2 minute read
Bibliófalo: Manhood
from Falo Magazine #18
O que é ser homem hoje? Acho que essa é a pergunta de 1 milhão de dólares sem resposta. Vivemos uma desconstrução intensa da masculinidade que existe desde tempos neolíticos, mas ainda se perpetua de forma agressiva em discursos misóginos, racistas e homofóbicos. O tradicional milenar não cabe mais e parece que a heteronormatividade ainda luta com todas as suas armas em uma guerra que, na verdade, é contra si mesma.
Digo isso porque a expressão “masculinidade tóxica”, por mais estereotipada e desgastada que ela seja, é totalmente real. Os discursos se voltam contra o próprio homem que se perde em seus sentimentos, dúvidas e medos. Um homem que não sabe dividir, não sabe compartilhar, não sabe amar, não sabe respeitar porque foi ensinado dessa forma não só pelos próprios pais e mães, mas por todo um sistema social que os protege e corrobora com suas ações abusivas. Capa da edição.
É por isso que o livro Manhood: The Bare Reality (Masculinidade: A Realidade Nua) acaba sendo uma revelação. Se não bastasse conter o depoimento de cem homens de todas as idades (acima de 18 anos) sobre o que é masculinidade e nos deixar perplexos com a falta de estrutura emocional da maioria, a única imagem que tem de cada um dos entrevistados é… o pênis! Isso mesmo: de veterano militar a vigário, de viciado em pornografia a sobrevivente do câncer de próstata, homens de todas as esferas da vida* (inclusive um homem trans mostrando sua cinta) compartilham a imagem de seu pênis com reflexões honestas sobre seus corpos, sexualidade, relacionamentos, paternidade, trabalho e saúde. Expuseram seus corações e suas vulnerabilidade para nós.
* Vale dizer que o projeto foi feito na Inglaterra, portanto, o número de negros é bem reduzido, mesmo com a presença de alguns indianos/paquistaneses.
Para deixar a ideia do projeto ainda mais intrigante: o livro e a fotografia foram feitos por uma mulher (a fotógrafa Laura Dodsworth que já tinha feito esse projeto com seios femininos):
Era muito confortável fotografar mulheres, porque eu sabia o que aquilo significava para mim. Mas eu notei que precisava ouvir as histórias dos homens para poder entender a masculinidade.
Só isso já nos causa um número sem fim de reflexões a cada página virada, contudo, cada texto nos leva a uma viagem introspectiva e coletiva, onde buscamos os nossos pontos em comum como indivíduos e como seres sociais. Mesmo naqueles muito diferente de nós encontramos convergências: o sentimento de pertencimento é constante e empoderador, como se os homens pudessem dizer “ufa, não estou sozinho nessa”.
O interessante é que, ao abrir cada depoimento com a imagem do pênis, criamos uma imagem da pessoa: velho, novo, branco, preto, grande, pequeno, gordo, magro. Isso é um pré-julgamento que fazemos naturalmente, porém, também nos oferece um teor de coragem (em alguns casos, um pouco de exibicionismo) que vai ganhando tons compassivos ao longo da leitura.
É fundamental que o mundo entenda que sim, homens também sofrem pressões sociais massacrantes, inclusive sobre seus corpos. Essa sensível publicação deveria ser leitura obrigatória.
Aproveito para agradecer ao Paulo Pinheiro pela indicação. 8=D