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Conto do Falo

Quando a Escola era risonha e franca

Ô garoto feio, ô garoto chato, o que você quer comigo? Sempre no meu pé, olha que a professora chega e nos coloca de castigo, vai reclamar com minha mãe, assim eu ainda apanho em casa, você não tem pai? Você não tem medo de apanhar? Às vezes meu pai me bate de cinto, só quando eu sou muito mau, mas eu sempre sou comportado, já você... Larga minha mão, não adianta que eu não vou botar minha mão aí onde você quer que eu ponha ela, ô menino chato, ô menino malvado, por que matar passarinho? larga minha mão, o que é isso, não gosto destas coisas e meu pai me castiga, olha que assim quando acabar o recreio a professora separa a gente, nunca mais sentamos perto, um em cada canto da sala ou em salas diferentes, já pensou se ela te manda pra diretora e você é suspenso? Eu conto sim, digo pra ela que você é que fica me atazanando como um demônio, sempre cheio de mãos e dedos e querendo sempre levar as minhas mãos para esse negócio teu que eu sei que está duro, não sou bobo não, isso eu sei. Sei que está duro e que sempre fica duro o recreio inteiro, deve até doer. Como quando eu disse que te dava uma gravata, um mata-leão e você não sabia o que era, eu te imobilizei e aí você tinha que pedir penico mas ao invés você ficou foi rebolando encostado na minha frente e o meu ficou duro e você sabe que eu gostei e é por isso, porque você sabe que eu gostei que você fica querendo de novo mas eu não vou fazer mais isso nunca mais, já até me confessei e o padre mandou contar de novo e de novo e outra vez e cada vez eu contava com mais detalhes e até inventei detalhes e aí foram três terços completos pelas almas do purgatório. Você nem deve saber o que é isso, céu, inferno, purgatório, penitência, você é cristão? Vai me dizer que teu troço aí é cortado na ponta como o dos que mataram Cristo. Larga minha mão, não quero ver nada não, mas se quiser me mostrar aproveita agora que o recreio já terminou e foram todos para as classes e a gente entra ali na capela rapidinho e você pode me mostrar bem rapidinho dentro do confessionário como o padre faz, mas muito muito rapidinho e depois a gente volta pra aula um de cada vez e fica quieto prestando atenção na professora se não ela separa a gente, ô menino malvado, ô garoto chato, ô garoto –

Conto inédito do escritor e artista visual Jozias Benedicto.

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