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O Ânus Solar

por DUOCU

“...E quando a mim próprio exclamo: SOU O SOL, disto resulta uma ereção integral porque o verbo ser é veículo do frenesi amoroso.”

“Assim notamos que a terra a dar voltas faz coitar animais e homens (e, como aquilo que resulta também é a causa que o provoca), animais e homens quando coitam fazem dar voltas à terra.”

“Deitado no leito, ao pé de uma mulher que ele ama, esquece que não sabe a razão por que é ele próprio, em vez do corpo em que toca.”

“O movimento é figura do amor, incapaz de estacionar neste ou naquele ser para passar, com rapidez, de um ser a outro.

E o esquecimento que vai condicioná-lo mais não é do que subterfúgio da memória.

O homem, como um espectro, é ligeiro a levantar-se de um caixão, e como ele sossobra.

Horas mais tarde levanta-se outra vez e sossobra, e sempre assim, dia após dia: grande coito com a atmosfera do céu que a rotação da terra, perante o sol, dirige.”

“Apesar disto, não há vibração que não vá conjugar-se em movimento circular contínuo; como a locomotiva que anda à superfície da terra, imagem da metamorfose contínua.

Os seres só morrem para voltarem a nascer, como os fatos que saem dos corpos para entrarem outra vez dentro deles.

(...)

Coito polimorfo que no entanto está ligado à uniforme rotação da terra.”

“Se o meu rosto se injeta de sangue, fica vermelho e obsceno.

Com reflexos mórbidos denuncia ao mesmo tempo a ereção sangrenta e uma exigente sede de impudor e orgia criminal.

Por isto afirmo sem medo que o meu rosto é escândalo e só o JESÚVIO exprime as paixões que tenho.

O globo terrestre está coberto de vulcões que lhe servem de ânus.

E ainda que este globo nada coma, às vezes deita fora o conteúdo das entranhas.

(...)

Na verdade, o movimento erótico do solo não é fecundo, como o das águas, mas muito mais rápido.

Às vezes a terra masturba-se com frenesi, arruinando por completo a sua superfície.”

“O anel solar é o ânus intacto do seu corpo adolescente, e nada há tão ofuscante que se lhe possa comparar; a não ser o Sol, e apesar de ter um ânus que é a noite.”

concepção artística: DUOCU

fotos: Bruno Novadvorski

Os trechos d’O Ânus Solar aqui inseridas fazem parte da edição do livro homônimo de Georges Bataille publicado pela Hiena Editora, com tradução de Anibal Fernandes, em 1985, Lisboa, Portugal.

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