anos no colo”, lembrou Anielle, ao descartar a possibilidade de conversa com Daniel Silveira.

“A quebra da placa foi uma coisa muito simbólica. Não só ele, o irmão dele pendurou metade da placa no próprio gabinete.

A gente pediu para tirar, a gente tentava falar, mas nunca tinha o nível mínimo de respeito”, disse.

A ministra comentou a escalada do discurso de ódio no Brasil e exempli- ficou com o receio que a família sentia em atos de homenagem à Marielle, como vestir camisetas com a foto da vereadora.

“Eu pensava: ‘gente, não é possível, é a minha irmã. Como eu vou ter medo?”, relata. Anielle rememorou também que, na época do assassinato, recebeu a primeira notícia falsa sobre a irmã minutos depois do atentado.

“Eu recebi as fotos dela no meu WhatsApp dizendo o quanto ela era envolvida com traficante.”

Pautas urgentes

Ainda durante a entrevista, comandada pelos jornalistas Carmen Souza e Carlos Alexandre, Anielle Franco elencou cinco necessidades cruciais a serem atendidas pelo Ministério da Igualdade Racial: combate a fome, promoção do acesso à educação, acesso a serviços de saúde mental, enfrentamento ao genocídio da população negra e questão quilombola.

“A primeira é a fome. A gente tem mais de 30 milhões de pessoas no país passando fome, e já temos uma reunião agendada com o ministro Wellington Dias (Desen- volvimnto) para debater. Para se falar de educação e falar de todas as outras questões, com fome não dá”, pontuou. O racismo ambiental também é uma preocupação da pasta, de acordo com a ministra. Anielle reforçou a urgência de também se debater o impacto das tragédias ambientais em populações negras e indígenas. E lembrou da posse da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, com quem conversou sobre desenvolvimento de políticas públicas nesse sentido. “Jamais vou esquecer a imagem da ministra Marina Silva (Meio Ambientre) muito emocionada naquele dia porque, para além do simbolismo de estarmos retomando esse lugar, é também poder dar passos concretos. O que está acontecendo com os Yanomamis é uma tragédia humanitária [...] Outro ponto, até quando você olha as enchentes, é o nosso povo que é o mais afetado. Eu me lembro do que é sair correndo dentro da favela da Maré porque estava chovendo e aquilo ali, descendo”, comentou.

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