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Falo de História: Keith Haring

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Roger Rosen

Roger Rosen

Keith Haring, contato fotográfico de Annie Leibovitz.

Keith Haring (1958-1990) foi um artista gráfico e ativista social norte-americano, considerado um ícone da street art e da cultura underground de Nova York na década de 1980.

Nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, numa família de classe média e seu interesse pela arte apareceu bem cedo por conta de seu pai, um engenheiro e cartunista amador, e dos cartoons clássicos de Walt Disney, Charles Schulz e Dr. Seuss. Após a conclusão do ensino médio, em 1976, Keith se matriculou em uma escola de design gráfico em Pittsburgh, porém, não mostrou interesse por esse direcionamento comercial e preferiu estudar de forma independente. Conheceu, então, o trabalho de dois artistas que o levaram a pensar uma linguagem visual em maiores proporções: o belga Pierre Alechinsky e o búlgaro Christo. De Alechinsky, Keith ganhou a confiança para criar imagens mais caligráficas, enquanto Christo lhe fez enxergar as possibilidades de envolver o grande público em sua arte.

Em 1978, fez sua primeira exposição individual no Centro de Artes e Ofícios de Pittsburgh. Nesse mesmo ano mudou-se para Nova York e entrou para a School of Visual Arts, onde os grafites espalhados pela cidade e o estudo da semiótica tiveram um impacto profundo em seu processo criativo. Não lhe fazia sentido ser um artista de estúdio para apresentar os trabalhos no circuito fechado das galerias. Com a ideia subversiva de que a arte é para todos, desafiou-se a usar o espaço da rua, onde todos passam e podem ver. Em 1980, começou a fazer desenhos com giz branco nos painéis pretos vazios reservados para publicidade nas estações do metrô de Nova York.

Desenvolveu um vocabulário próprio, que seguia alguns preceitos estabelecidos pela Pop Art de Warhol, Liechtenstein e Rauschenberg na década de 1960. Usava linhas grossas, continuadas e simplificadas, porém extremamente intuitivas, formando silhuetas desprovidas de detalhes. Suas figuras eram arrojadas e dinâmicas e entretinham os espectadores, como o “Barking Dog” e o “Radiant Baby”. Alguns críticos diziam que Keith modernizou a pintura rupestre, tirando-a da caverna para o subsolo urbano e oferecendo um meio de expressão à geração mais jovem. Rapidamente seus discos voadores, pessoas interligadas ou com furos e outros desenhos misteriosos foram ganhando notoriedade, uma vez que alguns o viam criar suas obras ou, então, sendo preso por isso.

Autorretrato em homenagem a Liechtenstein

“Barking Dog”

“Radiant Baby”

A variedade de pessoas que viam o trabalho trazia consigo uma variedade de respostas, diferentes ideias sobre o que eu estava fazendo. Então, o metrô se tornou o ambiente perfeito, um laboratório, para o trabalho que eu vinha desenvolvendo. Os discos voadores, as pirâmides… foram se tornando um vocabulário de arquétipos universais. Eu estava tentando usar imagens que perpassavam todas as culturas da história. (Documentário de 1989)

Autorretrato com Juan, acrílica sobre tela, 1988.

Glory Hole, acrílica sobre tela, 1980.

Em 1981, Keith Haring realizou sua primeira exposição individual em Nova York e, no ano seguinte, fez sua grande estreia em uma galeria no Soho. Em pouco tempo já era amigo de Warhol e Basquiat, e participava de exposições e performances no vanguardista Club 57 com grande repercussão midiática. Entre os conceitos mais abordados pelo artista estavam o nascimento, a morte, a guerra e a sexualidade (principalmente a homssexualidade e a prostituição). A substituição do alto astral positivo do início de sua produção para obras de forte apelo político dentro desses temas polêmicos transformaram-no em um dos mais celebrados e controversos artistas da época.

Quando comecei a entender como eu estava me comunicando, fiquei mais consciente do que exatamente eu estava falando e deixei de fazer somente ilustrações com características abstratas para tentar guiar as pessoas a enxergar determinadas coisas relacionadas à sociedade.

Seu reconhecimento internacional veio com a exposição no Documenta 7, em Kassel, na Alemanha (1982), a Bienal de São Paulo (1983), a Bienal do Whitney Museum de Nova York (1983), e a pintura do Muro de Berlim do lado ocidental em 1986. Nessas viagens internacionais, Keith entrou em contato com outras culturas e percebeu a universalidade em sua linguagem artística ao ver obras africanas e aborígenes.

Criou também painéis luminosos em Times Square, cenários de peças de teatro, campanhas publicitárias (para vodca Absolut, por exemplo) e desenvolveu uma série de produtos baseados em sua arte (como relógios para Swatch). Em 1986, abriu a Haring’s Pop Shop, uma loja onde vendia brinquedos, camisetas, broches, canecas e vários objetos com sua arte aplicada, entendendo que o direcionamento comercial que abandonara em seu início de carreira era, na verdade, um potencializador de alcance de suas mensagens artísticas.

Eu precisava seguir o caminho que a minha arte seguiu: tornar-se parte da cultura de massa ao invés de retornar ao mundo fechado da Arte de onde eu saí desde o início. (Documentário de 1989)

Ao longo de sua carreira, dedicou grande parte de seu tempo à elaboração de obras públicas – fossem murais ou esculturas –, que muitas vezes transmitiam mensagens sociais em prol de instituições de caridade, hospitais, creches e orfanatos. Em 1988, em entrevista à revista Rolling Stone, Keith declarou que possuía o vírus HIV. Em seguida criou o Keith Haring Foundation, com o objetivo de apoiar as crianças vítimas da AIDS. Em 1989, Keith fez um de seus últimos trabalhos, um mural intitulado Tuttomundo, dedicado à paz e a harmonia do mundo, instalado na parede sul da igreja de St. Anthony, em Pisa, na Itália.

Todas as coisas que você faz são uma espécie de busca pela imortalidade. Porque você está fazendo essas coisas que você sabe que têm um tipo diferente de vida. Eles não dependem de respirar, então eles duram mais do que qualquer um de nós. O que é uma ideia interessante, é uma espécie de extensão da sua vida até certo ponto. Uma ideia mais holística e básica de querer incorporar [arte] em todas as partes da vida, menos como um exercício egoísta e mais natural de alguma forma. Eu não sei explicar exatamente isso. Tirando o pedestal. Eu estou dando de volta para as pessoas, eu acho. (Entrevista de 1988 na Columbia University)

Faleceu em Nova York, cidade que escolheu e o consagrou, aos 31 anos em decorrência de complicações relacionadas ao HIV. 8=D

Tuttomondo, mural em Pisa, 1989.

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