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JUSTIFICATIVA
Por meio de dados esse capítulo tem como propósito justificar a pertinência do tema.
O QUE É CULTURA?
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Para a cultura ter um sentido universal multicultural como se tem hoje, ela passou por um longo processo. Ele começou na França, no século XVII, onde passou a ter um significado de cultivo de valores e hábitos nobres. Porém, com o passar do tempo, o termo vai adquirindo novos e mais amplos sentidos, tendo-se uma polarização do conceito, sendo assim, ele não é mais de uso exclusivo e individualista da nobreza, mas como um processo de civilização, tornando-se uma expressão livre e popular.
Segundo Santos (2006,s/n):
[...] a cultura pode ser tratada como uma realidade estanque, de características acabadas, capaz de explicar a vida da sociedade e o comportamento de seus membros: se a cultura não mudasse não haveria o que fazer senão aceitar como naturais as suas características, e estariam justificadas assim as suas relações de poder. (SANTOS, 2006, s/n)
Sendo assim, as primeiras definições da palavra cultura começaram a surgir através das reflexões referentes à diversidade humana, fazendo com que os pesquisadores e estudiosos começassem a pensar na especificidade humana através da diversidade dos povos e de seus costumes. Para Santos, existem duas concepções de cultura, a primeira é sobre a realidade social, sendo assim, a cultura se refere a tudo o que caracteriza a existência de um povo ou de grupos no interior de uma sociedade. A segunda, é sobre as crenças, as ideias e ao conhecimento de um povo.
Cultura é um termo amplo e complexo que passa por constantes transformações. Ele remete e caracteriza a existência de um povo. É a herança social de uma comunidade ou grupo que é transmitida a seus descendentes, orientando seu comportamento, suas ações e expectativas na convivência em sociedade, é um agente de identificação pessoal e social, um modelo de comportamento que integra segmentos sociais e gerações.
De acordo com o filósofo Olavo de Carvalho (2007, p. 1)
“Criar e selecionar valores é a função da cultura, da qual faz parte a filosofia política. A cultura, se não tem iniciativa própria, independente do mercado e do Estado, não é cultura de maneira alguma: é apenas propaganda. Fazer abstração dos princípios e valores, deixando-os por conta do mercado, é o mesmo que entregá-los à mercê do Estado, que não tem a menor dificuldade de tornar-se, quando quer, o maior comprador e vendedor de tudo”.
Podemos concluir que a função da cultura é gerar conhecimento e exercer o pensamento, criando valores essenciais para o desenvolvimento da sociedade. O ser humano precisa buscar pelo conhecimento, seguindo as suas preferências e valores, e não ficar a mercê somente daquilo que é oferecido, pois em muitos casos o que é oferecido não é o suficiente para a formação pessoal, moral e intelectual do indivíduo e no desenvolvimento da sua capacidade de relacionar-se com o próximo.
Atualmente, o termo cultura está associado a várias atividades como o teatro, a música, as artes plásticas, manifestações culturais, entre outras. Segundo Pellegrin (2004, s/n) “as cidades não tem oferecido espaços de lazer suficientes para que todos desfrutem”. Por isso, é necessário encontrar novos estímulos, que podem vir, por exemplo, a partir do centros culturais, que são espaços voltados para disseminar conhecimento e estimular o desenvolvimento dos indivíduos, trabalhando novas formas de expressões, incentivando portanto, a integração e participação social, caminhando assim, para o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária.
CULTURA E CIDADANIA
De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os direitos civis, os direitos políticos e os direitos sociais, são direitos fundamentais do ser humano, cuja matriz está na Declaração dos Direitos Humanos, de 1948, no art.27 (FERNANDES, Idem)
Artigo 27º da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.
Porém, nem sempre foi assim, apenas na segunda metade do século XX, passou a ter um aumento no interesse das Constituições a fim de proteger a cultura. Foi uma conquista progressiva, devido à luta de movimentos sociais em prol da dignidade da pessoa humana, mas de extrema importância. De acordo com (FERNANDES, 2011) “Às três categorias precisam coexistir para que os direitos sejam plenos e sua articulação garanta o exercício da cidadania”
Ou seja, os direitos humanos são os princípios de libertação da opressão e da dominação, sendo fundamentos de liberdade, da justiça e da paz. Fazendo com que prevaleça a liberdade individual, a igualdade e o ideal democratico, para assim, atingirmos progresso econômico, social e cultural.
A Legislação Federal, possui linhas mestras que garantem os direitos fundamentais dos cidadãos e da organização do Estado, têm também regras e princípios gerais sobre aspectos variados da vida em sociedade. Na parte referente à cultura no Brasil, ela reforça os princípios de acesso a esse tipo de equipamento por toda a população, conduzindo assim, a defesa, a valorização, a promoção e a difusão de bens culturais no Brasil, de acordo com a Lei Nº 12.343, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2010.
Capítulo III – Do acesso: Universalizar o acesso dos brasileiros à arte e à cultura, qualificar ambientes e equipamentos culturais para a formação e fruição do público, permitir aos criadores o acesso às condições e meios de produção cultural. 3.1.19 Estimular a criação de centros de referência e comunitários voltados às culturas populares, ao artesanato, às técnicas e aos saberes tradicionais com a finalidade de registro e transmissão da memória, desenvolvimento de pesquisas e valorização das tradições locais. (Lei nº 12.343, de 2 de dezembro de 2010).
De acordo com Waal e Waterman (2012, p.114):
As sociedades são unidas pela cultura. A cultura é uma estrutura comum de referência que permite às pessoas que a ela pertencem se comunicar com facilidade e se comportarem bem. Ela compreende conhecimentos, valores e crenças coletivos e determina a maneira pela qual cada pessoa se move e planeja seus deslocamentos no dia a dia. A Cultura é nosso manual de operação para a esfera pública.
Portanto, não podemos considerar a questão cultural como apenas entretenimento, ela é um guia de extensão social de cidadania, de experiências de vida e de saberes, capaz de proporcionar uma dinâmica sociocultural e a participação na comunidade.
Um Centro Cultural tem como função se relacionar com a comunidade e os acontecimentos locais. Tendo sempre em vista beneficiar e favorecer os indivíduos e os grupos locais. Ela é uma extensão social da cidadania, junção de saberes e experiências de vida. Ela é capaz de renovar um grupo social através da música, poesia, literatura, artes plásticas, entre outras várias manifestações culturais.
CULTURA E LAZER
A Constituição de 1988 define o lazer como direito social, ao lado da educação, da saúde, da alimentação, da moradia, da segurança, da previdência social, entre outros. Sendo assim, é considerado uma necessidade básica do ser humano, sendo visto como prioridade na formação de crianças, jovens e adolescentes. E é de responsabilidade do poder público garantir o acesso a todos.
Artigo 227 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
O lazer é essencial para os seres humanos, ele proporciona uma qualidade de vida melhor, satisfação, prazer, felicidade, criatividade e liberdade de escolha. A cultura e o entretenimento estão diretamente relacionados ao bem-estar. Encontrar amigos, ir ao cinema, assistir a uma peça de teatro, participar de oficinas são atividades que aumentam o nível de serotonina e ocitocina, hormônios associados ao prazer e bem-estar psíquico, consequentemente melhora a saúde física. Como afirma a psiquiatra Mireia Fortes Vianna Sulzbach.
De acordo com a psiquiatra Mireia Fortes Vianna Sulzbach.
`` A arte nos ajuda a não nos sentirmos sozinhos, pois você percebe que existem outras pessoas que compartilham os mesmos sentimentos que você. Ela tem o poder de ser comum, de conectar as pessoas no movimento de sentir algo.``
Mireia reforça, que o bem-estar psicológico ganha quando estamos em contato com a arte, pois ela tem a função de nos identificar como indivíduos, conhecer cultural e nos situar no mundo. Logo, se a arte é comum, ela deve estar acessível a todos.
Segundo Silva, Lopes e Xavier (2009), o Brasil é apontado como um país com grandes desigualdades sociais e isso gera preocupação e curiosidade para saber como o lazer está sendo planejado pelo poder público. Porém, as cidades brasileiras não oferecem espaços de lazer suficientes para que haja contato e troca entre os diferentes conteúdos culturais, desta forma, nota-se que os espaços de lazer estão longes de se tornar um local que possibilita as pessoas a terem um livre acesso a atividades integradoras, socializadoras, democráticas e de bem estar.
CULTURA E OS CENTROS CULTURAIS
Como podemos compreender, o termo cultura tem um significado histórico, e ele foi se tornando cada vez mais popular e de acesso a todos, possuindo um sentido muito amplo, abrangendo uma diversidade de usos. Os primeiros países a incentivar a implantação de centro culturais foram a França e a Inglaterra, ele era chamado de centro de artes, e a partir deles a cultura passou a ter um sentido informacional, ganhando forças. No Brasil, o surgimento de centros culturais se deu na década de 80, na cidade de São Paulo- SP, e a partir dele foi se dissipando e outros centros culturais foram construídos em várias cidades do país. Quando pensamos em espaços que promovam e incentivem a cultura, existem diversos termos, e com isso há uma confusão entre casa de cultura, espaço cultural e centros culturais, e podemos defini-los como:
Casa de Cultura - um centro cultural pequeno. Podem ser apoiadas pelo governo ou por iniciativa privada, possui um número de funções e acervo reduzido, normalmente são instituições voltadas para a divulgação de uma modalidade cultural específica, como; poesia, teatro, ou também para a representação de culturas estrangeiras, com uma programação especializada.
Espaço Cultural - voltado para reflexão e ações culturais. Espaços culturais não precisam de um local específico definido, ele pode ser entendido como qualquer espaço, formal ou informal que se dedica a promover uma ou outra atividade cultural, não um conjunto delas. Eles não precisam ser constantes nem possuir um acervo de materiais.
Centro Cultural - possui um porte maior e equipamentos permanentes. Instituições mantidas pelo poder público, podendo ou não ter apoio de iniciativas privadas. São espaços que orientam, e desenvolvem um conjunto de atividades culturais variadas de modo organizado, como; aulas de dança, música, teatro, cinema, etc.
No Brasil, existem os mais variados tipos de modelos de centros culturais, não há um modelo definido específico de centro cultural, o espaço físico de cada um, é determinado a partir da quantidade e da variedade de atividades oferecidas. Portanto, o centro cultural é um espaço privilegiado que impulsiona ações culturais, facilitando o acesso e produção de cultura, voltadas para o desenvolvimento do ser humano e da cidadania.
Eles são espaços criados para a comunidade, sendo convidativos e inspiradores, capazes de estimular seus freqüentadores, permitindo o encontro criativo entre pessoas e o trabalho cultural, se tornando uma extensão social de de cidadania, da popularização de saberes e das experiências de vida , que busca e incentiva a troca de experiências culturais.
Como podemos concluir, a cultura é importante para toda a sociedade, sendo fundamental para o desenvolvimento de crianças e jovens, ela é uma expressão da construção humana. Ela é é um elemento de transformação, que também pode criar e ampliar as possibilidades para a vida profissional de jovens e adolescentes.Os Centros Culturais são exemplos de participação social e integração, eles estabelecem importantes papéis na construção da imagem das cidades, na formação da cidadania e na produção de conhecimento.
No segundo semestre de 2021 , foi feito um levantamento analisando a malha urbana na cidade de São Carlos-SP. A partir disso, foi notado a necessidade de desenvolver um equipamento voltado para a área cultural, pois é visível a maior concentração de equipamentos culturais localizados na região central, deixando outras áreas que atualmente estão bem consolidadas sem distribuição adequada desses equipamentos, fazendo com que o público tenha que se deslocar até a área central para desfrutar de cultura e lazer, e isso, por inúmeros motivos muitas vezes não é possível. Sendo assim, foram levadas em consideração vários fatores que serão explicados mais a fundo no próximo capítulo, como: a disposição dos equipamentos culturais existentes na cidade, as necessidades da comunidade, a faixa etária, público alvo e a mobilidade.
A partir dessa análise da região, foi possível visualizar os melhores pontos para a inserção de um novo equipamento voltado para a população. Sendo assim, conclui-se que a melhor área para inserção de um edifício cultural é no bairro São Carlos III, na Avenida João Dagnone, entre as Ruas Mário Pisani e a Francisco Possa.
O projeto proposto de um Centro Cultural visa à criação de espaços projetados para a realização de aulas de música, dança, teatro e oficinas culturais, uma área de eventos e exposições, uma área de convivência para jovens adolescentes e adultos com faixa etária entre 16 a 29 anos. O projeto tem como objetivo requalificar a área que vai ser implantado, promover a integração e o convívio social dos usuários e criar espaços que gerem oportunidades para a prática de atividades culturais e integração social. Proporcionando experiências culturais e de interatividade, expressões corporais, valorização do convívio em sociedade e oportunidade de crescimento pessoal e intelectual.