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Clássicos Americanos
Os clássicos
sabe o que é necessário para que um automóvel seja considerado clássico?
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Antigamente, ou até há nem tanto tempo assim, anúncios de carros usados costumavam incluir na descrição pérolas como “o mais novo da cidade”, ou então “carro de médico”, na tentativa do vendedor em valorizar o produto. Hoje, o que se vê em anúncios de carros “velhos” é a palavra “clássico”, como se esses dois adjetivos fossem sinônimos. Não é bem assim.
Carros clássicos sempre existiram, mas o termo, atualmente, ficou mais abrangente, sendo que, dependendo do enfoque, automóveis considerados populares também podem ser chamados de clássicos, sem aquele exagero dos vendedores.
Não vamos citar Bugatti, Voisin, Duesemberg, Cord, Rolls Royce ou qualquer outra marca de verdadeiros clássicos, que certamente já nasceram com essa sina, mas sim alguns carros comuns, ou quase, atualmente tão cultuados que podem ser chamados de clássicos, sem constrangimento.
Vale o automóvel mais vendido da história? Vale. O VW Fusca, que no mundo inteiro sempre foi o mais popular dos carrinhos, hoje é um clássico. Desde aqueles primeiros protótipos, raros e valiosos, até os mais comuns membros de famílias conservadoras, que já foram do avô, do pai ou do tio. Clássico. E isso ninguém vai contestar.

o Mini, criado em 1959, nasceu para ser um carro barato. se deu bem e virou um clássico

A Ford no início do século

o Ford Modelo T vendeu 15 milhões de unidades de 1908 até 1926 e tornou-se um clássico
O automóvel não surgiu nos Estados Unidos, mas foi lá que ele ficou acessível e popular. Antes do Ford Modelo T, de 1908, existiam centenas de marcas de carros, a maioria deles elétricos, mas eram caros e pouco práticos. A extração de petróleo em larga escala tornou a gasolina barata e muito acessível, vendida em estações de combustível ao longo das estradas. Antes, um usuário de automóvel a combustão não enchia o tanque com facilidade, pois precisava comprar a gasolina em vasilhames, em locais como farmácias ou estabelecimentos similares. Foi aí que que o carro elétrico desapareceu, abrindo vantagem para fabricantes como Henry Ford, que criou o Modelo T, um automóvel prático e bem resolvido que depois, com a adoção da linha de montagem, ficou barato o suficiente para que qualquer família pudesse ter um. Desse período, poucos automóveis ficaram tão populares como o T, que, assim como o Fusca, vendeu milhões. Nessa época, coexistiam automóveis de sonhos, daqueles nos quais estrelas do cinema posavam e desfilavam, mas foram os populares como o T que ficaram conhecidos.

Uma das muitas configurações do Ford Modelo A, a fechada de quatro portas, de 1931
O sucessor do Modelo T foi o Ford Modelo A, de 1927. O A é, também, um clássico americano e, devido às muitas grandes melhorias em relação ao Modelo T, em especial a facilidade de condução, é o modelo dos anos 20 mais popular e o mais utilizado para hot rods desde os anos 50, quando esse tipo de customização se tornou uma febre entre os jovens.
O Ford Modelo A teve muitas configurações e cada uma delas ficou popular em uma região diferente. As carrocerias fechadas eram as mais procuradas no norte dos Estados Unidos, devido à baixa temperatura dessas regiões. Os roadsteres de dois lugares eram os preferidos pelos jovens da Costa Oeste, as versões comerciais, como furgões e picapes, eram vistas trabalhando em centros comerciais como New York e, a mais conhecida dos brasileiros, a Phaeton, quatro portas de teto de lona, era a mais importada para nós, devido ao nosso clima tropical. O Ford Modelo A Phaeton é mais raro em seu país de origem, de forma que há muitos registros de recompra desses modelos pelos colecionadores norte-americanos.

Ford Modelo A Phaeton, com capota de lona

TriChevy - 55-56-57
A Ford saiu na frente nos primeiros anos do século 20, tornando-se a maior fabricante de automóveis do mundo, mas a disputa de mercado nunca foi totalmente tranquila. Para trocar seu fenômeno T para o A, até uma briga familiar aconteceu, para convencer Henry Ford da mudança.
A Chevrolet brigava por sua fatia com um modelo muito parecido com o Ford A, mas acabou ficando para trás quando a Ford lançou o motor V8 em sua linha, de desempenho superior ao também novo motor de seis cilindros em linha da Chevrolet.
Essa disputa se arrastou até os anos 50, com muita evolução em todas as marcas norte-americanas, mas de forma especial entre os dois rivais, até que a Chevrolet lançou seu V8.

Após anos sendo batido pela Ford na preferência do público, a Chevrolet finalmente equipa sua linha com um motor V8. Aí a situação de mercado se inverte. o Chevy Nomad 1955 da foto fala por si
Além do novo motor, muitas vezes mais moderno e eficiente que o V8 da Ford, a linha Chevrolet 1955 caiu como uma bomba no mercado, com a conquista total e incondicional dos compradores de automóveis. O bom gosto nas linhas e nos detalhes do novo Chevrolet o levou à liderança.
Mesmo sendo a marca mais barata e popular da General Motors, que produzia também modelos de luxo e alto luxo como Oldsmobile, Pontiac, Buick e Cadillac, todas as versões do novo Chevrolet eram simplesmente fantásticas. Eram três os níveis de acabamento, o mais simples 150 (One-Fifty), o intermediário 210 (Two-Ten) e o mais luxuoso Bel Air, que se tornou o símbolo dessa nova família de automóveis.
o Chevrolet 150 (one-Fifty) de 1955 era a versão básica da família
Chevrolet Bel Air 1956 conversível: a mais alta classe em uma linha popular



linha Chevrolet
Todas as versões, de 1955 a 1957










Em 1957 o Chevrolet ficou maior e mais estiloso.
o painel do Chevrolet 1957 e o motor V8 que mudou o rumo da marca, em 1955
A fórmula imbatível foi mantida por mais dois anos, de 1955 a 1957, sendo que os modelos dessa safra ficaram conhecidos por “TriChevy”. Além dos três níveis de acabamento, havia a oferta de várias carrocerias, a de quatro portas, as de duas portas com coluna e a sem coluna, as peruas de duas e de quatro portas, o furgão, o conversível e a perua Nomad, uma versão esportiva de duas portas com a traseira inclinada e cheia de estilo.
A família Chevrolet de 1956 era idêntida à do ano anterior, com novas grade dianteira e lanternas traseira, além de muitos outros novos detalhes. Estreava, também, a nova carroceria de quatro portas sem coluna, em grande estilo. Já em 1957, os Chevrolet mudaram radicalmente, sendo considerados por entendidos como os mais belos Chevrolet da sua história. A partir do ano seguinte, as versões dos modelos da marca continuaram, com a adição da versão Biscayne, mais simples, e uma versão ainda mais sofisticada do que a até então topo de linha: o Chevrolet Bel Air Impala. Mas aí já é o começo de outra saga, com uma história tão ou mais interessante do que a TriChevy.


Chevy Impala - 58-65
Em 1958, os sedãs Chevrolet ficaram mais longos e mais largos, mas mantiveram as versões, como este Biscayne, uma versão intermediária da família. Nesse ano surgiu o impala, inicialmente apenas uma versão mais luxuosa do Bel Air

Uma tendência comum a todos os automóveis produzidos nos Estados Unidos, desde os anos 40, era o seu tamanho cada vez maior. Ano após ano, os carros foram aumentando, como se não houvesse nenhuma restrição a isso, como a largura das vias, a facilidade de condução ou mesmo o tamanho das garagens. Até que, ao fim dos anos 50, os carros atingiram comprimentos até então impensáveis, mesmo os de marcas populares como a Chevrolet.
Em 1957, o Chevy Bel Air havia se tornado um carro majestoso e cheio de luxo, como deveria ser a versão de topo de uma família de automóveis. No ano seguinte, porém, o Bel Air subiu mais um degrau na sofisticação com a introdução da versão Impala, ainda mais luxuosa que o Bel Air.
Ao mesmo tempo, a carroceria do Chevrolet de 1958 ficou ainda maior que no ano anterior, mais comprida e mais larga. Realmente era um luxo ter um Chevrolet Bel Air Impala de 1958, quase tirando a graça de se ter um carro ainda mais luxuoso, das marcas de luxo da General Motors, como Oldsmobile, Buick e Cadillac.
o Chevrolet Bel Air Nomad de 1958 tinha lanternas traseiras simples
À parte de seu acabamento mais refinado, o Impala diferia de todas as outras versões do Chevrolet de 1958 por um detalhe que, mesmo muito aparente, às vezes não era percebido pela maioria: as lanternas traseiras. Duplas em todas a versões, dividida entre luz de posição/luz de freio e luz de ré, no Impala ela era tripla, com a luz de ré no centro. Com exceção da linha 1959, essa foi a marca registrada dos Chevrolet até os modelos do ano de 1965. Havia, no entanto, um detalhe intessante: a perua Bel Air Nomad tinha lanterna simples, sem luz de ré. Sendo uma versão de topo da linha Bel Air, o Impala não oferecia muitas variações de carroceria no primeiro ano, apenas o cupê e o conversível. O sucesso veio no ano seguinte, com a dissociação parcial do Bel Air – que continuou a ser produzido – e com a adoção de outras carrocerias, como a perua e o sedã. O Chevrolet Impala de 1959 é um marco de estilo para os automóveis, independentemente da época. Itens como a traseira em formato de asas, com as lanternas em forma de peixe, era algo nunca visto mesmo nos mais ousados estilos rabo-de-peixe.



Além da traseira surpreendente, a versão de quatro portas sem coluna do Impala e do Bel Air, chamada de Sport Sedan, era única, com o vidro traseiro panorâmico dominando o visual, que era radicalmente diferente do quatro portas com coluna. Essa geração ainda apresentou algumas novidades, como a perua Nomad de quatro portas e a picape El Camino. Não por acaso, essas duas versões do Chevrolet são hoje muito desejadas.
A linha Chevrolet de 1959 é, sem nenhuma dúvida, a mais estilosa e
Traseiras dos Chevy impala de 1958 a 1965

ousada da história da marca, o que foi mantido, em parte, na linha do ano seguinte. As asas traseiras menos proeminentes e as lanternas traseiras voltando a ser circulares marcaram a família Chevrolet 1960.
A terceira geração do Impala, que coexistiu com a linha 1961 da marca, mudou tudo, inclusive a plataforma, mas continuou sendo um automóvel de grandes dimensões. Com linhas mais quadradas, começava a tomar a forma que teria nos anos seguintes.
Foi em 1961 que surgiu a versão SS do Impala, que estreou o icônico motor 409 V8, que foi cantado até pelos Beach Boys. O significado das letras SS pode ser tanto Super Sport, como alguns consideram, ou então Separated Seats (bancos separados). O fato é que esse Impala 409, que tinha câmbio manual de quatro marchas, foi responsável pelo início da era muscle-cars, de “comportados” sedãs equipados, de fábrica, com motores muito potentes.

A linha Chevrolet 1959 é a mais estilosa e mais ousada de toda a história da marca

Essa terceira geração foi até 1964, com linhas cada vez mais angulares e simplificadas, marcadas pelo estilo da década. O Impala continuou a ser o topo da linha, mas ainda existiam versões mais simples, como o Bel Air e o Biscayne, que passaram a ser as preferidas pelos amantes dos musclecars, em especial com as carrocerias de duas portas com coluna.
O Chevrolet Impala 1965 foi o último com as lanternas traseiras triplas, com exceção de 1968, um modelo fora de contexto com as lanternas embutidas em um enorme para-choque traseiro cromado. O Impala 1965 é especialmente bonito e estiloso, em especial a versão de duas portas com carroceria fastback.
O Impala foi produzido até 1985, voltando em 1994, por dois anos, como uma versão musculosa do Chevrolet Caprice. O nome Impala foi ainda utilizado no ano de 2000, para rebatizar o Chevrolet Lumina, e acabou de “morrer” mais uma vez, em fevereiro de 2020. Parece que agora foi definitivo. l