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EVOLUÇÃO DO MERCADO DE GESTÃO DE ATIVOS E DE FUNDOS DE PENSÕES EM 2022

2022 foi o ano de tempestade perfeita. Em Portugal, as subscrições de OIC mobiliários totalizaram 3,4 mil milhões de euros, o que compara com os 8,1 mil milhões de um ano antes. Ainda assim, um segmento da gestão de ativos saiu praticamente ileso: o dos imobiliários.

Oano 2022, agora terminado, não deixará saudades a quem aplica as suas poupanças no mercado de capitais. Foi uma tempestade perfeita que se viveu nos principais mercados financeiros.

O conflito na Ucrânia representou o regresso da guerra à Europa e, além de todo o clima de incerteza que gerou, veio acelerar significativamente as tendências inflacionistas que já se vinham evidenciando, sobretudo em bens essenciais, como os cereais e a energia.

Os bancos centrais reagiram, subindo rapidamente as taxas de juro que, recorde-se, há muito que vinham sendo mantidas em níveis próximos de zero.

Neste contexto, tanto ações como obrigações registaram, em 2022, perdas muito significativas, condicionando, assim, o desempenho dos Organismos de Investimento Coletivo (OIC) e dos fundos de pensões. Ainda assim, o mercado acionista português foi um dos que conseguiu ter uma performance positiva, com o índice PSI20 a valorizar-se 2,8%.

No que respeita à poupança, e depois de uma subida durante o período pandémico, a taxa de poupança das famílias portuguesas caiu abruptamente. No final do 3º trimestre de 2022, fixou-se em 5,1%, menos de metade do valor registado um ano antes. O aumento do custo de vida, por via da inflação, aliada à subida dos encargos financeiros com empréstimos, por via da subida das taxas de juro, diminuiu substancialmente a capacidade de aforro dos portugueses.

Neste contexto, observou-se, em 2022, uma redução das subscrições para OIC mobiliários, que totalizaram 3,4 mil milhões de euros, o que compara com os 8,1 mil milhões de euros do ano anterior. O volume de resgates ficou em níveis semelhantes aos de 2021 (3,8 mil milhões de euros), pelo que o saldo de subscrições menos resgates foi negativo em 0,4 mil milhões de euros (saldo positivo de 4,3 mil milhões de euros, em 2021).

Deste modo, o montante gerido por OIC mobiliários caiu para 17,1 mil milhões de euros, menos 13,7% do que no final de 2021, uma queda que se explica maioritariamente, pela desvalorização dos ativos detidos por estes instrumentos financeiros, em resultado da performance dos mercados acionistas e de dívida.

Fundos De Pens Es Caem

A mesma tendência de queda foi observada nos fundos de pensões, cujos montantes caíram para 21,3 mil milhões de euros, no final de 2022, o que compara com 24,1 mil milhões de euros no ano anterior, ou seja, uma redução de 11,6%.

Para este desempenho contribuiu não apenas a desvalorização dos ativos detidos, como uma menor necessidade de contribuições por parte das empresas, designadamente quando estejam em causa fundos de pensões que financiam planos de benefício definido, já que os níveis de financiamento saíram reforçados, em resultado do aumento das taxas de juro.

Comportamento distinto teve o segmento dos OIC imobiliários. O setor imobiliário português não foi, até ao momento, particularmente afetado pela conjuntura económica, mantendo-se uma elevada procura, essencialmente por investidores estrangeiros, que continua a sustentar o preço dos imóveis.

Nesta conjuntura, vários OIC imobiliários, sobretudo fundos fechados, concluíram o percurso a que se haviam proposto inicialmente, alienando os res-

As Gestoras Em Dezembro De 2022

Dados em milhões de euros.

petivos imóveis e liquidando, de modo a entregar o resultado dessas vendas aos seus investidores.

Esses eventos foram, contudo, compensados pela constituição de diversos OIC imobiliários sob a forma Societária (SICAFI), que vieram trazer uma nova dinâmica ao mercado. Ao longo do ano, foram constituídos 32 SICAFI que, no final de 2022, eram responsáveis por mais de 1,5 mil milhões de euros de ativos sob gestão.

É de destacar, igualmente, o comportamento dos fundos abertos. Quase todos apresentaram retorno positivo, em 2022, e foram vários os que tiverem uma performance anual acima dos 5%.

Como resultado da constituição de novos OIC imobiliários, mas também das performances por eles obtidas, os mon- tantes sob gestão aumentaram para 12,1 mil milhões de euros, em dezembro de 2022, mais 9,0% do que no ano anterior.

O ano que agora começa será um ano bastante desafiante para a gestão de ativos e de fundos de pensões, em Portugal. O desenrolar do conflito na Ucrânia, a manutenção e severidade da tendência inflacionista e a reação dos bancos centrais na fixação das ta- xas de juro de referência, vão continuar a condicionar a atividade económica e, consequentemente, o desempenho dos mercados financeiros.

Do ponto de vista regulatório, está para breve o novo Regime da Gestão de Ativos, que se espera venha a contribuir para um melhor funcionamento do sector e, por essa via, permita um crescimento sustentado desta indústria.

AS MATÉRIASPRIMAS, UMA OPÇÃO PARA 2023

Nesta ocasião vou abordar um tema diferente, mas que pode ser interessante para muitos investidores: as matérias-primas. Esta classe de ativos conseguiu, em 2022, uma revalorização anual de dois dígitos pelo segundo ano consecutivo, embora com um comportamento muito volátil: os seus preços dispararam no início do ano devido à invasão russa da Ucrânia e, a partir daí, tudo piorou devido à ameaça de uma recessão.

De qualquer modo, um ano positivo no meio de um ambiente deprimente para o investidor médio. O que esperamos para este ativo em 2023? Acreditamos que a oferta não está preparada para assumir um aumento da procura. Temos vivido um período de redução de inventários, o investimento em capex não foi recuperado e os sinais são de que não há capacidade extra de produção. Quando isto aconteceu no passado, o resultado foi um sólido comportamento dos seus preços, que também podem ser estimulados por uma contínua debilidade do dólar, especialmente se a Fed acabar com as subidas tão agressivas das taxas. O que é quase impossível é tentar adivinhar em que matéria-prima investir - devido às condicionantes de cada uma - pelo que uma boa solução seria posicionarse no seu conjunto, e não individualmente.