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12.3.2.As bem-aventuranças,segundo Mateus

"Asbem-aventuranças constituem o pórtico de entrada no Sermão da Montanha. Na Bíblia, a palavra 'feliz' implica, ao mesmo tempo, uma felicitação paracom quem marcha já nobom caminho, eum caminho que,nofim,será recompensado pelojuízodeDeus.

A tradição evangélica reconhece um conjunto de quatro bem-aventuranças ede quatro maldições (Lc6,20-26).

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Mateus retoca profundamente estemodelo:elimina as maldições ealargaa mensagem paraoito bem-aventuranças (comumanova: Mt 5,11-12). Daqui uma grande mudança de perspetiva. Aofalar dospequenos, dos doentes, dosexcluídos, Jesus tinha declarado: Felizes vósos pobres porque vosso éoreinodeDeus(Lc6,20). Entenda-se: Deusnãovos quer vermaispobres; elevai vir, reinar,paravossa felicidade. O desaparecimento do Crucificado significariaum fracasso? Mateus recusa-se a pensá-lo. Paraele, o projeto érealizável,pelo menos no seiodeuma comunidade de discípulos queseeducamuns aos outros, àluzdas palavrasedosatosdeJesus.Assim, as bem-aventuranças tornam-se um programa. «Felizes ospobres»,dizia Jesus. «Felizesos pobres em espírito», escreve Mateus.Trata-se deuma atitude de humildade pela qualo crente recusadominar osseusirmãos efia-se em Deuspara assegurar osseus direitos.

Asoito bem-aventuranças constituem um todo, queseabreesefecha comamesma expressão esclarecedora (oReinodoCéuédeles, v.3.10). Elas subdividem-se em dois grupos ritmados pela palavra justiça (v.6.10). O primeiro grupo (v. 3-6) sublinha uma atitude de confiança para com Deus;o segundo (v.7-10) orienta um comportamento. Aoitava bem-aventurança incide na perseguição eé comentada por umanona,quepassa da terceira pessoa ('osque')paraasegunda ('vós')num significativo salto: conformar-se às bem-aventuranças dáumareal felicidade que, entretanto, sofrerá rudes oposições, poisa mensagem implica uma atitude profética, um pôr em causaos valores ordinários deste mundo.

Interpretação ao ritmo do texto

As duas primeiras bem-aventuranças (v.3-4) sãoum autocomentário. Parao judaísmo antigo, os pobres em espírito sãoos mansos. Recusama agressividade orgulhosa, tanto faceaDeus como faceaos irmãos, à semelhança deJesus,mansoe humilde de coração (Mt 11,29). A estes é oferecido oReino chamado, também, simbolicamente, a terra (prometida) [verSI37 (36), 11].

Os que choram (aflitos:v.5) serão consolados, entendamos, 'por Deus', epeloseuMessias, que temamissãode consolar os aflitos (Is 61,2). Felizesosque, nassuasprovas,se mantêm fiéis, confiantes no conforto deDeus.

Segundoaideia religiosa de Justiça (v.ô), felizes osque têm fome de ver triunfar os direitos de Deus neles e à volta deles. Esses ver-se-ão cumulados por Deusnassuas aspirações.

A misericórdia (v.7) é um agir: Deusperdoaaquemusade misericórdia (Mt 6,14;7,2). Elaimplica também estes gestos queo judaísmo chama'obrasde misericórdia' e sobre as quaisCristo julgará a humanidade (Mt25,31-46).

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