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Quilombo Saracura: Iphan recomenda que as escavações da Linha 6 sejam suspensas

Um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) indicou a suspensão temporária da retomada de escavações na área da Estação 14-Bis da Linha 6-Laranja do Metrô, no Bixiga, bairro do centro da cidade de São Paulo.

A decisão foi motivada pela identificação de um novo bolsão de artefatos arqueológicos e de duas peças cerâmicas que remetem a religiões de matriz africana, novas indicações de que o local pode conter indícios do antigo Quilombo Saracura, ao longo do córrego de mesmo nome.O documento aponta que, por envolver um possível quilombo urbano, a avaliação sobre o local não deveria envolver apenas a área arqueológica, mas também outros órgãos e áreas do governo federal relacionados ao resgate e preservação da memória negra, como a Fundação

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Cultural Palmares, os Ministérios da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e Cidadania e da Cultura e os setores de patrimônios material e imaterial do Iphan. Os trabalhos arqueológicos estão restritos ao monitoramento da área desde fevereiro, por causa das chuvas.

“O afloramento de materialidade de possível associação com quilombo nesta área requer a inserção ao debate sobre direito à me- mória e reparação de patrimônio sensível, de todos os órgãos de competência no componente de matriz africana”, afirma a arqueóloga Gladys Mary Santos Sales no documento. O parecer destaca que a Fundação Palmares foi procurada sobre o tema no ano passado, mas ainda não se manifestou.

No momento, as obras da estação estão praticamente paradas desde o ano passado, com exceção da instalação de lamelas para a contenção do solo e a realocação de tubulações de água e esgoto. Os trabalhos são de responsabilidade do consórcio LinhaUni (liderado pela Acciona), que foi cobrado no parecer para apresentar um detalhamento das obras que são estritamente necessárias para a segurança do terreno e do entorno.

A arqueologia no local é realizada pela empresa A Lasca, contratada pela concessionária. Desde 7 de fevereiro, os trabalhos arqueológicos mais aprofundados estão suspensos diante da intensificação das chuvas em São Pau-

Sítio arqueológico Saracura-14 Bis

As obras da estação de metrô estão concentradas em seis terrenos nas imediações da Praça 14 Bis, incluindo o da antiga quadra da escola de samba Vai-Vai. O sítio arqueológico Saracura-14 Bis foi identificado em abril do ano passado em um perímetro dentro da obra.

Desde então, mais de 300 peças foram encontradas no local, porém ainda em camadas mais acessíveis, a até 3 metros de profundidade, que contemplam em parte um aterramento feito na região, com o aguardo do encerramento da fase de contenção do solo para a realização de escavações mais profundas. Ao longo dos últimos anos, milhares de fragmentos e objetos foram encontrados em outros sítios arqueológicos identificados durante a implan- lo e, nos últimos meses, a equipe tem feito exclusivamente o monitoramento 24 horas da instalação de lamelas de contenção e da realocação das tubulações de água e esgoto. tação da Linha 6, principalmente na zona oeste. O movimento negro e moradores do bairro têm defendido que o acervo encontrado na obra dê origem a um memorial ao antigo quilombo, também chamado de “Pequena África”. Os ativistas também reivindicam a mudança do nome da estação para “Saracura Vai-Vai”, a fim de marcar a história negra do Bixiga.

Durante esses trabalhos de monitoramento, foi identificado o novo bolsão arqueológico em 30 de março, nas imediações da Rua Cardeal Leme. Há a expectativa de que parte dos novos achados seja do século 19. Entre eles, estão fragmentos de louça, vidro, cerâmica e couro (de sapatos).

Deve começar nesta semana o transporte das peças que vão formar a máquina responsável por cavar 7,5 quilômetros de túneis para a construção de oito novas estações de metrô da Linha 2-Verde, na capital. Esse tipo de máquina é popularmente conhecido como Tatuzão.

Esse foi fabricado na China e recebeu informalmente o nome de Cora Coralina (poetisa goiana que viveu de 1889 a 1985).

Transportado para o Brasil de navio, está no porto de Santos desde a madrugada do dia 8 e vai começar a ser transportado até o canteiro de obras na Vila Formosa (zona leste). Como são cerca de 70 peças gigantes, a estimativa é de que o transporte demore pelo menos um mês, podendo se estender por mais dois.

Esse tatuzão é o maior já usado na América do Sul.

Tem 11,66 metros de diâmetro e pesa 2.740 toneladas. Foi fabricado pela empresa China Railway Engineering Equipment Group (CREG) e comprado pelo consórcio CML2 com assistência da empresa Comexport, responsável também pela importação e logística de transporte do aparelho. As cerca de 70 peças que compõem a máquina foram embarcadas no porto de Taicang, na China, e viajaram cerca de 50 dias no navio cargueiro Leopold Sta até chegar a Santos.

Em geral, as cargas a serem transportadas em navios são acondicionadas em contêineres, mas as maiores peças do tatuzão não cabem em nenhum modelo deles, então foram transportadas amarradas ao navio, num tipo de transporte conhecido como Break Bulk, usado para cargas de tamanhos especiais.

O transporte de Santos a São Paulo será feito pela pista norte da rodovia dos Imigrantes, como ocorre com todas as operações envolvendo cargas especiais, segundo a concessionária Ecovias. As peças serão levadas de segunda a quinta-feira, e esporadicamente aos sábados, sempre das 23h às 5h, período em que o fluxo de veículos e o impacto no tráfego são menores.

Segundo a concessionária, o trecho de serra da via fica bloqueado, porque as cargas possuem peso e ta- manho superdimensionados e precisam ocupar mais de uma faixa de rolamento durante o trajeto. Quando for montado, o tatuzão terá roda de corte de 10,66 metros de diâmetro e 100 metros de comprimento na estrutura auxiliar. A máquina terá a função de escavar 7,5 quilômetros de túneis, à profundidade de até 41 metros, e instalar anéis de concreto para sustentar a estrutura, que vai dar origem a novas estações da linha 2-Verde. A ampliação dessa linha ocorre entre a Vila Prudente e a Penha, com 8,4 quilômetros de vias e oito novas estações. Segundo o Metrô, mais de 40% das obras das estações já foram executadas.