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Crítica da peça “Os irmãos Karamazov”

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Behind the trend

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A presença do teatro nas nossas vidas foi algo quase fantasma nos últimos anos. No entanto, agora que o uso de máscara deixou de ser obrigatório, nada melhor que um espaço de extrema beleza e qualidade para retomar a encenação da vida. Foi assim que no passado dia 29 de abril me dirigi ao Teatro Nacional de São João com o intuito de assistir à peça de teatro “Os irmãos Karamazov”.

Sob a adaptação e direção de Sylvain Creuzevault, a conhecida trama de Dostoiévski ganhou vida no palco do teatro. Ao longo de quase 4 horas de espetáculo, é de realçar a atenção e o interesse do público. Eu, pessoalmente, adorei! O teatro agradou a todos os presentes cujas nacionalidades eram variadíssimas. Todos se interessaram pela trama e críticas feitas devido à qualidade da encenação, dos atores, mas também dos efeitos de sonoplastia, que se encarregaram de transportar todo o público para uma realidade paralela.

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Fiódor Karamázov, o pai de família, apresenta-se como um homem nefasto, de vida boémia e que subiu na vida graças às mulheres com quem fora casado e que morreram perante circunstâncias duvidosas. Smerdiakov é o filho ilegítimo, cuja mãe é uma incógnita rentemente, foi ideia deste fazer a reunião num local tão sagrado. e que é tratado como um lacaio. O filho mais velho é Dmitri, que é também um boémio, embora de melhor índole que o pai. Da segunda mulher, surgem dois filhos: Ivan e Aliocha, o primeiro um intelectual, atormentado pela sua inteligência; enquanto o segundo, Aliocha, ingressando num mosteiro na cidade, se torna um monge místico e puro.

Em torno da querela financeira entre o pai e o seu primogénito, nasce a disputa por uma mulher, Gruchénka, que levará ambos a descomedidos atos que resultarão na morte de Fiódor Pavlovitch Karamazov. A ação desenrola-se em torno deste triângulo amoroso, ao qual é acrescentada Katerina Ivanovna, atual noiva de Dmitri, que é constantemente traída.

A trama inicia-se quando a família Karamazov se encontra no mosteiro para que o stárietz possa agir como mediador entre Dmitri e o pai perante o conflito em torno da sua herança. Nesta primeira cena, é visível a provocação do pai perante o filho, uma vez que, apa-

Durante o teatro é possível observar-se o confronto entre as duas mulheres, o que realça a capacidade do escritor de fazer com que um facto tenha sempre duas verdades. O autor revela uma forte antipatia pelo socialismo, e até mesmo pela psicologia, o que faz com que, em vez de ser dada ao espetador uma explicação séria e concreta das personagens, seja dada uma explicação inversa, isto é, todas as personagens são uma coisa e o seu contrário, em simultâneo.

O final da trama torna-se assim um pouco ambíguo, com o julgamento de Dmitri Karamazov pelo assassinato do pai, no qual, embora seja declarado culpado, é evidente que está inocente. Aliocha, então, narra a promessa cristã de que um dia se reunirão após a Ressurreição. Acompanhada de uma exímia melodia interpretada pelo piano e flauta transversal, o teatro finaliza com uma forte crítica à existência de Deus, sob a frase que fora repetida durante toda a encenação “Se Deus não existe, tudo é permitido? Até o crime é permitido?”.

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