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I. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA FUNDAÇÃO MARQUES DA SILVA

Em abril de 2022, numa cerimónia decorrida na Fundação Marques da Silva, na presença do Reitor da Universidade do Porto, Prof. Doutor António Sousa Pereira, assinalou-se um momento simbolicamente importante, pelo horizonte futuro que permite equacionar: foi assinado o protocolo que prevê a junção das duas instituições que, sob a égide da Universidade do Porto, se dedicam à recolha, estudo e divulgação de acervos documentais de arquitetura, o Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva e o Centro de Documentação da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Juntos, sob uma mesma coordenação e, futuramente, num mesmo espaço físico, passarão a agregar uma memória documental relativa a cerca de 60 acervos de arquitetos, registos que nos ajudam a contar e a entender os seus percursos individuais, e principalmente a história da arquitetura e do urbanismo em Portugal, desde finais do séc. XIX até à atualidade. Ainda que a materialização deste objetivo se encontre dependente da existência de uma estrutura física adequada, a assinatura deste protocolo consolida a aproximação definitiva destes dois importantes núcleos de arquivos de arquitetura. No caso do Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva, implica a gestão de diferentes ambientes de informação: documentação (arquivos físicos e digitais), bibliotecas e museologia.

O Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva é, assim, um organismo interdisciplinar e multidisciplinar, mas também a estrutura central em torno da qual se desenrola a atividade da instituição. Com ele, e através dele, a Fundação preserva e valoriza a memória documental e a obra desenvolvida pelos arquitetos nele representados, tanto quanto, através da metodologia adotada na sua praxis, se procura afirmar como uma instituição de referência no que toca ao tratamento de acervos de arquitetura.

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Cabe a este organismo reunir, classificar, acondicionar, preservar ou recuperar documentos, objetos e livros, e, ainda, assegurar condições de estudo e disseminação das espécies documentais que tem sob sua salvaguarda, sendo que nos referimos a uma base documental em contínuo crescimento e reajustamento face ao fluxo continuado de novas incorporações, registadas ao longo de 2022, com 8 novos acervos doados e 5 a complementar anteriores doações. Em termos de recursos humanos, tem afetos 4 técnicos especializados na área da gestão da informação e arquivos, e 2 técnicos que se têm vindo a dedicar de forma continuada à higienização e conservação básica de documentos gráficos.

O tratamento informacional encontra-se aqui uniformizado pela implementação conjunta de quadros orgânico-funcionais, tornando assim possível a navegação interconectada dos diferentes domínios. Uma metodologia de tratamento arquivístico que oferece, a quem trata e a quem pesquisa, possibilidades otimizadas de controlo e leituras contextualizadas de cada registo. A par desta dimensão do trabalho a desenvolver, cabe ainda a esta equipa assegurar a gestão dos espaços físicos destinados a acolher estas atividades, desde as áreas destinadas a depósito, às áreas de trabalho técnico (da higienização ao manuseamento para múltiplos fins) e às áreas públicas de receção de investigadores. E com o espaço existente a manter níveis de ocupação muito elevados, o ano de 2022 continuou a ser marcado por vários ciclos de reorganização dos espaços internos. Especificando: as zonas de depósito estendem-se, para além do Pavilhão dos Jardins, área otimizada e inteiramente direcionada para esta finalidade, a quatro salas do Palacete Lopes Martins que associam a componente de acondicionamento e reserva à função expositiva, e, na Casa-Atelier, a mais duas superfícies do piso inferior, uma sala do segundo piso e às águas-furtadas. O armazém da casa localizada na rua Visconde de Setúbal, pertencente à Fundação Marques da Silva, começou também a ser utilizado enquanto extensão das casas-mãe. Estas operações de acondicionamento estão interinamente ligadas ao trabalho intelectual a executar sobre a documentação, pois, após ou em simultâneo com a estabilização e controle dos suportes físicos, é necessário assegurar o controle e ajustamento das bases de dados a eles associadas, garantindo-se desta forma uma localização segura e rápida, com menorização de riscos de perda ou extravio de informação.

O investimento que tem vindo a ser feito na preservação da documentação física, com novas campanhas de higienização (c. 50.000 registos), foi igualmente acompanhado de um investimento na transição tecnológica. Em 2022, três novas campanhas de digitalização em larga escala foram realizadas (4676 documentos digitalizados), com as novas imagens a serem integradas nas bases de dados e/ou disponibilizadas nas plataformas de consulta online.

Para além da gestão e funcionamento do Centro de Documentação, onde se inscreve o atendimento a investigadores e a resposta a pedidos, internos e externos, de colaboração em projetos expositivos e editoriais, ou mesmo o acolhimento de estágios curriculares, alguns elementos desta equipa técnica vão ainda, pontualmente, assegurando a vigilância dos espaços expositivos da Fundação Marques da Silva, tal como o inerente atendimento e orientação de visitantes.

É ainda importante referir a existência de um núcleo museológico, de onde se destaca a coleção de pintura, composta de 135 peças (entre óleo, pastel e aguarela). Não só porque já foi alvo de uma investigação aprofundada, com o desenvolvimento da tese de doutoramento de Artur Vasconcelos, que viria a ser o autor, em articulação com a Fundação Marques da Silva, do catálogo digital Do Retrato à Paisagem: a coleção de pintura da Fundação Marques da Silva, como já foi a base para a construção de vários projetos expositivos por parte da instituição, continuando, em 2022, a ser objeto de interesse por parte de outras instituições. Em particular, ao longo deste ano, foram as obras de Aurélia de Souza e António Carneiro a ganhar um novo foco no contexto dos respetivos centenários. Mas, neste núcleo, são vários os sectores representados, da escultura, à cerâmica, passando pelos têxteis, pela ourivesaria, medalhística, livros e alfaias litúrgicas ou mobiliário.

1. Os acervos: acolher, tratar, conservar, digitalizar e disponibilizar

O Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva gere 46 acervos de arquitetos/arquitetura assinalados e sob sua gestão, traduzidos em c. 500 m/l de peças escritas e fotografia, c. 65.559 peças desenhadas acondicionadas em 304 gavetas, 425 maquetas, e 86.589 imagens digitais, das quais 7.567 estão disponíveis na plataforma digital de Gestão de Arquivos AtoM.

A incorporação de um acervo implica um processo complexo que se inicia mesmo antes da receção in situ dos acervos a transferir, com a realização de inventários sumários, acondicionamento provisório e acompanhamento do transporte, do ponto de origem ao seu destino, na Fundação Marques da Silva. Já na Fundação, há que assegurar a higienização, tratamento intelectual e físico, e, sempre que possível ou relevante, a digitalização e consequente disponibilização nas bases de dados para investigadores e no arquivo online. Em todo o processo, é assegurada a aplicação de uma metodologia que garante o controlo informacional e a eficácia da busca em resposta a requisitos de vária ordem: localização rápida; consultas de investigadores; projetos expositivos; projetos editoriais.

Só em 2022, foram incorporados 8 novos acervos de arquitetura: Adalberto Dias, Domingos Pinto de Faria, Fernão Simões de Carvalho, Filipe Oliveira Dias, Germano Castro Ribeiro, Nuno Portas, Margarida Coelho e Sergio Fernandez. Foi igualmente recebida nova documentação para associar a 5 acervos anteriormente incorporados: Alcino Soutinho, Alfredo Matos Ferreira, António Menéres, José Carlos Loureiro e Manuel Marques de Aguiar. A integração desta nova documentação contempla, no primeiro caso, a abertura de processos de tratamento, com a criação de novos Sistemas de Informação, mesmo que em alguns casos sumário, e, no segundo, a atualização das bases de dados correspondentes aos Sistemas existentes. Numa e noutra situação, houve que gerir e reorganizar os espaços de depósito existentes, para acondicionamento dos novos materiais, fossem eles peças desenhadas, escritas, fotografias ou maquetas.

Quadro síntese da incorporação de acervos

N.º ref.ª Sistema de Informação Documentação (peças desenhadas) Documentação (peças escritas) Fotografias Outros (maquetas/ objetos/ mobiliário)

1

2

6

7

Quadro síntese de incorporação de nova documentação em acervos existentes

N.º ref.ª Sistema de Informação Documentação (peças desenhadas) Documentação (peças escritas) Outros (maquetas/ objetos/ mobiliário)

1 Alcino Soutinho 42 dossiês Maq: 3

2 Alfredo Matos Ferreira 41 dossiês

3 António Meneres 112

4 José Carlos Loureiro 3 m/l

5 Manuel Marques de Aguiar 2 caixas (Pf)

Num território documental tão extenso como o da Fundação Marques da Silva, nem todos os acervos se encontram num mesmo estado de tratamento no que se refere à descrição arquivística, acondicionamento e organização intelectual, ou mesmo disponibilização para consulta pública, situação resultante da confluência de múltiplas variantes: os vários tempos que balizam a sua incorporação; a especificidade e/ou complexidade inerente a cada um destes Sistemas de Informação; a possibilidade de captação de recursos financeiros e/ou humanos particularmente direcionados para o tratamento de registos documentais de um determinado arquiteto; ou até mesmo a existência de projetos de investigação, expositivos ou editoriais que, incidindo num acervo específico condicionam o seu tratamento, global ou em parte, prioritário; etc.

Para além do que já foi sendo referido, ao longo de 2022, o acervo de Raúl Hestnes Ferreira mereceu particular atenção, uma vez que o processo de tratamento, limpeza e reacondicionamento das peças desenhadas que constituem este acervo, iniciado ainda em 2020 com o apoio da Oficina de Conservação e Restauro de Documentos Gráficos da Universidade do Porto, entidade especializada que tem vindo a cooperar intimamente com a Fundação Marques da Silva para trabalhos de conservação e restauro, foi concluído. Por outro lado, situava-se na linha do horizonte a montagem de uma primeira exposição a partir da documentação doada à Fundação, calendarizada para 2023. Só no âmbito desta campanha de higienização, foram intervencionados 24.566 registos. Seguiu-se, aliás, a este trabalho, a higienização e acondicionamento provisório de outros acervos: António Teixeira Guerra; Manuel Graça Dias, Egas José Vieira e o seu atelier conjunto, Contemporânea; Maurício de Vasconcellos e o atelier conjunto com Luiz Alçada Baptista, GPA; e ainda o de Fernão Simões de Carvalho, relativo a 2796 peças desenhadas. No total, associando todos os processos que, iniciados em 2021, se concluíram em 2022, foram higienizadas, acondicionadas e inventariados 43.775 peças desenhadas e 1.224 pastas com peças escritas, sendo que estas se desdobram, maioritariamente, em múltiplos registos.

Quadro síntese das campanhas de higienização (2021-2022)

Paralelamente, seja no sentido da salvaguarda do documento físico original, seja para ampliar possibilidades de disseminação de conteúdos documentais, a Fundação Marques da Silva concluiu a última empreitada de digitalização sistemática de documentos, iniciada em 2021 e executada pela empresa Graf-it. Os arquivos contemplados foram: José da Cruz Lima, Manuel Graça Dias, António Menéres, Francisco Granja, Fernando Távora, António Teixeira Guerra, Sergio Fernandez e Raúl Hestnes Ferreira. O resultado traduziu-se em 3476 imagens digitais, às quais haverá que associar 1200 digitalizações internamente realizadas (igual ou inferior a A3), num total de 4676 novas imagens digitalizadas, já associadas às respetivas bases de dados e, em grande parte, já consultáveis no Arquivo Digital da instituição.

É importante ter presente que um projeto de digitalização com esta dimensão pressupõe, também ele, a definição de um plano estruturado de ações que envolve múltiplas etapas: estabelecimento de critérios para seleção prévia dos documentos; a separação das peças desenhadas selecionadas; quando necessário e possível, a sua higienização e planificação; recenseamento e organização cronológica das peças desenhadas dentro de cada obra; cotagem das peças desenhadas; a digitalização propriamente dita; a posterior arrumação do documento físico; o controlo de qualidade e tratamento intelectual do objeto digital; e, por fim, a disponibilização online através da inserção dos novos conteúdos nas bases de dados e plataformas digitais. Isto significa que coube à equipa técnica da Fundação preparar não só a documentação para estes novos projetos de digitalização, como também providenciar o reacondicionamento dos documentos digitalizados nos respetivos lugares de depósito, em simultâneo com a realização de registos dos que permitem o controlo documental cruzado entre espécime físico e digital, concluída a etapa técnica da digitalização em si.

Em termos informacionais, foi ainda concluído o tratamento arquivístico de outros acervos. No que se refere ao arquiteto José da Cruz Lima, o trabalho realizado compreende 140 processos de obra de arquitetura/urbanismo compostos por 125 pastas de peças escritas, incluindo fotografias, sendo 84 dessas pastas relativas a processos de obra de arquitetura/ urbanismo; e 2070 peças desenhadas, 1650 relativas a processos de obra de arquitetura/ urbanismo. Foi também o caso do acervo do arquiteto Carlos Carvalho Dias, num total de 4381 espécies documentais relativas a 241 processos de obra de arquitetura/urbanismo, compostos por 3255 peças desenhadas, e as 1126 restantes relativas a documentos de apoio ao projeto. Foi ainda criada e disponibilizada a página do Sistema de Informação Carlos Carvalho Dias na plataforma AtoM.

Deu-se ainda continuidade à descrição arquivística e à elaboração dos respetivos documentos de apoio técnico dos acervos dos Arquitetos Alfredo Matos Ferreira, António Menéres, António Teixeira Guerra, Octávio Lixa Filgueiras, José Carlos Loureiro, Luís Botelho Dias, Egas Vieira, Manuel Graça Dias/Contemporânea.

Em 2022 foi ainda possível iniciar uma campanha de substituição das pastas de acondicionamento provisórias de peças desenhadas de grande formato por pastas de material de conservação, em documentação pertencente aos wws de José Porto, Manuel Marques de Aguiar, Fernando Lanhas, Octávio Lixa Filgueiras e Fernando Lanhas. E foram também otimizados os espaços de armazenamento, seja na organização ou nos equipamentos, em articulação com o serviço de Biblioteca, nos depósitos do Pavilhão, Palacete Lopes Martins e Casa-Atelier José Marques da Silva.

2. As bibliotecas: muito mais que livros e periódicos

A Fundação Marques da Silva, entre bibliotecas associadas aos acervos e Biblioteca Corrente, contabiliza mais de 20.000 títulos em depósito, distribuídos por uma área de aproximadamente 482 m/l. Destacam-se, pela sua dimensão e relevância, as bibliotecas associadas à doação original (Marques da Silva/Moreira da Silva), a Fernando Távora (profissional, pessoal e Pessoana), Alcino Soutinho, Raúl Hestnes Ferreira, Octávio Lixa Filgueiras, Manuel Marques de Aguiar, António Cardoso, Fernando Lanhas, João Queiroz, Carlos Carvalho Dias e Margarida Coelho. O catálogo digital que a Fundação Marques da Silva disponibiliza através da plataforma Aleph, informação relativa a 6.803 títulos estando o trabalho de catalogação e disponibilização a ser continuado.

Os livros ocupam um lugar especial na Fundação Marques da Silva. E não se pode, portanto, falar simplesmente de uma Biblioteca. Está disponível a referida Biblioteca Corrente, onde os nossos investigadores podem consultar as mais recentes edições e coedições lançadas pela instituição, assim como toda a bibliografia que tem vindo a ser reunida através de apoios, ofertas, permutas e aquisições. Mas existem as “outras” Bibliotecas, aquelas que acompanham os acervos de arquitetura doados à Fundação Marques da Silva, aquelas que nos revelam, a partir da sua condição de leitores, colecionadores, bibliófilos ou até mesmo autores, os interesses e paixões destes arquitetos. Por vezes, nestes núcleos, deparamo-nos até com o registo de livros antes de serem livros, ou até de livros que apenas ficaram em projeto. Pesquisar as bibliotecas dos “nossos” arquitetos é também uma forma de os descobrir e entender, da obra à pessoa.

Em 2022, a Fundação Marques da Silva incorporou 4 novas doações de periódicos e monografias: Francisco Barata Fernandes, José Anselmo Vaz, Domingos Pinto de Faria e Nuno Portas. Os núcleos bibliográficos já existentes de António Cardoso e Margarida Coelho foram, por sua vez, ampliados num total conjunto de 178 m/l de novos títulos, entre monografias e periódicos. Contabiliza-se assim, no total, 24 coleções ou bibliotecas de arquitetos/ arquitetura, urbanismo e património, às quais acresce, como referido, a Biblioteca Corrente, que também inclui uma componente digital, com mais de meia centena de novos títulos integrados ao longo deste ano. Todas disponíveis para consulta pública.

Quadro síntese da incorporação de núcleos bibliográficos (2022)

Ao longo de 2022, concluiu-se ainda o tratamento informacional da biblioteca Rui Ramos, composta por uma centena de títulos relativos a monografias e periódicos da área da arquitetura e urbanismo; e deu-se continuidade ao tratamento da biblioteca Bartolomeu Costa Cabral. Decorrente da participação no “grupo de trabalho de catalogação e autoridades” do catálogo integrado da UP, têm vindo a ser implementadas novas coordenadas de utilização da base de dados Aleph, designadamente através da revisão dos campos de indexação dos registos relativos ao Sistema de Informação Marques da Silva/Moreira da Silva.

Em termos físicos, a incorporação de novos acervos documentais e bibliográficos despoletou a necessidade de reorganização da biblioteca depositada no Pavilhão, com a transferência de parte dos livros para a Casa-Atelier como forma de libertação desse espaço para acomodação de rolos e armários horizontais para desenhos. Mudaram para novo local, ou foram reacondicionados em novas zonas do Pavilhão as bibliotecas Fernando Távora, Marques da Silva/Moreira da Silva, Alcino Soutinho, Octávio Lixa Filgueiras, Fernando Lanhas, António Cardoso e João Queiroz.

3. Tratamento técnico e gestão de informação em plataformas digitais

A Fundação Marques da Silva tem vindo a colocar em prática uma política de gestão quotidiana da informação arquivística e biblioteconómica que continua a pautar-se pelo objetivo bem definido de ir ao encontro do utilizador, abrindo a possibilidade de alcançar o maior número de potenciais comunidades de investigadores, proporcionando uma utilização facilitada, permanente, intensiva e extensiva dos acervos, em suma, uma gestão dinâmica e colaborativa. Um trabalho de mediação entre Utilizador e Informação tem vindo, portanto, a ser pensado tendo em consideração a implementação de procedimentos sincronizados, passíveis de agilizar o acesso, a recuperação e a reutilização da informação, estabelecendo, em paralelo, canais de divulgação e partilha no quadro da missão traçada para a instituição. Neste contexto, o esforço de atualização das bases de dados e o crescimento contínuo da informação disponibilizada à comunidade através das plataformas digitais, criadas a partir de parcerias com diversas unidades orgânicas da Universidade do Porto, tem sido permanente e prioritário.

Em termos arquivísticos, a instituição continuou a utilizar em ambiente Web a plataforma AtoM, software de gestão de arquivo. Em 2022, contemplou 12.837 descrições arquivísticas, tendo sido contabilizadas 57.544 visitas ao AtoM, 3.032 pesquisas no site e visualizadas 164.290 páginas. Com 20 acervos documentais disponíveis para consulta pública, foi possível, ao longo deste ano, ampliar o território de pesquisa virtual do Arquivo da Fundação Marques da Silva com a disponibilização de dois novos Sistemas de Informação: Carlos Carvalho Dias e José da Cruz Lima. Ainda na plataforma AtoM, a Fundação Marques da Silva assumiu a gestão da consulta pública do Acervo Digital de Bernardo Ferrão (1913-1982), doado ao Círculo Dr. José de Figueiredo – Amigos do MNSR, no cumprimento do estipulado no protocolo de colaboração estabelecido com a instituição detentora do Acervo físico. Este acervo é composto por 475 unidades de instalação, correspondentes a 291 pontos de acesso.

Em termos bibliográficos, como referido, a instituição continua a utilizar a plataforma digital Aleph, para consulta virtual do Catálogo Digital da Fundação Marques da Silva, onde continua a ser possível navegar através de 6.803 títulos Em 2022, foi revista a indexação de 700 registos relativos à biblioteca Marques da Silva/Moreira da Silva.

O trabalho de gestão, atualização e melhoria destas plataformas digitais tem vindo a ser desenvolvido em parceria com as equipas da Reitoria da Universidade do Porto/UP Digital.

4. Apoio a investigadores e a projetos de divulgação

O património documental da Fundação Marques da Silva abrange um arco temporal que se estende de finais do século XIX até aos nossos dias. Os seus acervos cruzam três séculos e testemunham a atividade desenvolvida por arquitetos de expressão nacional, com obra desenvolvida em território nacional e no estrangeiro, construída ou tão só projetada. Aqui, podem encontrar-se desenhos, registos escritos (de projeto, de formação, académicos), nado digitais, fotografias, maquetas, correspondência e notas de viagem, até mesmo, em alguns casos, objetos ligados ao exercício da profissão e mobiliário maioritariamente por eles projetado. Os livros ocupam um espaço relevante, assim como, no caso dos acervos originais (José Marques da Silva e o casal Maria José e David Moreira da Silva) as coleções artísticas, da pintura à escultura, passando pelas artes decorativas. No seu conjunto, é um património abrangente e significativo, de valor real e simbólico, incontornável quando está em causa o conhecimento da história da arquitetura e urbanismo em Portugal.

Por este motivo, uma das principais vertentes da Fundação Marques da Silva, desde a sua criação, a par do acolhimento, preservação e tratamento documental, é o acolhimento de investigadores e a disponibilização e partilha pública deste património, nos mais variados contextos e através de diferentes acessos, presenciais ou por via web. E se esse património documental e bibliográfico tem vindo a sofrer uma tendência de acentuado crescimento, no que à sua dimensão diz respeito, também o movimento de consulta tem assinalado um mesmo sentido ascensional. Sendo que ultrapassados que estão os momentos de confinamento ou a aplicação de medidas sanitárias restritivas, aplicados no quadro da pandemia de 2020-21, as pesquisas presenciais e o envolvimento em projetos expositivos, conquistaram inevitavelmente uma nova expressão.

Assim, em 2022, foram recebidos 234 novos investigadores para consulta presencial, mantendo-se a tendência para a quase totalidade de uma primeira consulta significar um regresso à instituição, que o número indicado não contempla, assim como a leitura deste número terá de ser acrescentada com o apoio garantido via webmail e/ou telefone a investigadores que se encontram geograficamente impossibilitados de se deslocarem à sede da Fundação, nele não expresso. Na sequência das consultas realizadas, continua a sentir-se uma outra constante: mais de 50% destes atendimentos implicaram cedência de conteúdos, isto é, pedido de reprodução digital de documentos do Centro de Documentação (entre peças escritas, desenhadas e/ou fotografias). Contudo, deve ser salvaguardado que o alcance da informação disponibilizada e consultada terá de ser articulado com os numerosos utilizadores que, de forma autónoma, elegem a consulta virtual das plataformas disponíveis (AtoM, Aleph e da página eletrónica da Fundação Marques da Silva) para recolha de informação e como acesso preferencial aos conteúdos documentais da instituição.

A equipa técnica do Centro de Documentação apoiou ainda a realização de projetos editoriais e expositivos, externos e internos, disponibilizando o acesso e/ou a reprodução a conteúdos documentais dos acervos solicitados. Isto significa garantir o acompanhamento na seleção, validar ou completar a cotagem, assegurar digitalizações, quando necessário, ou a participação pontual no acondicionamento, assim como o registo de controlo de saída e reintegração de documentos e/ou peças cedidos externamente nos depósitos de origem. A equipa colabora ainda, no que se refere a projetos expositivos apresentados na sede da instituição (e em 2022 foram 7), na preparação dos espaços expositivos e, durante o tempo de abertura ao público, na sua vigilância, no atendimento e na orientação de visitantes. No caso das exposições internas que recorrem a um expressivo número de documentação em arquivo, foi também assegurada a respetiva desmontagem, com o reacondicionamento da documentação exposta.

Quanto à incidência temática, de consultas e projetos de divulgação, para além do compreensível predomínio da Arquitetura e Urbanismo, a literatura continuou a estar em foco, nomeadamente através do projeto de investigação sobre Raúl Leal (a partir da coleção Pessoana de Fernando Távora), resultante da parceria estabelecida entre os centros de filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e de Lisboa, que conta com o apoio da Fundação Marques da Silva e tem agendada a publicação de um livro para 2024. A documentação e acervo bibliográfico de Fernando Távora continua a ser o mais consultado, seguindo-se o acervo de José Marques da Silva, um e outro recorrentemente procurados nas suas mais diversas valências. Mas as pesquisas, ainda que com um carácter mais esporádico, começam a ser transversais a praticamente todos os acervos.

5. Um espaço colaborativo e de formação

Uma das linhas estratégicas da Fundação Marques da Silva passa pela promoção e acolhimento de projetos colaborativos e de investigação com foco nos conteúdos documentais e bibliográficos do Centro de Documentação ou na metodologia de tratamento informacional implementada nesta instituição. Considera-se que esta via é catalisadora de contributos que podem ajudar a aprofundar o conhecimento e identificação documental deste património sob gestão da Fundação, desenhando outros enquadramentos e perspetivas de entendimento dos conteúdos, e proporcionando novos olhares mais refletidos e conscientes da direção a tomar no que toca ao tratamento e disponibilização desta informação.

Neste sentido, também em 2022, a Fundação Marques da Silva continuou a acolher investigadores residentes e estagiários que, através deste vínculo, aqui desenvolvem os seus projetos curriculares. No primeiro caso, insere-se a arquiteta Ilaria Corte, doutoranda da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (Portugal) e do Instituto Universitário de Arquitectura de Veneza (Itália), que está a desenvolver uma tese de doutoramento sob o tema “Politica, cidade e habitat no debate internacional entre os anos 50 e 70, os contributos de Nuno Portas e Gian Carlo de Carlo”, orientada pelo Prof. Doutor Nuno Grande, e em regime de coorientação com o Prof. Doutor Alexandre Alves Costa (FAUP) e o Prof. Doutor Aldo Aymonino (IUAV). No contexto da doação feita à instituição do acervo do arquiteto Nuno Portas, esta investigadora assumiu o desafio de colaborar no processo de tratamento deste núcleo documental, em articulação com a equipa técnica e segundo as linhas orientadoras do tratamento documental fixadas para a instituição. Numa outra dimensão, foi garantido o apoio à aluna do Mestrado em Ciências da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Nara Raquel Gomes de Carvalho, para desenvolvimento da sua dissertação de Mestrado, O controlo de autoridade de assunto no Arquivo digital da Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva. Num gesto transversal a outros domínios institucionais, a Fundação foi ainda, a instituição de acolhimento da aluna do Curso de Design de Comunicação da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Telma Oliveira Dias, para um estágio em contexto de trabalho, tendo ficado a seu cargo a conceção imagem gráfica da exposição Isto não é só um quadro: António Cardoso para além da evidência.

Para além deste tipo de acolhimento, a Fundação Marques da Silva continua a ser recorrentemente procurada para aconselhamento ou partilha externa no que concerne à sua experiência de tratamento de documentação produzido por arquitetos ou relativa a arquitetura. Em 2022, recebeu-se uma delegação da secção Regional Centro da Ordem dos Arquitetos (Carlos Figueiredo, Presidente, e Paulo Monteiro, assessor); uma delegação do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro, no Brasil, liderada por Monica Frandi Ferreira; um Grupo de Trabalho da Direção Regional de Cultura do Norte dirigido por Luis Sebastian; Eduardo Augusto Costa, docente responsável pelos Acervos da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade São Paulo; e Luís Martins, responsável pelo arquivo da Feitoria Inglesa.

Ainda internamente, as Oficinas de Ciências de Informação, coordenadas pelo Professor Armando Malheiro, na Fundação Marques da Silva, continuam a realizar-se periodicamente. Dirigidas aos colaboradores da instituição, são espaços de reflexão e partilha sobre temáticas relativas às Ciências da Informação, estando a ser considerada a possibilidade de, futuramente, poderem vir a abranger participantes externos.

No sentido inverso, de dentro para fora, ao longo de 2022, a equipa técnica do Centro de Documentação manteve a sua representação nas reuniões mensais do Grupo de Trabalho dos Arquivistas da Universidade do Porto (GTAUP). Estas reuniões, que pretendem ser um valioso órgão de partilha e colaboração entre os arquivistas das diversas faculdades e departamentos da Universidade do Porto, têm-se centrado sobretudo no processo de implementação da plataforma digital de gestão de arquivos Archeevo. Destaque também para a participação no 1º Encontro Nacional da Comunidade de Utilizadores da Plataforma CLAV, com o tema Conhecer melhor a CLAV, realizado a 14 de setembro na Torre do Tombo, em Lisboa. Foi igualmente assegurada a participação do Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva no Grupo de Trabalho de Catalogação e Autoridades, uma iniciativa que visa a criação e aplicação de critérios uniformes de registo, correção e validação dos conteúdos do catálogo integrado da UP e do ficheiro de autoridade, assim como a participação no grupo de bibliotecas UP.