8 minute read

Primórdios do Espiritismo no Piauí

“A vida é uma nova canção de serviço em todos os ângulos sob o qual seja observada. Em consequência, o ato de servir é manifestação do amor que se alonga do emocional para a realidade prática da ação edificante”.

produzir, de alterar o rumo das ações sempre para melhor, superando os impedimentos que o retém na retaguarda do processo. Diz-se, com certo pessimismo, que aquele que não vive para servir, não serve para viver, o que, sem dúvida, é pejorativo, e poderia ser proposto como aquele que não vive para servir, ainda não aprendeu a viver.

Advertisement

A vida é uma nova canção de serviço em todos os ângulos sob o qual seja observada. Em consequência, o ato de servir é manifestação do amor que se alonga do emocional para a realidade prática da ação edificante.

Quando nasce a criancinha, ainda rica de vibrações de claustro materno, mantê-la em contato com a mãezinha é um ato de amor que, no entanto, proporciona vida e dela fará um ser amante e amado, porque, nessa continuação de dependência as monoaminas da afetividade são captadas pelas terminais nervosas e transformadas em emoções de bem estar, de segurança, de harmonia.

Não recebendo essa carícia, o nascituro sente a ruptura dos vínculos que o mantinham com o seio generoso em que se albergava, sentindo-se desamparado, podendo desenvolver os primeiros futuros conflitos de solidão e abandono. O serviço, portanto, na sua expressão de vida afetiva, é benção que enfloresce os sentimentos mais nobres.

Mede-se a grandeza de um cidadão pelos esforços que empreende para melhorar-se, trabalhando em favor da futura sociedade mais justa e mais feliz.

As suas conquistas são distribuídas equanimemente, de maneira que todos se beneficiem.

Por mais singelo seja, o serviço que tem como meta auxiliar o próximo, transforma-se em contribuição valiosa para o desenvolvimento moral da humanidade.

Avalia-se a estrutura moral de um povo pela maneira como os seus governantes se utilizam da oportunidade de tornar a vida dos seus governados menos penosa e mais rica de possibilidades de desenvolvimento. Quando isso não ocorre, o abismo que separa as classes, sob o ponto de vista econômico e social, gera a miséria vergonhosa na qual estorcegam aqueles que não tiveram oportunidade de pertencer ao grupo de privilegiados que os exploram.

A sociedade, portanto, é o resultado dos fatores que são proporcionados ao indivíduo como célula básica do grupo que a constitui. Quanto mais amplas forem as possibilidades de trabalho e remuneração justa, melhores os efeitos no conjunto geral.

Dessa forma, ninguém se pode eximir de produzir no bem, na solidariedade, contribuindo com a quota que lhe esteja ao alcance.

Allan Kardec, o eminente codificador do Espiritismo, compreendeu essa necessidade, dedicando-se a apresentar soluções fundamentais para o problema da miséria socioeconômica, conforme se pode ler em O Livro dos Espíritos, no capítulo referente à Lei do Trabalho, que é fomentador

do progresso, com a consequente Lei do Retorno que proporciona renovação de forças e alegria de viver.

O repouso, no entanto, não significa falta de ação, conforme pensam algumas pessoas imprevidentes, que optam pela ociosidade, especialmente quando concluem uma fase da vida laboral e ativa, aposentando-se e deixando de trabalhar...

Normalmente, nessa eleição mórbida, a pessoa se candidata à depressão, à inutilidade.

Pode-se concluir uma tarefa e repousar, enquanto se movimenta noutra. A simples mudança de atividade constitui renovação de entusiasmo e de energia, porque o importante é encontrar-se estimulado para viver e para agir.

O serviço, portanto, de autoiluminação, na sua grandeza e significação, torna-se essencial, após o ato saudável das outras expressões de trabalho.

A mente ativa e o corpo ágil pela movimentação contínua, proporcionam os recursos interiores para o prolongamento da existência dentro do clima do bem estar e de autorealização, assim como de cooperação social.

De igual maneira, a mente necessita de contínuo exercício, a fim de mais facilmente ampliar a sua capacidade de raciocínio, estimulando o cérebro a proceder a tarefa dos registros que lhe dizem respeito.

Mente preguiçosa, candidatura à demência...

O trabalho, portanto, de qualquer natureza, é benção de Deus que fomenta a vida e desenvolve o ser, auxiliando-o na ascensão aos rumos elevados da imortalidade.

No passado, estabeleceu-se a necessidade de adorar a Deus enunciando-se a convivência social, ao trabalho ativo, entregando-se à meditação. Quase todos aqueles que se permitiram essa fuga da realidade terrestre, perderam-se em penosos conflitos que os afligiam que acreditavam ser interferência demoníaca. Sem qualquer dúvida, nas mentes ociosas, os Espíritos frívolos e perversos encontram campo fácil para perturbações variáveis.

Jesus deu o mais grandioso exemplo de respeito pelo trabalho.

No período invernoso em que as viagens e pregações se tornavam mais difíceis, em razão da aspereza do clima, Ele trabalhava regularmente na profissão que herdara de José, dignificando o labor que proporciona felicidade e progresso.

Trabalhar, portanto, é orar, especialmente quando esse serviço ajuda a humanidade em seu crescimento intelecto moral.

Joanna de Ângelis

Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, no dia 16 de junho de 2010, em Londres, Inglaterra.

Primórdios do

Espiritismo no Piauí

Nosso Estado seguiu a mesma regra de outros lugares do Brasil, assim como da Europa e dos Estados Unidos, em que primeiro aconteceram as reuniões mediúnicas para, somente depois, virem os estudos teóricos e a formação de grupos espíritas.

Silvio Ricardo*

Neste artigo, fazemos uma síntese dos principais fatos relacionados ao Espiritismo no Piauí, especialmente nas cidades onde ele mais se destacou, desde os primeiros registros de sua prática até a inesquecível passagem da Caravana da Fraternidade, no ano de 1950, responsável pela maior aproximação entre os espíritas de nosso Estado e pela fundação da Federação Espírita Piauiense.

Não é possível, porém, estabelecer um marco para o início do Movimento Espírita no Piauí. O que se pode afirmar, com certeza, é que nas últimas décadas do século XIX, já se realizavam na cidade de Teresina, sessões espíritas. Segundo jornais da época, essas reuniões tinham caráter totalmente privativo e eram fechadas à curiosidade de terceiros.

Diz o jornalista e historiador Hygino Cícero da Cunha, em seu História das Religiões no Piauhy - obra na qual dedica quatorze páginas para o Espiritismo - que: “Nos últimos decênios do século XIX, tentaram-se algumas sessões espíritas em Teresina, para evocação dos mortos e para escritura automática. Outras se têm repetido de vez em quando [...]”

Nosso Estado seguiu, portanto, a mesma regra de outros lugares do Brasil, assim como da Europa e dos Estados Unidos, em que primeiro aconteceram as reuniões mediúnicas para, somente depois, virem os estudos teóricos e a formação de grupos espíritas. Era a forma natural como se davam os primeiros contatos com a Doutrina Espírita.

Amarante

Foi somente no início do século XX, mais precisamente no ano de 1903, que surgiu a primeira instituição espírita do Piauí de que se tem notícia. Um grupo de Amarante, que se reunia desde o ano anterior para estudar as obras básicas codificadas por Allan Kardec, fundou o Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, o qual contava, também, com um programa de assistência aos necessitados. O grupo, liderado por Satiro Moreira de Castro e que tinha entre seus integrantes, dentre outros, Gil José Nunes, Teodoro Ribeiro e Luis Puça, fora ainda responsável pelo primeiro órgão de informações espíritas do Piauí, o jornal A Cruz, que circulou entre os anos de 1902 e 1907.

Apesar dessa iniciativa de divulgação, membros da Igreja Católica local promoveram intensa campanha contra o jornal, a qual acabou repercutindo na população da cidade e até entre os frequentadores do Centro Espírita. O jornal foi, então, retirado de circulação e, assim como o grupo espírita, veio a desaparecer nos anos seguintes.

Hygino Cunha observou a ascensão e o rápido desaparecimento do Espiritismo em Amarante, embora não tenha registrado as causas desse último fato: “De 1896 a 1900, o espiritismo teve grande voga em Amarante e fez alguns adeptos em Piracuruca e Livramento. Naquela primeira cidade, teve alguns fanáticos, organizou-se em igreja permanente e transformou algumas cabeças. Desaparecendo daqueles pontos, a Nova Revelação foi estabelecer domicílio na cidade da Parnaíba, onde se organizou em associação ou clube, contando muitos prosélitos teóricos e práticos.”

Migrava, então, o Espiritismo no Piauí. Seu novo “domicílio”, Parnaíba.

Parnaíba

“Desaparecendo daquelas cidades”, como diz o escritor, o Espiritismo se organizou com mais força e mais adeptos na cidade de Parnaíba. O primeiro grupo que ali se formou, ainda na primeira década do Século XX, chamava-se Filhos da Consciência.

Mas a primeira Casa Espírita daquela cidade foi o Centro Espírita Perseverança no Bem, hoje a instituição espírita mais antiga em funcionamento no Piauí. A fundação do Perseverança no Bem deuse no ano de 1918, em 16 de Julho, com personalidade jurídica e estatutos impressos e registrados no órgão da Oficialidade de Registros de Hipotecas, constando a assinatura de 19 sócios fundadores. Em 1923 já contava com 107 sócios, sendo 89 homens e 18 mulheres.

Dentre os fundadores do Centro Espírita Perseverança no Bem arrolamos os seguintes nomes: Miguel Moreira, João de Morais Rego, Dr. Antônio Neves, Avelino Silva, Bibiana Tupinambá, Eduviges Moreira, Joaquim Ramos, J. Marreiros, Benú Castro, José Dutra e Benedito Simião de Santana.

As primeiras reuniões desse Centro aconteciam numa residência na Praça da Graça, para depois, por muitos anos, se sucederem numa sala cedida pela Loja Maçônica Fraternidade Parnaibana, situada à rua Conde d’Eu nº 561, graças à intervenção de alguns maçons que também eram espíritas. Em Junho de 1972 deu-se a construção da sede própria do centro e as reuniões passaram a acontecer no atual endereço, à rua Monsenhor Joaquim Lopes, 549, no bairro do Carmo.

O Centro manteve por vários anos uma obra de caridade e assistência social bastante arrojada, de grande envergadura material. Essa obra constituía-se da Biblioteca Amália Sales, a cargo do confrade Joaquim Mangueira; de um Gabinete de Leitura, Dona Luiza Amélia, sob a direção de

Hygino Cunha: registro histórico do Espiritismo no Piauí.

This article is from: