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O PSI NO TOPO DO MUNDO
As caraterísticas do PSI e os dois vetores que propulsionaram uma boa performance do IMGA Ações Portugal, num ano de queda nos principais índices acionistas.
Oano de 2022 foi complicado para a maioria dos fundos de ações, no entanto, há exceções. Se em absolutos não foi, de todo, o melhor ano, em termos relativos 2022 foi um ano muito positivo para as ações portuguesas e para o IMGA Ações Portugal. Sentámo-nos com David Afonso, gestor de portefólios da IM Gestão de Ativos, para perceber qual a dinâmica por trás da gestão do fundo e como este navegou o ano transato.
O IMGA Ações Portugal, como o nome indica, investe em ações portuguesas. São escassas as empresas que fazem parte do principal índice português - o PSI - o que requer alguma atenção. “O processo de seleção que utilizamos no IMGA Ações Portugal segue um processo de top picks. Para além da exposição às ações do índice, escolhemos quatro ou cinco ações que sobreponderamos”, começa por dizer o gestor, confirmando o método criterioso que utilizam. Naturalmente, estas escolhas preferidas visam ser as mais atrativas em termos de rentabilidade. Para as selecionar, a equipa de gestão faz-se valer de “análise fundamental, análise quantitativa e, também, análise técnica”. Aproveitando a proximidade que têm com as empresas onde investem, os contactos realizados corroboram, muitas vezes, os argumentos que levam a sobreponderar uma ação. Em termos de instrumentos utilizados, o gestor especificou “que o fundo não utiliza instrumentos de gestão passiva, utiliza, sim, derivados, para obter o excedente de exposição pretendida às principais ideias e manter o nível de exposição ao mercado pretendido”.
Como referido anteriormente, o índice português tem muitas vicissitudes. Entre estas caraterísticas, destaca-se o tipo de negócio e os setores onde as empresas operam. O gestor destaca que “a maioria das empresas conta com negócios maduros, já com expectativas de crescimento modestas”. A nível setorial, ao invés da prevalência do setor tecnológico, como nos Estados Unidos, o PSI “é dominado pelo setor das utilities, do retalho alimentar, da energia e da banca”. Estas caraterísticas resultam num índice “mais defensivo e com uma forte tendência value”.
Os Dois Vetores De 2022
O fundo começou o ano num movimento pró-cíclico. Com o pé no acelerador, a equipa de gestão estava confiante de que o fim do confinamento ia resultar num grande crescimento económico. No entanto, a guerra que se iniciou na Ucrânia veio alterar esta perspetiva. David Afonso destaca agora os dois principais vetores que levaram à boa performance do fundo.
De um lado, surge a aposta na Altri, identificada desde o início do ano. “Tínhamos a Altri identificada como um top pick desde o início do ano. A pasta de papel entrou no ano com uma dinâmica muito positiva e estávamos confiantes que a escassez de contentores para transporte na China ia manter os preços desta matéria-prima elevados. O início da guerra apenas reforçou o nosso outlook, mantivemos a confiança”, revela o gestor do fundo de ações nacionais. Destaque ainda, no universo Altri, a sua spin off, a Greenvolt, a qual o fundo sobreponderou. David Afonso acredita que o mercado premiou a decisão de levar esta empresa a público, com “uma boa equipa de gestão e um plano de negócio atrativo”.
O segundo vetor de rentabilidade foi a inclusão da EDP e da EDP Renováveis no restrito grupo de preferidas da equipa, após o início da guerra. As duas empresas sofreram no início do ano, no entanto, a tensão geopolítica que se fez sentir deu à equipa de gestão um argumento para introduzir esta componente mais defensiva no portefólio. “Entrámos nas duas posições a bons preços e acompanhámos o ano de bons resultados que estas viveram”.
Portugal realmente teve um ano de 2022 muito positivo, que mereceu destaque face a outros índices nacionais mais transacionados. Em jeito de conclusão, David Afonso destaca: “Portugal teve um papel muito importante no universo de investimentos mundial. Ofereceu descorrelação ao tradicional investidor exposto maioritariamente aos principais índices americanos, ou mesmo globais”.
por Regina R. Webb
Dmitry Solomakhin gosta de ser contracorrente para encontrar joias onde o mercado perdeu a fé no negócio. É uma técnica complexa, que já gere há quase 10 anos, quase como tentar apanhar uma faca enquanto esta cai. “O mercado tem razão 90% das vezes. Quando considera que um modelo de negócio está danificado, é porque está. A mim cabe-me encontrar esses 10% onde ele está errado”, afirma. Agora, o regresso à volatilidade nas bolsas cria um contexto no qual o gestor se sente inclusive mais cómodo. “Não estou a tentar prever se há mais subidas ou mais quedas, mas tem havido tantos excessos gerados pelos estímulos monetários que ainda não se limparam do sistema”, defende.
Não estamos perante um clássico fundo de ações. O FAST Global da Fidelity International é o value elevado ao nível seguinte. Se tivesse que definir o seu estilo, Dmitry Solomakhin coloca o ênfase no seu espírito contrarian. Muito contrarian. O gestor desta estratégia de ações global compõe a sua carteira com empresas castigadas pelo mercado, geralmente penalizadas durante vários anos, seja por razões financeiras, problemas de governance ou operações, etc. “O mercado tem razão 90% das vezes. Quando considera que um modelo de negócio está danificado é porque está. Eu tenho que encontrar esses 10% onde o mercado se engana”, afirma.
É uma filosofia que Solomakhin tem vindo a aplicar quase há 10 anos. Uma experiência nada cómoda, reconhece, tendo em conta os anos de dominância de outros estilos como o growth (crescimento) ou o income (geração de rendimentos). Felizmente para o gestor, o volátil contexto de mercado em que nos encontramos é o que mais o apaixona. Quando as emoções estão à flor de pele e há pouco estômago para os ativos de risco. “O meu fundo é uma estratégia de tempo de crise. A volatilidade é a minha melhor amiga”, afirma.
Ser value não implica necessariamente uma carteira mais cíclica. Solomakhin analisa empresas cujo valor tem problemas reais desde há muito tempo. A partir daí constrói um cenário no qual o negócio é capaz de dar a volta. O gestor, o que procura, é o potencial de que se produza uma mudança de verdade, não só que os ventos voltem a soprar a favor da economia ou do mercado. “É algo muito mais profundo do que cíclico”, insiste e, portanto, que requer uma análise mais complexa. “Porque não é algo que se possa cronometrar. Na verdade, nego-me a tentar fazer market timing. As reestruturações sempre demoram mais tempo do que aquilo que se pensa inicialmente”, explica.
Por isso, o processo de investimento deste fundo trabalha com um horizonte de cinco anos para que as teses de
VALUE, CONTRARIAN, CONSISTENTE
Pode ser-se contrarian e gerar retornos consistentes?
Embora não seja o foco principal do processo de investimento, o track record a longo prazo do FAST Global da Fidelity International não revela uma rentabilidade construída com base em altos e baixos. O fundo situa-se no primeiro quartil da sua categoria a cinco anos, e nos últimos sete anos apenas em dois fechou em negativo: 2018 e 2020.
investimento se cumpram. “Mas este é um número médio. Tive posições que numa questão de meses davam a volta e outras que nem passados 10 anos se cumpriam”, conta.
O facto de o gestor não fazer market timing implica que geralmente comece a construir uma posição quando as condições de negócio ainda se estão a desenvolver. É como tentar apanhar uma faca que está a cair, como define o próprio Solomakhin. “Idealmente a exposição completa coincide com o ponto de máxima dor no preço da ação, mas na realidade é que quando se pensa que a situação não pode ficar pior é quando fica”, reconhece. O gestor não pretende 100% de êxito das suas apostas. Na verdade, calcula que a percentagem de trades rentáveis (hit ratio) esteja próxima de 55%. Um número decente, na sua opinião. Por exemplo, como quando viu o potencial da Tesla há cinco anos, quando era uma das empresas com posições mais curtas no mercado, o que rapidamente se materializou. Claro que isto significa, então, que a percentagem de value traps é de 45%.
Humildade
Dito o anterior, poderia esperar-se do FAST Global da Fidelity um track record muito volátil, com anos de forte rally e outros de descida aos infernos, como costuma acontecer com muitos fundos de filosofia contrarian. Mas nada mais longe da realidade. Dos últimos sete anos, o fundo fechou em negativo em apenas dois: 2018 e 2020. Em ambos os casos com quedas inferiores a 7% em euros. Na realidade, o veículo situa-se no primeiro quartil da sua categoria, tanto a três como a cinco anos, com rentabilidades anualizadas de duplo dígito.
O segredo desta consistência: a parte de posições curtas da carteira. A estratégia pode ter até 30% da carteira em posições curtas e o gestor usa plenamente essa flexibilidade. Mas com cabeça. “Assumir posições curtas é uma experiência que devolve a humildade. Se uma posição curta não funciona é fácil que o mercado te barre, pelo que é crucial pensar na proteção de queda. Também aceitar os erros. Se uma ideia não está a funcionar, não continuar a insistir nela”, explica.
Fiel à sua recusa em fazer market timing, Solomakhin não saberia explicar em detalhe porque é que 2022 foi um bom exercício para o fundo (subiu em euros cerca de 23,78%). Se compararmos a carteira a princípio de ano com a que geria no final de 2019, antes de ter estalado o COVID, a sobreposição de ideias é de 90%. “Não é que entrasse em 2022 com uma ideia de estar mais ou menos avesso ao ris-
O MEU FUNDO É UMA ESTRATÉGIA DE TEMPOS DE CRISE. A VOLATILIDADE É A
co”, afirma. Tem mais que ver com o facto dos retornos gerados o ano passado serem fruto de uma mudança importante na tendência do mercado: o regresso do value. “Se pensarmos bem, 2022 não foi mais do que o regresso a um processo que começou no final de 2019”, insiste.
O estalar da pandemia foi uma pausa, mas ainda acredita que estamos nos inícios dessa reversão. “Não estou a tentar prever se haverá mais subidas ou quedas, mas têm existido tantos excessos gerados pelos estímulos monetários que ainda não se limparam do sistema”, defende.
Entrevista Executivo
Novo Respons Vel
Jorge Silveira Botelho é agora o responsável pela Gestão de Ativos, tendo estado à frente da área de investimentos durante os últimos 10 anos e acumulando mais de 30 anos de experiência em mercados financeiros. O foco do profissional e da área continua a ser a poupança.
Jorge Silveira Botelho
RESPONSÁVEL PELA GESTÃO DE ATIVOS, BBVA ASSET MANAGEMENT PORTUGAL
NOSSO ADN É FOCARMO-NOS NA POUPANÇA DE LONGO PRAZO”
Após anos a assumir as rédeas da área de Investimentos da BBVA AM em Portugal, o profissional tem agora em mãos os comandos da gestão de ativos. Pouco muda no rumo da entidade, pois apresentar ao cliente as melhores soluções continua a ser o grande foco.
Com um caminho percorrido desde o final de 2013, a BBVA Asset Management Portugal nasceu com um enfoque muito específico: agregar todas as áreas de gestão, que vão desde a gestão discricionária, passando pelos fundos de investimento e de pensões, clientes particulares e clientes institucionais. Esse foi um caminho que Jorge Silveira Botelho acompanhou no papel de responsável de Investimentos até há bem pouco tempo. Recentemente assumiu funções de responsável pela Gestão de Ativos da entidade em Portugal, mas garante que em termos de visão e estratégia de negócio pouco ou nada mudou.
O universo de fundos de pensões abertos e PPR continua a ser o grande foco da entidade, tal como redefinido em 2014. Nessa altura, conta agora o responsável, “percebeu-se que existiam grandes sinergias entre as várias divisões da entidade”, e o universo dos fundos de pensões e dos PPR foi aquele que acabou por ser mais explorado, e de “uma forma completamente diferente do que faziam até então”. A verdade é que não se enganaram na mudança de rota efetuada na altura. “Temos crescido muito nos últimos anos”, afiança o profissional. Prova disso é a quota de mercado superior a 9% que registam nesse âmbito.
Atentos às dinâmicas de mercado, mas sobretudo às necessidades dos clientes, na entidade são muito reativos. Exemplo disso são os dois fundos PPR de vencimento definido que lançaram recentemente. Um movimento que o profissional justifica com o aproveitamento do “atual contexto de taxas de juro”, mas também tirando partido “da transferência entre produtos que os PPR permitem”. A fórmula é simples: “O que fazemos é estruturar soluções de investimento para os nossos clientes de acordo com as alterações de mercado, mas fazendo também o necessário para os conservar”, atesta o responsável. Desse modo, tentam também encontrar soluções que atuem “de uma forma simples e eficiente, tanto em termos fiscais como de comissionamento”.
FOCO NA POUPANÇA
Um exemplo dessa procura de soluções teve que ver com o campo ESG e a necessidade de estarem presente nele. “Fomos os primeiros cá em Portugal a lançar fundos de pensões artigo 8º da SFDR”, recorda, lembrando assim o aparecimento do BBVA Sustentável Moderado ISR. Nessa senda de novas opções,recorda também o lançamento das carteiras BBVA Multi3estratégia, um serviço personalizado de comercialização conjunta de PPR. “É algo inovador dentro do domínio dos PPR”, enfatiza também, relembrando qual o caminho futuro da entidade. “O nosso ADN é focarmo-nos na poupança de longo prazo”, assegura.
A literacia financeira também continua a ser um dos bastiões da entidade, e uma área que quer continuar a preservar. Nesse âmbito, fala “de um espírito de serviço constante”, mas vai mais longe. “Queremos passar a ideia ao cliente de que deste lado pode sempre contar com um interlocutor com uma opinião formada e não formatada, que tenta explicar o que está acontecer de forma fundamentada. Tentamos até antecipar o diálogo”, atesta.
Apesar da consolidada quota de mercado que a BBVA AM tem em fundos de pensões e PPR, o agora responsável pela Gestão de Ativos não esconde que ambicionam continuar a crescer nesse mercado. Lembra, por exemplo, que “muita gente não sabe que e em Portugal a alienação de habitação própria permanente pode ser um importante complemento de reforma para pessoas reformadas ou com mais de 65 anos, na medida em que o imposto de mais-valia não terá de ser pago ao Estado se for investido num fundo de pensões”. Uma outra oportunidade vai ser o PEPP, o produto individual de reforma pan-europeu, que poderá ser uma excelente oportunidade para indústria em Portugal. No entanto, as ambições futuras da entidade não se ficam por aqui. “Vamos querer aumentar a quota de mercado que temos em PPR e fundos de pensões e, possivelmente, tentar entrar mais decididamente no mundo das adesões coletivas”, prevê o profissional. Mas nesse campo antecipa algumas dificuldades. “A legislação dos fundos de pensões para empresas é confusa e induz em erros. Existem demasiados vazios na lei, susceptiveis de diferentes interpretações”, concluiu.
por Ana Garcez
Em 2021, a pandemia da COVID-19 e as suas consequências eram o foco de todas as preocupações. Dois anos depois, o contexto altera-se e a inflação torna-se o problema central. Apesar da saúde não estar livre das dificuldades provocadas por este novo ambiente macroeconómico, Vinay Thapar considera que este setor está preparado para os desafios que se avizinham.
Da última vez que falámos com Vinay Thapar, gestor do AB International Health Care Portfolio, da AllianceBernstein, o mundo encontrava-se a lidar com a pandemia de COVID-19 e as suas consequências. Nesse período o setor da saúde encontrava-se em grande foco. O que mudou e o que se manteve desde então?
Há coisas que, independentemente dos contextos, não mudam e uma delas é a preferência que a equipa gestora deste fundo com Rating FundsPeople 2023 mantém pelo ROIC (Retorno sobre o Capital Investido) e pelas taxas de reinvestimento das empresas. “Focamo-nos em negócios fundamentalmente fortes, em vez de tentar prever eventos binários ou de curto prazo que terão pouca influência na rentabilidade a longo prazo”, afirma o gestor.
Vinay Thapar considera o setor da saúde único, uma vez que “oferece aos investidores uma mistura de características defensivas e dinâmicas”. O setor beneficia de um fluxo constante de procura, complementado por fortes tendências dinâmicas. Tudo isto tem impulsionado a inovação no setor a um ritmo crescente, e apresentado aos investidores oportunidades potencialmente atrativas. “Estamos a assistir, no século XXI, a um aumento da inovação”, acrescenta. A inovação tecnológica está a transformar por completo o setor, com inovações que vão desde tecnologias de cirurgia robótica à medicina preventiva.
Em 2021, a inovação tecnológica já era tema, com foco na digitalização do setor, como o crescimento da telemedicina. Avançando dois anos, este tema mantém-se nos holofotes, com o gestor a falar também das novas capacidades de diagnóstico que podem permitir, por exemplo, descobrir antecipadamente alguns cancros através de exames ao sangue.
A par desta área, há outras duas que se mantêm, desde a última entrevista ao gestor, as melhores oportunidades. São elas o diagnóstico e as terapias robóticas e minimamente invasivas.
Infla O E Subida Das Taxas
Se em 2021 a pandemia era um grande elemento de influência nos mercados, em 2022-2023 o contexto mudou drasticamente. Substituindo a COVID-19 como grande preocupação, a inflação entrou em cena. Poderá o contex-
T Picos Que Favorecem O Setor
As alterações na utilização dos cuidados de saúde, como o crescente uso da telemedicina, podem ser benéficas para as empresas deste setor. Desta forma, a abordagem da equipa é, segundo o gestor, procurar “empresas com elevados retornos de capital e com capacidade para reinvestir no mercado”.
to de elevada inflação e consequente aumento das taxas de juro ter influenciado o setor da saúde?
Vinay Thapar afirma que “as ações globais encenaram um rally substancial durante o primeiro mês de 2023, uma vez que os recentes dados económicos aumentaram as expetativas de que a inflação pode ser travada sem causar uma recessão significativa”. Desta forma, com um sentimento cada vez mais positivo de uma aterragem suave e de um dólar norte-americano mais débil, as ações globais subiram, como lembra o profissional.
Apesar do contexto de agressivas subidas de taxas, o crescimento persistiu - embora a um ritmo mais lento. A atividade comercial da zona euro foi melhorando à medida que o PMI entrou em território de expansão e a confiança do consumidor cresceu em parte devido à diminuição da preocupação com os custos e escassez da energia. “No entanto”, afirma o gestor, “o sentimento positivo do investidor tornou-se cauteloso no final do mês de janeiro, antes das reuniões dos bancos centrais no início de fevereiro”.
Segundo os relatos, o novo ano está a ter um início surpreendente. O crescente interesse por empresas de maior risco surpreendeu muitos, incluindo o gestor. No entanto, Vinay Thapar confessa que continua cético “quanto à continuação deste rally, uma vez que o mercado parece estar a descontar tanto um melhor crescimento económico, como taxas baixas” - uma contradição, na sua opinião. Assim, a maioria das empresas de cuidados de saúde sensíveis à economia não indicaram um regresso definitivo ao crescimento e esperam, em vez disso, uma recuperação na segunda metade deste ano.
“Em última instância, continuamos confiantes na nossa filosofia e processo - com o objetivo de proporcionar uma exposição consistente à rentabilidade e ao crescimento, que provou ser um sucesso para os investidores no passado”, acrescenta. O gestor mantém, desta forma, a crença de que grande parte da normalização das taxas já ocorreu.
A contínua inovação tecnológica, os fortes níveis de rentabilidade e a menor dependência da força económica permitem que o setor da saúde continue bem posicionado e o gestor acredita que as empresas com modelos de negócio de elevada qualidade estarão bem equipadas para enfrentar os próximos desafios. “Continuamos a acreditar que o setor
ÚNICA E ATRATIVA ENTRE A INOVAÇÃO E A DEFESA PARA OS INVESTIDORES A LONGO PRAZO”
global dos cuidados de saúde representa uma intersecção única e atrativa entre a inovação e a defesa para os investidores a longo prazo”, acrescenta.
Os T Picos Que Favorecem O Setor
A utilização dos cuidados de saúde nos Estados Unidos está a mudar, com a crescente utilização da telemedicina e de locais alternativos de prestação de cuidados de saúde. É possível que estas alterações levem a uma utilização mais discreta desses serviços, o que pode ser benéfico para as empresas de cuidados de saúde. “Como tal, equipamentos, prestadores e serviços de cuidados de saúde são os segmentos do nosso portefólio que se têm saído bem”, conta o gestor. Os fornecedores de equipamento de laboratório têm, em particular, beneficiado dessa mudança devido ao desenvolvimento de medicamentos mais complexos, incluindo biologia, terapia e edição genética. “Investimos em empresas que fornecem equipamento à indústria biotec- nológica. Esta abordagem ajuda-nos a investir na inovação dessa indústria de uma forma rentável e de menor risco, enquanto proporcionam um elevado crescimento”, afirma.
Desta forma, a abordagem da equipa é procurar “empresas com elevados retornos de capital e com capacidade para reinvestir no mercado”. Assim, explica-nos, desde que as empresas tenham essa qualidade comprovada, o seu canal de desenvolvimento de medicamentos pode ser uma via útil para um maior crescimento - excedendo muitas vezes as expetativas do mercado.
Tal como em 2021, não estão preocupados em tentar prever o sucesso dos ensaios clínicos, uma vez que a literatura académica e as provas empíricas já mostraram que a grande maioria dos medicamentos não chega ao mercado. “Em vez disso, procuramos investir em negócios com fortes níveis de eficiência de capital e crescimento onde o pipeline de novos medicamentos pode ser adquirido como opção de compra”, conclui.
Evolu O
O processo da Casa de Investimentos reorientou-se para um foco em negócios excecionais a um preço sensato.
Emília Vieira
CEO, CASA DE INVESTIMENTOS
Casa De Investimentos Evolui A Forma Como Seleciona Os Neg Cios Excecionais Que Quer Ter Na Carteira
A equipa da Casa de Investimentos fez alguns ajustes à forma como seleciona investimentos. Na carteira continuam a ter lugar apenas negócios que apelidam de excecionais, mas a gestora reviu os critérios sobre o preço que está disposta a pagar para os adicionar à carteira.
ACasa de Investimentos é bem conhecida do mercado pela sua abordagem value, com muito do espírito de Warren Buffett a refletir-se no seu processo e filosofia. Mas tal como os grandes investidores do presente e do passado evoluíram a sua abordagem ao mercado, a entidade gestora de Braga fez evoluir a sua. Emília Vieira, a CEO, explica-nos o que mudou na estratégia de seleção da Casa. “Estamos hoje em dia ainda mais otimistas sobre o que podemos providenciar no futuro, depois de termos ajustado aquela que é a nossa filosofia de investimento”, introduz.
Como explica a profissional, desde os primeiros anos da Casa de Investimentos o foco era numa carteira muito concentrada de bons negócios mundiais, que procuravam adquirir com desconto significativo face ao valor intrínseco. Essa parte não mudou, mas mudou a máxima pela qual se regem, uma máxima que está subjacente ao fundo PPR já desde o seu lançamento: “Hoje em dia estamos muito mais preocupados em investir em negócios excecionais a um preço razoável, do que em negócios razoáveis a preços excecionais”, conta.
A filosofia de investimento da Casa de Investimentos, que sempre se focou na compra de negócios altamente rentáveis, com grandes e duradouras vantagens competitivas, potencial significativo de crescimento e geridas por equipas “de grande nível”, considera agora de forma distinta o preço justo a pagar. Mais especificamente, como nos conta Emília Vieira, o “fator preço tem, agora, que ser ajustado às expectativas de retorno ao longo do tempo” “Quando temos dois negócios, um que conseguimos comprar com margem de 30% de desconto face à estimativa de valor, mas que tem rentabilidades anuais de 5 ou 6%, este investimento nunca será tão bom como um que tenhamos que pagar o preço justo e a empresa ganhe 15 ou 20% ao ano”, detalha. Procura, assim, um enfoque maior em títulos de empresas que possam compor rendimento a longo prazo.
Carteira Menos C Clica
Em antecipação do movimento de normalização de taxas de juro, após anos de juros negativos, a equipa de investimentos ajustou a carteira preparando-se para um novo ciclo de subida de taxas, o que resultou na saída de títulos como o Bank of America. “A equipa já se estava a preparar para este cenário económico. Tivemos a preocupação de preparar a carteira com negócios com menos alavancagem e com mais independência do ciclo económico. Negócios que queremos na nossa carteira, faça chuva ou faça sol”, aponta. Já empresas como a LVMH, a Inditex, Adobe ou Ansys, conquistaram o seu lugar na carteira depois de um processo longo de due dilligence.
Já a sustentabilidade, ocupa hoje em dia o seu lugar no portefólio, mas de forma indireta. Por um lado, há anos que a equipa decidiu não investir em combustíveis fósseis, mas as razões vão além das ambientais. “Muitos dos ativos destas empresas encontram-se em geografias com sistemas políticos duvidosos. Estas empresas podem facilmente ver-se privadas dos ativos pelos quais pagaram. Por outro lado, os lucros que geram estão sempre dependentes de uma única matéria-prima e, consequentemente, são bastante cíclicos. E por último, falamos de negócios que terão, certamente, que limpar a sua pegada ecológica”, explica Emília Vieira.
Por outro lado, as empresas e marcas mundiais em que investem têm, segundo Emília Vieira, uma forte preocupação com as questões ambientais e sociais, algo que não passa ao lado do processo de investimento. “As empresas sabem bem que hoje em dia os investidores são sensíveis a estes temas. Qualquer proposta que vai a comité de investimentos é batalhada na vertente ESG”, aponta.
Como quando se faz escalada, na gestão do BGF ESG MultiAsset Fund, Conan McKenzie considera muito importante que tenham instalados os equipamentos e as medidas de segurança que protegem a carteira contra eventos extremos. Somando a proteção à flexibilidade e diversificação efetiva consegue-se uma carteira multiativos todo-o-terreno.
Vis O Hol Stica
O gestor e a sua equipa recorrem a toda a força e capacidades da BlackRock para a gestão de nichos especializados no portefólio. “Este mundo é muito vasto e é muito bom para nós, como gestores multiativos na BlackRock, poder contar com capacidades em todo e qualquer cantinho que existe no mundo dos investimentos”, exclama.
Por vezes, as lições mais importantes e das quais colhemos importantes frutos para a nossa vida profissional acontecem na nossa vida pessoal. Para Conan McKenzie, gestor do BlackRock Global Funds ESG
Multi-Asset essa importante lição aconteceu há três anos num acidente de escalada. “Estar deitado no hospital com ambos os braços incapacitados fez-me pensar muito acerca de risco. O conjunto de eventos improváveis, mas plausíveis é muito vasto, e a segurança é importante, mesmo que isso represente um custo”, conta. Meses depois do acidente de escalada, um outro acidente sucedeu - socioeconómico global e de nome pandemia -, e, para o gestor, os arnêses e amarras instalados em torno do portefólio fizeram toda a diferença. Passaram-se dois anos e já com a lição aprendida e consolidada, 2022 traz novas surpresas. “O ano passado foi muito assustador para muitos investidores, mas especialmente para os investidores multiativos. A descorrelação fundamental que aprendemos na teoria de portefólios não se verificou”, comenta Conan McKensie. Mas novamente, os ganchos, as amarras e os arnêses estavam instalados, o que, por outras palavras, é o mesmo que dizer diversificação efetiva, flexibilidade e seguros contra eventos extremos.
Começa pela flexibilidade. “Este é um fundo desenhado para ser todo-o-terreno. Nós, como equipa, movimentamos a alocação de forma significativa como resposta ao ambiente de mercado. No ano passado, tivemos a flexibilidade para movimentar a carteira durante alguns meses para liquidez, que atingiu os 19%. É algo que não faríamos a longo prazo, mas que foi importante para nos abrigarmos durante os períodos mais incertos”, expõe.
Já no que diz respeito aos seguros contra eventos extremos, Conan McKensie conta como a equipa tinha construído no portefólio alguns compartimentos e algumas classes de ativos que sabia que iriam ter uma boa performance num cenário de elevada inflação. As infraestruturas de produção energética são um bom exemplo. “É um investimento que faz dinheiro a produzir eletricidade e, evidentemente, teve uma muito boa performance quando os custos da energia subiram como no ano passado”, diz. Por outro lado, também se haviam precavido contra a subida de taxas por parte dos bancos centrais, nomeadamente, com uma posição curta numa carteira de ações de empresas tecnológicas com prejuízos. “São empresas que certamente iriam sofrer num ambiente de taxas de juros altas e, para nós, foi uma cobertura muito oportuna”, explica.
Efetiva Diversifica O
Por fim, a verdadeira e efetiva diversificação. “Temos uma opinião muito forte de que diversificar uma carteira multiativos não é só comprar ações e obrigações. Asseguramos que estamos diversificados através de um intervalo muito mais vasto de métricas e dimensões”, assevera o profissional. Às classes de ativos mais clássicas, a equipa soma matérias-primas, moedas, alternativos, liquidez, etc., em qualquer região e através de uma multiplicidade de setores. Mas não só. “Diversificamos também através de estilos de investimento. Em ações, temos compartimentos geridos de forma fundamental e outros de forma sistemática. Estes tendem a ter a sua melhor performance em períodos distintos, pelo que a sua conjugação permite usufruir de uma viagem mais tranquila”, explica.
Mas a tal diversificação efetiva é um objetivo no sentido do qual a equipa não está sozinha a trabalhar. Pelo contrário, tem toda a força e capacidades da BlackRock por detrás. “Apesar de estar convicto que a nossa equipa de investimento é muito boa, definitivamente não sabemos tudo acerca de tudo no mundo do investimento. Este mundo é muito vasto e é muito bom para nós, como gestores multiativos na BlackRock, poder contar com capacidades em todo e qualquer cantinho que existe no mundo dos investimentos”, exclama.
Como explica Conan McKensie, estas capacidades são, por vezes, usufruídas de forma informal, quando a equipa quer saber a opinião de algum gestor ou equipa sobre um determinado tema. Contudo, e importante na forma como abordam a carteira, a equipa aloca formalmente parcelas do fundo a outras equipas na empresa. “Não investimos em algum fundo que as equipas gerem, mas desenhamos, sim, uma estratégia em conjunto, que as equipas especialistas implementam diretamente através de seleção de títulos. Conseguimos assim construir exposições de nicho na carteira que são, frequentemente, interessantes geradoras de alfa. O investimento multiativos e a seleção de ativos individuais são duas abordagens que requerem um conjunto de talentos distintos. Nós temos a possibilidade de conjugar ambos na nossa carteira”, descreve.
E, segundo diz, há dois outputs importantes desta abordagem. Por um lado, não existem fees adicionais. Por outro, a gestão do risco. “Gerindo e detendo os ativos todos dentro da BlackRock, a informação flui de forma muito mais eficiente e as métricas a que temos acessos são mais imediatas e rigorosas”.
O Processo Esg
Finalmente, os diferentes patamares do processo ESG. São três, como indica o gestor. Antes de mais, as exclusões que foram estabelecidas há quatro anos como resultado de “consultas aos clientes e parceiros. Chegámos a um conjunto de setores e empresas que de forma quase inequívoca não têm lugar num fundo ESG”, conta.
Em segundo lugar, a abordagem best in class, onde a equipa trabalha com a MSCI. O gestor considera importante recorrer a um provedor externo para não correr o risco de parecer que “estão a dar a nota ao seu próprio trabalho de casa”. “A não ser que nos encontremos em de-
CONSIDERO MAIS EXCITANTE”
sacordo, nas classes de ativos que a MSCI cobre, consideramos que o rating BBB é o equivalente investment grade dos ratings ESG e é também o nosso limite”, conta.
Por fim e não menos importante, a abordagem temática. “A parte de investimento temático em sustentabilidade na nossa carteira é aquela que considero mais excitante. Grande parte das abordagens ESG são focadas naquilo que não se tem, nas exclusões. Acho mais interessante focar naquilo que efetivamente temos e que contribui para um mundo mais sustentável”, introduz. Nesta componente temática, como diz o profissional, a equipa “usa o ESG como uma fonte de retornos mais do que como uma fonte de restrições. No longo prazo, acreditamos que vai acontecer um movimento a nível global. Vai acontecer na forma como produzimos comida, ou na forma como geramos energia, por exemplo. Queremos que este fundo esteja no centro desse movimento, e que os nossos clientes possam beneficiar disso investindo nas infraestruturas que vão possibilitar a transição”, conclui.
por Óscar R. Graña